17 de abr. de 2020

E agora, José?

E agora, José?
A quarentena terminou
A conta venceu
O dinheiro findou
O emprego sumiu
A comida acabou
E agora, José?
E agora, José?
Você que é sem conta
Que é sem prumo
Que é apenas um número
Que tem nas costas o arrimo do mundo
E agora, José?

Está sem governo
Está sem remédio
Está sem hospital
Está sem saúde
Está sem trabalho.

Já não pode falar
Nem reclamar
Já não pode bater
A panela no ar
Já não pode pegar
O ônibus, não dá
Já não tem pandemia
Para te sustentar
E agora, José?
E agora, José?

Perdido no mundo
Sofrendo
Mudo
Pasta moída doída
No chão
E agora, José?
O gol foi na trave
Ultraje
A vergonha de ser
Um anão de nação

E agora, José, e agora?
Agora, José, tem de ser
Agora já foi virou ontem
Depois
Agora sou futuro
Do pretérito que foi, José
E agora?
E agora?

Larga o mundo, José
Vasto imundo que se nos chamássemos
Raimundo
Seria apenas um nome
E não solução

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