19 de dez. de 2019

Music that you can embrace

This one goes in English 'cause I really want a good friend of mine to be able to read it thus, apologies to my local friends, deal with it my dears.

Some time ago, whilst having some - quite a lot must say hahaha - drinks at my place we were listening to vinyl records which have become, in the recent years, quite fashionable if not posh.

Well, I'm from a generation that grew up to vinyl records, there were no such things as streaming, download or internet radios. If you were really into music the only way to get in touch with new releases and new bands was through a few local magazines or, if you could afford it, imported ones such as NME and others.

The main conduit for getting new music was going to the record shops located in what we call GALERIA DO ROCK - something like ROCK MALL in a free translation - which were actually two different 'malls': one indeed more specialized in rock on its purest or hardest version and other more specialized in indie bands, gothic and other assorted music and which was my preferred spot.

But before going there you had to know exactly what you wanted, records back then were way too expensive and, not surprisingly at all and still true today, local stores sold only what the major record labels wanted so the bands and artists you liked were most of the time out of the range of your wallet.

What we used to do was getting as much information we could on the band or artist we wanted and only then go to the mall and to specific stores not to buy the record itself since that would require sometimes a whole year of savings but ask the owner to 'tape' the records we wanted.

We would inform him the records we wanted taped, he would name his price - the cassete tape would either be ours or bought from him at a very reasonable price - and tell us to come back in a few days or weeks depending on what we had ordered, rare albums would take more time whilst more 'popular' ones would be ready in a couple of days.

Those tapes would then be passed from hand to hand till sometimes they got so worn out that they sounded like a broken radio. From those tapes we would then select the bands we liked the most and then save money to buy the actual record, in vinyl.

We would then pass on the records we bought kinda in a way of a book club and that's when you got in touch with a whole lot of new bands, it was a time of LISTEN TO THIS, LISTEN TO THAT and so on, access to music was so difficult that we valued each and every chance we got back then.

Not saying that the internet, streaming and others killed music, I really love it cause it is practical and you don't have to carry a CD case with the music you want to hear during the day what could be quite tiring, anyone who had a portable CD player knows what I'm talking about.

You can now get in touch with new music in a fast and easy way but you still have to do some research even if the streaming algorithm is there to push you into new bands based on what you listen, that is the machine telling you what to listen to and even though it is quite tempting and easy, I still believe that the best way to get in touch withe new music is doing that search yourself, use the machine logic in your favor but most of all read magazines and online publications about music, follow bands and artists on social media and mainly, talk to people that love music as much as you, nothing can replace or ever take place of human contact, talking to other people about music and sharing tastes, opinions and impressions, that is something no machine will ever be able to do.

And that is something vinyl will never loose. Even though digital and online music made our lives much easier, the ritual of touching and album, taking the record out of its sleeve, placing it on the turntable, picking up the needle gently and slowly dropping it on that thin space before the first track is magical, ritualistic, is a bond that digital music will never be able to reproduce.

Or, as my great Scottish mate would say, that's music you can embrace...

18 de dez. de 2019

Mas o ódio cega...

Diga-me com quem andas e te direis quem és, diz o ditado.

Só que nessa de dizer quem somos baseado com quem andamos tem muita coisa no meio e não necessariamente as pessoas com quem andamos são um reflexo fiel do que somos porque às vezes, podemos andar com as pessoas erradas por entender que são as certas até que abrimos os olhos e nos damos conta do erro cometido.

Isso definiu quem somos?

Num primeiro momento, confesso que minha reação à agressão sofrida por Karol Eller foi a da maioria leia-se TOME! BEM FEITO! Você é lésbica e vai lá apoiar o messias, fazer arminha, dizer que não há homofobia que é tudo vitimismo, que a comunidade LGBTQ não te representa e coisa e tal, deu no que deu.

Depois, caí em mim e disse não, não pode, estou errado!

Explico - lembrando que esta é a minha opinião, você é e deve sempre ser livre para tirar as suas.

Karol é lésbica e portanto faz parte do L de LGBTQIA+, quando dizemos  BEM FEITO, ELA QUE LUTE e coisas do tipo estamos assumindo o papel do opressor e dando a ele mais munição para nos atacar pois se nós que deveríamos acolhê-la, apoiar e tentar fazer com que ela veja o engano em que havia incorrido ao andar com quem lhe tratava realmente como massa de manobra, a renegamos e dizemos que vá pedir ajuda em outro lugar então o outro lado vai, com propriedade, nos apontar como intolerantes, radicais, preconceituosos e até espalhar boatos de que os agressores foram da esquerda rábida e de outros gays ressentidos da traição de alguém da comunidade.

Percebem como apenas fizemos o jogo deles e saímos mais fragilizados do evento? Quem deveria ser apontado como vilão sai como herói e vice-versa e a rachadura em nosso telhado fez apenas aumentar.

Ela traiu o movimento? Que é traição, meus amores? Ela ou qualquer um de nós é obrigado e concordar com tudo que a militância faz ou diz e digo isso de forma generalizada, ser militante é acima de tudo cobrar não apenas das autoridades e sociedade civil nossos direitos mas apontar onde a militância falha ou age de forma equivocada, aceitar tudo que a militância diz sem questionar nos torna tão ou mais cegos que as pessoas que condenamos do outro lado e, novamente, não estou desmerecendo a militância que ela é essencial e de vital importância para nossa comunidade mas ela não pode nos cegar ao ponto de não sabermos diferenciar erros de acertos, a militância não está acima do bem e do mal.

Quando 'comemoramos' a agressão passamos a ter tanta culpa quanto o agressor e aí fica meio difícil de diferenciar quem é quem, não acham? Qualquer ataque homofóbico deve ser condenado independente de quem seja, se não tivermos esse sentimento de unidade e coesão estamos fadados a morrer como pessoas e movimento enquanto o opressor fica cada vez mais forte, julgar que essa agressão é a lei do retorno é apenas confirmar que esse retorno, ao rirmos de Karol, estará nos esperando na esquina e passaremos o resto de nossas vidas nesse ciclo sem fim, não estaria na hora ou até mesmo passada a hora entendermos que precisamos de UNIÃO e não de SEPARAÇÃO?

Eu realmente espero que ela tenha caído em si e entendido que as pessoas que ela apoia são as mesmas que endossam e incentivam agressões como a que sofreu, que a LGBTQfobia mata mais do que conflitos armados ao redor do globo e que vitimismo é um conceito usado pelo opressor para estrangular qualquer luta por igualidade e representatividade.

Enquanto não entendermos que agredir um membro de nossa comunidade é agredir todos estaremos ainda caminhando para o fracasso a passos largos e dando mais espaço para aqueles que nos querem cada vez menos presentes para não dizer mortos.

16 de dez. de 2019

João Silvério e o reino esquecido

Semana passada mais exatamente dia 12/12 - nem tinha me atentado a isso - fui à Biblioteca Mario de Andrade prestigiar Cristina Judar que, junto com outro jornalista que infelizmente me foge o nome no momento, mediaria uma conversa com João Silvério Trevisan.



Em cerca de duas horas - que passaram voando como sempre acontece quando estamos absortos em alguma coisa que nos prende a atenção - Trevisan falou sobre sua carreira, livros, ativismo, alegrias, tristezas, mágoas dando uma verdadeira aula não apenas de vida mas de literatura e conhecimento.

Em qualquer outro lugar, país, cidade, mundo, universo, Trevisan teria falado para um auditório lotado com gente do lado de fora reclamando por não ter conseguido entrar. Seria convidado por universidades, faculdades e outros para palestrar, dar aulas, emérito, ilustre. Teria uma agenda de eventos mais concorrida que a das ditas celebridades instantâneas das mídias sociais e estaria com a vida sossegada podendo finalmente relaxar e deixar-se levar pela literatura que ainda precisa produzir antes que os deuses e deusas do universo resolvam levá-lo para escrever em outros mundos.

Nesse dia não foi o que aconteceu.

Já fui em outros eventos em que ele foi a 'atração principal' e que estavam realmente lotados mas, o que deveria ser constância acaba sendo a exceção e, depois desse bate-papo, tive a certeza de que ele ainda segue correndo atrás de um reconhecimento que, pelo andar da carruagem, vai chegar apenas de forma póstuma o que é lamentável para dizer o mínimo.

Trevisan é um monumento nacional, deveria ser incluso na ABL mesmo já sendo, para quem teve contato com sua obra, um imortal. Poucas pessoas fizeram tanto pelo movimento LGBTQIA+ e seu DEVASSOS NO PARAÍSO seguirá sendo estudado por décadas a fio, simplesmente é o estudo mais amplo e detalhado da homossexualidade no Brasil, qualquer um minimamente interessado em conhecer sua própria história como LGBTQ tem por obrigação ler esse livro ou pode deixar de ser gay e virar hétero no mesmo instante, por favor.

E não apenas DEVASSOS, Trevisan possui uma obra extensa entre romances, contos, roteiros para teatro e cinema sem contar seu ativismo pelos direitos LGBTQs que enfrentou a ditadura e segue enfrentado o status quo tenebroso que se acerca de nós desde este ano fatídico.

Mesmo assim, sua obra segue obscura e rejeitada, é duro ouvi-lo dizer que seus livros não são reeditados, que ele ainda segue recebendo recusas de editoras e diretores, sendo preterido em premiações e homenagens, esquecido feito aquele parente chato que só chamamos em velórios, batizados e casamentos.

Pior, as gerações mais novas - raras exceções - não sabem quem é ele ou sequer ouviram falar de sua importância e relevância o que é de partir o coração e fazer corar de raiva. Se você, eu e todos nós estamos onde estamos, fazemos o que fazemos e temos algum orgulho em sermos LGBTQs - e ainda mais escritores LGBTQs - foi por causa dele e de pessoas como ele que conseguimos tais feitos, sem termos nos apoiado em seus ombros ainda estaríamos rastejando na sarjeta dos héteros.

Temos um problema grave de memória no Brasil, não conhecemos ou valorizamos nosso passado ou quem fez nosso presente e moldou nosso futuro, só reconhecemos esses heróis quando eles morrem e então, passamos a chorar copiosamente sobre seus túmulos e a dar valor ao que deixaram de legado porque então eles passam a existir, quando alguém morre vira notícia e postagem no Face e Insta e aí todos conhecem, amam, admiram, postam e dizem RIP como se fosse a maior homenagem do mundo.

Trevisan ainda está entre nós mas o tempo está contra ele e não digo isso de forma negativa ou agourenta, apenas constato que para ele o tempo corre mais fino feito uma folha de papel vegetal que já foi estendida quase ao máximo. Por sorte, ele ainda está aqui e está começando a receber o reconhecimento e valor que merece e isso estando totalmente lúcido, de mente afiada e com memória cem vezes melhor que a minha ou a de vocês. Me parte o coração vê-lo dizer que mesmo hoje, ainda que eventualmente, passe por dificuldades e que tenha de passar por perrengues para produzir sua arte e levar sua mensagem ao máximo de gente possível.

Eu tenho minha consciência razoavelmente tranquila pois conheço sua obra, já o abracei e disse o quanto ele é importante para mim e para todos nós que temos o privilégio de viver no mesmo tempo que ele.



Se você tem um pingo de dignidade e orgulho de ser LGBTQ, recomendo que você tente fazer o mesmo.

13 de dez. de 2019

Como matar uma sociedade sem que ela perceba

Existe mais de uma forma, lhe digo.

A mais rápida e já usada - e ainda em uso - é apenas dizimar, matar, genocídio puro, nada que um paredão ou algumas covas coletivas não resolvam, há gente mais do que capacitada para ajudar se for o caso.

Mas, como tais métodos podem ter uma repercussão um tanto negativa, existem outros menos agressivos ou, se preferir, diretos porém, demandam um pouco mais de paciência e perseverança.

Explico. Façamos um pequeno exercício.

Suponhamos que você foi eleito democraticamente como chefe da nação, votação retumbante, quase histórica para não dizer histérica. Você se elegeu com base em um discurso conservador, fortemente voltado para a moral, costumes, religião, tradição, família e propriedade, chega de minorias, agora é a maioria que vai mandar nessa porra!

Bom, não é como se você pudesse logo no primeiro dia de governo mandar, como dissemos mais acima, fuzilar ou sumir com todas as minorias que você tanto odeia ainda que seu desejo fosse exatamente isso pois você é do tiro, porrada e bomba mas, é preciso manter ao menos a aparência da democracia, não é mesmo?

Então, como fazer?

Vejamos, e se você começasse desmontando toda rede de apoio e estruturas governamentais voltadas para as ditas minorias sob o discurso que todos devem ser tratados iguais, sem distinção? Boa! Agora você pode tirar o pouco que essas minorias tem sem muito alarde e se elas reclamarem, você pode culpar a mídia golpista que só faz soltar fake news.

Mas isso não basta, as minorias ainda tem acesso a muita coisa que você não pode simplesmente tirar do nada, pega mal! Como então criar sua sociedade utópica sem mexer muito nas estruturas democráticas, por você já metia um louco e ia de AI5 e mandava você por decreto mas 64 já foi, o povo pode ser meio bobo mas não é besta!

Pensemos.

Ah! Você pode começar exonerando ou demitindo, no tempo devido para dar legalidade ao processo todo, aquelas figuras indesejáveis de órgãos importantes substituindo-as por outras mais alinhadas com sua 'linha de pensamento'.

Como educação e cultura são coisas de comunistas e ninhos de minorias que lhe são pouca afetas, comecemos por aí aliás, melhor lugar para começar.

Explico.

Desmontando a educação e cultura de um povo você elimina sua identidade, sua face, sua cara e sua mente e poderá moldar o que virá ao seu jeito e gosto. Não existe assassinato mais eficiente que o de ideias e olhe que elas custam a morrer, bicho difícil de matar, viu?

Mas vamos lá.

Ponhamos na educação e cultura figuras que pensam como você: cotas é coisa de vagabundo, a terra é plana, religião precisa fazer parte do currículo escolar, não pode ensinar politica nas escolas, universidade não precisa de dinheiro precisa de polícia.

Não existe racismo no Brasil, homossexuais não precisam de estudo nem de cultura, toda atividade artística ou cultural não precisa de fomento ou incentivo, o país precisa é de mais médicos, advogados e engenheiros não de palhaços - realmente não pois já há muitos no poder fazendo um ótimo trabalho.

Dinheiro público deve ser gasto com coisas mais importantes como saúde, educação e segurança. Não poderia concordar mais. Só um pequeno detalhe, gente sem cultura ou sem a habilidade de pensar e questionar nunca vai saber de fato se você está mesmo fazendo algo pela saúde, educação e segurança.

Viu como para acabar com uma sociedade basta retirar seu acesso a cultura, arte e pensamento? Gado não pensa, gado vai para onde é conduzido mesmo que seja para o abate e vai sorrindo, feliz da vida!

Temos ainda três anos para fazer mais! Vamos acabar com tudo isso que está aí pervertendo nossas crianças, maculando a família transtornada brasileira e ferindo às pessoas de bem.

Lindo ver o povo aplaudindo sei governante e falando MUUUUUUUUUUUUU.

12 de dez. de 2019

Jesus é raposa no país das ovelhas

Estava eu quieto aqui preparando minha segunda vinda -  que anda complicada sabe? Atrasando muito mas não é minha culpa, meu pai anda meio assim de me mandar de novo mas enfim, aviso assim que souber a data certa - quando veio aí um dos anjos dizer que tinha aí um filme falando mal de mim e tal, falando que eu era gay e tal e tipo tirando sarro legal com minha figura e tudo mais.

Na hora confesso que fiquei meio de cara, porra, mais um filme com piada sobre mim, sobre meu pai, sobre aqueles caras com quem eu andei quando estive por aí mas, tudo bem! Na minha época, digo na época que estive com vocês, não tinha nada de filme e essas coisas minha gente, era tradição oral mesmo e aí sabe como é, fala pra um, fala pra outro que fala pra mais uns tantos e quando você dá por si é telefone sem fio e olha que deixei tudo bem, mas muito bem explicado!

Enfim, fiz minha parte, só posso falar isso. Passei o recado, deixei instruções e tudo mais, sabia que um ou outro não tinha entendido porra nenhuma do que eu disse e olha que antes de voltar pra casa ainda perguntei mais de uma vez se alguém tinha alguma dúvida e ninguém falou nada.

Quis ainda ser gente boa e chamei os caras pra uma última ceia, olha só que legal! Comida e bebida por minha conta, à vontade que era pra depois não me chamarem de miséria e ainda teve gente que não gostou e foi lá me dedurar pros romanos, faz parte, quando desci meu velho me disse que não ia agradar geral e que iam me pegar pra cristo, vim sabendo, de boa gente.

Mas voltando aí ao tal filme desses caras, Porta dos Fundos, é isso? Que seja, nome besta para um grupo de humor, só acho. No meu tempo tinha uns comediantes com nomes melhores ou eu estou sendo saudosista mas olha: Os Escárnios de Jerusalém, Lázaro riu por último, Madalena é a mãe, olha só, não é melhor?

Voltando que eu divago às vezes, muita coisa pra pensar, fim do mundo, Satanás ligando toda hora pra falar com meu pai e ele não quer atender aí quem segura a onda sou eu, saca? Olha só o nível da conversa com Luci:

Alô?

Alô.

Quem fala?

Sou eu Luci, pode falar.

Jeová?

Não, meu, sou eu, o filho.

Ah, porra vocês tem a voz igual meu..

Já sei, que você quer?

Afff, precisa ser grosso não JC.

Tá, mas fala aí, que manda?

Meu, queria saber se tem como a gente negociar esse lance de anticristo e tal, eu ando meio sem poder subir lá e, sabe, tipo fazer a parada sabe?

Não sei não.

Ah, sabe vai, aqui embaixo tá o inferno...

Sério?

Hahaha engraçado, sério, fala com o velho aí que ele te escuta, vê se dá pra atrasar isso aí mais uns milênios só até eu estar mais de boa aqui..

Luci, foda isso né..

Porra JC, quebra essa, livrei tua cara no deserto, quebrei altos galhos com teus camaradas...

Tá, vou ver o que dá pra fazer, liga depois.

Valeu, você é o messias!

Pode isso?

Mas então, aí veio esse filme aí e fui lá ver qual era e olha, rache o bico! Ri de molhar a túnica! Meu, porque no meu tempo não tinha essas paradas? Se eu voltar mesmo e esses caras ainda estiverem aí só arrebato eles depois de ver um show e, se já tiverem vindo pra cá ou lá pro lado do Luci, mando voltar só pra ver ali ao vivo.

Só tem uma coisa que me deixou assim realmente meio puto, quase chamei Moisés e pedi lá emprestadas as pragas pra mandar de novo. Esse povo que diz aí que me segue e tal, que me adora e tudo mais aliás, tenho horror de adoração, quando fui aí daquela vez ficava era puto com o povo me venerando mas de boa, deixei pra lá.

Agora esse povo aí fica usando meu nome feito pasta de dente, dizendo que estão agindo em meu nome e tal e que tem de se converter e me aceitar no coração e essas paradas todas. Meu, doente isso, eu fico é com vontade de dar um perdido no velho aqui e descer aí rapidinho pra explicar a real pra esses caras, só queria ver geral gelar quando me visse aparecer na frente pra tirar satisfação dessa merda toda, não ficava um meu irmão, não ficava um hahaha, duvida?

Meu, passei ai mais de trinta anos pregando amor, fraternidade, respeito, amizade e essa parada toda, aí vocês distorceram tudo, entenderam tudo errado, cagaram com tudo e depois vem falar que eu que disse essas paradas todas? Que tá na bíblia?

Meu irmão, a bíblia nem fui eu que escrevi! Foram aqueles caras que eu ensinei ou que tentei ensinar mas pelo jeito deu ruim porque eles escreveram tudo errado, foda isso meu! Ainda tô tentando convencer meu velho a deixar eu voltar mais uma vez antes dele apertar o botão do foda-se pra ver se com a tecnologia de agora as coisas dão um pouco mais certo ou menos erradas.

Sério meu, esse povo tem nada a ver comigo não, sou de outra praia, tu acha que um cara como eu que fazia pão aparecer do nada, mudava água pra vinho e era todo paz e amor ia reclamar de piada? Reclamo de piada quando ela é ruim parceiro, quando ela não tem graça aí me dá ganas de estalar os dedos e mandar o fulano contar a piada pro Luci, hahaha - cá entre nós já fiz isso mas ninguém pode provar hahaha.

Saco cheio - e olha que pra encher o meu saco precisa hein! - desse povo escroto, por mim mandava todos eles fazer fila na porta do Luci, ele ia ficar puto comigo mas nem aí, se vira meu irmão, não dizem que uma vez no inferno...hahaha

11 de dez. de 2019

Aberto/ Fechado

Antes de começar o texto creio ser de bom tom informar que não tenho a receita para um relacionamento perfeito seja lá o que isso for. A perfeição é um conceito imune ao humano e nociva enquanto padrão já que é excludente de qualquer normalidade que exista implicando em si e em nós conceitos intangíveis e inatingíveis.

Sábado passado estávamos numa mesa de bar, local predileto de filósofos, amantes, bêbados obviamente e tudo isso junto e misturado porque é no bar que nasce a vida e no bar ela acaba quando voltamos para matar a ressaca de antes ou as memórias de sempre.

Enfim. Estávamos. Hidratados com aquele néctar dos deuses e alambiques e adegas e vinhas e por aí vai quando o assunto descamba para monogamia, relacionamentos abertos e suas variações. Acho que, imbuído de álcool, talvez tenha feito uma palestra não desejada mas não menos honesta ou coerente.

Explico, pode ser que leias abaixo cousas que não lhe agradem, lamento e eu realmente não dou a mínima.

Há que esclarecer que amor é amor e sexo é sexo. Sim. Não faça cara de espanto ou venha com aquela frase de que sexo sem amor não existe ou essas invencionices, ambos existem em dimensões totalmente distintas mas intercomunicáveis quando necessário.

O conceito de que o sexo só pode existir com amor foi a invenção e convenção social, moral e judaico-cristã mais absurda que já existiu e que serve apenas para manter a todos com medo do pecado cristão, na rédea para que a sociedade não se transforme numa suruba sem fim e sem freios e sem dono - não que ele não o seja mas sem o sexo, infelizmente - e principalmente, resguardar o dinheiro e posses das grandes famílias tradicionais do poder, o poder em si, a empresa católica rica e funcionando com base na culpa incutida no sexo sujo e tudo isso funcionando de modo a perpetuar o status quo e estruturas sociais vigentes.

Some na equação o conceito de amor romântico idealizado pela arte e reforçado pelos preceitos religiosos de que deve ser e estar acima da carne, esse amor romântico é colocado num patamar de divindade no qual todos nós sacrificamos a vida toda na busca por algo que jamais será alcançado pois é impossível e assim, seguimos em seu encalço acostumando-nos a simulacros de amor com ou sem sexo para encher o vazio que nunca será preenchido.

Transmitimos isso de geração para geração e mais gente passa a vida acreditando que amor deve ser buscado sempre e o sexo deve ser evitado quando possível e que só pode existir em sua plenitude quando acompanhado do primeiro e, se você for mulher, tanto pior pois o amor é uma herança que jamais lhe será concedida e o sexo deve permanecer como prerrogativa do macho que lhe mantém, ao homem é concedido separar amor e sexo pois se espera dele que espalhe sua semente em tantos vasos quanto for possível mas a mulher, esta deve ser apenas do amor e o sexo deve ser sepultado e velado se ela se torna a mais santa da criaturas, mãe.

Esses são modelos de relacionamento e conceitos heteronormativos que nós gays emulamos à perfeição porque até bem pouco tempo - em termos de história - não tínhamos outros ou sequer sonhávamos em construir algo diferente.

Mas, vejo com alegria que estamos contestando tudo isso e criando novos modelos de relacionamentos e amores e sexos totalmente destoantes dos vigentes e, salvo aconteça alguma tragédia e nos tornemos uma teocracia, creio que teremos gentes mais livres e libertas do jugo da moral cristã e aptas a amar da forma que lhes for mais conveniente e quem lhes apetecer.

Mas você não crê no amor? Ouço a pergunta desse lado aí.

Sim. Muito. Demais. Incondicionalmente e piamente.

Acredito no amor e acredito que sexo com alguém que amamos é uma das coisas mais próximas da divindade que existe mas o amor que acredito não escraviza, não é dono de ninguém, não exige nem demanda, não impõe, não fere ou agride.

Quando dizemos EU TE AMO devemos dizer apenas isso, que a pessoa tem uma importância enorme em nossa vida e que ela precisa estar conosco, ao lado, sempre, porque sua presença nos faz bem, é desejada e querida e não que ela é nossa ou nos pertence. Não pertencemos a ninguém que não seja nós mesmos, deixar-se ser de outro é abrir mão de si e de tudo que você pode um dia vir a ser na vida, jogar essa responsabilidade nas mãos de outra pessoa é caminho certo para o desastre pois com o tempo você olhará a culpa que é sua instalada naquela pessoa em que você investiu tanto.

Não podemos possuir ninguém mas podemos amar a todos, atribuir para si que o amor deve ser mutuamente exclusivo é podar as asas de uma ave rara e condená-la a rastejar, desastre na certa. Você se sente capaz de suprir a tudo que a outra pessoa necessita quando muitas vezes nem mesmo ela ou você sabe o que precisa ou quer? É arrogância pura exigir exclusividade e monogamia, é posse, é morte, é egoísta e não é amor.

E o sexo?

Ah! O sexo é apenas sexo gente, eu e vocês somos ANIMAIS, o sexo faz parte de nossas vidas e foi criado para dar prazer, a reprodução é um efeito colateral. Sexo com amor é bom? Claro que é, o melhor mas não significa que o sexo pelo sexo, o tesão, querer gozar, carne, luxúria e tais não sejam coisas boas.

Estamos há séculos sujando o bom nome do sexo, demonizando, perseguindo e tudo porque pessoas sexualmente livres são perigosas porque tem ciência de seus corpos e que o prazer não está nas mãos de outras mas em suas próprias e isso é muito perigoso.

Mas você sempre teve esse tipo de pensamento?

Não, adquiri essa consciência com o passar dos anos, amadurecendo e fazendo muita merda, brigando por razões fúteis e exigindo coisas que eu mesmo era incapaz de oferecer, mentindo, usando de subterfúgios e desculpas, um fardo que cobra seu preço pesado mas, consegui me livrar disso e quando o fiz descobri que era possível ser feliz sem atender expectativas que nunca foram as minhas mas dos outros e da sociedade.

Mas você é casado..

Sim. 17 anos. Não me vejo sem meu marido e ambos evoluímos muito em nosso relacionamento. Foi fácil? Não. Mas também não foi impossível bastou diálogo, respeito, honestidade e muito amor, essas coisas que vivemos falando para os outros mas nunca usamos em nós mesmos, não é?

Hoje quero alguém do meu lado que me deseje feliz e bem, que saiba que eu compartilho com ele uma vida que não compartilho com qualquer outra pessoa e que só consigo ver sentido em minha vida se ele estiver comigo mas, isso não significa que ele me pertence e vice-versa, não quero ser dono de ninguém e não quero que ninguém seja meu dono, não tenho nota fiscal, não fui tirado de uma loja.

Acredito piamente que relacionamentos abertos, poliamorosos ou outros são muito mais saudáveis o que não quer dizer que condene os relacionamentos ditos tradicionais, cada um de nós deve fazer o que julga melhor para si e se um casal encontra seu jeito de fazer as coisas funcionarem então está tudo bem!

Ninguém detém fórmula nenhuma e esses programas e livros de casais que pregam métodos e conselhos para fortaleces casamentos e afins são arapucas, cuidado! Apenas você sabe o que vai lhe fazer feliz, bem, o tipo de amor e de sexo que você quer, não deixo ninguém lhe dizer o contrário.

Amor é sexo e sexo é amor, às vezes eles vem juntos, às vezes separados, às vezes nem vem, às vezes não sabemos se é um ou outro mas se você souber como quer que eles venham vai ser muito mais fácil reconhecer quando chegarem.

7 de dez. de 2019

FLOP

Depois do anúncio de que a FLIP 2020 vai - pelo menos até o momento já que corre rumor de que irão reavaliar - homenagear Elizabeth Bishop, uma leva de gente foi lá descer o sarrafo não apenas na FLIP como na poeta.

Eu sinceramente não conhecia sua obra, a conhecia apenas de nome já que poesia nunca foi meu forte seja ela de onde for e muito menos sabia que ela, em suas cartas, defendeu, apoiou ou manifestou apreço pela ditadura que governou o Brasil o que, para dizer o mínimo, é desagradável e denota uma total falta de conhecimento histórico.

Li apenas excertos desse material onde ela efetivamente tecia comentários favoráveis ao regime ditatorial e outros pouco elogiosos a cultura nacional mas, como foram apenas excertos, me foge o contexto geral em que ela teria aplicado tais ideias ainda que não justifique tamanho absurdo mas, volto a dizer, é importante ter o contexto todo e não apenas de uma parte.

Na mesma medida mas em âmbito diferente seria a celeuma sobre casos como o de popstars acusados de molestar crianças e se isso deveria ou não banir para sempre sua obra e legado artístico, seria possível separar uma coisa da outra? Podemos seguir apreciando a arte de alguém que estuprou e abusou de menores ou de artistas que compactuaram de alguma forma ou mesmo apoiaram regimes de exceção?

Não sei dizer, nunca li nada de Bishop mas no caso do popstar, por mais que acredite que as acusações são reais e que seus atos tenham sido abjetos, ainda assim sigo ouvindo sua música porque ela me parece transcender a realidade absurda dos fatos, pode ser que esteja sendo hipócrita ou até mesmo, de alguma forma de lógica distorcida, concordando com seus atos mas prefiro pensar que sua arte segue imaculada e que seu comportamento humano pertencia apenas a essa esfera e nada mais.

Igualmente, movimentos de boicote a FLIP me parecem apenas ecos no deserto, quem vai a FLIP vai seguir indo a FLIP e não é um boicote aqui e ali que irão fazer a FLIP flopar muito pelo contrário e além disso, pessoas como eu por exemplo vão a FLIP não pelas atrações principais ou para desfilar de salto alto naquelas pedras infernais e comer o biscoito fino da alta literatura regurgitada entre goles de vinhos caros e pratos extorsivos, vamos para a OFF FLIP onde a literatura de verdade acontece e onde autores e autoras que estão produzindo literatura boa e passando despercebidos discutem temas importantes e vendem seus livros suados.

Acho ótima a ideia de fazer alguma feira ou festa que traga para outros eixos eventos como a FLIP mas me pergunto porque só agora com essa coisa toda por conta da Bishop é que se fala tanto no assunto, porque não fizemos isso antes? Não havia interesse ou gente para participar? Duvido! Me parece mais que a FLIP ainda é um evento que todos amam odiar e odeiam amar e que agora, o oportunismo falou mais alto num momento em que as opiniões estão 24x7 em estado de alerta para socar a massa de ódio que nos alimenta diariamente.

Vejam bem, não digo que a iniciativa ou ideia de fazer uma festa do porte da FLIP em SP, BH ou seja lá onde for não seja uma ideia válida e eu mesmo seria o primeiro a arregaçar as mangas e ajudar em sua organização, demorou mesmo para termos outros eventos que façam frente a FLIP e não apenas por concorrer mas porque precisamos de mais e mais festas como ela nos tempos que estamos vivendo e que principalmente possam talvez dar mais abertura para autores e autoras que sequer sonham em participar de eventos desse porte mesmo que seja em programações paralelas.

O que me incomoda é esse discurso todo que vai se apagando com o passar dos dias, esse mecanismo de recusar a FLIP por que ela vai homenagear uma poeta que apoiou a ditadura enquanto por trás se organiza tudo para ir a FLIP mesmo sob protesto ou, caso voltem atrás na escolha, de ir mantendo o protesto e criticando a festa por seu elitismo e segregação, aquelas coisas que todos sabemos de cor e ainda assim seguimos indo na FLIP.

Não pago de isento, eu vou na FLIP e tenho minha parcela de culpa bem sei mas acho que se é para boicotar então tem de boicotar geral, não adianta dizer que boicota e ir sob protesto, isso é manifesto de botequim. Não adianta bolar outro evento nas redes sociais e ficar nisso, tem de fazer mesmo e também não adianta criticar a FLIP enquanto seguimos ignorando, não apoiando e fazendo vista grossa a colegas e amigos escritores que a duras penas lançam seus livros, a editores que ralam na pedra todo dia para publicar algo que tenha valor e que represente algo.

Para fazer frente a FLIP temos de começar a valorar e prestigiar os artistas que conhecemos, ir nos lançamentos, nos bate papos, nos saraus, nos debates, nas palestras, nas mesas, temos de olhar para esses artistas e entender que eles tem valor e que precisam de apoio e prestigio e acima de tudo, comprar suas obras que é a expressão máxima de apreço para quem produz qualquer tipo de arte por mais materialista que isso possa parecer, quando você compra o livro ou obra de um artista você esta reconhecendo que seu trabalho tem valor.

E prestigiem os artistas pouco conhecidos, já fui em eventos de gente foda que falou para pouco menos de meia dúzia de gente enquanto um artista mais conhecido lota auditórios inteiros muitas vezes para falar nada que preste e não digo isso como desmerecimento de ninguém apenas como conclusão de que tem muita gente foda falando e pouca gente ouvindo, apenas isso.

Se fizermos isso, poderemos quem sabe ter uma festa do tamanho e importância da FLIP aqui ou em outros estados e isso nunca foi tão importante.

6 de dez. de 2019

O horror

Todos sabem de Paraisópolis.

Não vou tecer comentários ou fazer grandes teorias porque eu enquanto homem gay cis caucasiano estaria apenas emulando sombras de uma realidade que foge por completo da minha mas, o que mais me espanta - e talvez esteja deixando de me espantar o que é terrível - são as reações e comentários que li.

Com as ascensão do messias ao poder as jaulas foram abertas e as feras antes caladas tiveram as focinheiras removidas e a barbárie come solta entre os cidadãos de bem, essa entidade que está na mídia, nas redes sociais, nos grupos de whatsapp e na Paulista batendo continência para inglês ver.

Esta semana, peguei um Uber - novamente o fantasma do privilégio branco assombra minha consciência, discutir problemas sociais e de base da sociedade no Uber é muito problema de gente branca - e ele, aparentemente politizado e de esquerda, se não era engoliu seu conservadorismo com honradez, me questionou sobre o evento.

Passamos então o trajeto discutindo o que havia acontecido, porque havia acontecido, quem era a se culpar e acabamos discutindo oportunidade, privilégio e escolhas mas, antes disso, falamos sobre o ódio que permeia as redes sociais, pessoas comentando todo tipo de absurdo e horror com orgulho e empáfia como se fosse pouco o que aconteceu em Paraisópolis.

Novamente, não vou tecer comentários, quem quiser saber o que acho sobre o evento em si venha me perguntar e discutimos isso pessoalmente mas, no quesito da barbaridade online, o desmonte das políticas públicas de apoio e inclusão encorpou o discurso de quem acha que isso é vitimismo e que as minorias devem se curvar ao desejo da maioria como prega o ilustre capitão.

Nessa visão de mundo, adolescentes e jovens adultos que estão se divertindo como podem e conseguem ouvindo seu pancadão na comunidade são vagabundos e marginais, o funk é um instrumento de desagregação social e corrupção de menores, erotização das crianças e qualquer política de cotas ou inclusão promove apenas desigualdade e não o oposto.

Para essa parcela da sociedade, a PM deve ter o excludente de ilicitude garantido e carta branca para descer o sarrafo e meter bala em vagabundo e bandido a questão é, quem define quem é o vagabundo e o marginal? Vocês? Os ditos cidadãos de bem? A família transtornada brasileira?

São esses cidadão de bem que estão comemorando uma polícia que a cada ano mais mata do que protege, herdeiros da ditadura - que eles dizem não ter existido e anseiam pela volta mais do que o regresso do J.Cristo - a polícia que deveria prevenir e zelar age como opressora e repressora, mata primeiro e pergunta depois e quem nunca sentiu isso na pele pode se considerar privilegiado.

Ante o medo do desmoronamento de estruturas sociais e familiares tradicionais essas pessoas acabam jogando nas mãos de dementes como o clã Bolsonaro o poder de definir seus destinos achando que eles irão combater os inimigos da família e dos costumes quando, na verdade, depois de se refastelar nas carnes do pobres, negros, LGBTQs, pessoas com necessidades especiais e demais minorias, vão voltar a bocarra aberta para a mão que os elegeu e aí, será tarde demais para chorar e não haverá ninguém para gritar EU AVISEI!

5 de dez. de 2019

Fim de festa - e festas não foram feitas para durar

O ano vai estrebuchando minha gente, vai soltando os últimos suspiros tentando de todo jeito se agarrar ao pouco dele e de nós que resta, não tem jeito, sabe que vai acabar e nós vamos seguir de mãos dadas com seu sucessor, o rei está morto, longa vida ao rei.

Fatalmente, conforme os dias que anunciam a morte do ano se achegam, num processo de morte similar mas nem tanto vamos fazendo aquela pesagem do que foi o ano que está indo pra cova, retrospectiva, lista de acertos e erros, culpas e acusações, lamentos e alegrias. Balanço, fecha a conta e passa a régua e essa conta tem de fechar ou não tem de fechar e se não fechar, bem, recauchutamos o que sobrar dela em metas para o novo que já chega.

Às vezes acho pernicioso fazer esses balanços, me passa uma sensação de finitude e meio derrota, como se tivéssemos apenas esse ano para dar certo, fazer certo, viver certo mas, por outro lado, penso que esse sentimento de encerramento e fechamento é benéfico pois nos faz encarar o que foi bom com gosto e um sorriso - quando possível - e o que não foi tão bom como provável sucesso no ano que vai nascer.

Eu tenho uma dificuldade imensa em fazer esse balanço, pode ter alguma compulsão ou TOC mas eu fico relembrando tudo e tentando não esquecer de nada. O que foi bom, ótimo, excelente? O que foi ruim? O que fiz certo e o que fiz errado? Não consigo lembrar a cor da cueca que vesti hoje pela manhã, como lembrar de trezentos e sessenta e cinco dias? Minha família é pródiga naquela doença que rouba e devora memórias, poderia ser ela já me sondando e roubando as minhas aos poucos mas acho que é mesmo essa falha de por em pesos o que se passou comigo.

Mas, se posso dizer as coisas boas que se passaram - não vou falar das ruins porque segundo aquela autor russo as infelicidades, cada um de nós as tem a sua maneira, mantenhamos então a elas na esfera do privado - poderia dizer:

Em Julho fui na FLIP 2019 com meu querido amigo Roberto Muniz Dias onde participei do lançamento da antologia A RESISTÊNCIA DOS VAGALUMES da editora NÓS:


Essa antologia, organizada pela Cristina Judar e Alexandre Rabelo, é de extrema importância considerando o cenário de obscurantismo que se acerca de nós no atual (des)governo e conta com nomes de peso como podem ver na imagem acima.

O lançamento em Paraty - e depois em SP - serviu para expor nosso trabalho e abrir um foco de resistência e, fora esse evento e livro foda, flanar pela FLIP com Roberto, encher a cara no bar de vinhos, comer e participar de mesas diversas conhecendo autor@s divers@s foi e sempre é uma experiência foda ainda mais para quem escreve.

Sai de lá feliz e falido porque devo ter comprado metade da feira mas livros são, algumas vezes, melhores que pessoas.

Também tive o prazer de ver duas peças do Roberto montadas aqui em SP:



Roberto é meu amigo há mais tempo do que já posso lembrar e tem construído uma carreira sólida na dramaturgia, partilhamos das alegrias e tristezas de escrever e seguimos tentando deixar nosso nome em algum lugar nem que seja para falarem mal da gente.

Depois de me incorporar as estatísticas em Julho, o tempo passou a sobrar e foi com esse tempo extra que vi algumas belezas na 43 MOSTRA DE CINEMA - devo ter visto uns 27 ou 28 filmes:


Fora o que vi em casa em Dvd ou streaming, pelo Letterbxd - onde tenho conta, a soma é de 142 filmes vistos, nada mal penso eu. Já do lado da leitura, acho que bato a meta de ler 45 livros esse ano, já estou no 44 e 45 que você pode acompanhar no Goodreads.

Depois veio o convite do Alexandre Rabelo para ajudar ele na coordenação do MIX LITERÁRIO que integra a programação do MIX BRASIL em sua 27 edição este ano:


Foi um evento foda que ocupou a Biblioteca Mario de Andrade, para mim foi um tesão do caralho ter ajudado na organização do evento, das mesas, conhecido gente incrível que está produzindo literatura de qualidade e de resistência e, se puder e me quiserem, estarei lá ano que vem com certeza! Acabei descobrindo um lado meu que não conhecia de organizar e produzir.

O mais foda foi ter mediado mesa com Santiago Nazarian, Samir Machado de Machado e Cidinha da Silva, confesso que gelei quando Rabelo me pediu pois exceto por Cidinha eu mal conhecia as obras dos outros dois mas, me preparei bem e acho que a mesa foi um sucesso além de ter conhecido Santiago - fã do Suede, trocamos altos papos, se é fã do Suede não tem como não ser gente boa - e Samir cujo TUPINILANDIA está na lista de leitura para em breve.

Meu segundo livro de contos deveria ter saído ainda este ano mas, devido a alguns imprevistos, tive de adiar para 2020 - e Cristina Judar sabe o quanto me ajudou nesse processo todo aliás não só ela mas Alexandre Rabelo também. O livro está pronto, projeto gráfico foda feito pelo Fabiano Souza, tudo certo, só batalhar a publicação e, ano que vem, meti na cachola que vai ser meu ano na literatura, tenho mais material pronto, um ou dois romances em andamento e outro sem fim de ideias que eu estou bolando não apenas sozinho mas com outras pessoas.

Falando nisso, esse ano nasceu o ORGULHO CAST podcast no qual eu, Paulo Sergio e Fabiano Cardoso falamos de livros e literatura LGBTQIA+, a ideia nasceu como resposta a tudo isso que está acontecendo no país e resolvemos abrir essa frente para mostrar que a gente pode até sofrer mas jamais seremos calados! O podcast é quinzenal trazendo, a cada episódio, um livro diferente com os comentários e opiniões dos três.

Acho que de forma resumida foi isso, tive perrengues? Claro que tive mas nada que fosse demais, se entrar nessa conta de fim de ano, apesar de tudo, não posso me queixar de 2019, das pessoas que conheci, dos amigos que ainda tenho, das coisas que fiz, dos porres que tomei, de tudo que comi, de tudo li e do meu amor pra vida que é Wanderson Wans, 17 anos de vida comum e junta e misturada.

Pode vir 2020, pode vir que eu tô bem pronto!

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...