23 de jun. de 2010

pra frente/pra trás



O centro velho já foi um dia lugar glamouroso onde as pessoas iam para se divertir, verem e serem vistas.
 
Meus pais sempre me contaram estórias de como era importante ir ao centro, um evento social pois lá ficavam os melhores cinemas, os cafés mais finos, os bares da moda enfim, a vida social girava por ali. Meu pai conta até hoje de como foi barrado no cine Metro, que fica na São João, simplesmente porque não estava de gravata frustrando minha mãe, sua namorada à época, desejosa de ver o filme em cartaz.
 
O mesmo se repetia em outras salas como Marabá, Olido, Ritz, Ipiranga mas, pelo que sei, o Metro era o mais cobiçado e mais chique e, se a idéia era causar uma impressão, levava-se o broto lá. Peguei o finalzinho dessa época dourada pois comecei a ir no cinema com minha mãe e minha tia nos cinemas do centro pelos anos 70 e 80 em lugares como o Marabá, Metro, Ipiranga, Cine Espacial e Comodoro. Neles, assisti ‘Alien: O Oitavo Passageiro’, ‘Superman – O Filme’, ‘Star Wars’, ‘Caçadores da Arca Perdida’, ‘2001’ e outros tantos que se for buscar na memória gerariam uma lista sem fim.
 
Pouco depois disso, as salas começaram a definhar vitimadas pela decadência do centro e conseqüente sumiço do público e depois pelo surgimento das salas multiplex com som e imagens superiores e localizadas nos shoppings onde se tem, em tese, mais segurança e conforto. Eis o destino de algumas delas:
 
Ipiranga I e II: localizados à Av. Ipiranga próximos da famosa esquina. Fechados desde 2005. Tombados pelo patrimônio histórico.
 
Marabá: em frente ao Ipiranga, amargou anos fechado até que uma rede multiplex reformou tudo e abriu uma unidade lá. Mantiveram detalhes da decoração antiga mas a sala, que era gigantesca e com uma platéia superior única, foi-se e hoje operam ali umas oito salas acho eu. Ao menos está aberto e exibindo filmes.
 
Metro I e II: à Av. São João. Hoje, Igreja Universal do Reino de Deus
 
Cine Espacial: para a época, inovador. Sala de exibição circular e três telas colocadas no alto quase que fechando o circulo. A sala de projeção ficava no meio do círculo pendente no meio do teto lembrando uma forma de bolo redondo virada para baixo. Não importa onde você se sentasse, você veria o filme. À Av. São João depois do cruzamento com a Rio Branco sentido Barra Funda. Hoje, estacionamento
 
Comodoro: em frente ao Espacial. Era a maior tela de SP e o melhor som, um luxo só. Assistir filmes ali era uma experiência à parte. Hoje, acho que é mais uma Universal ou está fechado mesmo
 
Agora, parece que se resolveu reviver esses dias, devidamente adequados aos tempos modernos, numa tentativa de desfazer a imagem decadente do centro e atrair tanto público como empresas. Na verdade, não acho que se deseje mudar o ar do centro mas dar uma capa de decadência chique que atraí tanto o publico que sempre gostou do centro e chorava por vê-lo às traças quanto aos que nunca lá pisaram. O Marabá já entrou nessa onda e, ao que parece, o Ipiranga segue o mesmo caminho mas ao invés de multiplex será uma sala bancada pelo Governo com ares de centro cultural e deve reabrir até o fim do ano.
 
Parece que o Art Palácio segue pelo mesmo caminho com apoio da iniciativa privada e o projeto é termos algo como o Radio City Music Hall e existem projetos para outros cinemas que, como o Art, hoje sobrevivem da putaria. De certo que esse tipo de cinema nunca vai morrer e acho que nem deve pois faz parte da mitologia do centro mas, não posso negar que a iniciativa é válida e tem meu apoio desde que não vire uma cruzada puritana. Esses lugares fazem parte da minha vida e da vida de outras pessoas também e, de certo modo, é meio triste ver eles simplesmente ‘sumirem do mapa’.
 
Fato é, no entanto, que o centro tem muito para oferecer e precisa apenas de autoridades desejosas de investir ali e promover sua revitalização. Sinto pelo tanto de história que já se perdeu por ali posto que somos muito fracos quando se trata de preservar nosso passado.

4 comentários:

  1. Cara, eu simplesmente AMO o centrão velho! Não sei se moraria por aí (talvez perdesse o encanto), mas não tem uma semana que eu não vá até aí. Boas lembranças das descobertas de adolescente na Galeria do Rock!

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  2. Centro é muito bom pela facilidade de se fazer tudo próximo. A diversidade é mestre e que se mantenha.

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  3. Ainda acho que veremos boa parte do centro voltando a ser o que era. Provavelmente não nos afastaremos muito dali. E adoro isso...

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  4. eu adoooro os centrões das grandes cidades ... todo o ar underground q os mesmos possuem me fascinam ...

    revitalizar sim ... descaracterizar nunca ... esta é a questão ...

    bjux

    ;-)

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