14 de jan. de 2021

fobia homo 4

 



É triste termos de celebrar um dia do orgulho gay, gostaria de não precisar celebrar essa data, de simplesmente ter orgulho e não precisar reafirmar isto a cada segundo, minuto, hora, dia, semana, mês, ano.

É triste termos de celebrar orgulho quando isto deveria estar implícito e de tácita aceitação, não sendo necessária essa sensação de estarmos pedindo permissão para apenas sermos quem somos, nada mais ou menos.

É triste termos de celebrar orgulho quando há motivos de sobra para o oposto vide a quantidade de gays (em todo seu leque) que são vítimas de violência, humilhação, preconceito, injúrias, ofensas e todo sortilégio de infortúnios sem qualquer manifestação social de compadecimento, justiça ou solidariedade.

É triste termos de celebrar orgulho por uma conquista tão banal quanto casar, uma instituição falida há séculos, dinossauro da herança moral e religiosa mas, infelizmente, único parâmetro que temos para tentarmos construir algum tipo de família ou identidade social. Até nisso somos forçados a adotar padrões heteronormativos.

É triste termos de celebrar orgulho quando as linhas do tempo, mesmo coloridas, escondem reacionários e fóbicos em geral de plantão, prontos para cerrar os punhos e desferir um golpe certeiro assim que a alegria acabar. A incapacidade humana de respeitar e entender o próximo (não digo aceitar porque implica um sentimento de comiseração, de súplica, como se eles fossem obrigados a fazê-lo, isso não quero, não preciso, dispenso cordialmente. Eu me aceito e isso basta, de vocês apenas esses dois itens que mencionei antes deste aparte) é tão infinita quanto o universo e não temos muita certeza sobre este último.

É triste termos de celebrar orgulho chancelado por corporações oportunistas que aproveitam momentos para vender mais e parecerem simpatizantes e apoiadoras quando, passado o circo, voltam a escusar-se de fazê-lo pelos motivos mais estúpidos e mantém seus funcionários gays no melhor estilo 'façamos de conta que não sei' afinal, bicha boa é que compra seus produtos mas não aparece. Fácil fazer campanhas uma ou duas vezes ao ano e esquecer de nós nos outros dias do ano.

É triste termos de celebrar orgulho. Mas é necessário.

É necessário porque você não me respeita, não me trata com educação, não me entende, não quer que eu tenha os mesmos direitos humanos (veja que aboli o gênero ou orientação da questão já que não o 'X' da mesma) que você, como se apenas você fosse eleito para gozar de tais direitos, fossem eles seus, de posse e assim pudesse outorgá-los a quem lhe parecesse mais merecedor dos mesmos. Aliás, nem o gozo temos pois nosso gozo é escondido, tem de ser abafado, dissimulado, é marginal enquanto o seu explode em nossas caras a cada comercial de cerveja, de margarina, novelas, filmes, livros e todo mais. Seu gozo é imperativo, faz do meu algo sujo e saciável apenas como luxúria, jamais como prazer, você goza, eu [gozo].

É necessário para que você aprenda a conviver comigo fora do gueto, fora do estereótipo, fora do chavão, fora do comum. Para que você possa ver-me como seu igual, seu par, desejoso de compartilhar das felicidades e desgraças do gênero humano, não quero casar para ofender sua sociedade mas para ao menos poder abertamente viver os prazeres e dissabores de uma vida comum, cotidiana, essa mesma que você leva ai tranquila e paulatinamente.

É necessário para que você desmistifique essa noção arcaica de que sou antinatural, condenado ao inferno, vicioso, vil, sujo, indecente; todos nós somos tudo isso sem exceção, uns mais outros menos, somos humanos e temos muito mais pecados e vícios que virtudes, quem sabe o equilíbrio entre ambos não se encontre entre meu orgulho e a sua soberba. E se você pensa em comemorar seu orgulho, fique em paz, não precisa fazê-lo pois dia de orgulho hetero é todo dia erguido em cima da vergonha gay, não é pedir muito ao menos um dia por ano invertermos a mão dessa rua.

Quem sabe anos vindouros não a tornem uma grande avenida onde seguiremos na mesa direção...

Um comentário:

  1. Maravilhoso,meu amigo. Pessoas LGBT conscientes e orgulhosas mudam o mundo!

    Beijos,
    Sergio

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