30 de nov. de 2021

respect the office

Creio que todos tenham visto isso aqui.

Sentimentos dúbios, confesso.

Por um lado, eu mesmo tenho vontade de falar isso na cara desse sujeito e não preciso listar as razões aqui afinal, nunca um mandatário foi tão inepto, desrespeitado, odiado e nos fez passar tanta vergonha aqui e mundo afora. Bolsonaro entrará para a história (menos para seu gado) como o 'estadista' mais vexatório da história nacional recente, tomara que tenhamos aprendido a lição mas, acho que ainda não vimos seu final, ele será aquele fantasma de natais passados que vem sempre para nos lembrar dos horrores que tivemos.

Por outro lado, é triste vermos que por sua causa passamos a desrespeitar a presidência como instituição democrática incapazes de desassociar esta da pessoa que a ocupa, uma é fixa e estará lá até se sabe quando, o outro é temporário mas, o estrago causado é tanto que associamos a presidência com seu ocupante e assim, desrespeitar, xingar e ofender são encarados como normais, não estamos ofendendo a presidência ou a democracia mas o indivíduo mas, não é bem assim.

Ao ofender o homem que ocupa o cargo estamos sim ofendendo a instituição, esta é mais uma herança do Bolsonarismo, perdemos o respeito pelas instituições e fomos roubados do orgulho de nosso país, basta ver alguém defendendo a presidência como instituição e vestido com as cores nacionais para termos engulhos e isso é péssimo!

Explico.

Quando pegamos ranço como pegamos das instituições pátrias, seus símbolos e afins estamos abrindo mão de nossa identidade como nação, se não reconhecemos mais essas instituições como nossas então elas não nos pertencem mais mas sim a qualquer um que as tome de assalto, se não reconhecemos que elas são nossas e que apenas por um período de tempo elas estão sob controle de quem não comunga de nossas ideias e visões de mundo e sociedade, estamos deixando de lado nossa posse e abrindo espaço para que sejam destruídas.

O projeto Bolsonarista não é de resgate dos valores familiares ou pátrios mas da destruição de tudo isso para implantar um regime de terra arrasada no melhor estilo não vamos deixar nada para vocês quando sairmos e nós compramos a ideia e estamos jogando jogo muito bem então, quando xingamos Bolsonaro, por mais que estejamos nos referindo a pessoa, estamos cuspindo na instituição e removendo dela o respeito e valor que deveria ter mesmo porque, se não tivermos isso então de valem elas? Melhor abolir tudo e criar um estado absolutista e nem precisamos trocar de mandatário, podemos ficar com esse que aí está.

Frequentemente eu me pego pensando no que faria se, por acaso, desse de cara com Bolsonaro e, na grande maioria das vezes penso que minha vontade seria estapeá-lo, cuspir ou xingar mas então, penso no que isso me ajudaria e se não estaria agredindo gratuitamente o Brasil e, a bem da verdade, você meio que merece não é, Brasil? Não sei mas eu penso que se essa situação chegasse eu sinceramente o trataria com o respeito que a presidência merece e não ele enquanto pessoa pois ele não merece de mim nada a não ser desprezo.

Pode ser uma opinião errada, contestável mas penso que faria um esforço para tratá-lo como instituição e não como pessoa, acho que enquanto não soubermos distinguir bem um do outro estaremos fadados a tentar eleger o próximo mito....


29 de nov. de 2021

guerra santa

Dias atrás, escrevi sobre liberdade de expressão e a diferença entre isso e o discurso de ódio.

Obviamente, se você é Bolsonarista e conservador, dificilmente saberá a diferença entre um e outro e também se você é radical de esquerda porque o discernimento de ambos não escolhoe espectro político e é uma linha muito tênue entre um lado e outro, qualquer excesso é nocivo e descamba facilmente para o ódio se não for bem moderado e certo nas ideias e meios de expressá-las.

Precisamos tomar muito, mas muito cuidado com a cultura do cancelamento e polícia de ideias pois, como disse acima, basta um pequeno empurrão para perdermos a mão e passarmos a ser exatamente o que condenamos nos outros. Estamos tão radicalizados e isolados em nossas posições que ao menor sinal de discordância soamos os alarmes do cancelamento e execramos os outros por pensar de forma distinta sem tentarmos ao menos entender porque pensam de forma diferente de nós ou se suas ideias valem o argumento e debate, vivemos o clima de eles contra nós e disso, nada bom pode advir.

Obviamente que isso não justifica de forma alguma expressões que incitem o ódio, preconceito ou ataques a qualquer minoria ou recorte da sociedade, quando personalidades de qualquer mídia, esporte ou afins manifestam opiniões que incitam a discriminação, ódio e preconceito devem ser punidas dentro da lei e, quem sabe, aprender com seu erro ou, como é mais de costume, buscar refúgio sob as asas do conservadorismo que dia e noite reclama e esperneia que vivemos em constante patrulha ideológica e censura.

Pensemos, não há qualquer problema em um conservador expressar e defender suas ideias, ele tem esse direito, se é a crença dele, sua visão de mundo e como ele entende que a sociedade deve se organizar ele tem direito a isso por mais que suas opiniões não nos agradem e, antes que pensem que estou defendendo os conservadores, pé no freio! Estou apenas defendendo o direito de todos nós podermos nos expressar de forma livre, quando podamos a ideia do outro e impomos a nossa visão como correta não estamos agindo de forma melhor do que o mais ferrenho dos conservadores, estamos agindo igual, não há avanço possível quando nos colocamos em cantos extremos fechados e  nos recusamos a ouvir uns aos outros, isso cria um mundo de visões únicas e fadado ao marasmo a extinção.

Volto a dizer que ideias e expressões que incitem ódio e preconceito jamais devem ser toleradas, é tolerando esse tipo de coisa que abrimos espaço para sua normalização e expansão mas banir todo e qualquer pensamento diferente nos faz apenas ser tão fascistas quanto o outro que assim chamamos. Desaprendemos, eu incluso, a arte de dialogar, de debater, não sabemos mais escutar e ao menos tentar a visão de mundo uns dos outros, estamos fechados em nós mesmos e acusando uns aos outros de tentarem destruir o mundo sendo ele é um só para todos nós e, a bem da verdade, já éramos assim mas, fazíamos de conta que não, se há algo de bom que o atual governo fez foi remover de todos nós as máscaras que usávamos e deixar claro como cada um de nós pensa e, pior, como nos odiamos por sermos e pensarmos diferente uns dos outros.

A herança do Bolsonarismo é termos feridas que talvez jamais cicatrizarão, rompimentos que jamais terão reconciliação, separações que jamais terão volta e tudo isso porque descobrimos quem somos de verdade e como nossas diferenças são irreconciliáveis o que é uma tragédia sem precedentes pois Bolsonaro e seu grupo passarão enquanto nós ficaremos aqui lambendo nossas feridas para todo sempre.

Lamento muito quando vejo a todos nós procurando o próximo cancelamento, estamos vivendo uma nova inquisição e reforço, é bom que não mais nos calemos ante as injustiças e comentários depreciativos, esse tipo de comportamento não cabe mais em nossa sociedade e mundo e os opressores estão reclamando porque é difícil para eles aceitarem que não somos mais piadas e que não vamos mais aceitar tudo sem revidar mas, se não tomarmos cuidado como disse mais acima, acabaremos em mundo tão fechado e irreal que nada mais fará sentido, viveremos uma utopia que será maravilhosa dentro de nosso universo mas distante da realidade e a realidade é mutante e não poder única ou cobrará de todos nós um preço mortal.

Quando não sobrar mais ninguém para cancelar o que faremos? Vamos estar felizes e num paraíso e começaremos a cancelar uns aos outros até não sobrar ninguém mais? Quem vai apagar a última fogueira?

25 de nov. de 2021

é nem

 


Lendo isto aqui, fica muito claro qual a real intenção do Estado Bolsonaro e seus capachos.

Um ENEM com a cara do governo.

E qual a cara do Governo Bolsonaro? Fácil!

A cara do Governo Bolsonaro é destruir toda e qualquer possibilidade de pensamento crítico do meio acadêmico e estudantil pois não se pode controlar quem pensa, quem tem ideias e ideologia, quem sabe argumentar e questionar, um geração sem estudo e sem capacidade crítica está fadada a ser gado renovado.

A batalha ideológica que se iniciou em 2018/19 segue forte e em 2022 será guerra pois o gado bolsonarista vai pegar pesado e virá com sangue nos olhos para banir o comunismo e as ideologias de esquerda que ameaçam a família transtornada brasileira então, ainda que o 'Ministro da Educação' afirme peremptoriamente que não houve interferência no ENEM 2021 a reportagem deixa claro que as represálias sim ocorrerão e que houve, em maior ou menor grau, um direcionamento para evitar temas pouco afetos ao governo.

A lógica Bolsonarista é criar um universo paralelo onde a história só é válida se contada por ele e seus seguidores e tudo que for contrário a isso mesmo que fato comprovado e irrefutável está sujeito a revisão e ajustes no melhor estilo 1984. Quando você reescreve o passado, faz o presente e ajusta o amanhã, a mentira vira verdade e a verdade inexiste pois está mudando a todo instante e só é ratificada quando vem da fonte autorizada, tudo que vier de fora é invenção, ideologia e propaganda vide Alemanha por volta de 1939.

Desmontar o ENEM é parte do jogo Bolsonarista para destruir a única arma viável contra o fascismo, a educação! Quando temos uma educação forte e que fomenta o debate de ideias e o escrutínio da história, o argumentar, o dialogar e o contestar sempre pois não existem verdades absolutas, as chances de um mito-messias chegar onde chegou é baixa pois as pessoas não se deixam iludir por sua falácia e populismo.

O oposto disso é o que está acontecendo desde 2019 aqui com o aparelhamento do Estado ideológico conservador banindo tudo que fomenta o debate e ideias pois o fascismo não consegue ir para frente em ambientes onde isso existe. A praga conservadora assola nosso país e os estragos que estão fazendo levaremos décadas para corrigir se é que conseguiremos pois a tragédia é tamanha que não nos demos conta ainda do seu tamanho.

O ENEM que deveria ser a porta de entrada para a universidade segue extremamente importante mas precisamos vigiar para que siga promovendo questões que tragam o debate social e o questionamento ou será apenas um teatro de marionetes de um Estado totalitário que se faz de patriota e essa é a pior herança do Bolsonarismo, ter roubado de nós o orgulho de nosso país....

24 de nov. de 2021

consciência de quem

 


Sábado passado foi Dia da Consciência Negra.

Não postei nada, nenhuma foto engajada, nenhum comentário motivacional nem nada pelo simples fato de que entendi não ser apropriado enquanto pessoa branca, pensei que seria oportunista e não cabia fazer qualquer tipo de ativismo sazonal sendo que eu não sou um ativista da causa, soaria falso ou até sem sentido ainda que eu combata, da maneira que consigo, todo e qualquer tipo de preconceito.

Há um sentimento de culpa e remorso nisso, talvez eu pudesse fazer mais, atuar mais, combater mais e confesso que do alto do meu privilégio branco isso acaba se tornando um tipo de ação panfletária que eu não sei como conduzir ainda que saiba ser importante ou mesmo algum tipo de displicência já que sequer posso imaginar o quer é sofrer e passar por esse tipo de crime totalmente fora de minha realidade e esse é o perigo, quando nos indignamos com os crimes mas de forma 'social', expressando e condenando veementemente mas voltando à nossa realidade tranquila no momento seguinte.

Então, preferi o silêncio pois as vozes que precisamos ouvir falaram tudo que era preciso e acho que a nós cabe apenas escutar e dar espaço, usar dos privilégios que temos para fazer caminho a quem precisa cruzá-lo e calar porque não há como qualquer palavra nossa expressar uma luta que não entendemos porque nunca nos afligiu.

Isso não quer dizer calar ante as expressões e atos racistas, jamais, é calar para que as vozes que precisam falar sejam ouvidas e não calar quando testemunhamos qualquer crime desses, a conivência é meio caminho andado para o crime, suja nossas mãos tanto quanto as de quem perpetra o crime em si.

Eu já fui um 'racista' normativo, piadinhas e termos e tudo mais, quem de nós não foi? Aprendi, mudei, amadureci e hoje sei bem que esse tipo de comportamento não tem mais espaço no mundo em que vivemos e estou sempre aberto e disposto a aprender mais para que o outro sinta que eu respeito sua vida e existência e trajetória.

Há quem diga que isso é conversa de comunista, vitimismo, massa de manobra, em tempos tão radicalizados e de extremos, a ideologia que precisamos é combatida com força pelas pessoas que enxergam nela uma ameaça ao status quo, todos esse que apoiam o mito e entendem que esse papo de minorias, racismos, homofobia e afins é coisa para nos dividir ainda mais e que não é assim que vamos resolver esses problemas mas tendo uma visão e atitudes mais igualitárias e não combativas ou afirmativas a respeito deles.

Lamentavelmente isso não é verdade, os capachos da direita e algumas parcelas dos movimentos de luta que compactuam com essa ideologia torta seguem pregando essa cartilha mas ela é furada e falha.

Como não falar de igualdade e luta por direitos, de racismos e outros preconceitos numa sociedade que ainda não aboliu a escravidão ou os preconceitos? Que segue cortando oportunidades a quem não vai de encontro a norma? Somos o país que mais mata pessoas negras, pobres, LGBTQIA+ e outros, os casos de racismos brotam nas redes sociais, reflexo de um governo que escancarou o Brasil de fato, racista, conservador, machista, misógino, LGBTQfóbico, esse é o país de verdade!

Então é preciso sim termos um dia para cada preconceito ser combatido, um dia para cada consciência porque do outro lado não existe consciência, existe apenas indecência e a noção de que todos nós deste lado deveríamos ficar calados e aceitar as migalhas que conquistamos através do sangue de muitos.

Falar que não precisamos disso e que esse tipo de atitude e comportamento só faz aumentar as diferenças entre nós é uma falácia conservadora, uma aberração sem tamanho porque não condiz com os fatos, com a realidade dura e com as mortes e humilhações que todos os dias saem nos jornais isso sem contar as que nem ficamos sabendo.

Quando a sociedade se nega a ouvir essas vozes ou deseja calá-las porque fazem muito barulho é sinal de que estamos no caminho certo...



23 de nov. de 2021

para quem precisa?

  



Creio que todos tenham visto esse caso aqui.

Antes, deixo claro que não estou absolutamente defendendo qualquer comportamento violento ou abusivo da autoridade policial mas apenas encarando a profissão de PM como qualquer outra com seus problemas e dificuldades ante uma conjuntura social complexa e insana que acaba cobrando de todos nós um preço alto demais e inserida num Estado que valoriza acima de tudo a violência, a necrosociedade e a regra de que bandido bom, é bandido morto sendo que a definição de quem é ou não bandido fica critério deles.

Igualmente, não posso compactuar e justificar sob um aspecto humanitário e social a violência extrema que vivemos principalmente nos grandes centros, creio que todos estamos fartos de ler e ver notícias sobre sequestros, gangues, latrocínios e tudo mais, tudo desembocando numa sensação de frustração e impotência que permite ao Estado e a nós mesmos aplicar a lei do cada um por si e aí, meus caros, não há mais esperança de salvar quem quer que seja.

Por mais que nos sintamos indignados e com raiva, se deixarmos esses sentimentos nos dominaram perderemos o foco da raiz do problema, estaremos sempre atacando o sintoma e não a doença e a causa dela não é apenas a polícia mas todos nós que vivemos em sociedade.

A relação que temos com a polícia é uma relação de amor e ódio, precisamos dela e ao mesmo tempo a execramos, elogiamos quando nos atende bem e ofendemos quando age mal, detestamos precisar dela mas tememos não tê-la por perto e esse tipo de sentimento e comportamento paradoxal vai de um extremo a outro conforme a classe social em que vivemos, brancos classe média tem um tipo de visão e sentimento, brancos classe alta outro e pobres, negros e periféricos outra totalmente diferente e, a grosso modo, seria respectivamente algo assim: os primeiros querem proteção e segurança mas acham que ela exagera e que o problema é estrutural discutindo do alto de seu chão de taco e MPB descolada, os segundos acham que a PM é tipo o novo capitão do mato, feitor, tem de manter os pobres e demais longe e sob controle, sua milícia pessoal sempre disponível a um telefonema para algum deputado ou governante e os últimos, só sabem que ao ver uma viatura existe uma chance grande de serem presos, agredidos, humilhados ou mortos.

Essa relação complicada é herança da ditadura, as polícias eram braços da ditadura e, depois da abertura, seguiram impregnadas dos refugos do regime que, se não estão mais aí, deixaram as corporações abastecidas de suas ideias e comportamento que parecem ter sido inscritos em pedra sagrada quando não tem uma relação espúria com o crime e tornando-se algo ainda pior e mais perigoso, as milícias que estão devorando sem medo o RJ e começando a estender seus dedos para outros estados.

Mas não é só isso, uma profissão como PM é um trabalho ingrato além de extremamente perigoso, todos nós quando saímos de casa para trabalhar ou seja o que for, temos uma chance de não voltar vivos afinal, a vida é uma sacola plástica jogada ao vento mas, um policial tem essa chance aumentada de forma exponencial e isso para ganhar um salário que mal paga as contas do mês. Como pedir que essa pessoa entregue sua vida diariamente se ela mal consegue sobreviver dignamente? Da mesa forma que os professores são pouco valorizados e deles se espera muito, fazemos o mesmo com a polícia sendo que eles esperamos que morram para manter a lei e a ordem mesmo quando a lei e ordem parecem algo meio sem sentido.

Temos um perigo alto aqui não apenas por demandarmos que pessoas mal preparadas e mal pagas saiam armadas pelas ruas para zelar pela segurança pública mas por entendermos que seus excessos e truculência são justificados numa sociedade que só entende a linguagem da porrada, o malandro é sempre o outro e ele precisa ser detido e colocado atrás das grades mas, as mensagens que enviamos aos agentes da lei são dúbias, mate mas seja humano, bata mas seja doce, afaste o perigo mas o abrace, seja humano mas agressivo, zele por mim mas não espere que eu zele por você e, se você exagerar ou ultrapassar algum limite, eu vou te condenar mas lá no fundo eu te entendo e apoio, como fazer uma relação dessas funcionar?

Nossa relação com uma corporação que deveria atuar como ajudante de manutenção de algum tipo de tecido social é tóxica, tomamos as partes pelo todo e enxergamos na polícia algo a temer e crucificar porque são bestas fardados que o Estado usa para manter a ordem enquanto outros exaltam que a mesma polícia anda matando pouco e deveria mais é sentar o pau em vagabundo então, como essas pessoas devem se comportar se não está claro o que se espera delas? Sem contar que, socialmente, elas estão lutando para viver de forma digna, não tem estrutura física ou emocional para lidar com trabalho de altos níveis de estresse, tem a sociedade e lhe cobrar coisas distintas, não pode ser feliz em seu trabalho e tem de lidar com o medo da morte, que a todos nós parece algo distante, de forma muito próxima e quase certa?

Esse comportamento do PM da matéria acima não é então surpresa, é sim o normal, o esperado de uma pessoa que não tem claro seu papel na sociedade, não sabe ao certo como desempenhá-lo para contento de todos, não recebe o suficiente para isso, não tem preparo ou amparo para isso e acaba apenas reproduzindo o comportamento que essa mesma sociedade espera que ele tenha apenas para, em seguida, ser condenado por ter apenas correspondido ao que se esperava dele.

Antes de condenar a PM como um tipo de mal maior, deveríamos apontar nossos dedos para a sociedade e seus grupos que perpetuam os mesmos vícios e privilégios há séculos, se a PM é um monstro foi essa sociedade que os criou e alimentou, eles não surgiram do nada e se há truculência, violência, exageros e abusos não é por que eles são sádicos dementes, podem até ser alguns deles que são apenas humanos mas eles refletem apenas o comportamento dessa sociedade que os fomentou a agirem a assim.

18 de nov. de 2021

a liberdade de (ex)pressão

 



Somos livres ou quase ou nem tanto ou talvez ou não ou apenas um pouco, medir a liberdade é algo confuso, complexo e muito subjetivo, ser livre é uma ideia e ideias são construídas diariamente e não fixas e imutáveis e perpétuas porque se forem morrem, toda ideia arraigada num momento do espaço/tempo está fadada a desaparecer, precisamos ser ventiladas e adubadas e atualizadas ou viram verdades universais e, ainda que algumas delas assim sejam, fechar a possibilidade de progresso e mudança de ideias é dar tiro no peito da evolução humana.

Todos somos livres a nossa maneira, dizer que somos mais ou menos livres do que outros é errado porque a liberdade de um pode ser suficiente enquanto para outro pode ser pouco, liberdade pode ser apenas escolha ou determinação, pode ser ir e vir ou ficar onde se está, pode ser falar e calar e dizer e sentir e viver e amar, pode ser muito ou nada e pode ser tudo ou nada e pode ser quase ou nunca mas, ela é e existe e precisamos dela para seguir vivendo.

O problema da liberdade é que ela não é irrestrita ou sem fronteiras ou sem limites mesmo que você pense que as quatro paredes de se celular assim o digam, não, ela não é, essa sensação de livre e solto existe ali apenas porque você está confinado num ambiente que lhe proporciona 'segurança' e sentimento de pertencimento e não precisa expor sua voz e face e ideias publicamente no sentido físico e carnal da palavra, na internet somos anônimos conhecidos e na vida aqui somos conhecido anônimos.

Mas, acima de qualquer ideia ou conceito ou teoria ou imaginação, ser livre é ter liberdade para poder falar e pensar e dizer e expressar suas ideias e opiniões sem medo de represálias, censura, cancelamento, banimento, linchamento, ofensa ou qualquer ação, atitude ou ato que cerceie esse princípio mas, não sabemos mais onde começa a liberdade de expressão e começa o aprisionamento de ideias e existe uma diferença muito sútil entre eles que pende para um ou outro lado conforme convém a quem puxa a corda.

É óbvio que a liberdade de expressão não deve ser usada para disseminar notícias falsas, discursos de ódio, preconceito, racismo ou qualquer outra coisa que ponha em risco ou ofenda e ajude a humilhar qualquer um de nós seja por nosso orientação sexual, identidade de gênero, raça, estrato social ou seja o que for porque hoje, tudo que é diferente e que nos faz sermos únicos enquanto humanos pode ser motivo de exclusão.

Quando usamos do manto da liberdade de expressão para justificar ideias estapafúrdias, negacionismos ou a criação de uma realidade na qual apenas alguns de nós acreditam veemente e cegamente, estamos corrompendo a essência desse princípio em prol de uma narrativa distorcida e irreal que presta serviço a regimes totalitários, absolutistas e que temem a liberdade de expressão quando não ela não vai de encontro a expressão de liberdade entendida por quem detém o poder e, via de regra, ao serem confrontados com seus discurso torto e arbitrário, tais pessoas vestem o manto da liberdade de expressão e caem aos prantos dizendo que são perseguidas e que não podem, de forma livre, expressar sua opinião contrária, patrulha ideológica, esquerdopatia, comunismo e jamais será vermelha.

Liberdade de expressão é poder discordar do outro embasado em pensamentos e argumentos lógicos e dialogados, é discutir sua visão de mundo e opinião sem que seja preciso enterrar a opinião alheia sob uma pá de cal. É não pregar a mentira como se fosse verdade e não tomar a verdade por sempre mentira e metralhar quem expõe os fatos pois eles não são reais dentro de sua concepção de mundo, é compreensível que pensemos de formas diferentes, se todos pensássemos igual, o mundo seria um daqueles memes onde todos estão felizes e dando de comer a animais selvagens nas mãos, mansos e sorrindo num por de sol idílico.

E o que digo acima vale para todos e não apenas para quem se acha do lado certo da história ainda que, hoje em dia, seja fácil saber quem está do lado errado pois não há como não saber qual lado é o errado vide a barbárie e cascata de factóides que recebemos todos os dias. Quando promovemos a cultura do cancelamento, do banimento, da censura seja por qual motivo for, por mais justificado que possa ser, estamos agindo de forma idêntica a quem está do outro lado, obviamente que não há mais como aceitar certos tipos de ações, comentários e expressões de preconceito, passamos desse tempo em que aceitávamos rindo amarelo as piadas e ofensas mas, se não tomarmos cuidado, acabaremos vivendo numa bolha sem brilho e sem cor junto com nossos detratores pois, como disse, é uma fronteira desenhada a lápis entre um extremo e outro.

Não podemos banir ideias (ideias e não preconceitos ou outras manifestações afins) porque elas simplesmente não encaixam com a visão de mundo atual, precisamos debater, discutir, entender e então decidir se essas ideias merecem atenção ou devem ser descartadas pois não trarão nada de construtivo para nossas vidas. Ao simplesmente cancelarmos e banirmos tudo que nos parece errado sem tentar ao menos entender de onde saiu a ideia e o que a motivou estamos matando o livre pensar e fechando a nós mesmos num mundo incolor e sem vida, onde todos pensamos igual e estaremos fadados ao marasmo eterno.

Volto a dizer que isso não é abertura para o ódio ou justificativa para expressões do horrendo em nós mas um pedido para que sejamos mais flexíveis em ouvirmos uns aos outros, debater nossas ideias e posturas diferentes e sair disso com visões de mundo que sejam benéficas a todos e, se não for possível, que sejamos capazes de conviver com nossas diferenças respeitando que são elas que nos tornam especiais.

Ao banirmos o diferente estamos matando o que nos faz humanos e pensantes, nossa espécie não chegou onde está (ainda que aos trancos e barrancos) matando ideias mesmo que tenhamos tentado arduamente por toda a nossa história. Chegamos aqui justamente por termos debatido, discutido, confrontado, questionado, dialogado e estarmos abertos, mesmo que contra nossa vontade, a ideias e pensamentos novos.

Perdemos a arte do debate e diálogos sadios, melhor banir e ofender e bloquear e banir do que tentar entender o outro, porque ele pensa daquela forma e como e se podemos fazê-lo mudar de ideia ou chegar ao um meio termo, estamos cada um de nós cravados em nossos extremos e não queremos arredar o pé pois temos a certeza de que estamos certos e do outro lado idem e assim seguimos cada vez mais isolados e distantes e sempre achando que o problema é o outro não nós mesmos.

Liberdade de expressão é poder expressar sem pressa e sem pressão o que você pensa, sem medo de represálias, sem medo de escolher palavras, sem medo de ter ideias e, muito importante, de forma consciente e madura para os questionamentos, julgamentos e opiniões contrárias e, porque não dizer, consequências de nosso pensar.

Ao minar essa responsabilidade mental estamos matando lentamente o que mais precioso temos como humanos.









17 de nov. de 2021

heróis por um ou mais dias...

 


A jornada do herói já rendeu as melhores histórias escritas, orais e visuais já contadas.

É uma fórmula simples contada desde que aprendemos a arte de contar histórias para registrar nossas vidas e também emprestar a elas algum tipo de magia e graça, remodelada e revisitada desde sempre para ajustar os tempos onde se insere mas que, no fundo, consite dos passos básicos do monomito que dialogam com todos independente de cultura, sociedade, idioma ou distância, inconsciente coletivo e genético, com pequenas variações a mesma história pode contada nos grandes centros como nos mais afastados locais onde o homem pode chegar.

Estamos perdidos numa espécie de monomito pessoal desde que nos inserimos no mundo digital cheio de telas e cliques e likes e fotos com filtro, deturpamos a jornada do herói quando passamos a contar tal epopeia com vídeos de menos de um minuto e fotos com filtros, construímos uma realidade adaptada porque a jornada no mundo real já não atende, em seus doze passos, nossos sonhos, criamos uma jornada do herói digital onde os passos são encurtados e acelerados para chegarmos ao final apoteótico e revelador de forma instantânea.

Sim, este post dialoga com o de ontem.

Vejamos como alteramos um mito clássico para um mito midiático moderno:

Mundo Comum - O mundo normal do herói antes de sua jornada ou seja, nosso mundo antes de entrarmos de cabeça, tronco e membros no mundo digital.

O Chamado da Aventura - O herói recebe um um desafio ou aventura e pode recusar ou demorar a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo ou seja, entramos no on-line e achamos que não irá nos consumir e que saberemos lidar com ele com coerência e responsabilidade e maturidade e sabedoria afinal, somos senhores de nós mesmos, certo?

Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural - O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura, pode ser qualquer influencer ou youtuber ou produtor de conteúdo que, saindo do nada torna-se referência para uma enxurrada de outros tantos.

Cruzamento do Primeiro Portal - O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico, sua vida digital começa a decolar e você tem seguidores e interage com eles e todos curtem o que você posta e compartilham e repassam e visualizam e viraliza.

Provações, aliados e inimigos - O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial ou seja, aquela postagem infeliz ou vídeo desnecessário ou comentário fora de contexto ou memória digital de um passado que você não conseguiu apagar porque a internet não esquece jamais.

Aproximação - O herói tem êxito (ou não) durante as provações, pode haver redenção, cancelamento, banimento, expulsão ou até coisa pior.

Provação difícil ou traumática - A maior crise da aventura, de vida ou morte, aquela postagem, comentário, vídeo ou filmagem que expõe seu lado menos correto, aquele celular que gravou sua conversa, aquela piada condenável, aquele apoio indevido, aquela onda de linchamento e cancelamento virtual e real.

Recompensa - O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa, faz um mea culpa, grava vídeo de desculpas, faz ação de caridade, apoia uma ong, dá entrevista a canais para reparação, reconhece que está aprendendo e em desconstrução.

O Caminho de Volta - O herói deve voltar para o mundo comum ou seja enfrentar que o mundo virtual pega pesado com o mundo real.

Ressurreição do Herói - Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido, tudo bem, recaídas acontecem mas dependendo do caso não tem como voltar um tweet ou foto.

Regresso com o Elixir - O herói volta para casa com o elixir e o usa para ajudar todos no mundo comum, a redenção rara em código binário, voltam os likes e apoio, defensores entendem que você errou e que a internet é assim mesmo, todos se escondem atrás de um discurso de ódio mas muitos ainda não querem ver você nem pintado de Google.

A internet fez de todos nós mitos, heróis por um ou mais dias....

16 de nov. de 2021

harder. better. faster.

 



Ser gay pode ser maravilhoso na maioria da vezes (e realmente é), desfrutamos de uma liberdade ímpar quando comparados aos padrões normativos de relacionamentos sexuais e afetivos e possuímos uma visão de mundo única que nos permite lidar com as adversidades de uma forma, digamos, menos pesada do que a maioria das pessoas o que, se não é uma regra, é uma grande vantagem.

Somos livres (quase todos ao menos) dos ditames de moral e costumes que corroem a sociedade normativa até a medula e estamos sim remodelando como amar, transar, viver e conviver, é um movimento sem volta mesmo porque, ainda que ao nosso redor existam aqueles que desejam andar para trás ou nem mesmo andar, a evolução só tem uma direção e é para frente então, não adianta reclamar, melhor aceitar o novo porque ele sempre vem e o velho deve ser guardado feito doce memória onde esse novo nasceu.

Sinto orgulho de fazer parte de um tempo em que tantas coisas estão em cheque, questionadas, revistas, remodeladas, reposicionadas, atualizadas para refletir um hoje que não cabe mais em regras tão mortas e, modéstia parte, acho que consigo acompanhar até razoavelmente a velocidade de mudança, já fui um pensamento antigo e modelado pelos padrões em que fui criado assim como boa parte de nós o foi, não há culpa a ser atribuída ou dedo a ser apontado porque somos, além de criações de nós mesmos, produtos do meio no qual estamos inseridos então, se você consegue manter-se atualizado isso é uma vantagem imensa e não digo isso como algum tipo de febre incansável de busca pelo novo que o tempo vai construindo em nós conforme vamos saindo da curva mas como uma necessidade de manter-se dentro do mundo e não fechado em nossos mundos que é receita certa para morrer lentamente.

Mas, ao mesmo tempo, sinto que na comunidade gay (ao menos na masculina) esses ares de progresso parecem ter estacionado décadas atrás.

Explico.

Nós gays homens cis sempre batemos no peito e falamos que a liberdade sexual era a maior conquista, poder transar sem culpa, sem medo (até onde as DSTs permitem), sem neuras e sem ter de fazer análise depois deveria ser a grande herança dos homens gays mas, acaba sendo sua maior prisão e não digo isso de forma moralista ou para cancelar o sexo casual que nós, gays, conseguimos a um clique de distância.

Ao quebrarmos essas regras de acasalamento e remover a procriação deixando o prazer do gozo por ele conquistamos uma liberdade extrema que nos livrou do jugo social imposto pela cultura e religião, excomungados felizes que somos mas adentramos num purgatório cheio de divisões e subdivisões e códigos que nos fizeram perder a essência de sermos criaturas do gozo, do prazer e, porque não dizer, hedonistas.

Essa liberdade que tanto gritamos aos ventos se esvai quando os aplicativos de sexo possuem perfis tão complexos e excludentes que mais parecem bulas de medicação tarja preta, há tantas exceções e normas que uma coisa simples como o sexo torna-se trabalho de conclusão de curso, caso de estudo e o sexo casual vira sexo programado e regrado, se não encaixar nas regras não ocorrerá e não apenas neles mas na famosa noite gay esses mesmos comportamentos seguem existindo mesmo depois de tana luta e suor e lágrimas para conquistarmos a liberdade sexual.

São regras de vestir, olhar, comportar, falar, beber e gestual que implicam numa recusa imediata do outro, dá-se block visual pois se entende que aquele perfil não atende aos requisitos ou então, banimos o outro depois de procurar seu eu on-line e ver se realmente condiz com a realidade ou seja, o eu de carne e osso sempre perderá porque o eu digital é um padrão inatingível, perfeito e imaculado, não há carne, pau ou gozo que possa se comparar.

É triste ver que mesmo de depois de tanto tempo e tanta porrada seguimos numa cultura segregacionista, digitalizada para identificar padrões e descartar o não se encaixa neles ou não atende a um mínimo de requisitos que não se sabe de onde vieram ou quem os determinou. A vida e o sexo são coisas reais, não precisamos de regras para eles, deveria bastar apenas um papo, um olhar ou química para fazer acontecer e não likes, fotos, filtros e considerações sobre aparência.

Falamos muito sobre a 'uberização' de nossa sociedade, a era do delivery e estamos realmente nela principalmente com os aplicativos de sexo e baladas dedicadas ao sexo casual e, veja bem, não quero pagar de moralista, acho válido e excelente que possamos ter todos os meios possíveis de encontrar alguém para sexo seja on-line ou em clubes de sexo, longe de mim querer impor regras para isso porque a maior liberdade que existe é poder gozar sem culpa e sem medo, apenas pelo prazer em si mas, o casual não precisa ser impessoal, descartável, somos todos humanos e temos sentimentos e necessidade de troca com outros para além de fluídos corporais.

Quando descartamos o outro apenas por não estar no perfil, porque a noite é jovem e você ainda pode conseguir algo melhor (aí no final dela bate a neura e você acaba ficando com qualquer um só para não ir embora no zero a zero), esse desuso do outro é um desuso de nós mesmos, estamos esvaziando o que há de melhor em nós e levando junto o que há de melhor no outro via tela de celular e corredores escuros de bares e clubes, não há nada ruim nisso como eu disse mas, essa troca pode ser bem mais gratificante do que alguns minutos e depois nunca mais.

Há um medo do permanente, o descartável é melhor porque não implica em laços ou responsabilidades e sempre existe o próximos perfil, essa cultura de figurinha repetida não fecha álbum deixa a todos nós como álbuns incompletos, estamos cultivando vazios e ficando cada vez mais arredios e imediatistas, precisamos do agora e do próximos, não queremos um agora prolongado porque ele demanda atenção e mais de 140 caracteres e ninguém quer ter tempo para isso, precisamos apenas do rápido porque ele atende a urgência que criamos para nós mesmos, estamos indo cada vez mais rápido e, nesse ritmo, chegaremos ao final antes do tempo, casados, exaustos, com a impressão de que vivemos muito e bem quando na verdade vivemos pouco e mal.... 

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...