6 de out. de 2020

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Dia desses, a Cristina Judar fez uma postagem sobre como sempre é questionada, quando participando de mesas ou eventos, por escritores cisgêneros HT sobre a necessidade de personagens não normativos ou, como ela diz, gays ou homossexuais porque para eles é tudo a mesma coisa.

Bem, primeiro que é de bom tom explicar ou tentar esclarecer que a sexualidade humana é algo tão complexo e diverso que estamos começando a entender como ela funciona e as diversas expressões que possui e que vão muito, mas muito além dos binarismos e normatividades que são impostas pela sociedade.

Com isso em mente, qual a necessidade então de termos personagens e uma literatura que inclua essas manifestações? Se considerarmos que a grande maioria da literatura é produzida por e fala de personagens heteronormativos, termos literatura e personagens que falem para as mais diversas expressões da sexualidade é sim muito necessário para que essas pessoas sintam-se representadas e tenham voz, ninguém nunca questionou qual a necessidade da literatura retratar personagens normativos porque é justamente o que predomina e se espera dela então, a questão que nos é feita reflete o estranhamento e a falta de compreensão que habita no universo normativo como se nós que escrevemos estivéssemos fazendo algo completamente novo e incompreensível.

De certa forma estamos afinal, estamos dando voz a personagens que não são da realidade absoluta vigente e criando novas formas de contar histórias e criar personagens e isso confunde a mente hetero-centrada. Quando passamos a questionar os moldes e criar nossos próprios caminhos somos confrontados com esse estranhamento dele pois estamos a subverter cânones que muitos julgam intocáveis e não entendem porque não os podemos seguir para fazer parte do clube.

Muitos deles interpretam isso como raiva, ódio ou até um certo belicismo nosso o que pode até ser verdade já que nós não conseguimos deles nada se não for no tapa mas, não é apenas isso, estamos mostrando que é preciso abrir espaço para outras vozes porque o espaço em que essa elite habita é gigantesco e eles não querem abria mão dele nem por um centímetro.

Por outro lado, também não desejamos que nos vejam apenas como vozes que pregam para nossa grupo, obviamente que sermos reconhecidos e valorizados pelos nosso é muito bom e importante afinal, somos parte desse grupo e temos sim uma certa responsabilidade para com ele mas, limitar a nossa arte a isso é apenas reforçar o preconceito e o status quo e fazer com que a pergunta que abre esse texto seja feita e refeita por anos a fio.

Como disse Cris, quem prega para o seus está numa posição confortável e isso geralmente e algo não muito bom para a arte, eu também não desejo pregar para 'convertidos' ainda que me reserve o direito de fazer isso quando achar que deva, encaixar minha literatura num nicho ou expressão pode ser fácil para seu entendimento mas jamais deve servir para limitar seu alcance e veracidade, isso é um instrumento usado pelas estruturas normativas para manter as coisas em caixas e com fácil entendimento e identificação.

Não sou de por em caixa, sou de tirar as caixas e deixar apenas vazios em seu lugar.

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