25 de set. de 2020

doente é você, não eu

 




Quem é o doente? Quem precisa de tratamento? Quem precisa de internação?

Não eu que nasci viado e morrerei assim graças a todas as entidades que oxalá regem o universo e o nosso destino, se há reencarnação, peço para voltar ainda mais bixa, trixa, homossexual terrível e padecendo do mais alto grau de homossexualismo.

Melhor do que voltar hétero, conservador, pai de família, conservador, moralista, ministro da educação, bolsonarista ou da familícia 17, melhor do que ser crente e cristão, melhor do que ser temente a deus, melhor que ser da fé, melhor que ser desses que pregam o amor de deus e ódio de satanás, melhor do que ser parte da família torta brasileira.

Homossexualismo é uma doença lida, todos deveriam contrair, epidemia, pandemia, espalhar feito rastilho de glitter, de sexo, falta paudemia, falta epidermia, falta mais gozo, se todos pegassem homossexualismo seríamos maia felizes porque estaríamos preocupados em gozar, em ouvir a última música da Kylie, da Gaga, da Madonna e de todas as divas que lacram o caminho do normativo.

Estaríamos preocupado em escolher a roupa para ir na balada, em chamar os amigos pro esquenta, pra ir no Arouche, na Parada, na festa bapho que vai ser lendária, na sauna e cinemão onde os paus não tem nome mas todos dizem amém, em fazer piada com tudo e rir nos momentos mais tristes porque homossexualismo tem como sintoma uma alegria de ser e existir já que o mundo e a sociedade insistem em nos fazer chorar todo santo dia.

Estaríamos mais preocupados em ver a última temporada de RuPaul, em ver aquela série babado, em trocar informações e impressões e não fake news, em amar como se não houvesse amanhã porque para quem é gay o amanhã muitas vezes é algo inexistente ou tão incerto quanto os números da loteria, em trepar como se não houvesse amanhã porque o sexo liberta e alivia, se as pessoas que falam merda e apontam dedos trepassem mais teríamos um mundo melhor.

Então, vamos passar o homossexualismo para todo mundo, vamos infectar a todos, chamem a gente para pegar essa doença maravilhosa, chega de COVID, chega de doenças que matam, venham pegar homossexualismo com a gente, pega fácil, basta um beijo, um pega, se quiser garantir o contágio podemos fazer sexo, será um prazer, garantido! Vamos infectar o mundo com o homossexualismo, vamos deixar todos viados, trans, queer, gays, vamos tornar todos doentes de homossexualismo terminal, sem vacina, sem tratamento, sem internação, sem lockdown, sem quarentena, sem isolamento.

Porque estágio terminal de homossexualismo é ser vivo, ser gente, ser você.

Porque vacina para homossexualismo é viver sem preconceito, sem medo, sem ter de justificar quem somos ou como amamos.

Porque tratamento para homossexualismo é ser feliz, é gozar, é viver sem ter de satisfação aos outros.

Porque internação para homossexualismos é balada, bar e fervo.

Porque lockdown para homossexualismo é festa fechada com amigos queridos.

Porque quarentena para homossexualismo é maratonar a vida.

Porque isolamento para homossexualismo não existe, quem nos isola são vocês aí do outro lado.

24 de set. de 2020

em linha

 


Assunto do momento mas não antigo, esse documentário da NF joga mais gasolina no eterno fogo das redes sociais e internet das coisas e nas coisas.

Apesar do tom histriônico, alarmista e apocalíptico do documentário, ele traz sim uma discussão muito séria sobre como não somos donos de nossa persona digital e muito menos de nossos dados que trafegam pela rede sem qualquer controle ou monitoração e como somos moldados por nossos likes, views, posts e tudo mais pelas grandes corporações que dominam o mundo virtual e que não querem que passemos um segundo sequer longe das telas de nossos celulares, computadores e smart tvs.

Como disse, o documentário em si não traz nada de novo, nada que não tenhamos ouvida falar 'n' vezes antes mas, considerando o avanço das tecnologias e maior acesso das pessoas ao mundo digital (ainda que, a grosso modo, grandes partes do globo ainda sejam 'analfabetos digitais), o documentário abre uma caixa de horrores que vivemos na pele: as notícias falsas, a polarização de opiniões, a perda de credibilidade de modelos tradicionais de informação, o perigo das redes sociais em processos democráticos como eleições e afins e em situações como a pandemia do COVID-19.

Se pensarmos friamente, somos criaturas digitais há pouco tempo em termos históricos e ainda estamos aprendendo como lidar com essa ferramenta que evolui muito mais rapidamente do que nosso cérebro e  consciência, arrisco dizer que a internet, as IA e tudo que a permeia estão para nós como nós estamos para um antepassado que ainda não havia dominado o fogo salvo as gerações mais novas que já nasceram conectadas e online basta ver a intimidade incrível de crianças que mal pronunciam palavras mas são capazes de abrir o YouTube e buscar o que desejam ver.

A internet e as redes sociais estão ganhando a luta evolutiva de lavada e moldando as novas gerações para serem incapazes de viver sem elas e este é para mim o maior perigo, estamos formando autômatos incapazes de pensar e tomar decisões sem o amparo do Google, as informações do Whats, as fotos do Insta e as 'notícias' do Twitter, máquinas conectadas 24x7 e que só acreditam no que as telas de alta definição lhes dizem, no que os comentários validam, no que é compartilhado em grupos onde se pode sentir confortável, à vontade, acolhido, aceito e compartilhando apenas o que nos agrada sem uma visão mais ampla e mais profunda de assuntos que podem determinar até mesmo a vida e a morte de alguém ou destruir a vida de uma pessoa em questão de milésimos de segundo.

Estamos presos na matrix, o filme profético, acertou em cheio mas, diferente dele em sua visão fantasioso, não temos cabos e fios presos ao nosso sistema nervoso, ao menos não fisicamente mas virtualmente, somos fantoches dos algoritmos e das grandes empresas de tecnologia que regem nossos destinos e nos conhecem melhor do que nós mesmos ou nossos pais. Essas empresas e produtos digitais trabalham com o mais alto grau da psique humana e seus mecanismos de gratificação, prazer e empatia, eles conhecem nossos gostos sejam eles pueris ou obscuros, estão dia e noite prontos para satisfazer nosso apetite e não deixar com que ele diminua, basta você fazer uma busca em qualquer ferramenta ou aplicativo para ver como a rede conhece você melhor do que qualquer um, ela sabe, ela intui, ela antecipa seus movimentos e pensamentos, ela sabe o que você quer ver, o que precisa comprar, o que você sente tesão, o que lhe deixa feliz e puto, o que lhe deixa triste e com raiva, se deus existe então ele está na internet soltando mandamentos para todos os cyber fiéis.

Mas qual a saída, então?

Não há. Não iremos nos livrar da internet e dos aplicativos, estão por demais mesclados em nossas vidas para isso, não podemos mais conceber um mundo onde você precise pedir um táxi na rua, sair para comprar uma pizza, telefonar para matar as saudades, escrever uma carta para mandar notícias ou esperar que um filme seja lançado no cinema. Se uma hecatombe sem precedentes ocorresse e subitamente ficássemos todos sem internet, o mundo entraria em colapso mas, não acabaria, haveria desordem e provavelmente ondas e mais ondas de distúrbios generalizados ou até guerras civis principalmente, creio eu, porque quase todo o dinheiro circula hoje de forma digital, você não o vê, acredita que está no banco, guardado mas ele é apenas uma sequência de zeros e uns e, se a internet acabasse ou sofresse um colapso mundial, praticamente todos nós estaríamos na miséria num piscar de olhos. Obviamente que o mundo não iria acabar, somos uma raça sobrevivente mas sair desse caos seria custoso e o mundo depois seria algo totalmente diferente e as pessoas que detinham o conhecimento do antes, do mundo analógico valeriam seu peso em ouro e seriam os novos bilionários do novo mundo.

Penso que a saída não é deixar de usar a internet e as redes sociais mas aprender como usá-las, ter um uso racional delas e cobrar não apenas de governos e autoridades marcos regulatórios mas de nós mesmos, confiar mais em nós e menos no on-line, usar essa tecnologia de forma consciente e educar as novas geração para que façam o mesmo ao contrário de deixar que seja a babá de nossos filhos. Não adianta culpar a ferramenta, ela cumpre seu papel e pode ser que seu inventor não tivesse propósitos nefastos quando a criou, uma ferramenta só é tão má quanto a mão que a empunha então, a internet e as redes sociais serão apenas tão ruins quanto nós formos e, se elas hoje são um campo de horror e ódio, não é culpa delas mas nossa.

O dilema não é, enfim, das redes sociais ou da internet mas nosso.

23 de set. de 2020

maria vai com as outras

 


maria não ia mas acabou indo, maria foi com as outras, queria ir, ficar é que não ia, maria foi, com as outras porque com as outras tudo bem, se fosse com ela não queria mas com as outras foi para a rua, noite fria, céu escuro, maria não queria céu claro mas também não precisava estar tão escuro, maria gosta de ir com as outras porque assim tem com quem conversar, fumar um cigarro, tomar uma cerveja, bater uma carreira, fumar um beque, maria com as outras está segura, de si, de tudo, de todos, na rua tem de ser com as outras, se for sozinha maria vai e pode não voltar.

maria na rua com as outras, o céu um breu tipo buraco no fundo da terra, lembrou do poço na casa onde morou criança, fundo, escuro, sem cor, diziam que lá viviam as crianças que não se comportavam, maria não ia com essas crianças, medo, respeito, os dois, maria só ia com quem a mãe deixava, quando não ia, a mãe ameaçava com o poço, sem falar palavra, só apontava e maria prometia que nunca mais ia com as outras.

maria com as outras ia bem, já tinha ido sozinha mas não gostou, teve homem que não quis lhe devolver, teve homem que não quis lhe pagar, teve homem que lhe bateu, sozinha não tinha como mas indo com as outras, ela contava e apontava e as amigas davam um jeito no homem, nunca mais voltava então maria sempre ia com as outras porque elas iam com ela, não de cara mas depois sim.

maria olhou de novo para o céu, escuro demais gente, nem estrela, nem lua, nem nada, a luz da rua só e olhe lá, os carros passando e ela com medo de olhar para dentro deles sem ter o céu como testemunha, as amigas ocupadas só olhavam quando ela pedia, lembrou da casa de novo, do homem da casa que devia ser o pai, ou não era, era homem, homem não é pai nem nada, é só homem e homem só quer ser homem e ela mulher, a mãe também mas o homem da casa queria ela e a mãe brigou mas o homem brigou mais forte e mãe se calou num sangue escuro que brotou do nada e o homem fez maria ir com ele, sem as outras, sem a mãe, sem ninguém, só eles e depois, maria não quis mais com ninguém e a mãe não queria mais ir com maria e nem lhe ameaçava com o poço e maria ficou sem ir por muito tempo até um dia ela não sangrou e a mãe não quis ir com ela e o homem da casa não quis ir também e ambos fizeram ela ir com outras porque ali não era casa de maria.

maria foi, sofreu, perdeu sangue e uma coisa que saiu de si, maria foi com as outras sem saber quem era, o poço de casa a lhe seguir na memória e aos poucos ficando esquecido porque poço sem fundo mesmo é a vida, é ir com as outras que não tem poço, não tem fundo, não tem onde ir a não ser com as outras. maria se achou com as outras, aos poucos, foi indo com elas e acabou ficando com as outras, teve dores, teve amores, teve sangue, teve briga mas ela nunca deixou de ir com as outras porque elas eram agora suas amigas, sua família, sem elas, maria não tinha para onde ir.

maria ficou ali vendo os carros passando, o céu um poço, em cima dela, de sua cabeça, aa rua iluminada amarela, fria, carros passando quentes, as outras indo e voltando e ela sem ir ainda, maria ia com as outras às vezes, quando chamavam mas não gostava, gostava de ir sozinha, de ir com as outras só quando não era trabalho ou quando era preciso para fazer a féria do dia.

maria olhava para o céu escuro demais, as outras chamavam sua atenção para os carros, olhar o céu é coisa de doido ou namorados e elas não eram nem um, nem outro, maria tinha de prestar atenção ou as outras não iam mais querer que ela fosse junto, atrapalhava.

maria sentiu o céu mais escuro ainda, disse a uma amiga que o céu estava muito escuro, demais da conta mas a amiga não lhe deu atenção. maria achou que o céu estava ficando cada vez mais escuro, como se isso fosse possível e que ele estava engolindo toda a luza da rua, as amigas fizeram cara de pouco caso, a luz da rua fraca iluminava mal e porcamente a calçada onde estavam, os carros passavam com farol baixo e elas iam.

maria estava assustada, queria ir embora mas as amigas não iam, ela iria sem as outras, as outras disseram que era melhor antes que ela estragasse a noite de todas mas ela teria de fazer dobrado na noite seguinte, maria disse que sim, que faria mas queria ir embora e foi, a noite um breu que nem o início do mundo conheceu.

noite seguinte maria não foi com as outras. perguntaram por maria mas ninguém lhe sabia o paradeiro. maria não foi com as outras, ficaram procurando por maria, nada, buscaram por maria, nada, maria tinha morrido, nada, maria tinha se ajeitado, nada, maria dera golpe, nada, maria não foi mais com as outras, ninguém soube mais de maria mas depois disso, todas as noites foram muito claras, quase dia, as outras achavam bom, noite de breu, de poço, nunca era bom sinal...

22 de set. de 2020

do bem

 


cidadão do bem acordou bem, sono justo de quem sonha arminha, armado, armando, foi ao banheiro e mijodefecou um aborto social de quem não é do bem, tomou banhopuro de águas de chumbo e saiu para tomar café e dar uns tapas na mulher porque ela errou o ponto do pão e mulher tem levar uns tapas para aprender quem é o dono cidadão do bem da casa, macho prove dor, alfa e oh mega do destino familiar.

aproveitou e deus uns tapas no filho que chorava birrento porque menino de bem não chora, engole, surta por dentro, vira macho no tapa, pode até pegar bixa mas não dá o cu porque dar o cu é coisa de viado. aproveitou e beija a filha para garantir que nenhum macho de fora ia romper o santo hímen familiar, antes ele para mostrar à menina que mulher só tem um dono, o macho que lhe fez e que lhe faz, satisfeito com o cheiro de pureza foi colocar a roupa do dia para ir trabalhar e trazer o ganha pau para a família transtornada que ele tanto amava, mamava, dava tapa e comia porque era dele, do bem, mito messias vindo do arsenal de coisas que o país lhe autorizava.

vestiu o terno gravata sóbrio que cor é coisa de gay, cabelo penteado tá ok, barba aparada tá ok, sapato engraxado tá ok, camisa alava tá ok, calça com vinco tá ok, perfume importado tá ok, pau social bolas solidárias pentelhos de macho tá ok, bafo doce de predador tá ok, cu fechado que só sai não entra tá ok, brota no trabalho pro desespero dos esquerdistas e comunas de plantão.

antes, tchau na esposa bolinada para ela saber que suas carnes lhe pertencem, tapa no moleque para ele ser homem e beijo molhado na menina para ela saber que é sua, todos ali devem ajoelhar e dizer amém ao pau provedor do macho que não deixa faltar o pão e o leite. pega elevador, vizinhos junto e ele calado, só acena porque aquele prédio virou um puteiro, tem lésbica, tem bixa, tem maconheiro, já reclamou, brigou, fez escândalo mas não resolveu muito, as bixas estão se beijando na área comum, os maconheiros entrando por sua janela, as mulheres quase peladas, por ele, sentava porrada e bala em todos mas não pode, tentou ser síndico mas não deu, tentou a polícia mas não deu, tentou ser macho mas não deu, lhe podaram, ele puto jurou vingança mas macho do bem cidadão só faz das suas quando em bando e ele resolveu que era melhor procurar outro apartamento e deixar aquele para os degenerados.

na frustração de não poder colocar ordem no galinheiro, desconta no porteiro, zelador e outros que vieram de algum estado falido lá de cima do país para entupir a cidade com sua fala preguiça, seu analfabetismo latente, seu dialeto que só eles entendem e aquela subserviência falsa que ele sente o cheiro e lhe dá náuseas, esse povo só entende o dicionário da chibata, do porrete, eles só funcionam assim, ele tem de ser o macho cidadão que vai colocar esse povo no eixo.

no trabalho também os degenerados pululam, aquilo já foi uma empresa de cidadão do bem, de gente boa, branca, alva e alfa, machos mas agora até preto tem, tem bixa, tem gente que não dá pra saber se é homem ou mulher, deve ser travesti, tem preto sentado ao lado dele, falando inglês, vê se pode, tem refugiado servindo café, errado isso porque isso é emprego dos pretos e pobres, estão tirando os empregos deles e ninguém faz nada, ele assiste puto, evita contato e faz de conta que tudo bem mas por dentro sonha com outro emprego mais branco, mais limpo, onde as pessoas estão nos lugares certos porque deus fez as pessoas diferentes para fazerem diferentes coisas e não para se misturar e virar um puteiro sem dono.

fim do dia ele está exausto, macho cansado, do bem, precisa relaxar porque não é fácil ser cidadão do bem num mundo onde isso é crime, há moral, a moral é do bem, amoral é do mal, ele do bem porque sabe que é e precisa relaxar, antes de ir pra casa vai passar na casa daquela bixa, ele não é viado, só é macho, branco do bem, piroca cidadã, ele não dá o cu, não beija, a bixa só mama e ele lhe dá uns trocados, às vezes ele vacila e quase amolece mas aí dá uns tapas na bixa e ela gosta, viado gosta de apanhar, ele goza e vai embora, promete não voltar mais mas a bixa sabe mamar, sua mulher é mãe, é santa e santa não é puta só os filhos dela, quando sente que precisa vai lá na bixa ter o pau mamado e sai leve e macho.

chega em casa cansado, jantar na mesa, ele come feito leão no cio, a comida escorrendo pelos cantos da boca, olha para a mulher com ares de sobremesa, a bixa mamou mas seu pau que carne, precisa meter, na bixa não que tem doença, ela só mama, já pensou em comer a bixa mas teve medo, de doença, de gostar e virar bixa mas bixa é só quem dá, quem come não! olha para o filho, esse vair ser macho igual, nem que ele tenha de quebrar no meio ou fazer vira macho na porrada, a filha vai ser linda, se algum macho lhe puser a mão ele mata, ela é pra casar com rico, com doutro, com ele, com macho mais que ele senão ele mata.

fim de noite, ele na cama, a mulher do lado calada santa mãe coitada de um coito que nunca veio, quer comer a mãe mulher mas perde o tesão, ela já foi sua mulher, hoje é só mãe e põe ordem na casa, vai no banheiro, bate uma bronha olhando no espelho, que macho, que homem, que pau provedor, ele mantém, provê, a mulher, o filho, a filha, a bixa, os nordestinos do prédio, os pretos do trabalho, ele goza seu leite morno santo que eles precisam para viver, sem o leite do macho de bem a sociedade vai se desfazer, é o leite do macho cidadão de bem que mantém aquilo tudo coeso, inteiro, um só, ele lambe os dedos lambuzados e sente um gozo a mais, aquele era o maná, o leite divino de divinas bolas que todos precisam para viver.

vai pra cama santo e puro de gozo, pronto para fazer do amanhã mais um dia do cidadão de bem

10 de set. de 2020

brincando de casinha

 


Larissa menina Larissa moça Larissa mulher Larissa se chamava Larissa não por que o cartório assim o determinou, cartório só faz papel, cópia, copia o que vê na frente, lavra nos autos e certidões um a realidade monocromática, dual, incapaz de compreender e conter tudo que vai além de dois mais dois que raramente dá quatro na vida que se vive fora do papel Larissa é Larissa porque sempre o foi, sempre teve Larissa em si e não seria um papel que diria o oposto Larissa era Larissa porque sim, não porque outros diriam que não Larissa jogou fora aquele papel malcriado que dizia que não e abraçou o sim porque Larissa era Larissa e nada além de Larissa.

Larissa queria brinca de casinha, sonho de menina, de menino, de criança, não precisa ser de um ou de outro, brincadeira se tem hora é a hora que ela tem, que quer, que deseja, brinca é preciso, viver não é preciso, é incerto, inacabado e Larissa foi construindo para si uma casinha igual as que via nas revistas, as da polícia ela já conhecia bem as quatro paredes e grades, não queria porque era feia, bruta, infeliz mas sabia que era uma casinha da qual jamais conseguiria escapar para sempre, de tempos em tempos precisava fazer visita a passar uns dias, fazer agrado e depois voltar a construir a casinha de seus sonhos essa sim de várias paredes que só quatro era muito pouco para conter os sonhos de Larissa, moçamulhermeninagente.

Larissa fez sua casinha, capricho, esmero, é mero fetiche, desejo, colocou tudo do bom e do melhor na casinha, com gosto, gosta de coisa boa porque coisa boa a gente acostuma bem e coisa ruim a gente acostuma também porque tem de acostumar, fazer o que, o que Larissa sabia era que a casinha era sua não importava se era torta, reta, curva ou sei lá, Larissa tinha uma casinha só sua e lá seria feliz, com o amor, porque a casinha sem amor não é casinha, é albergue, hotel barato, alta rotatividade que se não traz amor paga as contas da casinha mas, Larissa queria um amor para pendurar na parede, um amor para sentar no sofá, um amor para ver tv, um amor para abrir a porta, um amor para abrir o corpo, fechado ainda, aberto somente para negócios, um amor para o banho, um amor para secar, um amor para por no varal, para fazer arroz e feijão e batata e bife.

Larissa deixou a casinha pronta mas o amor não vinha, não veio, Larissa esperou, e esperou, e esperou, e esperou, esperou como quem espera, calada, muda, porque esperar é silêncio, esperar requer mudez, esperar não pode ser grito porque grito assusta a espera e espanta o que está para chegar. Larissa muda calada esperou mas nada de amor, nada de completar a casinha linda com móveis simples mas fofos, toalhinhas de renda, bibelôs, enfeites e cheirando a detergente e lavanda, alva, imaculada, virgem porque a casinha era pura como ela, guardada para o amor descobrir e levar, a casinha era dela e do amor que viria mas nunca veio, Larissa esperava mas perdia a esperança.

Larissa esperou, quem espera sempre alcança, algum grau de desespero, de decepção, de desgosto porque a espera é isso, uma derrota anunciada. Larissa cansada, já nem moça nem mulher nem menina, Larissa exausta não queria mais esperar nada, o corpo moído não dava mais para amar, nem por amor nem por moedas, Larissa chorou mas não trista antes resignada, Larissa olhou para a casinha e nela se trancou com suas toalhinhas, enfeites, limpeza e cheiro de ervas mortas.

Nunca mais se viu Larissa.

9 de set. de 2020

soy un perdedor

 


soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

o tempo às vezes passa fazendo a gente sentir isso, de ser um zero, um menos, negativo ma conta da vida, devedor eterno de uma promissória que jamais será saldada.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

o tempo é amigo da vida, juntos adoram dar patadas na gente e mesmo depois de cachorro morto, seguem chutando para ver se algo mais vaza do cadáver.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

a vida tem dessas coisas, daquelas coisas, de muitas coisas, a vida tem de tudo menos de mim e se tivesse faria de tudo para se ver livre o mais rápido possível.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

coach, ajuda, auto, motivação, ação, esperança, fé, positivo, vai melhorar, acredite, palavras lindas que ecoam lindas no ar lindo de quem as fala. quando chegam em mim adquirem outro sentido.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

deus está morto, sempre esteve, se vivo fosse não deixaria tanta merda no mundo. deus, se existiu, picou a mula faz tempo cansado de ver a cagada que fez, deve estar tentando de novo em outra parte do universo ou, se for esperto, largou mão de tudo e está enchendo a cara por aí.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

quem sou eu para dizer o contrário de quem fala que nada está tão ruim que não possa piorar, pode e vai, sou o exemplo vivo de que isso é fato e viável, o fundo não existe porque toda vez que penso ter chegado nele sempre tem algo mais abaixo, sem fundo, somos todos buracos de nós mesmos.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

fui abduzido uma vez mas eles não quiseram ficar comigo, mal entrei na nave e já me devolveram, disseram que não valia a pena, nem para experimentos eu sirvo.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

comprei comida outro dia, veio o pedido errado, não quiseram trocar nem devolver o dinheiro, disseram que eu era uma promoção e não o pedido e eles não tratam com pessoas promoções.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

quase fui atropelado outro dia, o carro nem parou, nem viu, ninguém parou para ver se eu estava bem, se tinha algum machucado ou osso quebrado, acho que não tenho carne nem osso, acho que não tenho nada, acho que não sou, fiquei ali estatelado no asfalto com os carros passando por cima, deu uma sensação de carinho.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

tentei namorar, várias vezes, nunca deu certo, por mim eu acho, pelos outros eu acho, pela vida eu acho, sou inamorável, sou um poço de soro fisiológico, uma vez me chamaram de quase sombra porque sombra de verdade acompanha o corpo e eu nem isso faço, sou isso, a sombra de uma sombra.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

fui tomar uma cachaça dia desses, o cara do bar serviu uma pra mim e outra pra ele, perguntei porque e ele disse que ao me ver deu vontade de beber.

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?
soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?
soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?
soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?
soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?
soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

tentei me matar. só tentei. deu errado. fiquei com sequelas e nem pra morrer deu certo, cheguei a ver a morte, nos olhos, e ela me disse que não me queria, que a vida ficasse comigo..

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

soy un perdedor, i'm loser baby, why don't you kill me?

8 de set. de 2020

a língua que se fale

 


Há um distanciamento que parece intransponível quando tratamos de entender o outre e ele se torna irreconciliável e impossível quando chegamos ao assunto de orientação sexual e identidade de gênero e toda a rede de assuntos que permeiam um assunto que só parece complexo e que, na verdade, é compelido a seara da complexidade pelo discurso normativo dos brancisnormativos.

Tudo que se fecha em si está fadado ao extermínio, no rito regime da auto-proteção o relógio do fim bate mais rápido do que nunca e os idiomas, dialetos e afins precisam também evoluir ou desaparecerão num piscar de olhos.

Um idioma só é tão rico quanto as pessoas que o usam e, se estas se recusam a evoluir preferindo ater-se aos modelos clássicos, padrões e normas que foram erigidos para preservar não a língua em si mas os hegemônicos patronos que se julgam detentores de sua alma, o idioma está fadado a morrer.

A riqueza de um idioma não reside declinar de forma culta, acadêmica e correta verbos, saber o uso de pronomes, adjetivos e sintaxe. A riqueza de um idioma deve estar em sua utilização plena e irrestrita das pessoas que o falam e refletindo não apenas seus pensamentos mas suas vidas, modos e identidades.

Quando a comunidade LGBTQ passou a usar um dialeto todo seu não foi a com a finalidade de deturpar, violentar ou corromper a língua mas como forma de subversão é um ato político pois nosso dialeto fechava em si sei entendimento permitindo que nos comunicássemos sem medo de represálias.

Hoje, esse mesmo dialeto foi incorporado ao idioma sendo usado não apenas por nós mas por todos e, de certa forma, tirando do contexto original muitas das palavras que criamos.
Com isso, nosso idioma se enriqueceu, tornou-se mais vivo e mais próximo de muitas pessoas que passaram a ver suas vidas, costumes e sexualidade oral expressas nele e sem medo de usar os termos que cunhamos há anos pensando em serem repreendidas ou ridicularizadas.

Da mesma forma, a linguagem neutra é algo de suma importância se quisermos seguir com a evolução da língua portuguesa tirando dos catedráticos, bastiões e guardiões do saber a responsabilidade por determinar qual regra ou norma deve ser aceita como correta ou culta, larguemos essa noção de idioma elevado a um pedestal intocável é acessível apenas para meia dúzia de eleitos!

A linguagem neutra é uma evolução necessária do idioma que precisa acompanhar o mundo e as pessoas que nele vivem. Por mais que pareça que nossa sociedade e país estão involuindo, está acontecendo exatamente o contrário e a nossa amade língue portuguese vai incorporar a linguagem neutra porque as pessoas que nela se identificaram são falantes do mesmo idioma que todos nós e, se não puderem ter algo que é uma das bases de qualquer identidade como pessoa e cidadão, como parte da mesma sociedade que todos nós, refletindo como falam e desejam que o idioma reflita suas vidas então automaticamente estaremos excluindo tais pessoas da sociedade, do país, da vida e já roubaram demais de todes nós para deixarmos que roubem até nosse idioma.

7 de set. de 2020

pátria morta brasil

 



Brasil dependente, sete de setembro trágico esse.

Não tem como celebrar algo que nunca existiu, data pátria só existe quando há pátria, quando há governo e povo, quando há unidade e igualdade, quando há esperança, quando há empatia e amor.

Desde que o inominável foi eleito, entramos numa espiral de horror, de negar tudo que a história prova e comprova para reescrever de acordo com os ideias de um presidente insano, sua família de psicopatas, os gabinetes do ódio real e virtual, os religiosos tementes a um deus caduco e senil, a família transtornada brasileira armada e feliz, estuprada e contente, com seus filhos abusados, violentados, usados mas sorridentes porque tem o videogame da vez e a viagem internacional garantida mesmo com o dólar a corroer o resto da sociedade e a inflação rondado a mesa de todos ou você acha que uma nota de duzentos reais veio para facilitar a vida da gente?

Não.

Ela veio porque o dinheiro em circulação já começa a perder força ante a inflação e as políticas econômicas do governo messiânico batem cabeça na queda de braço entre ricos e pobres se bem que todos sabemos quem sai perdendo nessa guerra, não é mesmo?
A pandemia ilusória, a doença que vai matar mesmo e os mortos que morreram mesmo, talvez venhamos a invejá-los quando nos dermos conta de que o messias nos guiou para uma terra arrasada que ele e apenas ele enxergava como prometida. Salve, Jair! Rei do tolos, dos afobados e cegos! Tua palavra torta entra direita pelos ouvidos dos doidos.

Não há saída, o Bolsofascismo chegou, bota na porta, bota na cara, bota no pescoço, bota em nossos rabos para fazer brazil great again e desmonta cultura, arte e educação para gerar uma geração de estúpidos que jamais irão contestar os mandos e desmandos do messias capenga de pau oco e torto.

As igrejas se refastelam no dinheiro e almas dos pretos, gays, queers, travestis e todos que ousam não seguir a cartilha santa normativa da sociedade de bem, essa que mata bixa, mata viado, mata mulher porque ela deve ser submissa, está no livro, o que precisa ser usado ao invés da carta magna, carta sacra para dar na cara dos ímpios e pecadores, nós.

Não há saída até que tudo acabe e desmorone, talvez então todos nos olharemos e perguntaremos o que se passou, não saberemos eu acho mas alguns sim e esses terão de reconduzir a vida ao normal, não esse novo normal mas outro que seja mais novo e menos normal.

Sete de Setembro, dia nojento, dia podre, dia de Jair vestir as cores do país que roubou da gente e de seu gado infestar redes sociais e ruas (gado não acredita na doença, só na bocânus do messias que diz as verdades mais puras) propagando seu ódio, sua ideia de eugenia e genocídio, matem as bixas, matem os pretos, matem o imigrantes, matem os nordestinos, matem tudo e todos que não vieram do útero santo da família bolsonarista brasileira, mito, mito, mito, senhor jair do universo, genocida das alturas.

Estamos caminhando, passos largos, para um fim nefasto, destruindo ideias, demonizando ideais em nome de um governo que governa para uma parcela da sociedade que se entende como detentora de todo o resto do país, bastiões de um sonho morto, de uma norma podre, de um sonho que há muito já despertou e que não acredita que jamais será realidade.
Acordem, filhos do sete, filhos de setembro, filhos da pátria porque os filhos da puta, e as putas não merecem isso porque são guerreiras, já estão sonhando uma realidade cada dia pior...


4 de set. de 2020

dei o perdido

 



no aeroporto, meu medo mais primal e talvez o de todos se fez real, olhava a esteira de bagagens circular lentamente, vazia, como se as lâminas de borracha que a compusessem fossem algum tipo de oráculo e eu fosse o único ali para lhes ouvir os vaticínios o que era verdade, todos que habitaram por intermináveis horas o avião comigo já haviam ido e somente eu estava ali, enamorado da esteira que, ciumenta de certo, não cuspiu minha mala.


conformado, procurei pela placa de bagagens extraviadas e me dirigi ao balcão onde um home que não era de meia idade mas não era jovem, não era tão jovem mas não chegara a maturidade, não era tão maduro para ser adulto mas talvez fosse jovem demais para ser novo, enfim, uma dessas pessoas que não parece ter nascido mas simplesmente fabricada, somos isso, não, linhas de montagem, enfim, estava lá o homem e me dirigi a ele mas, ou não quis ou não percebeu a mim ali em pé, seguia com ar absorto no monitor do que eu achava ser um terminal, poderia ser um celular, poderia ser nada, enfim, insisti, tossi, tossi de novo, tossi como se fosse expelir os pulmões.

pois não?

bom dia.

bom sia.

minha bagagem.

sim?

não veio.

no voo?

como?

sua bagagem.

sim, essa mesmo que não veio.

no voo?

bem, não sei dizer, creio que sim, a despachei pelo menos.

então ela veio com o senhor?

bem, não comigo, no avião mas não comigo.

entendo.

ela não veio.

com o senhor?

veio comigo, acho que me expressei mal, ela veio comigo sim mas não aparecei aqui na esteira.

qual esteira?

aquela ali.

a 8?

sim, deve ser.

preciso saber exatamente.

sim, a 8, essa mesma.

deixe-me consultar, um momento por favor.

olhava para ele e para a esteira, tímido, ressentido, talvez com raiva mas raiva não era algo que eu sentia com frequência, ou fosse, ou era, ou fosse talvez por causa do avião, ou da mala, ou do homem, aquele de meia idade adulto.

aqui está.

minha bagagem?

como?

você disse aqui está.

ah, não, digo, as informações sobre seu voo.

ah.

ele pousou.

sim, eu sei.

todas as bagagens foram retiradas já.

menos a minha.

a que veio com o senhor, certo?

essa mesma.

não está aqui.

isso eu também sei.

não precisa se alterar.

não estou alterado.

ok, sua bagagem não chegou na esteira?

não, já lhe disse.

o senhor chegou a olhar nas outras esteiras?

não, deveria?

às vezes...

mas não vejo quaisquer malas por perto.

sim, é verdade, as malas que não são retiradas ficam ao lado da esteira e depois são trazidas para cá.

eu acabei de chegar, não creio que haveria tempo.

também não dei entrada em nenhuma bagagem perdida ou não retirada.

então?

alguém poderia ter pego a sua mala por engano, o senhor sabe, as malas costumam ser parecidas.

não acho que tenha sido o caso.

entendo.

e o que fazemos, então?

damos entrada no sistema com seus dados e aguardamos.

mas quanto tempo?

o tempo que for necessário para rastrear sua mala.

e se não a encontrarem?

o senhor será reembolsado, conforme as regras de seu bilhete.

e há algo mais a ser feito?

não, o senhor precisa dar entrada e aguardar.

façamos isso então.

dei entrada no sistema, fui guardado com todo o amor e carinho num canto de uma sala localizada atrás do balcão onde ficava o homem de meia idade, quase adulto mas não tão jovem aquele mesmo, enfim, fiquei num tipo de escaninho e aguardei, quieto, calado, por horas, dias, meses até que um dia, o homem rapaz, meia idade adulta, enfim, veio me buscar trazendo minha mala.

encontramos sua mala.

fico feliz.

o senhor pode assinar aqui este protocolo e em seguida está tudo ok, liberado.

agradeço.

assinei o protocolo, peguei minha mala e voltei, mudo, para meu escaninho.

3 de set. de 2020

passou da hora de um basta

 


Até quando?

Façamos essa pergunta mais uma vez, mais duas vezes, mais dez, cem, mil, zil vezes até alguém encontrar uma resposta ou achar uma solução.

A normalização da violência machista sancionada pelo macho alfa que 'ocupa' a presidência foi institucionalizada e avalizada pelo alto escalão do poder que, verdade seja dita, nunca deixou de praticá-la e incentivá-la assim como, de forma corporativa e protecionista, seguem passando para os machos que acham que lugar de mulher é debaixo de porrada.

Quando temos um promotor que, em tese, deveria combater todo e qualquer tipo de violência e crime, ridicularizar e fazer troça com a violência contra a mulher justificando seu erro grotesco dizendo que era uma conversa informal, entre pares, que não havia qualquer seriedade naquilo e que é totalmente contra esse e qualquer tipo de violência, é sinal de que não há mais esperança alguma se é que desde a eleição do genocida pode-se dizer que houve alguma.

É nessa normalização engraçada, feita entre machos, que reside o aspecto mais abjeto do machismo estrutural que ainda vive entre nós, o macho alfa acha graça que as mulheres estejam apanhando porque, com a pandemia, os casais se viram forçados a conviver 24x7 e então, as diferenças e arestas que eram amenizadas (ou não) pelo futebol com os parças, a breja depois do trampo, aquela ida ao puteiro, tudo isso foi tirado do macho e ele teve de encarar que relacionamento é algo complexo e que depende de diálogo e paciência, de entendimento e parceria, de compreensão e respeito, todas as coisas que ele está pronto para cobrar da mulher ao menor deslize mas que jamais dará em retorno porque não é seu papel, seu papel é prover, dar comida e teto, mijar pelos cantos para marcar o território, fazer filhos oficiais e não oficiais, ser macho, bater na mulher porque ela precisa entender que ser macho não é fácil e que ela precisa ficar na dela e dar espaço ao dono senão a porrada come ou, como ele mesmo disse, o cara está em casa e aí, não dá, como se o macho que antes podia espalhar seu pau pelas ruas livremente, agora tolhido de sua liberdade, precisasse sentar o cacete na mulher para reafirmar sua posição já que, fora de casa, ninguém está vendo que ele é macho.

O macho então ri, ri porque ele pode, porque seu pau lhe permite rir enquanto desce o sarrafo na mulher, seu pau em riste é a prova de que ele tem o poder, de que ele ejacula vida e que seu escroto é a fonte de todos os bens (e males) da vida e que a mulher deveria é lamber suas bolas em agradecimento.

Esse comportamento do promachotor e seus machos é a mais pura essência do Bolsomacho que saiu da caverna com a eleição do genocida e ainda teremos de conviver durante muito tempo com ele, infelizmente.

2 de set. de 2020

a homofobia nossa de cada dia


Se você não mora em uma caverna, deve ter visto este caso (mais um, mais outro, mais quantos?) de um casal LGBTQ que aguardava mesa em um restaurante quando outro casal hétero os agride física e verbalmente alegando que estavam com crianças e que eles não podiam estar ali 'fazendo pouca vergonha'.

Não será, infelizmente, o último caso assim já que temos um presidente homofóbico e que deixou bem claro em mais de uma vez que gays, ou qualquer sexualidade que não seja a normativa, não merece respeito ou mesmo direito a existir que dirá direitos civis ou humanos. E ainda tem a audácia de dizer que não tem nada contra os gays e até tem um de estimação que está lá a lhe lamber as mãos, só não quer soltos por aí, maculando a família transtornada brasileira.

Com aval de Bolsonaro e seu séquito crente, as agressões contra a população LGBTQ tem crescido assustadoramente, o cidadão de bem temente a deus, conservador, aquele mesmo que vai ao culto e missa, veste roupas sóbrias, preza a virgindade e valores tradicionais e que, nos finais de semana e feriados, estupra filhos e filhas, abusa de menores, frequenta clubes de sexo gay, paga por prazer com as travestis, se permite uma festa da carne que faria qualquer pagão corar, esse enfim, está autorizado a sair por aí atacando gays porque seu presidente deu autoridade para tanto.

E não adianta usar suas crianças, essas mesmas que vocês amam estuprar, abusar e matar e depois metem um atestado, como desculpa porque, lamento dizer, elas não se tornarão gays por verem duas pessoas do mesmo sexo ou qualquer manifestação de amor não normativa trocando afeto ou beijos ou carícias, o máximo que elas podem vir a ser são seres humanos maduros e que respeitam a diversidade se isto lhes for devidamente explicado mas, vocês preferem demonizar o amor que não entendem como algo ruim e ai, suas crianças acabarão crescendo achando que não apenas esse amor é errado mas que todo o amor é errado e deve ser execrado, banido e não há terapia no mundo que ajeite isso.

Não é demonstrando ódio e preconceito que vocês protegerão suas crianças do mundo, ele está  mudando e seguirá mudando independente de sua vontade ou preconceito, por mais que vocês achem que estão revertendo o jogo, isso não é verdade, pode ser que momentaneamente vocês estejam em vantagem mas, como diria aquela velha canção, são vocês que amam ao passado e o novo, sempre vem.

O que vocês estão ensinando aos seus filhos e filhas é que o ódio é normal, o preconceito é bom e que o presidente está certo e, nessa levada, suas crianças terão sérios problemas para viver no mundo porque pode até parecer que vocês são a maioria, geralmente animais em extinção pensam assim, mas não são, vocês são a  minoria porque o mundo, como disse, anda para a frente e não para trás e quem decide caminhar na direção contrária dele, geralmente não tem lugar no amanhã e ele chega rápido, sabe?

Então, tente abrir sua mente anã, se for possível, e faça um esforço (grande) para tentar ao menos fazer com que suas crianças não sejam fadadas à extinção que vocês estão, pensem nelas e não em vocês e seus estilos de vida caducos e podres, pensem nelas e no mundo que elas terão de encarar, esse mundo que vocês odeiam e acham que não existe mas que, a cada dia, torna-se mais e mais real.


lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...