24 de set. de 2020

em linha

 


Assunto do momento mas não antigo, esse documentário da NF joga mais gasolina no eterno fogo das redes sociais e internet das coisas e nas coisas.

Apesar do tom histriônico, alarmista e apocalíptico do documentário, ele traz sim uma discussão muito séria sobre como não somos donos de nossa persona digital e muito menos de nossos dados que trafegam pela rede sem qualquer controle ou monitoração e como somos moldados por nossos likes, views, posts e tudo mais pelas grandes corporações que dominam o mundo virtual e que não querem que passemos um segundo sequer longe das telas de nossos celulares, computadores e smart tvs.

Como disse, o documentário em si não traz nada de novo, nada que não tenhamos ouvida falar 'n' vezes antes mas, considerando o avanço das tecnologias e maior acesso das pessoas ao mundo digital (ainda que, a grosso modo, grandes partes do globo ainda sejam 'analfabetos digitais), o documentário abre uma caixa de horrores que vivemos na pele: as notícias falsas, a polarização de opiniões, a perda de credibilidade de modelos tradicionais de informação, o perigo das redes sociais em processos democráticos como eleições e afins e em situações como a pandemia do COVID-19.

Se pensarmos friamente, somos criaturas digitais há pouco tempo em termos históricos e ainda estamos aprendendo como lidar com essa ferramenta que evolui muito mais rapidamente do que nosso cérebro e  consciência, arrisco dizer que a internet, as IA e tudo que a permeia estão para nós como nós estamos para um antepassado que ainda não havia dominado o fogo salvo as gerações mais novas que já nasceram conectadas e online basta ver a intimidade incrível de crianças que mal pronunciam palavras mas são capazes de abrir o YouTube e buscar o que desejam ver.

A internet e as redes sociais estão ganhando a luta evolutiva de lavada e moldando as novas gerações para serem incapazes de viver sem elas e este é para mim o maior perigo, estamos formando autômatos incapazes de pensar e tomar decisões sem o amparo do Google, as informações do Whats, as fotos do Insta e as 'notícias' do Twitter, máquinas conectadas 24x7 e que só acreditam no que as telas de alta definição lhes dizem, no que os comentários validam, no que é compartilhado em grupos onde se pode sentir confortável, à vontade, acolhido, aceito e compartilhando apenas o que nos agrada sem uma visão mais ampla e mais profunda de assuntos que podem determinar até mesmo a vida e a morte de alguém ou destruir a vida de uma pessoa em questão de milésimos de segundo.

Estamos presos na matrix, o filme profético, acertou em cheio mas, diferente dele em sua visão fantasioso, não temos cabos e fios presos ao nosso sistema nervoso, ao menos não fisicamente mas virtualmente, somos fantoches dos algoritmos e das grandes empresas de tecnologia que regem nossos destinos e nos conhecem melhor do que nós mesmos ou nossos pais. Essas empresas e produtos digitais trabalham com o mais alto grau da psique humana e seus mecanismos de gratificação, prazer e empatia, eles conhecem nossos gostos sejam eles pueris ou obscuros, estão dia e noite prontos para satisfazer nosso apetite e não deixar com que ele diminua, basta você fazer uma busca em qualquer ferramenta ou aplicativo para ver como a rede conhece você melhor do que qualquer um, ela sabe, ela intui, ela antecipa seus movimentos e pensamentos, ela sabe o que você quer ver, o que precisa comprar, o que você sente tesão, o que lhe deixa feliz e puto, o que lhe deixa triste e com raiva, se deus existe então ele está na internet soltando mandamentos para todos os cyber fiéis.

Mas qual a saída, então?

Não há. Não iremos nos livrar da internet e dos aplicativos, estão por demais mesclados em nossas vidas para isso, não podemos mais conceber um mundo onde você precise pedir um táxi na rua, sair para comprar uma pizza, telefonar para matar as saudades, escrever uma carta para mandar notícias ou esperar que um filme seja lançado no cinema. Se uma hecatombe sem precedentes ocorresse e subitamente ficássemos todos sem internet, o mundo entraria em colapso mas, não acabaria, haveria desordem e provavelmente ondas e mais ondas de distúrbios generalizados ou até guerras civis principalmente, creio eu, porque quase todo o dinheiro circula hoje de forma digital, você não o vê, acredita que está no banco, guardado mas ele é apenas uma sequência de zeros e uns e, se a internet acabasse ou sofresse um colapso mundial, praticamente todos nós estaríamos na miséria num piscar de olhos. Obviamente que o mundo não iria acabar, somos uma raça sobrevivente mas sair desse caos seria custoso e o mundo depois seria algo totalmente diferente e as pessoas que detinham o conhecimento do antes, do mundo analógico valeriam seu peso em ouro e seriam os novos bilionários do novo mundo.

Penso que a saída não é deixar de usar a internet e as redes sociais mas aprender como usá-las, ter um uso racional delas e cobrar não apenas de governos e autoridades marcos regulatórios mas de nós mesmos, confiar mais em nós e menos no on-line, usar essa tecnologia de forma consciente e educar as novas geração para que façam o mesmo ao contrário de deixar que seja a babá de nossos filhos. Não adianta culpar a ferramenta, ela cumpre seu papel e pode ser que seu inventor não tivesse propósitos nefastos quando a criou, uma ferramenta só é tão má quanto a mão que a empunha então, a internet e as redes sociais serão apenas tão ruins quanto nós formos e, se elas hoje são um campo de horror e ódio, não é culpa delas mas nossa.

O dilema não é, enfim, das redes sociais ou da internet mas nosso.

2 comentários:

  1. O dilema da internet e das redes sociais é o mesmo que nós enfrentamos em todas as coisas que fazemos: o da relação entre o custo e benefícioo .

    Como diz um ditado muito anterior à era digital, não existe almoço grátis. E no caso da internet, o custo pode ser bem alto. De qualquer modo, sem ela, os prejuízos dessa quarentena seriam bem maiores também.

    Vamos ter que aprender a maximizar os benefícios e reduzir os custos dessa relação complicada que agora envolve tudo o que fazemos.

    Não será nada fácil.

    Um abraço, meu amigo.

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    1. Concordo contigo, achei o documentário alarmista até e não esperava que fosse apontar soluções mas apenas fomentar a discussão. A humanização de quem criou as ferramentas também soou quase falsa já que é possível que não tivessem interesses obscuros ao criar mas com certeza eles vieram depois. Ainda penso que não podemos culpar a ferramenta mas quem a empunha e como usa

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