19 de nov. de 2009

this time of night...




Era noite em são paulo.

Da janela aberta outras janelas abertas para a nossa, cada uma fechada em si.
Era noite em são paulo.

Na TV ligada nada muito novo ou velho, apenas o mesmo de sempre, perdido na mesmice da semana. No quarto, nada de muito novo também, apenas o mesmo amor de sempre, intacto, imutável, sereno.
Era noite em são paulo.
As luzes piscaram, algumas vezes, rápidas, oscilantes, fraquejavam. Foram-se de vez logo após deixando pra trás nada além de breu. Nossas vidas são regidas pela ausência ou presença de eletricidade, fato.
Quando ela se vai, ouvem-se gritos de comoção menores apenas dos que são ouvidos quando ela retorna. Ficamos olhando afora, para outros que também desprovidos de luz voltavam sua atenção para o exterior buscando algo que lhes preenchesse os olhos. Livres momentaneamente da máquina alienadora, notam os detalhes que os cercam por anos, mudos, sem pedir nada em troca contentes com o simples fato de ali estarem e só.
Os que não podem viver um segundo sem luz agarram-se às novas lanternas em que se converteram os fones móveis, os menos afortunados usam velas mesmo. Distinguimos alguns flashes, incluindo um nosso. Era um fato tão incomum e tão proporcional ao tamanho da cidade que merecia ser perpetuado em ‘filme’.
Era noite em são paulo.
As travestis se aconchegaram mais às sombras pois nela são mais livres, imperfeições tornam-se apenas detalhes ignoráveis, a falta de luz é um excelente fotoshop.
Pensamos em como se fazia quando as velas reinavam absolutas, que fazer? Onde ir? Como chegamos a esse ponto de dependência de algo que, no fim das contas, não sabemos controlar direito?
Vivemos presos a fios mui finos, como cabelos fracos, feitos pelas nossas mãos habilidosas mas ainda assim fracos. Basta um deles romper-se para que sinais de barbárie se manifestem entre nós. Teremos o dia em que todos os fios vão se romper.
Até lá, sempre será noite em são paulo.

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