8 de set. de 2020

a língua que se fale

 


Há um distanciamento que parece intransponível quando tratamos de entender o outre e ele se torna irreconciliável e impossível quando chegamos ao assunto de orientação sexual e identidade de gênero e toda a rede de assuntos que permeiam um assunto que só parece complexo e que, na verdade, é compelido a seara da complexidade pelo discurso normativo dos brancisnormativos.

Tudo que se fecha em si está fadado ao extermínio, no rito regime da auto-proteção o relógio do fim bate mais rápido do que nunca e os idiomas, dialetos e afins precisam também evoluir ou desaparecerão num piscar de olhos.

Um idioma só é tão rico quanto as pessoas que o usam e, se estas se recusam a evoluir preferindo ater-se aos modelos clássicos, padrões e normas que foram erigidos para preservar não a língua em si mas os hegemônicos patronos que se julgam detentores de sua alma, o idioma está fadado a morrer.

A riqueza de um idioma não reside declinar de forma culta, acadêmica e correta verbos, saber o uso de pronomes, adjetivos e sintaxe. A riqueza de um idioma deve estar em sua utilização plena e irrestrita das pessoas que o falam e refletindo não apenas seus pensamentos mas suas vidas, modos e identidades.

Quando a comunidade LGBTQ passou a usar um dialeto todo seu não foi a com a finalidade de deturpar, violentar ou corromper a língua mas como forma de subversão é um ato político pois nosso dialeto fechava em si sei entendimento permitindo que nos comunicássemos sem medo de represálias.

Hoje, esse mesmo dialeto foi incorporado ao idioma sendo usado não apenas por nós mas por todos e, de certa forma, tirando do contexto original muitas das palavras que criamos.
Com isso, nosso idioma se enriqueceu, tornou-se mais vivo e mais próximo de muitas pessoas que passaram a ver suas vidas, costumes e sexualidade oral expressas nele e sem medo de usar os termos que cunhamos há anos pensando em serem repreendidas ou ridicularizadas.

Da mesma forma, a linguagem neutra é algo de suma importância se quisermos seguir com a evolução da língua portuguesa tirando dos catedráticos, bastiões e guardiões do saber a responsabilidade por determinar qual regra ou norma deve ser aceita como correta ou culta, larguemos essa noção de idioma elevado a um pedestal intocável é acessível apenas para meia dúzia de eleitos!

A linguagem neutra é uma evolução necessária do idioma que precisa acompanhar o mundo e as pessoas que nele vivem. Por mais que pareça que nossa sociedade e país estão involuindo, está acontecendo exatamente o contrário e a nossa amade língue portuguese vai incorporar a linguagem neutra porque as pessoas que nela se identificaram são falantes do mesmo idioma que todos nós e, se não puderem ter algo que é uma das bases de qualquer identidade como pessoa e cidadão, como parte da mesma sociedade que todos nós, refletindo como falam e desejam que o idioma reflita suas vidas então automaticamente estaremos excluindo tais pessoas da sociedade, do país, da vida e já roubaram demais de todes nós para deixarmos que roubem até nosse idioma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

one is the loniest number...

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...