12 de nov. de 2019

O Futuro que a Deus Pertence

Passando pelo último de vários bloqueios, chegamos finalmente ao Museu de Estudos Universais Deliberado pelo Estado Universal Social e quase não chegamos devo dizer pois no último posto, acabei por me confundir com as carteiras de permissão e ao invés de mostrar a que me autorizava a ingressar na Zona do museu, acabei por entregar ao Zelote minha autorização de matrimônio. Acontece, são tantas as carteiras de permissão e tão parecidas entre si mas, o Zelote ou estava de bom humor ou fez vista grossa já que estava com meu filho e, após validar a carteira correta, deixou-nos passar apenas com uma leve admoestação.
Meu filho é uma criança doce e eu o amo muito, deve ser a única coisa boa que me ocorreu depois do Vento dos Mil Dias quando passamos a viver estritamente sob as regras do Senhor e sob estrita vigilância dos Zelotes. Eu acho que era feliz antes mas já faz tempo que agora não sei bem dizer se eu era mesmo feliz ou era apenas livre, é possível ser as duas coisas? Hoje me parece que não, temos de escolher uma delas, tenho agora quase convicção de que são incompatíveis mas não sei dizer ao certo se penso assim ou acabei apenas aceitando as coisas como estão.
Quando passamos pela porta do museu, meu filho largou minha mão e embarafustou à minha frente, foi tão súbito que fiquei sem saber o que fazer, não sabia se saía da fila para entrar no museu e ia atrás dele ou ficava ali torcendo para ele voltasse, qualquer umas das opções seria passível de punição mas, segundos depois, um dos seguranças o trouxe de volta com ar severo.
O senhor é o pai?
Sou...
Faça o favor de controlar seu filho, aqui é um lugar de respeito, isso ou terei levá-los para fora.
Não vai se repetir - disse segurando firme a mão do menino, tão firme que pude ver a dor em seus olhos pequenos. O segurança afastou-se e seguimos na fila, esperando nossa vez de sermos admitidos.
Não faça mais isso!
Desculpe...
Você quer que sejamos presos?
...
Sabe como é difícil a permissão para visitar um museu?
Desculpe...
Sabe o que eu tive de fazer para te trazer aqui?
Já pedi desculpas!
Se fizer de novo, fica de castigo e não vai acompanhar as novenas por duas semanas!
Por favor!
Então comporte-se!
Seguimos calados até chegar nossa vez. No balcão de admissão, uma Guardiã examinava os documentos de todos. Passou por nós, chorando, um casal que estava à nossa frente, de certo que não estavam com as permissões corretas ou em dia, chegamos ao balcão e fui o mais natural e educado que pude.
Bom dia.
Bom dia.
Trouxe meu filho par...
Carteira de Paternidade, Matrimônio e Autorização de Visita.
Saquei os documentos e os coloquei sobre a mesa o mais respeitosamente que pude, ela os olhou como quem tenta identificar uma pintura falsa e, sem olhar para nós, disse.
Estes documentos estão para vencer.
Eu sei.
O senhor deve providenciar a renovação o quanto antes, farei uma anotação em seu registro, procure a distrital o mais rapidamente possível.
Sim, senhora.
Cabe a todos nós zelar pela segurança de nosso Santo Estado e estar com os documentos em dia é parte disso, o senhor sabe?
Sim, peço desculpas.
Não podemos mais conviver com desculpas, a ação é a mãe da prevenção, o descontrole pai da liberdade e a liberdade origem de todos os males!
Salve o Santo Estado!
Salve! O senhor e seu filho podem passar.
Passamos. O museu não era grande, tivemos maiores antes, antes do Santo Estado mas agora são apenas lembranças de alguns com eu que conheceram esses dias de antes, não falamos sobre eles, às vezes sim mas evitamos.
Era a primeira vez de meu filho no museu e ele quis ver tudo perguntando praticamente sobre cada coisa que víamos. Fiquei encantado com sua curiosidade, meio com medo mas sabia que os Doutrinadores saberiam como moldar esses desejos.
E isso aqui papai? O que é?
Hummm, deixe ver, ah! Eram festas que ocorriam todo ano, celebravam a carne, o pecado.
E podia?
Antes? Sim...
Mas é errado...
Não era então...
E isso aqui?
Bom, eram pessoas que, deixe ver, gostavam de outras pessoas iguais.
Como assim?
Ahnnn, bem, veja, antes era normal que homens e mulheres gostassem uns dos outros...
Como você e a mamãe?
Bem, não, homens gostavam de homens e mulheres de mulheres e...
Mas podia?
Sim...
Não pode mais!
Não, não pode.
É errado, né?
Sim, é...
E aquilo ali?
Ah! Eram livros!
Livros?
Sim, as pessoas liam neles.
Neles? Mas como?
Bem, outras pessoas escreviam e as pessoas liam...
Escreviam? O que?
Bom, muitas coisas, as pessoas inventavam...
Mas não era real.
Bem, umas eram mas a maioria não..
E porque as pessoas liam se não era de verdade?
Bom, porque as pessoas gostavam..
Mas quem pode gostar do que não é verdade?
Naquele tempo as pessoas gostavam, e era um pouco verdade..
E aquilo ali?
O que?
Ali, aquele livro grosso?
Ah! Aquilo era uma coisa chamada constituição, não se usa mais...
Servia para que?
Hummm, acho que para dizer o que as pessoas podiam ou não fazer, algo assim.
Mas o Santo hoje nos fala isso, não é papai?
Ah sim! Ele nos fala!
Então porque as pessoas precisavam de um livro  para isso?
Não sei...Acho que elas precisavam de algo que lhes dissesse isso escrito mas era pouco praticada...
Papai?
Sim?
É verdade que antes tinha um tempo onde tinha quadro de gente nua, fotos e podia tudo isso?
Bom, é verdade sim mas faz muito tempo isso, muito antes de você nascer...Onde você ouviu isso?
Uma Santa Professora disse na aula um dia.
Disse?
Sim.
E como ela era?
Não sei bem, ela só esteve lá um dia, depois sumiu, não vimos mais ela.
E ele correu para junto de um pequeno grupo onde algumas crianças estavam sentadas para ouvir um guia local falar sobre as sagradas escrituras.

7 de nov. de 2019

O rato que ruge

Todo e qualquer tipo de violência é detestável e leve apenas a um único resultado: mais violência, na lei do olho por olho todos acabaremos cegos, simples assim. Apelar para a violência é o recurso preferido dos valentões, fascistas, reacionários e toda essa gama de gente que só entende existirem dois lados, o dos que estão a seu favor e dos que estão contra .

O que vimos hoje na JOVEM PAN foi a demonstração clara do destempero e despreparo da direita messiânica normativa de pau na mão, a agressão de Nunes, gratuita, abjeta, escroque e nojenta vai embasada na ofensa de Greenwald a honra do dito jornalista, ele mesmo clamou defesa da honra para justificar ter partido para as vias de fato sem recordar das declarações estapafúrdias sobre a família do outro denominando-as uma brincadeira apenas e, pior, constatação de fatos para os quais ele não tinha qualquer forma de comprovação.

O que vimos foi o macho alfa conservador hetero agir como deve agir, que se espera de um macho ferido em sua hombridade? Que dialogue? Não, ele tem de agredir e anular o outro, o opositor porque nada pode ficar no caminho de sua macheza, é a mesma justificativa que ainda hoje prevalece nos crimes de feminicídio crimes para os quais a sociedade faz vista grossa já que um clã de machos broncos e mijando pelos cantos esta de posse do país.

O comportamento de Nunes é o comportamento dos homens na era do messias e antes dela também, apenas agora eles tem alguém que lhes corrobora o discurso e atos trogloditas. A agressão de Nunes a Glenn vai além, é uma agressão a todos nós que ainda guardamos um fio de esperança de que estes tempos sombrios passarão, serve de lembrete de que os machos alfa estão aí dispostos e prontos para sentar o sarrafo quando se cansarem de nosso mimimi e vitimismo e, no final, vão dizer que foi culpa nossa porque macho jamais pode voltar para a caverna com os brios manchados, ou volta com o sangue do outro ou melhor nem voltar.

E como se não bastasse este circo de horrores, o imbecil do locutor do PÂNICO ainda decide, na volta do programa, fazer troça da briga dizendo que esperava um quebra pau homérico e não uma briga de mulherzinha e isso acompanhado de trejeitos e maneirismos claramente homofóbicos e machistas.

Nunca dei audiência para essa merda de programa, sempre os achei misóginos, machistas, preconceituosos e dispostos a qualquer coisa para garantir audiência, sem limites para expor outros a vexames e humilhações se isto lhes garante mais números no ibope. É o tipo de programa que vai chorar se for acusado de tudo isso, vai dizer que as coisas andam muito chatas, que tudo é motivo de reclamação e o politicamente correto está matando o humor.

Primeiro que eles não fazem humor, fazem isso que eu disse aí em cima e se você acha que fazem então você precisa rever seus conceitos urgentemente. Segundo que disfarçar seu preconceito de humor já não cola mais e por último, depender de esquemas escusos e baixos para ficar no ar é deprimente para não dizer patético.

De quebra, o PÂNICO nos brindou com duas agressões num mesmo dia, nada mal para um programa que diz querer apenas promover humor, desse tipo de humor eu quero é distância.

O cinema tem sete vidas

Creio que todos estejam por dentro da polêmica gerada por Scorsese ao dizer que os filmes da Marvel não poderiam ser considerados cinema. No link acima ele dá uma boa explicação sobre suas declarações, fato é que o cinema não vai morrer nem deixar de existir mas, que está passando por mudanças profundas não há como negar.

Poderíamos dizer que Scorcese e outros de seu quilate se ressentem de não terem mais os grandes estúdios a lhes lamber as botas e dispostos a abrir a burra para bancar seus projetos autorais mas, creio que a problemática esteja bem explicada nesse artigo recente do mestre.

Oras, cinema é antes de tudo diversão, pagar para fugir da realidade por algumas horas, fantasia e, assim sendo, os filmes de heróis fazem tal papel de forma magistral, eu mesmo gosto deles e quem não gosta? São filmes extremamente bem feitos, tecnicamente impecáveis e sem grandes segredos, são maniqueístas e previsíveis o que não é ruim já que nos permitem a dita fuga e não pensar,a diversão pura e simples.

O problema começa quando temos apenas filmes de heróis e franquias como disse Scorsese e outros diretores, quando os grandes estúdios passam a priorizar esse tipo de filme em detrimento do cinema mais autoral ou, se preferir, de arte e isso é um ciclo vicioso pois se os estúdios apenas refletem o desejo do público, este por sua vez vai consumir o que o estúdio entrega, entende? Um vai alimentando ao outro num moto perpétuo e com isso, o cinema mais 'sério' vai ficando para trás.

E quando digo cinema 'sério' ou de arte, o digo porque o cinema não tem apenas a função de divertir mas de fazer pensar, de tocar as pessoas de forma que elas nem podiam imaginar, de trazer  e fazer reflexões pertinentes à época em que está inserido, as maiores obras primas do cinema foram, a grosso modo, filmes que teciam uma crítica ou promoviam algum tipo de discussão sobre temas complexos, delicados ou espinhosos fazendo com que a sociedade como um todo viesse a discuti-los de forma mais aberta e necessária.

Esse é o perigo de termos apenas filmes de franquias e blockbusters porque as discussões que eles promovem são simplistas e binárias, nos tempos em que vivemos pode ser importante podermos entrar numa sala de cinema e esquecer tudo que está do lado fora por um tempo mas, ainda mais importante é vermos um filme que nos faça pensar e encarar a realidade dura que vivemos ou estaremos fadados ao marasmo e escapismo confortável e isso é extremamente perigoso.

Não acho que o streaming seja um vilão, muito pelo contrário, Netflix e afins estão investindo pesado em produções cada vez maiores e melhores e aceitando projetos que os grandes estúdios estão declinando por medo ou porque ainda estão caminhando para seus próprios serviços de streaming para então fazer algo parecido. O streaming mudou a forma como assistimos filmes e séries mas não vai mudar o fato de que ainda existem pessoas interessadas em cinema seja ele para diversão ou reflexão.

Recentemente tivemos a 43 Mostra Internacional de Cinema de SP e pude ver salas de cinema cheias, sessões esgotadas, filas e muita gente interessada em ver filmes que, em sua grande maioria, não eram franquias ou escapistas se bem que escapismo é um termo um tanto estranho, não seria fato que tanto um filme de herói como um mais autoral não promovem o escapismo mas de formas diferentes?

O que está acabando com o cinema, pessoalmente acho eu, não são todas essas coisas mas outra coisa. Sou de uma geração que cresceu indo ao cinema, não existia internet, não havia streaming, não tinha celular, não tinha rede social, não tinha nada disso e não o digo como alguma forma de saudosismo ou anacronismo, apenas era diferente e o cinema era um evento, uma antecipação, algo aguardado e que beirava o ritualístico e de uma época em que os cinemas eram salas e não complexos de mega corporações que tentam lhe vender combos e experiência gourmet por um preço que beira o indecente ou pornográfico.

As pessoas estão acabando com o cinema, estão fazendo isso quando chegam depois do filme e ficam tentando encontrar lugar com a lanterna do celular acessa isso já passados dez minutos ou mais de filme. Estão acabando com o cinema quando atendem ou usam o celular durante o filme sem qualquer medo ou pudor, quando falam durante a sessão como se estivessem no conforte de suas salas ou no bar, quando levam para a sala todo tipo de lanche e comida e comem como se estivessem num refeitório, quando vão ao cinema sem saber o que irão ver, apenas para dizer que foram e isso aconteceu muito na mostra, eu fui testemunha.

O que deveria ser uma experiência de imersão e catarse coletiva virou uma festa onde calhou de passar um filme, as pessoas perderam a reverência pelo sacro espaço escuro da sala de cinema e pelo filme que foram lá para ver, esqueceram umas das outras e passaram a tratar o cinema como streaming e isso está matando o cinema

Quem está matando o cinema somos nós mesmos com nossa falta de respeito uns para com os outros.


4 de nov. de 2019

Senhoras e senhores, estamos flutuando no espaço

A música passa e evolui e tem de ser assim pois o tempo não pode e nem deve fazê-la refém, a novidade de hoje será o clássico de amanhã e apenas as camadas dos anos dirão, ao final, o que era realmente único e ingressará nesse panteão.

Mas, se existe uma banda que merece passagem direta e gratuita para o seleto grupo que vai encarar a eternidade nos olhos sem medo, essa banda é SPIRITUALIZED.

SPIRITUALIZED não é uma banda, é um estado de espírito, não fazem música ecoam no tempo e nos éons que ainda não nasceram, não existem nesta dimensão, vivem nos espaço entre elas e delá nos enviam sua música que contorce a alma e acalenta o espírito abrindo portas que nem sabíamos que estavam lá.

Qualquer definição lhes escapa, você tem de ouvir, imersão, entrega, sinestesia, empatia, desligar o mundo e deixar que as melodias, codas, paredes sonoras, efeitos, vozes, sons, ecos e reverberações te abracem e levem para a dimensão onde eles reinam absolutos.

Qualquer um que faça esse trajeto pelas mãos deles jamais voltará da mesma forma, as melodias guiadas a laser já fizeram seu trabalho e você foi devidamente espiritualizado.

Senhoras e senhores, estamos flutuando no espaço...

3 de nov. de 2019

A homofobia que acha que não é

Como vocês sabem, com outros dois amigos faço parte do ORGULHO CAST, um podcast quinzenal que, a cada episódio, traz um livro com temática LGBTQ+ para discussão.

Nosso intuito foi, desde o começo, primar pela discussão saudável tanto da obra como dos temas que ela aborda sempre buscando identificar os pontos positivos e negativos e incentivando nossos ouvintes a lerem as obras que citamos para tiraram suas próprias conclusões e opiniões.

Acredito que até o momento e nos encontramos ainda no início de nossa jornada pois temos apenas três episódios gravados e disponíveis para audição - links no final do post - estamos indo razoavelmente bem ainda mais se considerarmos que nenhum de nós tinha qualquer experiência prévia com podcasts.

Mas, nosso último cast parece ter causado uma pequena comoção o que eu, sinceramente, intuía que viesse a se passar em algum momento no futuro pois nem sempre os autores podem concordar com as opiniões que expressamos sejam elas a favor ou apontando falhas em sua obra e, volto a reforçar, sempre buscamos emitir tais opiniões de forma coerente, sincera e sem atacar de forma pessoal o autor trazendo a discussão para a obra e os temas que ela aborda.

Pois bem, no referido cast o livro escolhido foi 'Cadu' da auto intitulada autora de LGBTQ+ J.V. Leite a qual possui uma carreira consolidada na AMAZON e WHATPADD onde seus livros de 'temática LGBTQ+' tem uma aceitação muito boa e quase sempre avaliações muito positivas, se tais afirmações são corretas ou não, sugiro que o leitor confira por si mesmo e de forma alguma desmereço a iniciativa desta autora em escrever seja lá o que for, o oposto disso, precisamos cada vez mais de pessoas escrevendo e divulgando seu trabalho ainda mais na atual conjuntura em que nos encontramos.

Começamos a ter problemas - e são sim problemas, não há como dizer que não o são - quando um autor, seja ele de qualquer orientação sexual ou identidade de gênero, insiste em perpetuar em suas obras clichês frequentemente associados aos LBGTQ+, padronizar os LGBTQ+ com base numa visão e conceito herdados pela mídia normativa e reproduzidos incansavelmente por gerações e até mesmo dentro da própria comunidade LGBTQ+ e destilar homofobia disfarçada de zelo pelo moral e bons costumes.

A referida autora no referido 'romance LGBTQ+' reforça estereótipos e comportamentos LGBTQ+ além de oferecer uma visão misógina do feminino que ecoa um machismo claro em seus personagens ainda que ela ateste que tenha escrito uma obra LGBTQ+ o que permeia a obra é uma heteronormatividade latente tendo apenas escrito personagens LGBTQ+ que se submetem a tal normatividade.

Em nosso cast apontamos estas e outras falhas da obra afinal, estamos em 2019 e alguém de se diz autor de LGBTQ+ deveria conhecer melhor tal público antes de sair escrevendo qualquer coisa e se auto nomear como, digamos, ativista e promotora de visibilidade LGBTQ+.

Se você pensa que dar visibilidade a LGBTQ+ é escrever um romance recheado de sexo explícito, comportamentos normativos, personagens padrão e sem qualquer complexidade ou profundidade, normalizar a heteronormatividade para relações LGBTQ+ e ainda reforçar questões machistas então seus conceitos precisam urgentemente de uma profunda revisão.

Pode talvez servir de lenitivo saber que a autora é uma senhora já pouco mais que uma balzaquiana, casada, religiosa e com uma visão do universo LGBTQ+ restrita a estes filtros ainda que tenha, categoricamente, afirmado após tomar conhecimento de nosso cast que fez extensa pesquisa para escrever sua obra e que suas avaliações são todas positivas.

Bom, quanto a pesquisa, não sei dizer como foi feita e quais suas fontes mas estão claramente equivocadas e anacrônicas e, sobre avaliações positivas bem, pelo que pudemos notar em sua grande maioria, os elogios vem de  mulheres heterossexuais e de uma pequena quantidade LGBTQ+.

Quando pessoas LGBTQ+ vem apontar que seu livro tem sim falhas e reproduz um discurso homofóbico e estereotipado, misógino e machista qual a atitude da autora? Ela manda você enfiar sua opinião no rabo, bloqueia nas redes sociais e alega que nosso cast promoveu uma onda de ataques a ela e sua obra.

Minha querida, o que se passa é que nós apenas rompemos a bolha em você vivia, cercada de pessoas que lhe cantavam louvores e liam o que você escreve sem qualquer discernimento ou conhecimento de causa, quando LGBTQ+ que possuem uma consciência de fato e sabem reconhecer o ranço hetero quando o veem expressam suas limitações, você se revolta e nos acusa de intolerância e preconceito, de heterofobia.

Nada mais incorreto, quando você escreve passagens que deixam clara a homofobia que lhe reside como, por exemplo, um de seus personagens alegar que não gosta de demonstrações de afeto mais impetuosas na frente da diarista ou mesmo em outros lugares porque a intimidade deve ser desfrutada entre quatro paredes, você está sim sendo homofóbica e dizendo que os LGBTQ+ só podem demonstrar seu afeto nos guetos ou longe dos olhos do mundo.

E não adianta usar o recurso de que o personagem assim pensa pois foi criado assim é uma desculpa esfarrapada para destilar sua homofobia nata e dizer claramente que LGBTQ+ devem ser discretos e sempre seguir a famosa lei da passabilidade. Usar a moral hetero alegando que mesmo estes também não podem abusar de tais arroubos é outro mecanismo de homofobia usado com frequência para colocar rédeas na comunidade LGBTQ+.

É do caráter do preconceituoso usar de subterfúgios e normatizar a sexualidade a afetos alheios com base em sua visão de mundo e pregar tais fatos como ilibados e corretos vestindo a pele de defensor da moral e de que não é preconceito mas apenas bom senso e respeito aos costumes. Os piores vilões frequentemente usam os mesmos argumentos para cercear a vida dos que não estão de acordo com a normatividade.

O que temos aqui e se passa com cada vez mais frequência, são pessoas heteronormativas que descobriram o filão LGBTQ+ e estão ganhando muito dinheiro abusando da exploração dos clichês e estereótipos que sofremos há mais de décadas, ao invés de buscar realmente conhecer e entender o que é ser LGBTQ+ vai-se pelo via mais fácil que é criar uma literatura recheada de sexo explícito e abusando dos conceitos e pré-conceitos comumente aplicados aos LGBTQ.

E não digo que heteros não possam ou não devam escrever sobre LGBTQ+, seria hipocrisia impor tal regra e limitaria a nós escrever apenas sobre temas LGBTQ+ quando a escrita deve estar acima disso e ser apenas boa, humana e despertar discussões e sentimentos que precisam estar na luz dos fatos e dos tempos. O que não podemos e não posso aceitar é literatura que se diz LGBTQ+ prestando serviço aos homofóbicos de plantão e ajudando a reforçar aqueles modelos e tipos LGBTQ+ que toda a sociedade está acostumada a aceitar e entender, isso não aceito nem debaixo de bala.

Não desejo mal a autora, que ela siga lá escrevendo seus livros e agradando seu nicho, só posso torcer para que um dia ela e seus leitores acordem mas, enquanto isso não acontece e você quer realmente ler literatura feita por/para LGBTQ+ que tratam com o devido respeito e humanidade nossos temas, existem autorxs que o fazem com louvor e seriedade.

Ou você continuar lendo o que os heteros entendem que é o certo...

ORGULHO CAST

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1 de nov. de 2019

LOS ANGELES NOVEMBRO 2019

Estamos, a partir de hoje, oficialmente no mundo idealizado em BLADE RUNNER.

Toda a trama do filme se passa em Novembro de 2019 o que, à época - o filme é de 1982 - era um futuro muito distante.

O filme segue extremamente atual, dizem que uma obra (seja ela qual for) tem seu real valor comprovado quando submetida ao peso do passar dos anos, poucas resistem a tal processo,muitas acabam tornando-se datadas ou anacrônicas ante a velocidade incrível e inexorável do tempo, tecnologia e tecidos sociais o que não é culpa delas nem motivo de demérito, elas apenas refletiram um momento no tempo que não existe mais ou, arriscaram previsões que acabaram por mostrar-se fantasia pura ou totalmente imprecisas.

No caso de BLADE RUNNER, arrisco dizer que praticamente tudo segue extremamente atual e válido:

1. Chamadas de vídeo: existem, vide FACE TIME e outros meios de comunicação.

2. Carros voadores: ainda são apenas um sonho mas, se você está por dentro dos avanços tecnológicos, deve saber que existem iniciativas nesse sentido que já produziram alguns modelos totalmente operacionais.

3. Decadência das cidades e superpopulação: se você vive numa grande metrópole como São Paulo, em alguns momento à noite a cidade pode parecer e muito com a Los Angeles do filme As cidades estão numa situação limite de poder acomodar a quantidade crescente de pessoas que vivem nelas e não apenas elas mas o mundo como um todo. A crise migratória que assola o planeta pode muito em breve tornar real a visão de mundo exposta no filme.

4. Grandes corporações: não precisa ser um grande gênio para perceber que nossas vidas são governadas não pelas autoridade de fato mas, pelas grandes corporações vide Facebook, Google, Apple, Unilever, Nestlé e por aí vai. Essas corporações dominam nossas vidas de formas que pouco conseguimos entender constituindo um poder dentro do poder que desconhecemos e jamais vemos os rostos.

5. Inteligência artificial: talvez o ponto mais longe da realidade do filme se considerarmos androides ou replicantes como os do filme, estamos muito distantes de tal coisa mas, em termos de IA, de forma geral e guardadas algumas proporções, estamos bem avançados vide os algoritmos que regem nossa vida digital e como eles permitem que as empresas e os governos saibam mais sobre nós do que nós mesmos.

Esses são apenas alguns aspectos, no mais, o mundo 2019 de hoje pode não ser o de BLADE RUNNER mas certamente tem problemas muito piores como por exemplo, o avanço do conservadorismo e de regimes de extrema direita.

Seria interessante daqui a outros 37 anos fazer uma nova comparação para ver o quão mais perto ou distante da realidade de BLADE RUNNER estaremos.

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...