8 de abr. de 2010

sexo mentiras e literatura barata



Hoje, vindo para o trabalho, logo a minha frente estava em pé uma mulher jovem.
 
Em suas mãos, um livro de bolso. De onde estava, não conseguia lhe ver a capa e deduzi o título pelo cabeçalho de uma página que vi de relance: ‘Escola Perdida’. Titulo interessante para um livreto, seria algo referente a adolescentes rebeldes? Um estudo sobre escolaridade nas periferias? Ou alguma ficção sobre uma escola que se perdera no tempo ou dimensões paralelas e fora redescoberta?
 
Enfim, nos movimentos do coletivo, ela acabou por aproximar-se e pude então ver a contracapa do livreto onde se lia: ‘Sofisticação e sensualidade em cenários internacionais’. Bom, não poderia mais ser um estudo sobre adolescentes rebeldes ou escolas na periferia posto que ambos encaixavam-se nesse enunciado tanto quanto a bola na forma do quadrado naqueles testes psicotécnicos. Sugeria mais algo exótico, sedutor, aquele tipo de literatura destinado a mulheres sonhadoras, que ainda planejam encontrar seu amor duradouro e que as levará para uma vida distante de sua mediocridade onde o luxo é uma constante e o amor vem em cascatas, eterno e doce entre o jet set internacional. Ou, destinado às mulheres mais velhas, já vividas e que descobriram a realidade por trás de tais sonhos e que encontram nesse tipo de livro consolo sexual e afetivo.
 
Finalmente, consegui ver o título do livreto: ‘Escolha Perfeita’, errei por pouco. Tentei ler a sinopse na contra capa mas não consegui ver muito, só o nome do protagonista que era sui generis: Xandro Caramanis. Oras, com um nome desses não foi difícil chegar a isto aqui
 
Um mundo inteiro de literatura barata em todos os sentidos que me fez recordar minha mãe a qual, ao mesmo tempo em que consumia coisas como Raymond Chandler, Agatha Christie, Julio Verne, Henry Miller e Jorge Amado, tinha um apetite voraz para Sabrinas, Julias e Biancas, as equivalentes da época as quais nem mesmo sei se ainda são publicadas. Imagino que sejam as precursoras dos sonhos vendidos a preços extremamente acessíveis nas bancas de jornal. Lembro claramente dela e de minha tia a trocar impressões sobre os machos alfa de tais romances, dos cenários paradisíacos onde as estórias se passavam mas tudo com aquele ar de ciência de que era apenas um sonho e que liam tudo aquilo como uma espécie de diversão em contraponto a seriedade moderada de outras cousas que liam ao passo que as garotas como a do ônibus podem e devem muitas vezes confundir as bolas vide explicação acima.
 
De qualquer forma, ela estava a ler algo e antes esses livrinhos do que qualquer outro de auto-ajuda ou sucesso pessoal/empresarial, essas coisas que servem apenas para quem as escreve pois você mesmo não terá nenhum beneficio direto com elas. Os livrinhos pelo menos entregam exatamente o que prometem.

3 comentários:

  1. Esses livrinhos podiam ter aí umas pitadas de amor lgbt pra abrir a cabeça das mãezinhas, né? Mas se já falam de sexo, já ajuda...

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  2. e ela chegou em casa mais feliz. :D

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  3. Minha irmã tb era leitora voraz desses romances. Mas infelizmente não tinha a classe de ler Henry Miller e Júlio Verne. So sad...

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