Quanto a quem são esses antecessores, podemos discorrer sobre o assunto até o final dos tempos sem chegar a um consenso, tudo bem, cada um de nós terá um par de artistas que são nossa referência, aqueles que levaremos para a tumba, embalaram nossa vida e sempre recorremos em qualquer momento da vida seja para rir ou chorar.
Entre as bandas que eu amo e que foi uma das razões para conhecer meu marido, está o Cocteau Twins.
Originários da Escócia, são uma banda que, de certa forma, nunca atingiu o mainstream o que é dizer pouco sobre eles afinal, o que é maninstream? Vender milhões de discos? Videos cheios de efeitos especiais? Ser uma celebridade ou influenciador digital? Alheios a isso tudo, Cocteau Twins tem uma base sólida e fiel de fãs que ultrapassam gerações, seu legado na música já foi documentado e reconhecido e quem ouve ao menos uma de suas músicas, jamais será mesma pessoa.
Os discos que produziram moldaram uma geração e criaram um estilo musical que influenciou bandas como Beach House, M83, Medicine e muitos dos artistas pop da atualidade. O som único moldou o que se convencionou chamar de 'dream pop', 'ethereal' 'shoegaze' e outros nomes que passaram a definir aquele tipo de som nunca antes ouvido.
Mas afinal, qual a relevância deles? Porque o CT tem um séquito de fãs irredutíveis que até hoje sonham com uma possível reunião da banda (acabaram em 1997) e consomem avidamente todo e qualquer material que exista sobre a banda? Poucos artistas possuem seguidores tão devotados.
Talvez seja a voz inigualável de Liz Fraser cantando em um idioma que não entendemos, com jogos de palavras e possuída por algum espírito milenar que fala através dela. Já disseram que sua voz seria a voz de Deus, eu concordo, se Deus tiver uma voz tem de ser a dela. Texturas ininteligíveis, frases abstratas, sem sentido e que fazem todo o sentido, pronúncia única que transforma palavras em magia pura e uma aparência de quem repentinamente caiu dos céus para andar entre os mortais, com seus olhos quase transparentes e ar de pureza imaculada, inviável a mãos humanas.
Pode ser o talento de Robin Guthrie e suas guitarras sobrepostas, cheias de efeitos e que mostraram ser possível reinventar o instrumento depois de Hendrix. Guthrie é capaz de nos deixar atônitos, perplexos, em êxtase ou choque, depende de como toca sua guitarra. As texturas que produz, seus riffs e melodias abordam os ouvidos de forma ímpar e atingem o cérebro feito uma camada de xarope doce que vai, aos poucos, corroendo a consciência e nos inundando de especiarias e temperos que jamais poderíamos conceber. Guthrie descobriu outro caminho das Índias e nos levou até lá para nunca mais voltar, quem ouve sua música está fadado a ser seu eterno refém.
Talvez seja o baixo de Simon Raymonde, o segundo baixista da banda (Will Heggie foi o primeiro durante a fase pós-punk da banda e responsável pelos baixos incríveis de 'Garlands' e 'Head over heels' saindo em seguida para formar o Lowlife) e suas linhas marcadas, harmônicas, profundas, que se incorporam às guitarras de Guthrie muitas vezes fazendo com que soe feito outra camada de guitarras ou relembrando Peter Hook e seu baixo melódico. O contraponto exato ante a delicadeza da voz de Liz e seus arpejos e construções vocais inusitadas.
Fato é que o conjunto desses três transformou a música, nunca mais houve uma banda igual e talvez não vejamos em nosso tempo de vida algo parecido. Você pode gostar de música mas, gostar de Cocteau Twins é mergulhar fundo na alma do som, deixar-se levar por um rio de sensações que doman o corpo sem pedir licença, sentar-se a uma mesa de banquete em que pequenas pérolas são servidas e explodem na boca ao serem mordidas, trazendo sabores que paralisam os sentidos e nos fazem chorar de prazer.
Cocteau Twins não é uma banda para poucos e digo isso não de forma arrogante ou elitista. Para apreciar Cocteau Twins, você precisa ser mais do que humano, precisa estar além de impressões terrenas e convenções pop rock seja o que for. Você precisa gostar de alquimia, baixar a cabeça e admitir que não sabe nada e deixar a banda lhe conduzir pelos meandros da música que não é deste plano e quem sabe, conseguir o feito de transformar vida em ouro.
Eles ao menos, conseguiram.
PS: se quiser conhecer um pouco mais da banda, fiz uma playlist no Spotify.
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