21 de mai. de 2020

Quem ri por último?

No dia em que batemos um recorde nefasto, mórbido e horrendo, em que aparecemos num terceiro lugar mundial pavoroso, em que uma criança foi morta por estar em casa e seu corpo vagou por uma cidade voando feito anjo esquivo e esquecido até pousar na gaveta fria de um IML.

Nesse dia horrendo que deveria ser banido para sempre de nossas lembranças e da história, o assassino da república riu ao vivo para seus asseclas e fez piada.

Sem medo. Sem vergonha. Sem culpa. Sem arrependimento. Sem mácula. Sem noção.

Riu de todos os mortos, de suas famílias, dos profissionais que estão lutando dia e noite para tentar frear essa doença. Riu de quem está passando fome, sem trabalhar, sem grana, sem esperança, sem família, sem vida.

Rasgou o país ao meio e limpou sua imundície na constituição. Tirou seu membro milícia verde amarelo pátria amarga brasil e esfregou na cara de todos nós. Rindo. Jocoso. Palhaço. Piadista. Gozou de todos nós sem qualquer vestígio de consciência ou pudor.

Mostrou de uma vez por todas que não é humano, nunca foi, nunca será. É um nada, um vazio, um oco, um buraco sem fundo onde tudo que cai é dissolvido e some para nunca mais. Nem mesmo animal ele é porque animais possuem inteligência, o assassino da república possui demência.

Riu. Riso frouxo de quem está feliz com as mortes de tanta gente. É o palhaço que ri do circo em chamas sem saber que depois vai ficar sem ter onde morar. Para ele, não existe outra versão dos fatos que não seja a dele e de seu clã abjeto e odioso.

O assassino da república riu. Está feliz. Está pleno afinal, todo bom sociopata sente-se bem ao caminhar em cima de cadáveres.

E nós? Como estamos? 

Estamos morrendo. Segundo o assassino da república, uns irão tomar cloroquina, outros tubaína e nós, bem, nós seguiremos tomando onde sempre tomamos desde que ele foi eleito.

Não vou compartilhar o vídeo do assassino da república pois não desejo dar a ele mais esse prazer.

Deixo então essa reflexão bela e atual do João Silvério Trevisan que é bem melhor.

A RESISTÊNCIA DOS VAGA-LUMES

"Vencidos o medo de ser e a resignação de antigamente, oprimidos em estado de purpurinização não precisam pedir licença aos guardiões do poder heteronormativo, nem bajular aqueles supostos parceiros, como se a sobrevivência dos nossos desejos, afetos e amores dependesse deles. Quanto maior for a compreensão de que no território do desejo não existem mestres nem patrões, tanto maior será a eficácia dos sujeitos em estado de construção de suas singularidades. Se existe a escuridão opressiva ao nosso redor, nossa função é brilhar. Exatamente como os vaga-lumes, que só brilham se houver escuridão e são tanto mais vaga-lumes quanto mais escuro estiver o entorno. Talvez pareça estranho que sua luz precise das trevas para ser luz (...). Mas aí exatamente se encontra aquela capacidade de renascer das cinzas, como fantasmas iluminados, que emitem sinais de liberdade na noite. (...) Não por acaso, é justamente no meio das trevas que se efetua a dança viva dos vaga-lumes. (...) Através da dança renitente de vaga-lumes purpurinados, diremos sim no meio da noite atravessada pela execração que os senhores do poder emitem para nos ofuscar. Assim, a opressão que tenta sufocar nosso desejo, ela mesma será o motor da nossa luz e da nossa dança de vaga-lumes na noite. Quanto mais escuridão dos opressores, maior será a luz emitida pela purpurina dos oprimidos."
João Silvério Trevisan
(DEVASSOS NO PARAÍSO, 4ª edição, pp. 577/8)

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