'Você me ama?' me pegou desprevenido, desceu goela abaixo feito cubo de gelo que se engole sem querer, os dedos frios arranhando a garganta deixando minha face num esgar tragicômico. Tentei esboçar resposta mas saiu apenas um ar abestalhado tipo esses de programa humorístico ruim.
'Você me ama?' saiu de novo atropelando minha ideias. O coração emudecera, então veio correndo bem lá do fundo do cérebro uma lista de possíveis respostas, mas todas, ao chegarem por canais tortuosos à boca, emaranhavam-se numa glossolalia.
'Você me ama?' voltou à carga com tudo, desmembrou minhas defesas e tentativas de argumentar já que resposta mesmo, não havia. Acho que houve em algum tempo já morto há muito e hoje apenas disponível nos livros de história.
Então, não houve mais 'Você me ama?'. Apenas um silêncio alto, eloquente, mas não de cristal, esse quebrara-se quando 'Você me ama?' começou a ficar sem eco ou resposta. Aos poucos ele foi diminuindo, deixando o ar menos denso até que me soou como um silvo fino e distante feito um trem que eu perdera desde sempre.
Sôfrego, vomitei incontinente um 'eu te amo' baixinho, quase um suspiro mas era na verdade eu reaprendendo a falar. Lá do fundo de mim, entendi que a pergunta havia sido respondida.
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