Realmente estamos no fim dos tempos.
A onda conservadora se espalha com mais velocidade do que a epidemia da vez vide esta matéria absurda sobre #tradwives, um movimento de (pasmem) mulheres que defendem a submissão feminina ao marido e valores tradicionais totalmente alinhados com a extrema direita conservadora e supremacistas brancos e já tem braços na Inglaterra, Japão e até no Brasil mas teve sua origem nos EUA.
É curioso como a maioria esmagadora das mulheres que pertencem a esse movimento são brancas e de classe social alta ou média-alta, como atestam que essa é uma escolha consciente e que tem sim um viés feminista. Esse recorte diz muito sobre essas mulheres, algumas possuíam trabalhos e carreiras promissoras ou mesmo consolidadas e abriram mão de tudo isso para adotar um estilo de vida mais tradicional e que remete ao 'american way of life' do pós-guerra.
Estamos falando de mulheres pertencentes a classes sociais diretamente ligadas aos segmentos mais conservadores da sociedade e que, por algum motivo que me foge a compreensão, parecem não mais encontrar sentido da realização profissional ou pessoal preferindo adotar uma postura de coadjuvantes em suas vidas talvez quando confrontadas com as incertezas e inseguranças que o mundo moderno preconiza e que, se confrontados com os ideais e estilo de vida antigos encontrem algum tipo de segurança mórbida em serem novamente escravas do lar e servas do macho provedor como diz a reportagem ainda que ache uma redução meio perigosa do tema.
Veja bem, não questiono a escolha racional e sensata de quem opta por cuidar da casa e dos filhos, se isto é feito de comum acordo entre o casal e há um reconhecimento e respeito assim como uma divisão o mais igualitária quanto possível das tarefas e responsabilidades, quem sou eu para questionar tal decisão ainda que, nos dia de hoje, considere tal decisão equivocada vide o custo exorbitante de criar um filho e manter uma casa implicando que se há mais renda entrando, melhor para todos.
Acontece que esse tipo de escolha é feito apenas pelas mulheres e casais cujas condições sócio econômicas assim o permitem enquanto grande parte das mulheres acaba por fazê-lo por não ter outra opção ou por imposição do companheiro que não vê com bons olhos mulher que sai para trabalhar e 'abandona' a casa e os filhos.
A sociedade em que vivemos ainda é extremamente machista, mulheres ainda ganham salários menores, são mais discriminadas no ambiente de trabalho e sofrem com assédio diariamente, isso poderia explicar, como disse acima, esse tipo de movimento com base numa descrença feminina de que o movimento feminista possa efetivamente fazer algo para mudar esse quadro mas, ainda acho uma teoria pouco forte para explicar tudo isso. O movimento feminista segue lutando para diminuir essas desigualdades e violências contra a mulher mas talvez tenha perdido no caminho algum tipo de diálogo com as mulheres que, não se reconhecendo no movimento, acabaram por se associar com esse tipo de pensamento conservador que vai angariando mais adeptas cada dia que passa.
Há uma deturpação cruel na lógica dessas #tradwives que agradecem o feminismo por suas conquistas mas dizem que já foi o suficiente e que essa escolha 'consciente' é também em si um ato feminista como se grandes conquistas do movimento fossem apenas insignificantes. Penso que essas mulheres, como disse acima, perderam a voz ou diálogo dentro do movimento que não soube como trazê-las para dentro e, em assim sendo, esse feminismo passou a lhes parecer nocivo e bélico demais para representar uma parcela de pessoas que talvez não concordassem com tudo que o movimento prega.
Claro, todo movimento tem dissidências e pessoas que não concordam com muitas de suas ideias ou práticas, no pior dos casos há rachas dentro dos movimentos que geram outros movimentos mais alinhados com o pensar daquela parcela que não concordava com a maioria e pessoalmente, é como enxergo essas mulheres ainda que me pareça uma falta de sentido sem tamanho e um retrocesso sem igual, como é possível que em pleno século XXI tenhamos mulheres que preguem a submissão ao homem e coisas como atrair e reter um homem? A pior hipótese é que esse novo movimento seja apenas uma outra frente conservadora para combater os ideais feministas usando de forma massiva as redes sociais e propaganda como vem fazendo o que não me deixaria surpreso.
Mesmo essas minhas reflexões acima ainda são apenas hipóteses para explicar tal movimento. O que mais me surpreende são essas mulheres que realmente acreditam nisso e posam em suas redes sociais felizes e realizadas, talvez o sejam, quem pode dizer mas, não consigo visualizar como realização ter uma vida dedicada a cuidar do macho provedor, cuidar de suas crias e atuar como elenco de apoio ainda que, mulheres que fazem estas escolhas de forma consciente e com apoio de seus companheiros ou companheiras como disse antes, mereçam todo respeito e admiração pois é trabalho para destemidos e fortes de coração.
O X da questão talvez esteja na desigualdade social como comentei mais acima pois ela é que define o que é escolha ou não.
13 de fev. de 2020
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