maria não ia mas acabou indo, maria foi com as outras, queria ir, ficar é que não ia, maria foi, com as outras porque com as outras tudo bem, se fosse com ela não queria mas com as outras foi para a rua, noite fria, céu escuro, maria não queria céu claro mas também não precisava estar tão escuro, maria gosta de ir com as outras porque assim tem com quem conversar, fumar um cigarro, tomar uma cerveja, bater uma carreira, fumar um beque, maria com as outras está segura, de si, de tudo, de todos, na rua tem de ser com as outras, se for sozinha maria vai e pode não voltar.
maria na rua com as outras, o céu um breu tipo buraco no fundo da terra, lembrou do poço na casa onde morou criança, fundo, escuro, sem cor, diziam que lá viviam as crianças que não se comportavam, maria não ia com essas crianças, medo, respeito, os dois, maria só ia com quem a mãe deixava, quando não ia, a mãe ameaçava com o poço, sem falar palavra, só apontava e maria prometia que nunca mais ia com as outras.
maria com as outras ia bem, já tinha ido sozinha mas não gostou, teve homem que não quis lhe devolver, teve homem que não quis lhe pagar, teve homem que lhe bateu, sozinha não tinha como mas indo com as outras, ela contava e apontava e as amigas davam um jeito no homem, nunca mais voltava então maria sempre ia com as outras porque elas iam com ela, não de cara mas depois sim.
maria olhou de novo para o céu, escuro demais gente, nem estrela, nem lua, nem nada, a luz da rua só e olhe lá, os carros passando e ela com medo de olhar para dentro deles sem ter o céu como testemunha, as amigas ocupadas só olhavam quando ela pedia, lembrou da casa de novo, do homem da casa que devia ser o pai, ou não era, era homem, homem não é pai nem nada, é só homem e homem só quer ser homem e ela mulher, a mãe também mas o homem da casa queria ela e a mãe brigou mas o homem brigou mais forte e mãe se calou num sangue escuro que brotou do nada e o homem fez maria ir com ele, sem as outras, sem a mãe, sem ninguém, só eles e depois, maria não quis mais com ninguém e a mãe não queria mais ir com maria e nem lhe ameaçava com o poço e maria ficou sem ir por muito tempo até um dia ela não sangrou e a mãe não quis ir com ela e o homem da casa não quis ir também e ambos fizeram ela ir com outras porque ali não era casa de maria.
maria foi, sofreu, perdeu sangue e uma coisa que saiu de si, maria foi com as outras sem saber quem era, o poço de casa a lhe seguir na memória e aos poucos ficando esquecido porque poço sem fundo mesmo é a vida, é ir com as outras que não tem poço, não tem fundo, não tem onde ir a não ser com as outras. maria se achou com as outras, aos poucos, foi indo com elas e acabou ficando com as outras, teve dores, teve amores, teve sangue, teve briga mas ela nunca deixou de ir com as outras porque elas eram agora suas amigas, sua família, sem elas, maria não tinha para onde ir.
maria ficou ali vendo os carros passando, o céu um poço, em cima dela, de sua cabeça, aa rua iluminada amarela, fria, carros passando quentes, as outras indo e voltando e ela sem ir ainda, maria ia com as outras às vezes, quando chamavam mas não gostava, gostava de ir sozinha, de ir com as outras só quando não era trabalho ou quando era preciso para fazer a féria do dia.
maria olhava para o céu escuro demais, as outras chamavam sua atenção para os carros, olhar o céu é coisa de doido ou namorados e elas não eram nem um, nem outro, maria tinha de prestar atenção ou as outras não iam mais querer que ela fosse junto, atrapalhava.
maria sentiu o céu mais escuro ainda, disse a uma amiga que o céu estava muito escuro, demais da conta mas a amiga não lhe deu atenção. maria achou que o céu estava ficando cada vez mais escuro, como se isso fosse possível e que ele estava engolindo toda a luza da rua, as amigas fizeram cara de pouco caso, a luz da rua fraca iluminava mal e porcamente a calçada onde estavam, os carros passavam com farol baixo e elas iam.
maria estava assustada, queria ir embora mas as amigas não iam, ela iria sem as outras, as outras disseram que era melhor antes que ela estragasse a noite de todas mas ela teria de fazer dobrado na noite seguinte, maria disse que sim, que faria mas queria ir embora e foi, a noite um breu que nem o início do mundo conheceu.
noite seguinte maria não foi com as outras. perguntaram por maria mas ninguém lhe sabia o paradeiro. maria não foi com as outras, ficaram procurando por maria, nada, buscaram por maria, nada, maria tinha morrido, nada, maria tinha se ajeitado, nada, maria dera golpe, nada, maria não foi mais com as outras, ninguém soube mais de maria mas depois disso, todas as noites foram muito claras, quase dia, as outras achavam bom, noite de breu, de poço, nunca era bom sinal...
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