Sabático,
relutei mas eis que foi mesmo preciso voltar ao mundano e dar com a cara no
batente e nos batentes de todas as portas que pudessem me acolher
profissionalmente. Vide bula, o ser humano não é humano para a labuta, foi
antes concebido e recebido para o doce faz nada, contemplativo da natureza e
coisas belas e feias, não esse trinômio casa/trampo/casa que é um trepo
empatado desde que o mundo é mundo salvo as putas que inventaram o trepo em
trampo e são as mais antigas a labu(pu)tar.
Enfim,
precisava mesmo, não dava mais essa de ficar na verve de escritor desconhecido
querendo ser conhecido (vai sair, Dezembro chega com ele de natal, lançamento e
todo mais, o caralho a quatro, de quatro e entrando cacholas adentro ae, quem não
compra o pau nunca mais sobe ok? Salvo as passivas que vão passar a ter um
desejo incontrolável de comer cus, fudeu ou não, sei lá) e fui de novo buscar
trabalho.
Mas onde?
Nesse tempo que não foi tempo mesmo, nem fiz nada que assim melhorasse meu
perfil e perspectivas no mercado de trabalho do caralho, ócio, te dedico! Mas
sabia que com os aviõezinhos poderia sim ter uma chance pois, escarrando modéstia,
nesse meio sou é bom e sei o que faço de mãos atadas, isso mesmo. Fui lá, currículos
pra cima e pra baixo, meses esperando e algumas coisas até interessantes mas no
fim, nada de concreto.
No fundo
mesmo, eu queria era voltar a ser parte das estatísticas de emprego pois as
coisas mundanas que gosto carecem de metal para entrar em casa e mesmo meu
querido livrinho precisa aí de uma força minha pra sair do prelo além do que
maridinho não podia continuar solo a bancar os luxos deste escritor quase a
ficar famoso um dia que não chega, ode aqui ao marido que me deu tudo e mais um
pouco no período que me enclausurei do mundo trabalhista.
Eis que então
me chamam do trampo antigo, precisando de alguém assim como eu e eu aqui
precisando assim de alguém como eles, a fome abraçou a vontade de comer e, pra
cobrir tudo ainda podia ser como PJ e com um salário bem interessante, sem
aqueles vínculos trabalhistas que, na verdade, são populistas e obsoletos dando
a fasa impressão de benefícios e afins quando na verdade encarecem o mercado
de trampo e reduzem as pessoas a escravos remunerados.
Enfim, fui lá
e fechei o contrato e já voou um mês nessa lida mas, como perguntou
pontualmente um amigo: ‘Oras, você voltou pra onde saiu e fazendo a mesma
coisa? Não é contraditório?’ Sim, é e não é pois voltei mas para fazer, digamos
1/3 ou menos do que fazia antes e ganhando umas três ou quatro vezes mais e com
um horário melhor e menos estressante levando, de quebra, a possibilidade de
emplacar outros trabalhos como empresa e não empregado num futuro próximo.
Animei, estou na boa e gostando mesmo porque vejo uns circos lá a
incendiar e nem aí pras lonas em chamas e palhaços berrando meu chapa! Minhas
responsabilidade começam e terminam no meu contrato e o que vier por fora deve
ser cobrado a parte, ta? Mercenário? Pode ser mas estou gostando e, tudo medido
e comedido, ainda tenho sim amigos lá e é legal voltar a vê-los e trabalhar com
eles só que, como muitos me disseram ao me rever por lá, tendo dado uma volta
por cima, não sei se foi por cima mas que sai pela tangente e me dei mais ou
menos bem, isso foi, saca?
Se há um porém
é o fato de eu ser agora um elefante branco.
Sim, fato!
Explico.
Saindo de lá ano passado, nem aí para feicebuque ou afins onde escancarei
minhas tatuagens e viadagem pra geral, meu rabo cheio de KY pra tudo afinal
estava fora e vivendo La vida loca, entendes? Claro que em determinado ponto
tive de dar uma aparada nas arestas pois umas empresas onde me gustaria por demás
trampar e onde tinha contactos me acuaram no FB assim:
Ele: ‘Do you have Facebook?’
Me: ‘Sure!’
Ele: ‘Can I add you?’
Me: ‘Yes!’ e
passei o FB mas antes de dizer SIM bloqueio no que pudesse assustar o cara e
com ele um emprego promissor. Fazer o quê? É assim o mundo vasto mundo onde não
me chamo Raimundo ou Raymond.
Enfim, essa
mesmo não rolou mas deixei lá uma semente pros dias chuvosos, sabe lá quando.
Voltando ao cu com KY, pro resto do povo nem aí que vissem que eu era viado e
que era casado com macho ou que gostava do ómi e acho mesmo que nem isso pesou
quando me chamaram de volta, nem deveria posto que, como disse acima, sou é bom
demais da conta no que eu faço, desculpa ae!
Mas, notei
que minha viadagem me põe na condição de paquiderme albino pois as pessoas
versam sobre os mais diversos temas comigo mas evitam de forma sacrossanta
tergiversar sobre relacionamentos, a aliança doirada em meu dedo ou coisas que
permeiem orientação sexual ou preferências carnais e de cama.
Sou o não-assunto
e fica aquele mormaço frio em alguns momentos, tipo eu sei e eu sei que você
que eu sei e eu sei que você sabe que eu sei o que sei e que não vou comentar.
Chato isso pois me faz sentir numa política isolacionista. Gente, pode
perguntar do meu marido, de nossa vida a dois, de como é ser casado com outro
homem e das particularidades e peculiaridades de ser um homossexual num mundo
hetero, sem problemas, não vou me sentir ofendido ou magoado, o oposto, vou
adorar falar a vocês de como é isso que vocês chama de vendagem e que é, quase
sempre, 99% igual ao que vocês vivem nas suas vidinhas ordinárias e, espero eu,
felizes.
Nesse meio
tempo vou aqui levando minha vida de elefante alvo, não me chateia vocês não me
verem no meio da sala, fazerem de conta que eu não existo ou se existo, sou
apenas uma peça de decoração de gosto duvidoso. Nada disso me afeta muito, me
deixa assim meio cabreiro mas não me entristece ou deprime pois sei que o
problema não é o elefante branco aqui mas a catarata voraz que devora seus
olhos e os impede de ver que na verdade tenho muito mais cores que o branco que
me imputam e sou tão elefante quanto vocês me fazem parecer um.