2 de abr. de 2020

O mundo de amanhã

Poucas vezes vi uma pessoa tão sensata quando o cientista Atila Iamarino entrevistado do último Roda Viva.

De maneira didática, simples e direta, explicou o tamanho do problema que enfrentamos, como há tempos já se previa que poderia acontecer sem que nenhum governo tomasse qualquer providência e, sem expressar qualquer ideologia que pudesse ser usada para desacreditar seu discurso (obviamente que os Bolsonaristas irão achar qualquer resquício de socialismo e esquerdoapatia em sua fala) teceu cenários claros de como passaremos e sairemos dessa pandemia.

Acima de tudo, considerando o Estado Teocrático que já vivemos e o desmonte - que já vinha de  anos e anos - pregado pelo atual governo da ciência em detrimento de estudos, formações e profissões que representem um 'ganho' efetivo e imediato para o país a saber, médicos, advogados e engenheiros, aquelas profissões que toda a família branca, hetero, cis gosta de ter em seus quadros, enfim, tudo isso posto, é na ciência que temos a única esperança de solucionar esse problema.

Não em igrejas, templos ou afins. Em laboratórios. Esses mesmos que estão sucateados e largados a própria sorte e que agora, precisam tirar do ar uma vacina para curar a todos.

Mas, o que mais me preocupa na fala de Atila e vem me preocupando com frequência é como sairemos dessa crise. Não digo a saída em si pois sei que ela está lá e que iremos encontrá-la, me refiro a como sairemos dela enquanto pessoas porque o mundo que deixamos para trás quando entramos em quarentena não existe mais.

Ainda é cedo para entender como será isso, como faremos e como lidaremos com esse novo mundo que se abrirá e tenho certeza de que durante as próximas décadas, muitos estudiosos estarão debruçados sobre essa crise tentando entender os impactos dela em nosso modo de vida.

Fico matutando em como será quando a quarentena for suspensa ou encontrarmos uma vacina ou tratamento para essa doença. Voltaremos ao mundo como se nada tivesse acontecido? Retomaremos nossa rotina como sempre foi? Teremos os mesmos hábitos e costumes? Seremos essencialmente os mesmo?

Pessoalmente, acho que não.

Somos criaturas sociais ou anti-sociais conforme o caso, não fomos feitos para o isolamento, qualquer animal confinado adoece do corpo e da alma além de ser extremamente perigoso. Esse período que estamos passando pode ser benéfico ou nocivo conforme você decida encarar, talvez precisássemos dele para rever alguns conceitos, reavaliar nossas vidas e perceber que a imersão numa equação trabalho-casa-trabalho-sem tempo irmão não tinha uma solução que não considerasse a nós como o X da questão.

Passamos a entender que o tempo pode sim correr em outros ritmos e que cada um de nós possui tempos diferentes. Começamos talvez a valorizar mais o trabalho de cada um de nós entendendo que sem ele, o nosso pouco faz sentido. Algum tipo de empatia e simpatia parece ter nascido quando, trancados em casa, começamos a notar o quanto nossas vidas são cheia de coisas vazias e como pouco conhecíamos uns aos outros tendo vivido juntos por tantos anos.

Talvez tenhamos começado a entender que não precisamos estar em todos os lugares ao mesmo tempo, comprando tudo que não precisamos ao mesmo tempo e usando a internet para algo útil. Demos férias ao planeta que está finalmente descansando de nós, quem sabe não voltamos para ele com outros olhos, mais humanos, mais coletivos, mais sensatos.

Tomara que passemos a dar mais valor aos poucos e mágicos momentos que temos uns com os outros pois a epidemia mostrou a todos nós que a vida é um sopro, um vento que passa, um ar. Quem sabe não aprendamos a eleger melhores representantes, pessoas mais dedicadas ao bem comum e não a ideologias ou partidarismos.

E talvez saiamos disso com um senso melhor de pressa e urgência.

A vida pós-pandemia ainda é uma incógnita, estamos todos apenas especulando, jogando ideias ao vento para ver qual vai vingar. Pode ser que nada disso que escrevi aqui aconteça e que saiamos disso tudo ainda piores do que entramos, teremos cicatrizes obviamente, histórias a contar por alguns anos mas a grande questão imediata é, o que faremos com tudo isso que estamos passando?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

one is the loniest number...

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...