25 de abr. de 2011

a toca do coelho



Antes do feriado, um casal de amigos (de casamento marcado para o segundo semestre) esteve aqui. Ficaram pouco tempo, foi mais para devolver alguns dvds que tinham pego emprestado e durante nossa conversa curta expressei meu desgosto em ter de ir à casa de meu irmão no feriado.

Eles me perguntaram porque e respondi apenas que ao sair de casa, voltar mesmo que sejam por breves momentos é tarefa árdua e que, depois de casados, sentiriam o mesmo pois você passa a ter seu canto, suas coisas, seu ambiente, seu lar e, como é do humano querer sentir-se sempre seguro, à vontade, salvo, você passa a ver aquilo que foi seu lar durante anos como, digamos (guardadas as devidas proporções), uma câmara de torturas da qual você precisa escapar o quanto antes.

Generalizo? Talvez sim, quem sabe? Expresso as minhas frustrações familiares? Pode ser mas quem aqui não as tem? Alie-se isso ao fato de que temos aqui nosso hábitos, gostamos de ficar juntos e esses feriados quando nossas presenças são demandadas pela família são pedras incômodas em nossos sapatos.

Chegou o dia e fomos cada um para um lado da cidade. Cientes do que encontrariamos por lá e sedentos pelo retorno dias depois. Esse caminho de volta, pródigo, carrega um peso de retrocesso velado por mais que se saiba não ser um retorno efetivo. real mas, ao menos a mim me parece que volto a um ambiente onde não me encaixo mais tamanha foi a mudança que a vida fora do ninho causou em mim. Sei que vim de lá e que numa extrema instância aquele será um porto que estará com as portas mais do que abertas quando todos os demais estiverem fechados a mim.

Tomado disso, cheguei lá e o resultado não poderia ter sido mais oposto. Sei que hoje minha família é o Wans e eu a dele. Ao nosso modo, somos isso e suprimos um ao outro as necessidades básicas desse núcleo familiar mas, de alguma forma, esse sangue compartilhado, esses genes em comum, possuem um poder estranho ainda que você o negue e me senti acolhido como há muito não me sentia salvo quando deixei o hospital e por lá fiquei uns dez dias alvo de todo mimo e cuidados que se pudesse ter.

Tenho apenas um irmão, nada mais. A mãe já acertou sua contas com a hora ruim há muito e o pai está velhinho, vive um saudosismo incerto misturado com pitadas de realidade mas sabe quem é e quem somos. Tenho dois sobrinhos, casal, menino de nove e menina de um ano. E conversando ali, com meu irmão, sua mulher, me veio a sensação de que ali também era minha casa, lar, aconchego. Não posso mais realmente comungar de sua realidade, não me faz entendimento, carece de sentido mas dosar a mesma homeopaticamente me serve de lenitivo ante as mazelas do cotidiano e as desesperanças que vivo atualmente.

Lá não havia questionamentos, respostas, nada que não fosse eu mesmo por mim e no abraço sincero de meu irmão, na alegria de meu pai em me ver e das crianças para com quem eu nem mesmo sou assim tão presente existiu um momento de ternura sem fim. Coisas como comermos todos juntos, falar besteiras depois e ficar lembrando coisas passadas, falar com meu pai e ver que ele ainda se lembra de muita coisa que eu nem mesmo tivera tempo de esquecer, talvez o tempo tenha ajudado com sol claro e dias quentes, não sei.

Sei que meu pai não tem lá assim muito tempo, é um fato inegável mais por sua idade do que motivos de saúde, e então, qualquer tempo que se passe com ele já é válido e neste feriado senti que passo, egoista, menos do que gostaria e como antes vou prometer mais do que não tenho intenção de entregar mas sem remorsos pois sei que quando estou com ele faço valer todo momento. Quando ele se for, só me restara meu irmão e nossa familia caberá num pedalinho.

Queria fazer mais por meu irmão pois sei das dificuldades pelas quais ela passa, umas merecidas, outras nem tanto e sinto que minha presença parece, de alguma forma, aliviar seu fardo. Antes desse feriado, almoçamos juntos aqui pelo centro certo dia e disse a ele que me sentia meio culpado por ele ficar com o fardo de cuidar de nosso pai, me sentia ausente e me recriminava por isso.

Ele olhou para mim e disse que nunca pensara nada disso de mim, que tivemos escolhas diferentes, fui fazer minha vida e ele ficou para trás. Disse ter sido sua escolha e que vivia bem com ela e que carregaria esse fardo o tempo que lhe fosse determinado. Saí desse almoço com o estômago e o espírito cheios.

O mundo é um buraco de coelho, entra-se não se tem idéia de onde sairemos. Se você tem alguém para amar, pode facilmente achar o caminho de volta, se tem quem te ame, certamente vai achar o caminho mas, no final mesmo, no fechar das contas, poucos vão te estender a mão em ajuda, por mais que você queira virar o rosto, essas poucas mãos serão da sua família.

8 comentários:

  1. Este post, belísismo acima de tudo me comoveu por você nos deixar compartilhar e entender a importância do que é ter uma família que no meio do caos que vivemos muitas e muitas vezes esquecemos!
    Obrigado meu querido!

    Beijos

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  2. eu fiquei todo arrepiado aqui. sério mesmo... estou de férias e voltei para a casa das minhas mães (sim, minha familia não é convencional, mas elas tb não são lésbicas, são irmãs mesmo... ). Ler seu post de hoje me fez lembrar da hora que cheguei aqui em casa... bolo quente saindo do forno, café da tarde e outras coisas mais da italianada. E ai tem a chantagem emocional que eu finjo que não vou cumprir, mas cumpro, tem mais primos chegando, festa de páscoa... mais gente nova... e uma certa liberdade de ser quem sou. Conquistei a dura penas uma vida independentem em Sampa e mesmo assim tenho muito a aprender... um pouco disso eu absovo dos blogs que visito e um deles é o seu... com pontos de vista muito importantes e interessantes para que possamos pensar além!

    bjo grande e por Wans tb!!!!

    Ah... hoje fui pra academia aqui no interior malhar as coxas! ahuauuhauhauha.. obrigado pelos elogios lah no JED!!! bjaumzaum

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  3. Carácoles... esse foi realmente forte! E que bom que foi! De vez em quando a gente precisa desses "wake up calls". Beijos, lindão!

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  4. Sei perfeitamente o q é isto ... eu vivo no outro lado diferentemente de vc ... são escolhas e eu fiz a minha ... por momentos tenho vontade de sumir mas sei perfeitamente a força destes laços ... o q conta mesmo é q somos reféns destas relações e não há como contestar ... sua relação com seu irmão é muito bacana ...

    Parabéns pelo post ... forte e emocionante ...

    bjão

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  5. Juro, quando eu leio esses seus posts eu tenho vergonha dos meus. Fato!

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  6. A minha relação com minha família de sangue tb é de chegadas e partidas, encontros e asperezas. O afeto bendito de cada dia eu colho fácil em outras fontes amigas, mas sei que eles estão ali.

    Bj

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  7. É amargo pensar no tom nostálgico das coisas, que o que realmente é, será! Estampar a realidade das coisas, é o que as pessoas fazem... vivem um paradoxo, sem tamanho. A familia se destrói, no mesmo aspecto da cadeia alimentar (nasce, reproduz e morre), e esse é o fato que as pessoas não aceitam, por amor, por dor, por qualquer coisa, sei lá. O que eu admiro é a realidade nua e crua... o qual seu texto descreve bem! O que nos diz parte, simplesmente é encarar a realidade, assumir acertos e erros. Ler esse texto, foi o mesmo de me ver o escrevendo. (Estou dizendo no sentido no todo, porque escrever assim é só vc).

    Saudades meu Amigo!
    Beijos

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  8. Obrigado pelo post ...

    Não preciso te dizer que me emocionei do começo ao fim.

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