2 de jul. de 2020

E a vida é um emaranhado de marés


No post anterior, falei do processo de feitura do livro novo 'NUNCA MAIS VOLTEI' que deve sair na segunda semana de Julho pela Folhas de Relva Edições e, ao falar dele, acabei lembrando inevitavelmente do meu primeiro livro 'MARÉ VAZANTE' que segue independente pelo Clube de Autores.

Domingo faço cinquenta e dois anos e pode até parecer pouco nessa idade um escritor ter publicado apenas dois livros, eu mesmo às vezes me pergunto porque não publiquei mais, teria procrastinado? Seria medo? Preguiça? Não sei dizer e também, ser prolífico não significa necessariamente ter qualidade e se antes eu me preocupava em publicar mais e mais rápido num afã de soltar tudo que tenho por saber que o tempo joga contra e não quero ser um escritor póstumo, agora me preocupo mais em ter escrito algo que valha a pena ser lido, que de alguma forma deixe algum tipo de marca mesmo que o reconhecimento venha depois de eu não estar mais aqui e sim, todos queremos reconhecimento, o que nos diferencia é a quantidade dele que desejamos.

Desde que a consciência de ser me tomou, sei lá quando foi isso e há diferentes opiniões sobre, ache a sua e a abrace, senti a necessidade de escrever. Lembro que os primeiros ensaios, tímidos, foram transpor para o papel a trama de um filme que tinha visto ou algo assim, tenho uma lembrança clara de um filme muito antigo cujo protagonista deve ter sido um dos meus primeiros amores platônicos, tomado desse amor fui escrever toda a trama do filme como se daquela forma pudesse tê-lo para mim, mais perto, coisa de amoreco infante.

Depois disso, lembro de ter um caderno on pregava recortes de jornal, fotos e outras coisas que me chamavam a atenção e onde, ao lado das fotos, deixava algum tipo de impressão sobre aquilo. Depois, quando tomei contato com a ficção científica que virou minha paixão, lembro de ter escrito uma cópia mal feita de Star Wars novamente para ter algum tipo de proximidade com o filme que cativara minha imaginação.

Infelizmente, como todas ou quase toda nossa memorabilia desses tempos, tudo se perdeu de forma que não sei precisar, uma pena pois seria interessante reler tais relatos inocentes e ver como germinaram nos livros que soltei e nos que ainda pretendo soltar.

'Maré Vazante' foi mais ou menos isso, eu escrevia nesse mesmo blog que já morreu e voltou dos mortos inúmeras vezes, tinha um apanhado de textos soltos e acabei tomando coragem e resolvendo publicar um livro. Não me achava escritor então, só alguém que escrevia e publicar um livro foi mais brincadeira que ofício, todo o processo foi feito de forma independente e tive ajuda de pessoas queridas que doaram seu tempo para tornar o livro real.

Eu achava que depois dele eu publicaria outros e outros mas não tinha uma ilusão de sucesso ou notoriedade, apenas fique feliz de ter publicado um livro e foi esse momento que me deu a noção exata de que eu era um escritor, de que eu achara meu caminho, se havia nascido para alguma coisa, algum feito, algum marco, era aquilo sem sombra de dúvida.

Aos poucos, fui galgando meu caminho no mundo literário, acertei umas coisas, errei outras tantas mas segui adiante e confesso que durante certo tempo, ainda que me entendesse como escritor, não agi com a devida seriedade quanto a isso. Eu tenho um péssimo hábito de ir deixando as coisas andarem por si, como se elas fossem encontrar soluções por si dependendo de mim apenas para, ao final, acenar satisfeito coma cabeça e aprovação mas, não é bem assim que funciona, não é mesmo?

Entre MV e este novo rebento segui escrevendo e, como disse antes, minha escrita e a forma como a trato mudaram  muito, eu amadureci não apenas como gente mas, através do contato com escritores, editores e gente que leva essa profissão muito a sério, acabei aprendendo muito e tornando minha arte mais madura e completa.

Pode parecer espantoso que um escritor já cinquentenário ainda aprenda essas lições, há um consenso em nossa sociedade que a idade implica uma ciência das coisas, um saber quase intolerável, mentira, quanto mais velhos ficamos mais descobrimos que sabemos porra nenhuma e, se não admitimos isso e nos abrimos para aprender aí sim, envelhecemos de fato, não confundam jamais amadurecimento com envelhecimento, o primeiro é um processo contínuo que independe da idade mental ou cronológica já o segundo, bem, todos sabemos como funciona.

Se pudesse, como gostamos de fazer, voltar e dizer algo ao autor de MV quando o fez e lançou, diria que para ele não parar de escrever e acreditar que a escrita é algo mutante, não restrito ao seu tempo e nicho. Escrever é uma arte e um presente, pode ser uma sina mas apenas para quem encara dessa forma, pode ser um fardo se você prefere ou um alívio se você sabe como enfrentar o processo.

Para mim, escrever sempre foi um prazer, um gozo, um mistério que me tira daqui e me leva para outro lugar onde tudo pode ser e acaba sendo, quando eu perder esse tesão, paro de escrever e vou fazer outra coisa.

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