26 de jan. de 2012

a festa

aos amigos que sempre estão por aqui, volto dia desses, no meio tempo, algo que é fantasia mas também (foi um dia) real, bem real.



Lembro daquela festa, arrumamos tudo, idas e vindas levando enfeites, pessoas, bebidas. Lembro do posto de gasolina onde enchemos dezenas de bexigas pretas e brancas, o carro cheio delas, algumas fugiam de nós como fugimos de nós mesmos e corríamos para pegá-las mas a nós jamais alcançamos.

O carro lotado de bolas parecia algo saído de um circo, nós dois nos bancos da frente os palhaços, clichês de nós mesmos, rindo por fora e apáticos por dentro. Já não éramos, fazia um tempo mas a cola que nos unia parecia indissolúvel às promessas de separação e de mera amizade, esse tipo de lenda urbana que permeia os ex-casais.

Cordiais, mantínhamos um bom relacionamento sem dar o espaço e o tempo necessários um ao outro para que os laços efetivamente se rompessem e pudéssemos quem sabe num futuro nos olharmos com ternura. Éramos jovens demais, ignorantes desses procedimentos pós-amorosos e de alguma forma cármica incapazes de abrir mão um do outro ou ser, efetivamente, um do outro. No meio disso, achávamos tempo para sermos o que podíamos ser para nós mesmos e o sexo que brotava disso deixava um gosto amargo na alma depois do gozo.

Festa grande, estávamos animados e nem era nossa, de um amigo mas a tratamos como se fosse nossa. Você estava sozinho ou sem ninguém que representasse algum compromisso, eu estava iniciando algo com alguém que se não era você, o lembrava. Meio que o oposto do que eu (achava à época) que queria mas ele tinha um real interesse em mim e eu começava a sentir o mesmo por ele, não tinha parâmetros para comparar, você fora o primeiro e mais marcante, não sabia como escolher algo diferente de você no mercado, o diferente me assustava.

Tudo quase pronto, as pessoas começavam a chegar e eu precisava ir buscar meu moço, ia me acompanhar na festa, estávamos bem e eu achava que ia me libertar daquela simbiose meio nefasta que vivíamos. Fui buscá-lo, de quebra, trouxe o DJ que daria som na festa, conhecido nosso, me perguntou sobre você, no carro, eu já com meu moço e uma amiga deste, disse que estava bem mas que não estávamos mais juntos, clima tenso, o moço sentiu o peso no ar, desconversamos. Eu queria gostar dele apesar das diferenças que, se não eram intransponíveis, eram para mim gritantes mas havia mesmo um afeto brotando e o nutri crente de que faria tremer as barragens, imaginarias ou não, que punha entre nós, sentia um gosto de futuro, promissor, dali podia sair algo bom e isso me animava.

Chegamos, a festa já ia alta, muita gente. Acomodamos o DJ e expliquei ao meu moço que estava ajudando nosso amigo e que por isso, não poderia assim aproveitar a festa com ele como desejava. Vocês já se conheciam pois, no dia em que ele me abordou, estávamos juntos num clube, juntos, mas separados, achávamos que podíamos viver assim próximos mas sem nos amar plenamente, queríamos a companhia um do outro mas não o amor, não fechávamos essa equação, quando tentávamos resolvê-la, nos noves fora, acabava a conta não fechando e o final, apesar de sermos par, era sempre ímpar.

Mas achei que era diferente, abria-se o caminho para a libertação e acreditava mesmo que acharíamos nossos caminhos separados mas ainda juntos. Quisera eu saber naquele tempo que maquiamos essas mentiras tão bem que nos parecem verdades, hoje, já não aceitaria essa imitação barata e poria tudo em pratos limpos pois teria antevisto a dor e sofrimento embutidos, escamoteados em nossas aparências de maturidade e amizade fraterna.

Meu moço dançava, eu e você trabalhávamos. A certa altura, você me acua num canto, eu acho mesmo que estava a lhe evitar a noite toda, receoso do ar faminto que captara em você, confuso por não saber se não me queria feliz com outro ou apenas não me queria feliz salvo na infelicidade que compartilhávamos amiúde.

‘Você está me evitando a noite toda...’ brotou a acusação de sua boca e olhos cabisbaixos.

Emudeci, neguei mas era incapaz de fixar meus olhos nos seus.

‘O que você quer com esse cara?’ soltou você seco.

Não sabia o que responder, olhei o chão.

‘O que você quer com esse cara? Ele não tem nada a ver com você, como você pode?’ veio você mais incisivo.

‘E você que o que de mim?’ bruto ‘Não sei, o que você espera? O que quer? Não estamos mais juntos e ele gosta de mim’

‘Gosta?’ respondeu você ‘Mesmo? E você gosta dele?’

Fiquei mudo, esperava que o chão me ajudasse a responder.

‘E você? Gosta dele? Sério mesmo?’ insistiu você.

‘Sim’ sussurrei.

‘Olha pra mim e repete isso que você falou’ disse você.

Vai chão, me ajuda!

‘Olha pra mim, porra! E repete isso que você falou, diz que não sente mais nada por mim’ e com as últimas sílabas saiu um choro honesto, sentido. Antes que eu compartilhasse de suas lágrimas, saí esbaforido para encontrar meu moço. A festa seguiu, nos evitamos a noite toda mas de relance vi os copos e você em grande intimidade.

Chegava o fim da festa, pessoas indo embora e resolvo dar carona a você e outros amigos que moravam ali perto. Vamos, digo ao moço que volto logo, coisa de minutos, que me espere, ao sair, uma amiga nos vê e profetiza: ‘Não demora!’ com olhar de que sabia como se fecharia a noite. Saímos e um a um deixo todos em casa, você é a ultima entrega da noite.

Desço do carro, você está meio alto, digo até logo mas você me faz entrar, não queria, ou queria sem querer e dentro de sua garagem você me ataca, me aborda e eu ainda em abstinência de você não resisto e tenho uma recaída homérica, nos amamos com fome, desejo voraz, os beijos parecem tirar nacos de carne de nossos corpos, juramos amor, maldizemos a nós presos nesse moto perpétuo de desejo e necessidade absurda, gozamos avidamente e me sinto culpado.

Você entra em casa com reintegração de posse e eu no carro, volto para a festa e encontro meu moço dormindo, a amiga vidente que lê em minha face o que se passou, não tenho como negar, ela nos conhece bem demais para lhe escondermos o que somos, reprova, entende mas reprova, sei disso em seu silencio como veredicto.

Acordo o moço e o levo para sua casa, no caminho, seu sono me poupa maiores constrangimentos, estampada em minha testa a letra escarlate, inicial de seu nome, grita e ri apontando para o sonolento ao meu lado. Deixo-o, beijos e nos vemos amanhã.

Amanhã vira depois, depois vira depois de amanhã e assim vai até que não há mais como torcer esse parafuso e, espanado, solta-se em minha mão, incapaz de mentir mais sobre meu desejo ter voltado a quem lhe quer não querendo. Luta, raiva, tristeza e depois calmaria, o moço vai viver, sobreviver, eu não, nunca pois você não queria e eu queria não querer.

Volto ao mesmo esquema, somos dois mas nenhum, presos nessa metamorfose de amor que não soubemos moldar ou compreender e apenas felizes por não sermos um do outro e também de mais ninguém.

16 de jan. de 2012

metal





Dinheiro não traz felicidade, realmente não mas ajuda muito enquanto ela não chega. Não sou muito chegado aos discursos contra ricos e acúmulo de capital, acho datado e fora de contexto mesmo porque, qual o mal em se tentar uma condição de vida melhor? Viver com mais segurança financeira e todas as benesses que isso acarreta?

Infelizmente, essa busca perdeu, em muitos casos, o foco no bem-estar, no uso do dinheiro como meio e o transformou em finalidade, muitos de nós passamos a vida buscando cada vez mais do metal e nunca temos, parece, o suficiente. Pode soar como auto-ajuda mas viver precisa bem menos de uma carteira recheada do que paz, amor, tranqüilidade e sossego.

Vivemos assim nessa corrida para ter mais, comprar mais, mostrar mais e para que? Com qual fim? Admiramos e invejamos as pessoas que possuem muito dinheiro, sucesso ou fama, como se estas fossem mesmo as mais afortunadas do globo afinal, esse é o padrão que nos venderam, nos fizeram assimilar.

Mas, pior que isso, são os ricos que vendem essa imagem, não todos pois o realmente ricos ficam meio que na miúda, à margem, conseguiram seu quinhão e agora usufruem quietos de seus dividendos e prefiro crer, às custas de suor e árduo trabalho ao invés de oportunismo e abrindo buracos na já fragmentada sociedade. Os que vendem a imagem de riqueza, moldando essa busca sem fim, são os que usam a riqueza com futilidade, ostentação e fazem com efeito com que as diferenças fiquem cada vez maiores.

Assim, assistimos à ‘Mulheres Ricas’ e devo confessar que, enquanto entretenimento, é ótimo pois nunca vi um festival tão extensivo de asneiras, futilidade, ostentação e gente rasa (salvo uma ou outra exceção, gente que realmente tem dinheiro mas sabe tê-lo, coisa para poucos). Só rindo mesmo de tanta patacoada, informações que vão mudar sua vida tanto quanto a mega da virada e comentários que certamente deixaram avexadíssimos os que mais se apegam à tão famosa luta de classes (se é que ela existe ainda).

Achei engraçado, ri às pencas mas, no fundo mesmo, é triste e beira o sadismo assistir ao show. Arrisco novamente ser taxado de demagogo, clichê mas, enquanto a cracolândia passa a ser show de realidade ensaiado por  autoridades que usam vassouras públicas ao invés de resolução de problemas como método de mostrar trabalho à sociedade, as ricas ficam voando de cá pra lá, bebericando champanhe o dia todo, escolhendo qual carro blindado usar, de onde importar o material para redecorar a casa e afins.

Se vou assistir de novo? Claro! Me fez rir tanta barbaridade, melhor que ver o BBB, penso eu. Gostaria de ver um show de realidade, como disse acima, gravado e encenado pelas pessoas que vagam pela cracolândia mas acho que nenhuma emissora tem interesse em produzir tal show e, se tem, talvez mal passe de alguns episódios pois antes sentir-se parte do clube que torra grana como vamos ao banheiro do que ver a outra realidade que ninguém, nem eu mesmo, quero saber que existe.

Isso, desde que ela fique confinada e não bata à minha porta.

12 de jan. de 2012

enjoy the silence


Tempos atrás, escrevi sobre o surdo-mudo que trabalha aqui e que isso me fez lembrar um rápido namoro com outro surdo, aqui vai essa estória então pois estória prometida, parceiro, é estória contada. Já aviso que é um relato longo.

Estava solteiro, como não nasci para a clausura, buscava ocupar a vaga. O moço em questão, já havia cruzado comigo na noite em diferentes ocasiões mas, não o sabia surdo. Certa vez, estava na Vieira, no dia anterior ao G-Day Hopi Hari tomando meus gorós quando alguém chega em mim e diz: ‘Meu amigo quer te conhecer’, estando ele sozinho, ou o amigo era imaginário ou estava ele bêbado, destino ao qual me encaminhava à passos largos. Percebendo o ar de dúvida, apontou para um bar do outro lado da rua onde me encontrava, entendi que o moço estava lá e o segui até ele.

Chegamos, e não é que era o surdo que trocara olhares comigo tantas vezes antes? Ainda sem sabê-lo surdo disse oi e então, seu amigo (que ouvia muito bem) disse: ‘Ele é surdo’. Suspense, como se a revelação fosse o ultimo segredo de Fátima, tempos depois, entendi o porque quando, ao irmos numa boite com amigos dele e já o namorando, um desses amigos (também surdo e extremamente pegável) começou a trocar olhares com outro cara que, ao chegar nele e constatar sua surdez, deu-lhe meia dúzia de beijos para fazer tabela e, alegando o chamado da natureza, embarafustou clube adentro para nunca mais voltar. Fiquei chocado mas o rapaz que levou o fora assimilou bem e ainda me disse que era comum, que ele estava mais do que acostumado, eu não e ainda acho que foi uma das piores cenas que já vi.

Voltando a vaca surda, nos cumprimentamos e começamos a conversar ou o mais próximo disso dado que sou analfabeto de Libras e, encurtando, acabamos um na boca do outro, surdos são ótimos amantes, não perdem tempo com palavras ou aparências, dão valor ao toque e intuem tudo o que nós, falantes, dissimulamos entre as frases tornado o ato de ficar, gostar e amar algo complexo, jogatina e um absurdo de incompetência. Ao final, ele precisava ir e me disse que estaria no Hopi Hari no dia seguinte, nos despedimos calorosamente. Fiquei ansiando pelo dia seguinte, queria ir com ele mas respondeu já ter marcado com amigos e que nos encontraríamos lá.

Eu no parque louco atrás do moço, besta, não tinha marcado um lugar para nos encontrarmos e fiquei caçando o lugar todo por ele quando, finalmente, o vejo saindo do mesmo brinquedo em que eu acabar de andar. Para meu infortúnio, ele fez que não me viu quando tenho certeza de que o fez pois passei bem à sua frente mas, como nem mesmo fez menção de minha existência, esfriei meus ânimos e os cobri com desgosto deixando que o resto do dia se acabasse num amargo e triste fim.

Passou-se um tempo e nos reencontramos, dessa vez ele me viu. Veio falar comigo, desculpou-se, à época estava num relacionamento complicado e fora um erro alimentar minhas esperanças, estava livre agora e queria muito ficar comigo. Desacreditei, expus meus temores e rancores, ele ouviu calado (claro), só podia fazer mais desculpas as quais, ao fim de alguns drinks, aceitei. Se há fato mais verídico do que relacionamentos serem loterias, desconheço; porém, falhamos ao ler os sinais de que o prêmio se acabou e que precisamos voltar ao jogo.

Engatamos a coisa e conheci os amigos com quem ele dividia um apartamento, todos não surdos e muito simpáticos. Nesse dia, me contou já ter sido casado e ter um filho o que para mim nada mudou. Fomos nos afeiçoando, o sexo era fora do comum, fodemos com a boca, não com a genitália, a profusão de ais/uis e demais expressões inerentes ao sexo inexistiam ali dando lugar a um silêncio pornográfico e um sexo mudo mas arrisco dizer mais sentido do que o gritado entre unhas e dentes.

Conheci sua ex-mulher e seu filho, todos eram simpáticos e cheguei a apresentá-lo aos amigos pois a coisa ia séria. Fomos à uma festa de aniversário de um amigo dele e esta penso ter sido uma das experiências mais estranhas que já passei. Todos eram surdos, apenas eu ouvia; era uma festa, havia bebida, comida, pessoas conversando (em Libras, óbvio eu era o único que ouvia) mas não havia música e para que haveria? Porém, engana-se quem acha que eles por não ouvir, não sentem a música, quando íamos a boites, ele preferia ficar o mais próximo possível das caixas de som pois assim poderia sentir as vibrações da música e ‘ouví-la’ o que deve ter me custado alguns decibéis da audição.

Nessa festa, lembro do ar de surpresa quando ele me apresentou como seu namorado dizendo que eu escutava, incrédulos, me olhavam com um misto de surpresa e inveja do amigo que conseguira quebrar a barreira do som. Tudo ia bem e, como de praxe, tão bem que começou a azedar. Não emito julgamentos, não desejo isso para mim e nem tenho outorgado o direito de apontar o certo ou errado, cada um deve saber para si tais coisas e cuidar de sua vida, fosse sempre assim, o mundo seria um local agradável.

Não sei o que houve, pessoas são estranhas e reagem de formas absurdas ante os problemas da vida. Ele, vim a saber depois, passou a não cumprir suas obrigações para com os amigos que dividia moradia, descobri que seu filho usava por fraldas sacos de supermercado e que sua mulher ameaçava com a Justiça e guarda do filho, tudo culminou com uma ligação de seus amigos dizendo que ele sumira da noite para o dia levando o que podia do apartamento incluso alguma grana dos moradores e pertences menores dos mesmos.

Desabei, creio mesmo que seus amigos meio que desconfiaram se eu não o acobertava mas, acho que fui sincero o suficiente quando os encontrei e puderam ler em minha face a desolação do amor quebrado e convertido em drama. Não havia explicação possível ou plausível e as revelações do parágrafo acima se deram quando estes amigos dele me confrontaram. Saí de lá desolado e com a promessa de que caso ele fizesse contato, os avisaria pois eles pensavam mesmo em por a policia atrás dele se tivessem o cheiro de seu paradeiro.

Cai em mim e notei que além do desfalque na casa, sofrera eu um: relógio que gostava muito e que antes de sua evaporação lhe emprestara com juras de amor. Recriminei minha inocência sentimentalóide e assumi o prejuízo. Dias se passaram e recebo uma ligação dele (através de um amigo), estava no sul do país e viria a SP, queria me ver, devolver o relógio. Hesitei, não queria mais vê-lo, que ficasse com as horas que me roubara, as marcasse no objeto furtado mas, resquícios do amor falaram mais alto e cedi marcando dia e hora para encontrá-lo e tentar por senso em naquela comédia toda errada.

Fui ao encontro, não avisei aos amigos que o veria a pedido dele mesmo pois lhe dissera que lhe poriam a ferros se o vissem. Nos encontramos em Santana, rapidamente, não me lembro se houve alguma explicação, se houve a sublimei com o fato de que não teríamos mais nada. Acho que houve um pedido de desculpas, o relógio me foi devolvido e antes de nos despedirmos lembro-me de lhe ter dito que o gostava demais.

Acho que ele também pois seu ar era de devastação, não precisava ser surdo para fazer o silencio que seguiu. Ele foi embora e eu segui meu rumo, acabei falando aos amigos enganados que o vira o que serviu apenas para cortar nossos laços já frágeis, não acreditaram ou aceitarem que não os tivesse avisado sobre o encontro.

Nunca mais o vi.

10 de jan. de 2012

o chamado




Teclado ruim, tecladeespaçonãofunciona. Ligo no helpdesk, abro chamado, peço a troca do equipamento ou ficoescrevendoassimadeternum. Chamado aberto, resta aguardar.

À tarde, eu trabalhando (ou fingindo muito bem), materializa ao meu lado uma sombra e chama: 'Alexandre?'. Sou eu, olho para o lado e dou de cara com o crachá, Joel. Subo o olhar e vejo ele, carregando meu teclado novo, magro mas não demais, forte mas não demais, cabelo tipo 'escovinha', olhos negros, rosto de cafuçu tratado, não desses da CPTM e afins. Pele morena clara, pelos nos braços, poucos mas suficientes para cair no meu agrado, gosto de macho com pelo no braço, dá impressão de homem mesmo, nada de gente imberbe.

Nos olhamos, houve certa cumplicidade ou sou eu desejando o técnico, vazando minha libido sempre faminta em qualquer macho que me olhe mais do que cinco segundos? Formalidades trocadas, ele começa a trocar o teclado, meus olhos correm para suas mãos, análise:

Direita: anel no polegar, pode parecer brega e de mau gosto mas me excita, me faz pensar no macho me segurando por trás e cravando o anel no meu quadril. Numa anologia mais singular, remete a um cock ring e fantasio o dedão sendo o membro envolto no anel, em riste. Mais um anel no anular, não parece noivado ou coisa que o valha, enfeite meramente, acho.

Esquerda: anular envolto em ouro, grossa, desgastada e assim não deve ser coisa recente, vai um tempo já mas não muito pois ele é novo, não deve estar casado há decadas, aposto. Isso posto, afaga saber que talvez o pouco cuidado com o símbolo deva-se a uma insatisfação com o cotidiano que eu me proponho a resolver caso ele queira. Veja, não quero ser seu cotidiano mas apenas distraí-lo das pressões do mesmo.

Ele se inclina à minha frente, espetando o cabo do teclado na CPU, camisa social pra fora da calça, mangas curtas e ao inclinar-se ali na minha frente, a camisa vai pra frente e entrevejo o abdomem não deifinido mas nem tão urso, na medida certa de meu paladar e coberto por uma camada de pelos escuros, fico ali admirando aquele passeio.

Ele termina, olha pra mim, notara? Acho que não, separa o teclado velho e me pede para assinar a ordem de serviço o que faço como se assinasse a certidão de casamento. Ele pousa o teclado inútil e me olha: 'Posso deixar aqui? Preciso ir ao banheiro', digo que sim e procuro no olhar dele algo que indique que vale a pena arriscar uma ida ao banheiro da empresa só para ver se Joel é tudo isso que imagino ou ainda mais.

Não vou, sai apenas um claro assim sem sal ou tempero, incapaz de emprestar segundas intenções à palavra, estou é ficando mole mesmo! Ele volta, saca o teclado de minha mesa, me estende a mão, agradeço e aperto com a minha a sua mão estendida, nos olhamos, poderia jurar que há algo, clima ou seja lá o que for ou então ele me conhece de algum outro lugar e esperava que eu o reconhecesse o que não fiz.

Aperto de mão durou eras, nada, alguns segundos e ele, Joel, se foi, com o teclado velho e meu tesão embutido. Vou quebrar um periférico por dia só para ver Joel aqui de novo.

6 de jan. de 2012

tá barato pra caramba!

Negociando com o Clube de Autores, agora meu livro pode ser adquirido no site por módicos R$29,92 + despesas de envio.

Vai lá agora e compra se não tem seu exemplar ainda!


3 de jan. de 2012

ah if i catch you....

Não sou dado a intelectualismos ainda que me ache razoavelmente culto mas quilômetros à distância de ser um intelectual e, o que é afinal ser isso? Não sei e não tenho muita vontade ou desejo de descobrir.


Talvez ser intelectual esbarre mais no prolixo e hermético do que realmente haver conteúdo no que se diz ainda que algumas pessoas, realmente parecem gozar de um intelecto mais afiado, afinado e apurado, dotados pelos genes mas devidamente desenvolvidos por anos de estudos com afinco em uma ou diversas áreas.


O que incomoda não é esse cristão que realmente está em um patamar não acima ou nós abaixo mas apenas diferente de nós, meros mortais. O que incomoda são os que se acham dignatários desse título como se fossem capitanias hereditárias sem ter efetivamente o que se precisa, 'what it takes' para ser da classe.


Por outro lado, nós aqui de BV não somos, à nossa maneira, intelectuais? Não é de certa forma ser intelectual escrever como e o quê escrevemos? Tudo que lemos aqui, desde confissões pueris, rusgas de opinião, idéias e ideais, desabafos, ficções e um sem fim de letras não faz de nós assim, uns intelectuais ou precisamos ser Caetanos, Machados, Eças, Arnaldo Antunes?


Ruim fica quando pregam que precisamos sim do intelecto e que abnegar das estapafúrdias cotidianas que cada mais vez bestificam as pessoas. Claro, seria ótimo que todos lessem Clarice, João Antonio, Gogol, Dostoievski e ouvissem Mozart talvez, jazz, rock clássico ou os indies e alternativos que aqui em casa adoramos e não Michel Teló e um sem fim de 'sertanejos', 'românticos', cantoras de sexualidade dúbia, funk que deve ser ouvido sempre sem fones de ouvido e outras tantas de triplo sentido, versos grudentos e para tirar pés do chão.


Não gosto mesmo, detesto mas entendo quem ouve, como isso vende e é sucesso e não adianta brigar e torcer o nariz, o que posso fazer é não deixar entrar aqui em casa e evitar, ao máximo, frequentar locais que toquem esses tipos de música assim como não compro livros com títulos que lembrem estórias edificantes ou de fundo emocional adocicado e que emprestem às nossas vidas um ar de existência com soluções que são eficientes e eficazes na vida de quem escreveu mas pouco servem no dia a dia nosso pois vida é como cueca, cada um usa a sua.


Deixem os Michéis Telós cantarem e as Elises e afins caírem cada vez mais no esquecimento, não adianta chiar e falar que as pessoas estão emburrecendo se é o que elas realmente querem nesse momento e não edificar o pensamento, a alma, foda-se o pão, mais circo! E isso não vem da genética mas de casa pois é de lá que as pessoas estão saindo já moldadas na mediocridade e digo isso não de forma pejorativa mas, apelando ao sentido mediano da palavra, nem para mais, nem para menos, se estiver na média com os demais estamos todos bem e tirando os pés do chão e cantando músicas tão ocas quanto as pessoas que as compuseram.


De novo, estes são sim intelectuais pois viram a porta aberta entraram e agora, para tirá-los do lugar, vai ser muito difícil afinal, depois de provar melado quem vai querer comer jiló mesmo que argumentemos que bem temperado é bom pacas? Não adianta falar mal, deixemos eles ganharem seu naco pois, como tudo, vai ter fim esse ciclo de abestalhamento e as pessoas podem não voltar assim a ser uns chatos intelectualóides, nem devem e é bom que não sejam mas ao menos, que voltem a ter um pouco de (bom) senso e  que voltem o olhar mais para dentro de si mesmos e para os que dependem de criação e formação para que não tenhamos gerações e mais gerações de gente abestada e tão rasa quanto um pires de leite.

2 de jan. de 2012

11->12



E agora, José? O mundo girou, 11 virou 12 e daí? Acordei e o dia ainda estava com ar enfezado, poucos amigos, desde a virada estava assim e não dá ares de que vai se empolgar com ano novo ainda que, de certa forma, sirva bem essa lavagem toda, meio que pra limpar tudo, deixar realmente com ares de novo o que, na verdade, mal e porcamente passou por uma plástica safada que puxou aqui, repuxou ali e disse que era novo o ano requentado.

Foi fim de semana, assim não vale, acho que isso tirou a graça do defunto, o velório, apesar de ser curto mesmo, espera-se que dure mais, jeito de feriado, uns quatro ou cinco dias, só dois assim, é fim de semana comum, volta hoje tudo (quase) ao normal, útil, comum.

Era ano novo? Não tinha ares de, me troquei, tomei café e saí para o trabalho. No metrô, daí sim percebi que era um dia nada comum, pouca gente, muitos de malas, fazendo o trajeto de volta, trazendo do litoral ou interior malas cheias de roupas sujas, promessas e determinações de ano novo.

Mas as faces não eram de 2012, eram desanimadas, coito interrompido, como se não houvera tempo de sacramentar os votos do ano recém-nascido, ar perdido, vago, olhando para um ponto no futuro tentando entender se realmente o ano se renovara pois o gosto era de coisa velha. Olhavam pra algum lugar na frente, peixe morto, não tinha nada lá e essa certeza dava esse abestalhamento. Nada, apenas 365 dias a serem contados e eliminados sem a possibilidade de pular um que seja.

No fundo, havia o peso das promessas feitas nos momentos em que um ano tomou o lugar do outro, aquele medo de saber não ser certo que se irá cumprir todas, quiçá menos da metade será efetivamente concretizada, o resto se perderá num emaranhado de desculpas, dissabores e remorsos para, ao fim de 2012, serem esquecidos, enterrados e, após a meia-noite, ressuscitados com outros nomes e fôlego renovado.

Como andei lendo por aí e, apesar de soar como frase de auto-ajuda, creio ser uma verdade incontestável enquanto se tome para si como determinação e não mera constatação: não é o ano que precisa mudar, é você!

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...