O que forma e molda
nossos gostos é mescla, penso, de bagagem genética que nos
predispõe a uns e menos a outros e da formação que recebemos seja
no seio da família ou na interação com o mundo. Lembro vividamente
quando iniciei minha vida cinematográfica e foi com 'Star Wars' no
mais que extinto Cine República (não aquele de pegação, caros,
era cinema mesmo) onde hoje reside um estacionamento sempre lotado de
carros espectadores da métropole que, faminta, devora todos os
espaços e memórias.
Foi o suficiente para
que o DNA da Ficção Científica aderisse ao meu e nunca mais
soltasse. Depois vieram outros tantos como 'Alien', '2001' todos
assistidos na tela grande, orgulho em dizer! E depois veio a TV onde
as séries de FC enchiam as tardes da minha geração ao invés de
filmes sem sabor, séries sem qualquer conteúdo ou roteiro e esses
desenhos ou animações que todos insistem em idolatrar mas que
possuem a profundidade de uma cereja.
Acho que as pessoas que
comungam e comungaram dessa minha criação e empatia com as
estrelas, são hoje pessoas mais felizes e que ainda sonham e
realizam coisas que maioria não almeja. Talvez eu esteja em
debulhando em um saudosismo ridículo, quem sabe? Mas, a morte de
Leonard Nimoy deixou um vácuo imenso em pessoas como eu, que foram
criadas acreditando em armas de raios, tele-transporte, naves que
viajam à velocidade da luz, outros mundos, outras espécies e,
acredito mesmo que boa parte dos cientistas, cineastas e escritores
do gênero atuais tiveram certamente sua dose de inspiração com
'Star Trek' e a lógica do Sr. Spock.
O personagem foi o
passaporte para a eternidade de Nimoy e sua 'maldição' já que
nunca conseguiu se desvincilhar dele ainda que não o tenha renegado
mas antes abraçado como legado participando alegra e ativamente de
convenções de fãs pelo mundo afora. Pessoalmente, acho que o
personagem era delicioso pois mostrava como em nós a razão e emoção
lutam eternamente e como é difícil encontrar o equilíbrio entre
elas. Além disso, havia uma camada indelével de preconceito
travestido de humor já que Spock era meio vulcano e meio humano o
que o tornava um ser sem identidade definida, repleto de emoções
humanas que seus conterrâneos desprezavam e dotado de uma lógica
fria e maquinal que estarrecia seus pares humanos.
Acima de tudo, não só
ele como a série 'Star Trek' ajudou a popularizar a ciência e a
tornar as pessoas mais compreensivas e menos preconceituosas já que
a tripulação da Enterprise era multiétnica.
A vida sem ele será
não menos longa ou próspera mas certamente muito mais chata.