29 de set. de 2022

quem vai nos salvar dos tiktokers?

Velho. Chato. Amargo. Ranzinza. Morto.

Adjetivo: que serve para modificar um substantivo, acrescentando uma qualidade, uma extensão ou uma quantidade àquilo que ele nomeia (diz-se de palavra, locução, oração, pronome).

Adjetivar é um hábito humano desde que aprendemos a desenhar nas paredes de cavernas e descobrimos a comunicação, a comunicação sem adjetivos inexiste, o problemas é que nos tornamos criaturas adjetivas e nunca mais usamos substantivos.

Ficamos tentando entender como pudemos eleger um mito, fácil saber! Qual surpresa em ter um demente na presidência num país que idolatra personalidades da internet e suas dancinhas e opiniões de cinco minutos? Sim, somos nós os culpados! Deixamos de lado a veracidade dos fatos para seguir correntes de whatsapp e likes do insta, se está na rede então deve ser verdade e não tem problema não verificar afinal, quem está postando tem mais de um milhão de seguidores!

Somos a raça digital por excelência, alguns se perguntam de vamos migrar nossas consciências para o meio digital, já o fizemos! Basta ver que todos nós não existimos no mundo real se não existirmos no digital. Não conhecemos mais uns aos outros mas nossos avatares, postagens e likes, sem isso não somos, não há vida e não há presença.

Deixamos de lado a leitura factual e interpretação, a semiótica das coisas e a discussão por 140 caracteres ou vídeos ilustrativos e ficam todos gritando para obter mais e mais visualizações e curtidas. Não há mais espaço para aprofundar um tema, há apenas efeitos e filtros e produção, quem fizer melhor leva! O que formadores de opinião vendem em seus canais não é clareza ou verdade mas vícios e verdades de um certo ponto de vista o que nos isola em grupos e fomenta cada vez mais a polarização e a divisão.

Preferimos ver dancinhas e reels do que entender que nossas vidas estão indo pelo ralo enquanto as celebridades e influencers gastam milhões para manter o cabresto, ao venderem um estilo de vida fazem da gente escravos que irão batalhar incansavelmente para conseguir aquilo até que, ao conseguirmos, eles estarão em outro nível e teremos de começar tudo de novo.

Damos mais atenção a shows de realidade e celebridades digitais do que pessoas de fato, essas que vivem e morrem sabe? Essa mentira vendida como se fosse creme divino, essa pose toda que não garante um prato cheio, estamos esvaziando nossas panelas para manter a deles sempre cheia e quem paga a conta no final somos nós.

Antes, éramos estúpidos restritos apenas a nossa bolha de ignorância e ainda havia alguma chance de sairmos dela mas hoje, estamos todos imbecilizados e incapazes de tirar o nariz de nossos celulares, a estupidez virou mercadoria e valiosa! A ignorância virou moda e oportunidade, ser imbecil é algo bom e a frivolidade aceita como coisa boa, vestida de moda ou onde cultural, ganhou ares de conceito e arte e prospera forte em todos os meios sem medo de ser obscura.

Acreditamos mais nos tiktokers do que na igreja e uns nos outros, se um deles disser que precisamos matar alguém, faremos de bom grade e com um sorriso no rosto, a internet sempre sabe o que faz. Temos mais fé nos ex-bbb-fazenda-masterchef do que em nós mesmos, estamos tão descrentes de nós mesmo que precisamos de pessoas que ganham competições para entendermos que temos valor e pautar nossas vidas por elas, estamos imersos em um QR code que nunca vai terminar e estamos felizes!

Deixamos a realidade de lado e estamos plenos vivendo de sonhos feitos de chips molhados e processadores saturados, queremos o fácil, o simples, o imediato porque o amanhã não existe, é uma invenção do hoje e o passado é velho e não se usa mais, viramos seres minuto, humanos do segundo, pessoas do se não for agora não presta, viramos uma pasta amorfa que não alimenta ninguém.

O agora está morto. Longa vida ao agora!


28 de set. de 2022

o pior de nós

Não é preciso ir muito longe na rede para encontrar casos de violência, racismo, homofobia, machismo e tudo mais que representa o que há de pior em nós como sociedade.

Chega a ser alarmante a quantidade casos que brotam do chão todos os dias, faz com que a gente pense o que aconteceu? Onde erramos? Como pode?

Bom, lamento dizer mas pode sim e é bem fácil de explicar.

Passamos muito tempo com a cabeça enterrada na areia acreditando na mentira do Brasil diverso, inclusivo, miscigenado, sincrético, país de gente feliz e pacífica, que mentira!

Éramos uma panela de pressão, cheia e que vinha cozinhando há mais de 500 anos, já não era sem tempo explodir. O Brasil dos últimos quatro anos é o Brasil de fato! Essa é a cara do brasileiro, não aquela dos cartões postais.

O brasileiro de verdade nunca saiu da casa grande e segue achando o país sua grande senzala, estamos em 2022 mas mentalmente, mal saímos do colonialismos e seguimos repetindo os mesmo comportamentos de nossos descobridores, sem tirar nem por. O brasileiro aprendeu desde cedo a ser mentiroso e evitar conflitos, é o cara que sai das situações com lábia e jeitinho, se dá para resolver com um churrasco e uma breja, então tudo bem!

Nunca paramos para discutir nossos fantasmas, preferimos fazer deles enredo e música e carnaval o que não está errado mas não resolve a questão. Nunca fomos uma nação pacífica, como podemos ser uma nação de paz se construímos tudo isso e seguimos construindo tudo isso em cima de cadáveres? A diferença é que no período colonial fazíamos isso de forma consciente com a benção da igreja ansiosa por salvar almas e todo um aparato ideológico que justificava as atrocidades como progresso. Hoje, simplesmente fazemos de contra que não existe mais mas usamos as mesmas ferramentas de antes com o agravante de que preferimos fazer vista grossa.

Nunca saímos da colônia, essa é a verdade. Enquanto o mundo girava, seguíamos pensando da mesma forma, só aprendemos a disfarçar melhor, somos um país de mentirosos patológicos e, se há algo de bom que Bolsonaro fez, foi acabar com essa mentira safada e deixar tudo em pratos limpos.

Bolsonaro é sim a cara do Brasil. Senhor de engenho, coronel, o tio do pavê, essas pessoas que estão aí hoje não surgiram do nada, elas sempre estiveram aí só mentiam muito bem, eram nossos pais, mães, tios e tias, amigos e amigas, colegas de trabalho, vizinhos. Eram pessoas que em nossa frente riam, abraçavam, beijavam mas que, por dentro, queriam mesmo nos ver mortos, isolados, sem direitos, marginais e sem voz.

Pessoas que sempre estiveram conosco, desde 1500, só mudaram de nome e endereço mas seguem fielmente a cartilha do colonialismo e, com Bolsonaro, viram sua voz ganhar as ruas e finalmente podem sentir-se à vontade para cometer suas barbaridades sem medo afinal, se o mais alto mandatário aceita então qual o mal e replicar?

Acho que deveríamos ter duas independências, a original e outra por termos finalmente descoberto a face horrendo do cidadão brasileiro, levaremos um bom tempo para nos ajustar e arrumar isso se é que vamos conseguir, essa ferida estava infeccionada há séculos mas só agora arrancamos o curativo e começamos a tratar, talvez haja uma chance e não seja preciso a eutanásia, cedo para dizer mas pelo menos sabemos que estamos doentes o que já é um começo.

Resta saber se teremos a capacidade de cura ou vamos preferir deixar que tudo gangrene e apodreça...

27 de set. de 2022

a necessidade que não é necessária

Já me perguntaram inúmeras vezes porque escrevo, o que motiva, qual o ímpeto, qual a razão, enfim, aquelas perguntas de sempre o que é normal, para quem está de fora, escrever parece algo mágico quase sobrenatural.

Não sei bem se acredito em dons ou bênçãos, algo do tipo 'você nasceu com esse dom' mas, pode até ser, porque não? Se há algo divino ou sobre ou super natural no ato em si, desconheço mas sei que escrever está em mim desde muito cedo assim como acho que está em todos que escrevem salvo raras exceções que podem não escrever por natureza mas por esforço o que também vale afinal, o que importa é escrever, se é bom ou não tem muita gente aí para dar um parecer.

Escrever pode ser um hobby como pode ser uma profissão como pode ser destino, praga, martírio, horror, gozo, trabalho, enfim, uma série de coisas dependendo de como você encara a profissão de fé mas, escrever é uma necessidade, ao menos para mim. Há uma urgência, uma fome, um desejo de expressar que, imagino eu, todo mundo que trabalha com algum tipo de arte, tem.

A coisa começa a ficar problemática quando tentamos associar essa produção com sucesso, reconhecimento e afirmação, coisas distintas mas relacionadas.

Hoje, com a internet e redes sociais e dancinhas e vídeos e reels, todo mundo quer e consegue sua tão merecida fama de 15 ou mais minutos mas essa é uma droga poderosa, vicia mais que crack e quando não conseguimos, vem a abstinência.

Não sou hipócrita, obviamente desejo sucesso e reconhecimento, quem não? Viver constantemente em busca disso, não. Houve um tempo em que sim, buscava muito e incansável mas, numa sociedade que pouco valoriza a leitura e arte de forma geral, as janelas de oportunidade são poucas e muitas vezes, de cartas marcadas.

Ah! Lá vem o amargo e rancoroso! Vocês podem dizer mas é a mais pura verdade, a literatura por si é bela e me proporcionou alegrias não há como negar, ao mesmo tempo, pude ver sua outra face horrenda cheia de dentes, aparências e contradições o que é normal, todo ambiente é assim pois é feito de pessoas e pessoas são complicadas e cheias de falhas então, nada demais que seus ambientes também o sejam.

Abri mão disso para viver em paz comigo mesmo, quero prêmios e sucesso? Sim! Quero isso a qualquer custo? Não. E para quem disser que é mentira, tudo bem, seu direito não acreditar e pensar que eu não lido bem com o sucesso alheio o que, se me permitem, afirmo ser totalmente falso.

Num país que trata cultura e livro como crime, qualquer um de nós que ultrapasse a barreira merece meu apoio e abraço, fico extremamente feliz quando vejo amigos escritores conseguindo reconhecimento, uma parte de mim vai junto e não me sinto esquecido, menosprezado ou preterido por isso.

Creio que a ideia central aqui seja fazer primeiro para si e depois para os outros e não aguardar uma grande chance que pode jamais vir, ser realista e parar com o complexo de coitado, não aconteceu? Tudo bem! Deixe estar! Mais importante do que ser laureado é ser lido e ter deixado de alguma forma sua marcar mesmo que seja mínima.

A alternativa pode ser frustrante e decepcionante e o preço a ser pago, alto demais.

26 de set. de 2022

positivo/negativo

 


É horrível que estejamos nas vésperas de uma eleição e que, ao invés de discutir temas importantes para nosso futuro, estejamos é discutindo mitos, messias e salvadores da pátria e incapazes de conciliar nossas diferenças ou sequer abertos para uma possibilidade de diálogo sobre questões que mexem profundamente com nosso cotidiano atual e futuro.

Triste termos de escolher o menor entre dois males ainda que, obviamente, um deles seja 'o mal' personificado e o outro seja apenas não tão ruim.

Ainda que o atual mandatário represente tudo que de pior existe em nós como sociedade e flerte abertamente com um autoritarismo em voga no mundo, a alternativa a ele é apenas um reflexo à esquerda ainda que, como disse, na atual conjuntura, seja melhor que mais quatro anos de barbárie.

A questão é sermos reféns de duas opções que pouco trazem algo de novo, um ar mais fresco e ideias mais novas, vamos votar num para não deixar o outro vencer e isso é péssimo! Mostra o quanto estamos perdidos enquanto sociedade e como a política deixou de ser algo importante em nossas vidas para virar apenas uma imensa briga de condomínio.

Quem segue e vota em Lula (eu incluso) padece do mesmo messianismo que inflama o Bolsonarismo, podemos negar e dizer e jamais mas é, aceitemos que também tratamos Lula como mito, messias e salvador, a diferença é que ele, para nós, é o verdadeiro messias enquanto o outro é o anticristo, é uma linha muito tênue que separa os dois e não em termos de ideologia ou consciência social e de classe mas em termos de seguir cegamente e idolatrar a pessoa e o que ela representa e não sua atual capacidade de tratar o país com seriedade e respeito.

O messianismo de Lula foi a gênese do messianismo de Bolsonaro, ficamos aqui nos perguntando de onde saiu esse ser, como pode ter acontecido isso e outras questões afins e a resposta é muito simples: fomos nós!

Passamos quase duas décadas cultuando uma figura, uma ideia, removemos do plano terreno e colocamos num panteão com incensos e cânticos e isso, na política, é extremamente perigoso. Acreditamos que havíamos salvado o Brasil e que seriam apenas anos de rosas e vinhos mas, o outro lado aprendeu a fabricar mitos e lendas e não nos demos conta de que o Brasil é uma ilha de boas intenções rodeada de Bolsonaros por todos os lados.

Nós criamos Bolsonaro, simples assim. Ao não darmos atenção aos sinais de culto que o petismo e o lulismo viraram demos de mão beijada o caminho para a extrema direita empossar seu messias e agora ficamos pasmos sem entender e ainda assim não aprendemos pois vamos novamente ter de escolher entre dois messias, oxalá mais a frente aprendamos que presidente da república não deve ser messias mas apenas competente.

Vou votar 13 porque não posso conceber mais quatro anos de 22 mas, desejo ardentemente que ele não se candidate e que outra pessoa tome rédeas e que seja alguém novo e longe dos extremos para tentarmos começar a curar as feridas que seguem inflamadas. Precisamos de políticos com ideias, determinados e comprometidos com pautas humanitárias e sociais e não pais, mães ou ídolos, precisamos parar de tratar um prestador de serviços públicos como santo e salvador e encarar que a era do messianismo tem de acabar o quanto antes.

Precisamos nos livrar dos Lulas e Bolsonaros, precisamos parar de tratar a política como campo de salvação e passar a tratar dela como campo de mediação e discussão e qualquer messianismo não dá conta disso pois é por demais centrado em sua figura central e não no grupo que o segue, quem segue messias está fadado e cometer erros crassos e depois chorar a perda da razão, entregar nossas ideias e ideais a um salvador é morte certa porque não existem salvadores que não sejam nós mesmos.

A era dos messias precisa acabar, precisamos crescer e aprender que não somos mais crianças, parar de fazer birra e assumir que a responsabilidade pelas coisas e pelo país é nossa e não deles, parar de discutir esquerda e direita e entender que depois da eleição tanto faz qual lado porque, no final das contas, quem paga a conta somos todos nós independente de qual lado estejamos.

Que em quatro anos não estejamos elegendo santos mas pessoas.


lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...