Fomos visitados pelo Censo 2022.
Visitados não seria a palavra certa pois a moça do censo ficou na portaria e foram interfonando nos apartamentos perguntando quem estaria disponível para responder algumas perguntas, não sei dizer quantos moradores responderam mas eu, como estava em casa, atendi de pronto ao chamado do dever social afinal, um censo serve, em tese, para mapear a população e suas condições de vida e sociais para que, novamente em tese, o governo possa atender da melhor forma possível as demandas da sociedade ou, no caso do atual governo, quantos somos, onde estamos e como vivemos para que decida qual forma mais rápida e eficiente de nos eliminar.
E é justamente nesse ponto que desejo chegar.
A recenseadora fez as perguntas de praxe, nada de novo, aquelas de sempre, quantos quartos, quantos banheiros, aparelhos domésticos, carro, grau de escolaridade, renda mensal e tudo mais que serve para ter uma foto clara de quem somos, como se eles não soubessem no centavo tudo isso.
O que mais me deixou pasmo e indignado foi não haver recorte sobre identidade de gênero e/ou orientação sexual, nada, absolutamente nada ou seja, ao informar que moramos em duas pessoas aqui a recenseadora assumiu implicitamente que somos heterossexuais pois não havia esse recorte na pesquisa.
Existem muitas maneiras de apagamento, desde as mais horrendas envolvendo extermínio e genocídio mas, como essa costuma 'pegar mal' mesmo ainda sendo pregada e executada mundialmente, a gente que prefere fazer de conta que não vê, até as mais discretas e silenciosas e que, de certa forma, são até piores porque, na primeira opção pelo menos o ódio é declarado e escancarado enquanto na outra, disfarçado de motivos mais elevados, o apagamento vai matando aos poucos, silenciosamente e fazendo com que as pessoas sintam que estão lentamente deixando de existir ainda que estejam vicas.
A não inclusão do recorte LGBTQIA+ no Censo é essa segunda forma.
Ao não fazer esse recorte, o atual governo deixa claro que essa parcela da população inexiste, reforça e segue o apagamento iniciado em 2019 com o desmonte de politicas sociais voltadas para o público LGBTQIA+ seja na área de cultura, onde a questão de gênero e sexualidade e diversidade é vetada em qualquer edital público; educação, onde falar de educação sexual, diversidade e preconceito é proibido sob o olhar vigilante dos pais conservadores e saúde onde o desmonte de políticas de atendimento e prevenção a DSTs e HIV/AIDS estão por um fio.
O sonho Bolsonarista, não se iludam, é colocar a todos nós num grande forno, ligar e depois enterrar as cinzas, como eles não podem fazer isso então partem para a segunda opção, retirar de nós tudo que seja necessário para nossa sobrevivência e, como parte desse plano, apagar nossa existência, negar que estamos aqui.
Não sermos parte do Censo deixa claro que, para o atual governo, somos desnecessários e podemos ser esquecidos, ao não termos esse recorte, nossa identidade é apagada e quaisquer esperanças de políticas sociais para as pessoas LGBTQIA+ desaparece afinal, o resultado das pesquisas vai demonstrar que o Brasil é país de machos imbricháveis, não tem viado no Brasil!
Negando num processo tão importante e complexo como um Censo a identidade e orientação de cada um nós não normativos, o governos está em nossas caras, rasgando nosso direito de existir e reconhecendo que, no plano de país atual, não temos lugar ou espaço, somos não-pessoas, não podemos nem devemos declarar nossa sexualidade e identidade porque elas não existem no plano Bolsonarista.
Não podermos, num Censo, declarar quem somos de fato é algo horrível e atroz, mostra o quanto, para esse governo, não representamos nada, como somos indesejados e temos pouca importância, não é preciso perguntar pela sexualidade porque no padrão Bolsonarista só existe uma, todas as demais são aberrações e devem banidas ou colocadas em guetos, jamais vistas na luz do dia.
Esse é um apagamento que dói muito porque nos rouba a cidadania e a individualidade, ao não reconhecer essa parte essencial de nossas vidas e que nos define sim como pessoas, o recado está claro!
Não existimos e, se não existimos, não há necessidade de se preocupar conosco e, se não é preciso se preocupar, não faz mal se morrermos porque serão mortes inexistentes, iguais aquelas do COVID que Bolsonaro tanto demente...
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