28 de abr. de 2011

meninos



A primeira lembrança clara de minha queda por meninos é de uma revista do extinto (acho eu) Círculo do Livro. Não sei bem se esse tal 'clube' funcionava mas sei que através dele li muitas coisas via minha mãe e tia que eram associadas, acho mesmo que era algo um tanto burgês pois os livros eram em capa dura, capas trabalhadas e traduções primorosas e, naquele tempo, fim dos anos 70 e quase início dos 80, a leitura não era assim algo acessível e mesmo idos mais de trinta anos ela ficou mais abrangente mas ainda longe de fazer parte da cesta básica.

Enfim, na revista do 'clube', listados os lançamentos do mês, as ofertas da semana e outros itens de interesse, muita tranqueira também, pronta para capturar os incautos mas não minhas duas iniciadoras do hábito mais saudável que existe, ler; elas sabiam o que buscar e eu comia ávido as páginas que elas devoravam primeiro. Numa dessas revistas veio certa vez uma oferta de algo que se chamava 'Vida Sexual' ou 'Enciclopédia da Vida Sexual' (enciclopédia da vida sexual? é se pode por tudo que há sobre sexo numa coisa dessas quando ele é algo mais mutável que o vírus da gripe?) ou qualquer coisa do gênero, não recordo bem mas sei que era dividido em tomos por fase da vida: um para a infância, um para a adolescência e um outro para a fase adulta. Lembro que o primeiro me ganhou a atenção pois mostrava um casal de crianças nuas num tipo de campo idilico.

Logo de cara, o menino nu me ligou alguma coisa dentro, uma chave virou, o gene que dormia acordou de súbito pois os demais esqueceram de forçá-lo ao sono ou prendê-lo pelo bem da espécie e dos bons costumes. Mesmo que seus pares invejosos o tivessem subjugado, ele teria achado seu caminho por entre as helicoidais e pares de A, T, G e C e inserido seu H na marra e no salto dizendo que era babado tirar ele dali. A foto não era generosa, podia ver o pingolim do garoto, imberbe e sabia que aquilo e não aquela coisa plana na outra era de interesse.

Não entendia isso na época, não sabia o que era e como era ou sequer o que fazer daquilo tudo mas sabia que ele me interessava. Rasguei a página e incapaz ainda de meu próprio onanismo, mirava o garoto isolando sua amiga e me pensando ao seu lado mas, como disse, incapaz de nomear esse sentimento e desejo. O tempo dá um salto e eu me vejo então na cama de meu quarto, estudando livros e meu pau recém coberto por pelos, um achado, um fenômeno pois apesar de não ser, à época me pareceu que simplesmente de uma noite para outra o que era liso recebeu sementes encantadas e uma tufarada de pelos negros crispados se espalhou pela região.

O estudo seguia normal e minha mão no pau idem, eu não sabia o que ela fazia mas ela era mais esperta do que eu e tinha a seu favor milhares de anos de evoluçãe e condicionamento e então, senti um esgar pelo corpo, uma urgência, como se algo quisesse sair de mim e olhando para o pau intumescido vejo dele jorra o primeiro leite. Nunca vou esquecer a sensação, mesmo que hoje eu fique semanas sem me tocar, não chegará perto dessa primeira vez comigo mesmo. Susto, não sabia o que era e nem pensei em perguntar aos pais, vergonha, medo e incerteza. A resposta veio da escola, os meninos estavam todos 'ovulando' afinal a idade era próxima de todos e uns antes, outros depois, já tinham visto seus paus jorrarem sangue branco. Bastou umn dia para a sabedoria escolar me instruir em termos como porra, punheta e afins, pra quê pais?

Macaco vê, e faz e assim explorei muito essa coisa nova mas ainda havia um vazio por aí. A imagem do menino da revista ainda me voava na mente e por mais que outros ares a afastassem, ela voava um pouco mais longe apenas e voltava devagarinho a me assombrar. Não sei como mas os rejeitados e não compreendidos se atraem como opostos e um dos amigos de classe (o do post anterior) ficou próximo. Comungávamos frustrações, éramos ruins de esportes, deixados de lado, nada atléticos, nada atraentes e essas diferenças aos olhos dos outros lia-se como atração aos nossos e a amizade nasceu.

E então, do nada, não sei como mas imagino que fosse o desejo daquele gene H devidamente instalado e bombardeando o cérebro com desejos, um dia fomos para minha casa depois da escola. Os pais fora no trabalho, a empregada ocupada com a casa e nós dois na sala vendo TV e conversando. Do ar tirei a idéia de lhe mostrar como além das vacas eu também dava leite e ele devia ter o mesmo gene pois aceitou e acho que até mesmo ansiava por aquilo, os dois ignorantes dos nomes que tudo aquilo possuía e talvez fosse melhor não termos sabido depois pois teria ficado algo puro.

Ele ainda era liso no pau, viu minha selva e o coiso duro e não pegou e nem queria que pegasse. Bati uma, gozei e ele ficou com aquela cara de como isso saiu daí? Depois desse dia nos víamos com frequência, ele se encantava com meu pau pondo porra pra fora até que um dia ele me liga de sua casa e pede que vá até lá. Pensei que havia acontecido algo sério mas quando chego, ele sozinho em casa também, apenas com a empregada, me leva para seu quarto e abaixa seu shorts mostrando uma porção generosa de pelos claros, quase loiros e um cacete duro e reto que quase me fura um dos olhos.

Perguntei se ele tinha se ordenhado já e ele disse que não e que ia tentar agora. Eu vi tudo, até que ele se torceu, possuído pela febre do sêmen e verteu leite branco e farto numa quantidade que nunca tinha visto antes. Depois disso, passamos à proxima fase que era um ordenhar o outro, estávamos muito próximos e queríamos todo dia mas tínhamos medo que os pais desconfiassem. Mesmo assim, dia sim, dia não, dávamos um jeito de nos fazer gozar.

Tudo evolui e assim nós também em nosso mundo de sexo. Um dia, em sua casa, eu quis por a boca e ele deixou. Hoje, engulo um pau sem pestanejar, naquele tempo, obviamente, não foi assim; fui me achegando e aquele cheiro forte de pau me arrebentou as narinas, não ia por a boca naquilo que ele usava pra mijar mas, fui aos poucos e quando dei por mim lá estava o cacete duro em minha boca e eu feito um débil mental sem saber o que fazer com ele lá dentro. Acho que o deixei por alguns momentos e depois fui correndo lavar a boca, prazer morto para os dois. Na vez dele a mesma coisa e achamos que aquilo não dava futuro, melhor ficar só na ordenha mesmo.

Mas a evolução, como disse acima, ocorre, não há como impedir ou atrasar e depois de um tempo e mais algum estudo intensivo com a molecada do colégio aprendemos o que fazer com bocas e paus e a noção de que era 'errado' também chegou na surdina e acho que o afetou mais do que a mim pois ele tinha rompantes de nunca mais só para voltar pedindo minha boca dias depois. Dessa época guardo uma lembrança das mais doces de toda minha existência: ele me liga e vou até sua casa. Chego lá, não havia ninguém em casa, nem mesmo a serviçal. Ele me recebe e me leva pra sala, por lá, a persiana filtrava fios de luz sobre o sofá e o chão, dia meio nublado e frio e próximo ao sofá um ninho de cobertores e travesseiros. Olhei para ele e ele para mim, nos entendemos e deitamos ali naquele meio. Nos beijamos com uma inocência que nunca mais tive ou experimentei, nos tocamos com mãos tão castas e sinceras que nunca mais fiz nada igual, nossos corpos se juntaram tão suavemente que pareciam feitos de penas e nos amamos ali mas sem uma consumação carnal efetiva pois ainda não tínhamos dado esse passo, era sério e não sabíamos se deveríamos, poderíamos, conseguiríamos ou desjávamos.

Depois do leite derramado, ficamos ali abraçados sob a luz do fim de tarde vazando pela janela em persianas, quietos, não precisava falar nada, hoje falamos e pomos tudo a perder. Por fim, precisei ir pois não podiam nos pegar ali, fui com o coração na mão e acho que o deixei com o dele em cacos. Infelizmente, esse paraíso não se repetiu mais, ainda tivemos sexo variado e delicioso e ele foi o primeiro a me 'abrir' e eu a ele nesse processo de descoberta que era o que fazíamos, dois campos de prazer a serem explorados, entendidos, fodidos, desbravados. Foi dele a primeira porra que provei e vive-versa, foi dele o beijo que senti antes de todos, foi dele o calor que senti antes do frio.

Com o tempo, eu aprendi quem e o que eu era e sabia que havia muito, mas muito mais a fazer e sentir e queria isso com ele mas, apesar de partilharmos as mesmas dúvidas, temores e neuroses, eu lidava com as minhas de uma maneira e ele de outra, mais pesada, mais séria e carregada de culpa e remorsos e isso acabou por nos afastar de vez. Segui meu caminho e nunca mais o vi, penso que se ele tivesse assumido outra postura (impossível, sei) talvez tivéssemos sido namorados com o passar de alguns anos mas não concebíamos isso então, dávamos um ao outro prazer e muito mais mas éramos incapazes de visualizar o quadro completo e por isso mesmo incapazes de entender a nós mesmos no meio daquilo tudo prevalecendo o gozo sempre ao invés de algo maior e mais eficiente.

Mas não há remorsos meus (dele eu não posso dizer, espero que não) pois foi jóia rara em sua duração e mesmo que não tenha atingido seu brilho mais esplendoroso, iluminou e aqueceu bem dois adolescentes que só queriam prazer e um pouco de carinho, no fim, é o que todos querem e precisam.

nota: música do post; Banda -Young the Giant com '12 fingers' maravilhosos!!! Coisa de Wans...

27 de abr. de 2011

stigmata



Não sou religioso, também não sou ateu, creio mesmo que exista algo além disto tudo mas se é um velho de barbas longas e alvas, um gordinho sentado sobre moedas, um mutante de cabeça animal e diversos braços ou entes etéreos deixo aos que seguem filosofias e ritos discutir e chegar a um consenso (impossível e assim, quem afinal herda o reino dos céus?).

Agnóstico é a palavra mas não me tomem por um teísta antes um deísta. De qualquer forma, como tantos aqui, fui criado dentro do catolicismo não intencionalmente mas por comportamento condicionado o qual não vou passar adiante, deo gratias. Em casa, meus pais mesmo nunca foram dos mais religiosos, lembro de ter ido a missa algumas vezes, fui batizado e fiz a primeira comunhão mas nunca houve por lá um fervor assim religioso sendo que, pelo que me lembro, Ele e os santos só eram invocados, como todos em geral fazemos, nas horas de aperto o que não funciona pois é fácil só lembrar deles nessas ocasiões e deixar de lado nas demais.

Enfim, nunca me foi cobrada uma postura religiosa, eu poderia ser macumbeiro ou qualquer outra coisa que meus pais não se importavam se eu estivesse feliz. Os dois eram, na verdade, bem cultos e esclarecidos e acho que só fiz primeira comunhão para aplacar os avós que não queriam ver o neto bater na porta do infeno (ledo engano, sou viado e é pra lá que vou mesmo). O fato deles recorrerem ao terço nos momentos espinhosos não depõe contra sua erudição pois eu mesmo, programado, não tem jeito, me pego no sinal da cruz e de mãos entrelaçadas quando nada mais parece dar jeito no que está sem jeito pra dar.

Mas algumas coisas desse tempo saltaram de volta quando li este post de Bratz. Apesar de não sermos ratos de sacristia, lembro de irmos sempre às festas santas e, na páscoa, na igreja do bairro (onde me sagrei a INRI ainda tenro numa pedofilia sacra e assim perdoada) havia uma procissão linda e as imagens vieram tão vívidas e em cores que me vi nela ainda menino.

A profusão de velas embaladas por aqueles invólucros de papel para conter a cera quente, as pessoas entoando cânticos sem fim e a imagem de Jesus morto vagando pelas ruas num cortejo mórbido, saído de um filme de horror. Mas havia uma mágica, talvez pelo fato de estarmos todos juntos e até eu a conduzir uma vela, encantado pelo fogo que, naquela idade, ainda não tinha certo se era algo físico ou do além. O percurso não era curto incluindo algumas ladeiras mas todos íamos cantando, à noite e aquilo me iluminava não importa que a representação de tudo seja questionável e que a doutrina que rege tudo isso seja ainda mais direita num banco de réus que pregando aos ventos. Isso de lado, havia sim algo simples e encantador.

Haviam também as quermesses na época certa e lá íamos todos atrás dos jogos, comidas e petiscos. Frequentávamos sempre uma que era realizada na Igreja do Calvário, ali no cruzamento da Cardeal Arcoverde com a Schaumann. Lembro de irmos primeiro à missa e depois de aliviados de nossos malefícios, podíamos encher a bolsa de pecados na jogatina e comilança. Foi ali que tomei a paixão pela ficção científica e HQs quando ganhei na pescaria uma HQ chamada 'Dani Futuro' sobre um garoto que sofre um acidente de avião no Ártico e fica congelado por centenas de anos sendo desperto num futuro apocalíptico (pode soar clichê mas na mente de um garoto isso fez uma revolução).

Essas são as associações que faço quando me lembro de festas santas e sou grato por isso, penso que fosse o oposto e houvesse mesmo esse fardo de credulidade cega em minhas memórias, as mesmas não existiriam e se houvessem estariam soterradas sobre toneladas de material de terapia. Não havia isso em casa, ironicamente, graças a Ele. Na verdade, uma lembrança diluída, quase um vapor veio junto com as demais.

Anos depois de ir com meus pais à procissão que cito acima, eu já adolescente não queria mais ir à mesma muito menos ir com meus pais onde fosse. Mas, por essa época, eu e um colega do ginásio (encaixe você isso no sistema de ensino atual) tínhamos um caso, coisa de meninos novos, nem sabíamos dar nome a coisas como boquete e punheta mas isso é para outro post, prometo.

Ele era bastante religioso, família lusa de fábrica, Ele acima de tudo e íamos a missa às vezes, eu para ficar com ele e ele para pedir perdão pelo pecado de estar fazendo coisa feia com outro menino. Enfim, fomos à procissão de páscoa, só eu e ele, acendemos nossas velas e seguimos com a comitiva, entoando de forma displicente os hinos e mais satisfeitos de estarmos juntos ali mesmo que para ele houvesse o preço de sua alma a pagar e para mim houvesse o preço do desejo a pulsar, era uma paixãozinha sim, sei hoje mas lá nem sabia, nem sonhava ou delineava.

Lá ia o Cristo deitado, furado, sangrando e, nesse meio tempo, entre um estigma e outro, nossas mãos se uniram, olhamos assustados mas acho que J. Cristo nos olhava pois a noite ia escura e as velas mal podiam mostrar o asfalto sob nós e ninguém viu nossas mãos em reza comunitária.Depois de um tempo, acho nem mais entoávamos os cânticos mas falávamos inaudíveis um para o outro algo que hoje seria de certo um eu te amo.

JeD

eu no JeD. Vai .

multidões



eu não, eu não e você eu sim, eu sim.

essa dicotomia foi se arrastando pra dentro de nós com o tempo, matando aos poucos, pressionando seus dedos finos e artríticos no pescoço do sentimento que nem sequer gemeu em protesto, acho que suspirou mas não posso saber ao certo entre nossos suspiros velados pelos cantos quais eram realmente os dele.

deveria estar já morto quando sua traquéia começou a colapsar sob a pressão ou em um estado tão fundo de letargia que lhe impediu de emitir qualquer tipo de alerta, socorro ou manifestações contrárias a seu fim tão súbito para ele, tão previsível para nós ainda que feito como ignorado.

onde? quando? não sei. pra trás há apenas coisas boas, deveriam ter cimentado o futuro que hoje é cotidiano amargo mas algo entrou nessa massa mesmo depois de assada e a desandou, feio, sem volta. quais as juras feitas erradas? quais as promessas feitas de pó? quais os beijos negados? como foi chegar a isso?

não sei, não sei e você eu sei, eu sei. não sabe, não sei. as coisas morrem num suor plástico, uma imitação barata de choro divino e do outro lado, não se vê nada além de expressões vazias, o fim de tudo isso? assim? assado? a transformação foi investida de poder por nós mesmo, sagrada na vergonha, no mutismo mútuo, parte personagem, parte sensações, sumindo aos poucos, aos poucos, uma sombra crescente no que se chamava gostar.

a sombra. esse expressionismo anão. essa coisa na garganta, travada, esse cuspe que sai seco, esse olho que não fala nem molha, nada mais? e de mim? que mais? de você? o que se faz de mim? o que levar de mim? paisagens pálidas e meu cenho franzido? mas posso derramar desprezo incolor e raiva, um contento mórbido, cantado em frases sem nexo e sem estímulo.

pegue o que puder, tire o que puder. puto sem valor, saco vazio, me fez cuspir e quando seus trinta dinheiros se forem eu ainda estarei aqui como antes e eu sim irei em frente apesar de você, pra frente, muito a frente de você.
mas dessa ira toda, esse frege negro fazem oco e prefiro deixar esses campos mortos pra ti, que os estimule e tire deles o que puder, sorte sua, sorte minha, esse gólgota é seu, aproveite bem.

o fim, ele chega, sempre, sempre e sempre. o horror, o horror, não se pode fugir do horror. mas eu ainda acredito no final da ponte colorida.

26 de abr. de 2011

500


seis horas, ave maria, rosário na mão para entrar no vagão cheio. vai com a turba, vai fundo, não tem volta, apenas vai.

seis horas, ave maria, ave rara ali de frente um para o outro. cheio demais, empurra aqui e ali e eles agora de hálito colado. olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que assim de perto sim eu sou capaz.

olhos trocados, um viu o outro, no outro, com o outro, desvia a íris mas ela volta procurando seu par no outro lado, dois pares, diltados, ofegantes, sentem o cheiro da saliva um do outro. estação primeira, segunda e terceira, ninguém desce, só enche.

mais tempo, mais grudados, olhos não mentem e as mãos aprendem. amor de lotação, veia de peão, gosto de labuta, dedos trocados, povo olhando assustado e os dois quase roçando lábios. um desafio, aceito, aceito.


estação quarta, quinta, sexta, sábado e domingo. já não roçavam lábios, grudavam, como explicar aquele cio de fim de dia? espaço, abriu-se, do nada, eram outro lugar ali dentro. silêncio, trilhos trocados, desvio.


não havia mais estação, todos desceram, menos eles.


nota: Galaxie 500 com uma coisa que não é música, é algo mais....

25 de abr. de 2011

a toca do coelho



Antes do feriado, um casal de amigos (de casamento marcado para o segundo semestre) esteve aqui. Ficaram pouco tempo, foi mais para devolver alguns dvds que tinham pego emprestado e durante nossa conversa curta expressei meu desgosto em ter de ir à casa de meu irmão no feriado.

Eles me perguntaram porque e respondi apenas que ao sair de casa, voltar mesmo que sejam por breves momentos é tarefa árdua e que, depois de casados, sentiriam o mesmo pois você passa a ter seu canto, suas coisas, seu ambiente, seu lar e, como é do humano querer sentir-se sempre seguro, à vontade, salvo, você passa a ver aquilo que foi seu lar durante anos como, digamos (guardadas as devidas proporções), uma câmara de torturas da qual você precisa escapar o quanto antes.

Generalizo? Talvez sim, quem sabe? Expresso as minhas frustrações familiares? Pode ser mas quem aqui não as tem? Alie-se isso ao fato de que temos aqui nosso hábitos, gostamos de ficar juntos e esses feriados quando nossas presenças são demandadas pela família são pedras incômodas em nossos sapatos.

Chegou o dia e fomos cada um para um lado da cidade. Cientes do que encontrariamos por lá e sedentos pelo retorno dias depois. Esse caminho de volta, pródigo, carrega um peso de retrocesso velado por mais que se saiba não ser um retorno efetivo. real mas, ao menos a mim me parece que volto a um ambiente onde não me encaixo mais tamanha foi a mudança que a vida fora do ninho causou em mim. Sei que vim de lá e que numa extrema instância aquele será um porto que estará com as portas mais do que abertas quando todos os demais estiverem fechados a mim.

Tomado disso, cheguei lá e o resultado não poderia ter sido mais oposto. Sei que hoje minha família é o Wans e eu a dele. Ao nosso modo, somos isso e suprimos um ao outro as necessidades básicas desse núcleo familiar mas, de alguma forma, esse sangue compartilhado, esses genes em comum, possuem um poder estranho ainda que você o negue e me senti acolhido como há muito não me sentia salvo quando deixei o hospital e por lá fiquei uns dez dias alvo de todo mimo e cuidados que se pudesse ter.

Tenho apenas um irmão, nada mais. A mãe já acertou sua contas com a hora ruim há muito e o pai está velhinho, vive um saudosismo incerto misturado com pitadas de realidade mas sabe quem é e quem somos. Tenho dois sobrinhos, casal, menino de nove e menina de um ano. E conversando ali, com meu irmão, sua mulher, me veio a sensação de que ali também era minha casa, lar, aconchego. Não posso mais realmente comungar de sua realidade, não me faz entendimento, carece de sentido mas dosar a mesma homeopaticamente me serve de lenitivo ante as mazelas do cotidiano e as desesperanças que vivo atualmente.

Lá não havia questionamentos, respostas, nada que não fosse eu mesmo por mim e no abraço sincero de meu irmão, na alegria de meu pai em me ver e das crianças para com quem eu nem mesmo sou assim tão presente existiu um momento de ternura sem fim. Coisas como comermos todos juntos, falar besteiras depois e ficar lembrando coisas passadas, falar com meu pai e ver que ele ainda se lembra de muita coisa que eu nem mesmo tivera tempo de esquecer, talvez o tempo tenha ajudado com sol claro e dias quentes, não sei.

Sei que meu pai não tem lá assim muito tempo, é um fato inegável mais por sua idade do que motivos de saúde, e então, qualquer tempo que se passe com ele já é válido e neste feriado senti que passo, egoista, menos do que gostaria e como antes vou prometer mais do que não tenho intenção de entregar mas sem remorsos pois sei que quando estou com ele faço valer todo momento. Quando ele se for, só me restara meu irmão e nossa familia caberá num pedalinho.

Queria fazer mais por meu irmão pois sei das dificuldades pelas quais ela passa, umas merecidas, outras nem tanto e sinto que minha presença parece, de alguma forma, aliviar seu fardo. Antes desse feriado, almoçamos juntos aqui pelo centro certo dia e disse a ele que me sentia meio culpado por ele ficar com o fardo de cuidar de nosso pai, me sentia ausente e me recriminava por isso.

Ele olhou para mim e disse que nunca pensara nada disso de mim, que tivemos escolhas diferentes, fui fazer minha vida e ele ficou para trás. Disse ter sido sua escolha e que vivia bem com ela e que carregaria esse fardo o tempo que lhe fosse determinado. Saí desse almoço com o estômago e o espírito cheios.

O mundo é um buraco de coelho, entra-se não se tem idéia de onde sairemos. Se você tem alguém para amar, pode facilmente achar o caminho de volta, se tem quem te ame, certamente vai achar o caminho mas, no final mesmo, no fechar das contas, poucos vão te estender a mão em ajuda, por mais que você queira virar o rosto, essas poucas mãos serão da sua família.

20 de abr. de 2011

pro chá das cinco

animais maravilhosos

pro almoço

de virada

Por incrível que pareça, fui à minha primeira Virada Cultural. Em todas as versões anteriores eu estava sempre viajando a serviço.

Foi trabalho escolher o que fazer mas acabamos optando pelas salas de cinema onde poderíamos assistir a filmes incríveis como estes:




E lá fomos nós ao Cine Palácio, sito à Avenida Rio Branco, quase esquina com a Aurora ou seja, um lugar pelo qual, normalmente, em sã consciência, nenhum de nós poria os pés após as seis da tarde salvo para comprar algumas pedrinhas. Confesso que ao saber do local fiquei desgostoso mas, parece que a prefeitura faz a limpa no local e pudemos andar por ali altas horas sem problema algum.

Imagino a cena: chegam viaturas, vans ou afins e coletam todos os nóias da área (ali agora é a nova crackland), dão aí uns trocados e falam que hoje vocês podem ir para qualquer lugar menos aqui. Será que de uma hora para outra surgiram vagas em albergues públicos? Vagas em clínicas de tratamento? Kassab autorizou verba para colocar os viciados en todos hotéis baratos do centro? Enfim fica aquela gosto de limpeza forçada na boca, soluções práticas mas ainda soluções leia-se, quando se quer dá-se um jeito com certeza mas como ninguém quer, vide meu post de ontem, fica tudo como está.

Voltando, é lindo ver a cidade, seu centro decadente cheio de gente, pessoas se divertindo, todas as idades, famílias, casais, poder andar pelas ruas e ver que todos querem sim curtir a cidade. Claro, o povo abusa do álcool, confunde diversão com confusão e de certo que devem ter ocorrido incidentes aqui e ali mas a imprensa adora o sensacional e estampa na cara da gente o que há de pior.

Não vimos nada, pelo contrário, achamos seguro e razoavelmente organizado. Claro, o Cine Palácio deixa muito a desejarm cinemão de quinta e mesmo tendo despejado litros e mais litros de desinfetante, o cheiro de cinemão exalava das paredes mas valeu pois assistir a filmes como os que citei na tela (mais ou menos) grande é ímpar.

Em Hedwig, não resistimos e cantamos junto as canções da diva na tela, deve ter gente que não gostou mas meu cu. PInk Flamingos é para poucos, acho que alguns desavisados foram assistir  vi gente saindo da sala mas eu e Wans nos divertimos muito pois amamos John Waters e Divine.

Enfim, curtimos nossa VC, do nosso jeito e isso é o ponto, que venha a de 2012.

pequenas igrejas, grandes negócios


19 de abr. de 2011

as drogas não falam

Eu mesmo não uso nenhuma driga ilícita, apenas as lícitas como o álcool por exemplo. Wans curte seu baseado às vezes o que não faz dele um maconheiro. Muito provavelmente, existe uma predisposição genética a qual, aliada ao meio, induz muitos de nós ao consumo excessivo de drogas e todas as consequências nefastas que advem disto.

Não faço apologia anti-drogas pois entendo que não se trata de uma doença (como é dito no video abaixo) contagiosa mas antes uma 'decisão', assim chamemos, pessoal. Acho mesmo que se tivesse um filho iria sim lhe esclarecer sobre elas e que seu consumo pode mesmo acarretar a desestruturação familiar e de sua saúde física mas deixando claro que a decisão de experimentar seria exclusivamente dele.

Entendo que o estigma negativo que as drogas carregam servem por demais como atrativo, como desafio, como afronta e motivo para aceitação no grupo e que se tratássemos do tema com um pouco mais de seriedade, maturidade e uma certa dose de liberdade, os resultados seriam bem diferentes.

Por outro lado, entendo quem sofre na carne o lado negro das drogas, nem posso começar a imaginar como seria ter alguém proximo a mim numa situação dessas ou ver minha família ruir ante tal cenário. Porém, ainda assim prefiro me ater aos meus principios de que essa experimentação aconteceria de uma forma ou de outra não havendo vacina ou remédio que pudesse preveni-la mas que seus resultados, se encarássemos o assunto sob uma perspectiva menos repressora, menos falso moralista e mais adulta, talvez os resultados finais não se mostrassem assim tão destruidores.

Outros podem pensar que eu acho que se deva liberar geral, não é bem assim mas, se as drogas, ao menos as mais leves, fossem legalizadas ou descriminalizadas, penso que talvez houvesse, com o tempo, uma mudança no perfil do consumidor mesmo porque, é de comum conhecimento que de droga mesmo há muito pouco no que se vende nas ruas variando as misturas de pó de vidro, bosta e até mesmo fertilizantes.

Acho que com campanhas esclarecedoras e uma mudança na forma da familia tratar o assunto podemos sim chegar a algum lugar um pouco melhor do que estamos hoje no que se refere ao tema mesmo porque, na verdade, a 'epidemia' de viciados só é um problema porque incomoda a sociedade que se vê insegura ante os crimes perpretados pelos que precisam manter seu vicio e não efetivamente vê no viciado alguém que precisa de ajuda ou tratamento, ele não é uma pessoa 'doente', é um peso morto que os pagantes de impostos carregam.

Esta senhora explica tudo isso bem melhor que eu e dá um baile na insuportável Leilane que deveria voltar para a faculdade de jornalismo para aprender a entrevistar corretamente. Além de seu sotaque carregadíssimo (penso que ela força para deixar bem claro aos demais estados do país de onde ela é) ela é uma jornalista e não deveria deixar suas opiniões pessoais interferirem. Vá lá, erraram feio com ela pois era para falar contra as drogas e levaram uma mulher que faz exatamente o oposto! Olá? Produção? Ninguém se informou antes de chamar a mulher? Mas uma vez no barco, vai com a maré. Engraçado não é, como para crucificar o tema existem programas aos borbotões mas quando surge algo ou alguém para discutir outras possibilidades essa pessoas é taxada de louca ou seja, não queremos promover debate algum.

tem dias que só eles me salvam...

13 de abr. de 2011

FEBEAPA

Sempre achei a ABL um 'clube do bolinha' geriátrico. O que faz a ABL? Como realemente considerar que alguns de seus membros são mesmo a elite da literatura brasileira? Leitura é algo mui subjetivo, uns endeusam Machado e outros lhe torcem o nariz pode razões das mais diversas (eu mesmo prefiro Eça de Queirós) assim, como fazer um instituição onde devem estar os melhores entre nossos escritores?

Além disso, se Paulo Coelho é membro da ABL então realmente há muito ela perdeu totalmente sua seriedade o que não é de se espantar posto que a idade avançada de muitos membros deve lhes deixar às raias da senilidade e fazem as coisas porque assim lhes ditam e não porque sabem realmente o que se passa.

Enfim, como não encontraram nenhum escritor para homenagear, resolveram premiar o Ronaldinho. Não tenho nada contra ele mas esse FEBEAPA é ruim de engolir ainda mais quando o homenageado, quando indagado sobre qual seu livro favorito, engasgou, derrapou, enroscou e saiu pela tangente sem responder deixando nas entrelinhas, a quem quiser ouvir, a resposta 'não gosto de ler' ou seja, resta dúvida de que a ABL se prestou a uma campanha marqueteira? Para mim não mas, em tempos de poucos escritores, vai-se de boleiro mesmo, não é?

Enquanto isso, você amigo leitor que tem seu blog e escreve bem e eu cá com meus contos que, modéstia à parte sei serem bons, estamos como mesmo?

Só pra constar....

PUT(a)

Volto aos poucos pois isso aqui é antes um parque de diversões que repartição pública ainda que, em vários casos, seja complicado dizer um do outro. Tenham paciência comigo que 'Paulo' vai dar seguimento, peço desculpas aos estimados leitores.

Para celebrar esta volta, uma PUT fresca, de hoje de manhã. Enjoy!

Fui hoje cedo ao laboratório fazer uns exames de sangue de rotina (desculpa sonsa de quando estamos muito doentes e sem idéia do que temos, no meu caso foi rotina mesmo e se não era o caso morre aqui). Chego no lugar, próximo ao metrô Ana Rosa e pego uma senha, sorte, o lugar está vazio o que era de se esperar afinal já eram mais de dez horas prerrogativa de quem está desocupado, faz-se o que se quer e precisa na hora que se bem entende.

Fosse pela manhã cedo, haveria um sem fim de trabalhadores/as em fila agarrados às suas sacolas, bolsas, mochilas e afins, com olhar faminto pois estão todos em jejum e preocupados em não perder a hora ainda que sua senha seja a 200 e estejam chamando o 150. Enfim, essas relações trabalhistas são coisas para outro post. Estava sentando, sendo 'fichado' pela atendente quando vejo próximo à porta do banheiro um cafuçu todo paramentado com uniforme da Mancha Verde = fetiche mode on.

O cafuçu deveria ter mais ou menos 1.80cm, branco, cabelos cortados bem baixos, braços que pareciam duas toras, tatuado tribal (que esperava eu? Hedwig?) e desconfio que aprendera a andar ereto há pouco tempo. Cara de poucos amigos, olhos claros, moletom deixando ver que as pernas eram grossas e uma pochete linda dependurada a sua frente, pronta para cometer suicídio. Tênis surrado, jeito de macho que deve ter deixado, além de mim, uma bichinha atendente que ali trabalhava e as rachas do lugar ensandecidas.

Fui atendido e deveria aguardar no corredor ao lado para coletar os exames. Achei um lugar para sentar e fiquei ali no compasso de espera. Do meu lado esquerdo, um  lugar também vazio e ao chão, uma mochila e uma capacete. Bom, pensei, a pessoas deve ter ido coletar exames e já volta. PLIM, o painel eletrônico chama, longe de ser a minha senha ainda. Nada de novo por ali, gente cansada, com fome e preocupada porque fazer exames é como arqueologia, fuça muito que você acha alguma coisa.

PLIM, nada, longe ainda e então o palmeirense delicioso vem pelo corredor e senta ao meu lado. Eram dele a mochila e o capacete. Umideci, vazei, untei, cruzei as pernas para não molhar o chão. De perto pude ver que ele era quase ruivo, o cabelo cortado quase rente ao crânio, pelos vermelhos pelo braço que eu queria lamber, mãos rústicas, sem unhas, segurando a chave de moto e uma tattoo no outro braço que eu não pude identificar o que era. Ele não fedia mas tinha cheiro de homem, mui discretamente eu sorvi fundo o aroma e só não gozei ali mesmo porque sou fina e discreta.

Ele me olha, porrada na certa, catou que sou viado e estava cheirando ele, vai, me arrebenta mas ao menos deixa eu chupar você.

'Sabe se chamaram o 211?' disse ele. Seus olhos eram castanhos bem claros, rosto rude, macho pra me pegar e me fazer virar bagaço.

'Não, mas eu posso chamar agora se você quiser, aliás, comigo você nem precisa de senha!'

Na minha mente foi assim.

'Acho que não, estou aqui faz um tempo e não vi chamar o 211 não..' respondi.

'Ah, valeu' disse ele 'foda né, eles chamam fora de ordem, a gente fica sem saber...'

'Quer ordem? Fora de ordem estou eu aqui louco pra te chupar! Foda é você, tesão! Já te falaram que você é delicioso? Macho?'

Só aqui dentro mesmo.

'Ah mas isso é porque tem criança, idoso, gestante, eles tem prioridade..'

Ele não disse mais nada e fiquei ali calado com aquele macho delicioso exalando testosterona na minha cara, se os resultados saírem alterados a culpa é dele! Mas tudo (ou quase) tem dois lados e eis que chega um casal de gays, um acompanhando o outro para fazer exame. Como eu sei que eram das nossas? Gatos/as, não adianta, a gente pega no ar e elas impregnavam o ar com sua viadagem.

O cafuçu mediu os dois e depois, quando uma delas atendeu o celular, pude ver meio que de rabo de olho seu olhar reprovador. De certo é do tipo que bate em viado ou pior, do tipo que sai com viado e depois bate nele. Chamaram sua senha e ele levantou, foi fazer seus exames; alguns minutos depois saiu e foi-se embora, confesso que parte do tesão se desfez depois de vê-lo em fobia muda mas ainda assim, era um macho de respeito e meu tesão faz meio que vista grossa para o preconceito afinal era só pra gozar mesmo.

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...