quatro paredes e um teto. janelas. portas. cimento. tijolos. vidro. alicerce de uma vida feita sob medida para medir tudo que tem medida porque a gente é de medir, tudo precisa de centímetros, milímetros, metros e termina em quilômetros.
essa é a lei. essa é a regra. essa é a norma. essa é a carta magna que rege os corações magros depois de anos de alimentação desregrada, artérias cheias e sangue vazio, vermelho de raiva, não de vida. pulmões cheios de pó, o ar saiu e nunca mais entrou, resta esse pó que entra em cada fresta, tijolo e deixa os vidros com marcas de dedos, digitais, falas táteis de um mundo que não é mais.
paredes tem ouvidos. portas tem línguas. janelas tem olhos. da alma não sei. olham para o vazio dentro. olham para o vidro quebrado dentro. olham para as dunas, para os pratos e talheres, para os copos e carpetes, para os restos mortais de uma vida que se viveu não se sabe porque vida tem de viver e estar viva e não simulacro de viver, vida é viva, se não é deve ser não-vida.
o telefone não toca mais e se toca, canta sua música para um campo de mudez que rega os restos de realidade que pululam pela casa que de casa teve dias mas hoje é mais casamata, relíquia de uma guerra perdida e de batalhas que seguem dia a dia porque se esqueceram de que a guerra já terminou.
a tv não liga mais, nunca ligou mas agora não liga mais. o toca discos toca ar sem notas, ruído branco, ruído de ratos cochichando pelos cantos, ruído de gotas na pia do banheiro, cheio de cacos de um vidro estranho que partiu, partido alto, partido tanto de quebrado como de ir sem voltar, só de ida.
quatro paredes e um teto.
no canto mais escuro da casa enterrei você com o resto da vida dessa casa que não soube quando chegou o não.
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