29 de mai. de 2012

esvaindo

Saltei de lado e peguei tudo que você podia me dar sonhando com você e tudo que você prometeu me dar, correndo atrás do sol para ser aquele que, na manhã, não sabe o que fazer mas é aquele que, aos poucos, vai com você se esvaindo pelas beiradas gulosas da vida.

Sem remorsos, atamos esse amor par em ser ímpar em nossos corpos lisos porém ásperos dos outros que nos endereçam pedras, sem medo, elas não caem em nosso quintal cujo teto é de vidro de amor reflexivo e refletor, as joga de volta aos remetentes com uma nota de 'mudou-se de sua ignorância para um amor que lhe falta em peso'.

Nossas mãos antes separadas, se conheceram por engano (nada, premeditaram) numa linha de metrô, enterradas, enterraram-se e suando umas nas outras cravejaram os corações de brilhantes e outros brocados, sussurrando entre gotículas de medo um 'eu te amo' tímido mas de alvo certeiro, mira telescópica, fechada, sem erro.

Nas ruas, fomos o cheiro do novo e as pessoas passando como folhas ao vento, o fim do arco-íris ali e só nós dois víamos. Lavamos os rostos em campos verdes e nos apontamos na direção do vento bom, levando ao choro por temer intuir derreter a calota polar da incerteza que mina os anos verdes dos amores recém nascidos. Mas nos apontamos para as estrelas, para as linhas mais altas, para a estratosferamor, ionosferomônio, de graça, quem pagava desconhecei que não havia preço ao amor mas nossos bolos vazios de prata e cheios de sentimento garantiram que um poderia gastar no outro o que quisesse.

Paramos em frente umas vitrines, susto, que magia vampiresca seria essa? Um reflexo ao invés de dois? Mas era o momento de reconhecer o leite e o mel e jogar fora o fel pois já éramos assim um e o outro lado do espelho, aquele já sabia a verdade que nós ainda guardávamos à portas meio que fechadas e que destrancamos no olhar, com as chaves da alma jogando em seguida nos baús das memórias as chaves junto com toda aquela mazela de sentimentos rasos e impertinentes, suplantados pelo amor que vingava.

Ao redor, as pessoas morriam sem um som, ou viviam aos berros para atestar que o faziam sendo apenas ouvinte o mundo em asfalto ao redor e as árvores que nunca avisavam que o amor estava logo na esquina ou, se o faziam até pelarem sua folhas, eram tidas como loucas. Filme B essa vida deles ou seria nossa que agora ia ao vivo e em cores e não em reprises? Bilhões ao redor do mundo e no fim apenas dois é que realmente contavam e de forma progressiva enquanto os demais o faziam de forma regressiva.

E cada gosto de nossas bocas mostra quão doce tudo pode ser deixando os gostos que passaram um gosto meio amargo de sacarina, como se tudo que veio antes fossem versões baratas do amor, imitações de segunda, show substituto, uma cover mal feita. Não seria possível desligar ou reprocessar essa coisa toda que faz do passado uma imitação triste agitando mãos em uma pantomima ridícula e que me faz corar pelos erros que me conduziram até este acerto de você.

Eu te amo, amo-te eu e você a mim, as letras não tem alívio algum se não formam seu nome e se esse nome não sai de minha garganta aos brados, saltando as veias no pescoço, sente aqui esse pulso que lateja até embaixo onde entumesce e cresce por e apenas por você. É isso, há que se amar e se é a regra eu serei e exceção pois amar é demais de pouco para nomear o que és para mim e o que somos um para o outro, dentro do outro, com outro.

Vem, pega de novo minha mão, vamos por ali onde aquele rio de carros parados orquestram suas buzinas para nossa união, caminhemos por essa navenida ornamentada de postes que se curvam ao passarmos tamanha é a reverência que merece nosso amor. Os semáforos são nossos padrinhos, as esquinas as madrinhas, a praça o reverendo e o céu por testemunha ungida por nós desde que nascemos um para o outro meu amar.

Os faróis dos carros iluminam a catedrenalina, corremos soltos por ela e dizemos sim um ao outro sem parar, sem fim, sem nexo, sem nada. E quando cansados da festa, dormiremos um sobre o sexo do outro, aconchegados, atordoados, satisfeitos, feitos, repletos, completos.

E quando o sol voltar para dar corda ao mundo mais vez, antes que a noite roube o ultimo tic dessa tac, nos encontrar mais amor do que nunca, mais nossos do que nunca e com a boca cheia de um eu te amo tão delicioso que fará vontade em todo mundo que acha que já provou do amor um dia...


21 de mai. de 2012

paquiderme







Da cidade escorria um suor seco e frio, o sol burlava as nuvens do fim de dia e sambava seus raios através desses buracos no céu. Irritadas, as nuvens corriam para preencher essas brechas só para constatar que logo mais a frente outras tinham sido abertas num gato/cão celeste despercebido pelo mundo cá embaixo.

Salvo eu aqui, obserbando tudo isso e apostando onde o sol malandro ia forçar a entrada, abrir as pernas das nuvens vestidas de hábito monástico jogando um pouco de luz sobre a cidade louca. Parecia que em cada um desses buracos de sol as pessoas iam, a qualquer momento, sair com mãos ao alto rogando ao astro que lhes dissesse o caminho a seguir, jogasse para longe as nuvens de suas vidas nubladas e lhes desse um alento que lhe era muito alem do alcance enquanto corpo celeste ocupado demais com danças astrais para dar conta de desejos terrenos e, de certa forma, ciumento de ter sido roubado de seu heliocentrismo, melhor deixar essa raça ao seu destino, deveria pensar.

Apoiava o queixo sobre as mãos cruzadas no parapeito da janela, sorvendo essa brincadeira com gosto, já estava ali há algum tempo, aguardando que um daqueles buracos-sol caísse sobre mim e, feito interrogatório, me forçasse a confessar os crimes indizíveis que carregava no peito até mesmo aqueles que não cometi ou tencionei cometer.

Podia ver outras janelas ali da minha, outros pecados, outros crimes, outros sexos, outros amores, como eu, mantinham seus segredos entre paredes e até mesmo dentro delas haveria segredos dentro de segredos, lugares secretos, anseios não revelados, coisas não ditas, entaladas e que acabavam por emprestar às paredes um gosto amargo e cheiro fétido conforme o acumulo de dissabores não compartilhados ia se tornando uma massa disforme de fel e rancor.

As paredes têm ouvidos, e nariz, e boca, e braços e pernas, e coração e sangue, esquecemos disso e pomos por terra esse universo que deveria funcionar como porto tranquilo e seguro ficando num eterno cá e lá, melhor, nenhum dos dois vide que o mundo lá fora quer devorar até o tutano e, aqui dentro, nem devoramos nem o oposto restando uma letargia muda e ácida que vai corroendo todos os elefantes que pomos dentro de casa.

Um elefante, sim, incomoda muita gente. Dois então, muito mais. Que dizer de mim que tinha essa manada a dividir espaço comigo? Olhava a colcha de retalhos solar se espalhando, pondo para correr as nuvens bestas e então, caiu em mim uma dessas rodelas de luz e ficou. Talvez com medo dos meus elefantes, não vieram nuvens tapar o buraco, parecia que minha janela era o palco da cidade, talvez todos já tivessem, quando vitimados pela luz esclarecedora, purgado seus erros e coubesse a mim cair, em grande estilo, o pano.

Pois bem, armado de luz, ergui o queixo de sobre minhas mãos, olhei para trás mirando cada elefante nos olhos e disse que o safári iria começar, era cada um por si e o sol era para quase todos. Comecei lembrando de quando nos conhecemos, aquela pista cheia de luz, som e fúria e nós ali dançando ao redor daquele fogo fátuo, sedentos de nós mesmos. Foi bom, consumamos tudo ali mesmo num canto mais escuro e minha língua foi seu sexo e seu sexo foi meu orgasmo e nosso gozo foi estridente e nossas bocas sem pudor e sem fim salivaram uma na outra todos os desejos e sonhos que nossas veias tinham guardado.

Os corações correram garganta acima e se bateram de frente Tum Tum Tum Tum Tum Tum Tum uníssono e num coro que ia acima da musica na pista. Bailaram as aortas, quase enfartam os miocárdios mas, segura, voltam eles para suas cavidades certos de que são um do outro mas a mente prega peças e desce a chibata no músculo cardíaco eriçado dizendo que está a mandar sangue demais para a cabeça de baixo deixando a de cima desprovida de poder colocar ordem nesse puteiro.

Corações aplacados e membros meia-bomba, melados de sexo, passamos ao que deveria ter sido o inicio e trocamos amenidades já que a intimidade fora sequestrada um do outro, sem resgate. Do clube ao café mais próximo, brecamos tudo que fosse mais fast no café da manhã e entre pães, doces e cafés, trocamos recheios de sonhos, coberturas de desejos, caramelizamos nosso amor, pão de Ló apaixonado, pão/pau - queijo/beijo.

Satisfeitos nos dois apetites, nos despedimos e trocamos números de telefone velados com a promessa de ligar e a incerteza de tal promessa fazer-se ato. Fomos embora, aguardar os minutos fazerem as horas, as horas dias e os dias nossa fome de ter-nos de novo mais do que a comida podia suprir. Em casa, mirava o telefone, os dedos tamborilando, dementes por se fazerem úteis e discar mas punha os danados a ferros e lhes dizia que você também tinha dedos e assim poderia fazer o mesmo esforço.

Nesse balé de tolos ficamos por algum tempo, aposta estúpida, sem ganhadores, premio que se acumulava agitando as mãos para ser resgatado e nós dois fazendo pouco dele, como que a deixar para outros que precisassem mais, como se nós mesmos não o desejássemos mais que o ar a nossa volta. E veio o toque do aparelho, agora já não sei quem correu para resgatar o premio, só sei que nos falamos e resolvemos que o melhor a fazer era dividi-lo uma vez que ambos o desejavam na carne.

Fizemos assim e fomos gastando essa loteria acumulada a dois, cegos do amor que nos fora sorteado, incautos, investidores de primeira viagem. De começo, achamos que aplicáramos nosso amor em investimentos cujo rendimento seria liquido e certo, nossa felicidade era por conta, tínhamos a nós e isso era uma linha de credito sem fim, inesgotável e cada vez que parecia a nós que os rendimentos não eram assim lá o que esperávamos, bastava fazer um empréstimo pessoal de nós mesmos, com juros de amante para amante e prazo a perder de vista para vermos renovado o credito amoroso que julgávamos ter.

Mas, os dias foram caindo da folhinha como folhas outonais e, quando a ultima caiu e, pelada, a árvore não tinha mais sombra ou frutos para ofertar, tentamos mais credito no banco afetivo para adubar a árvore seca e, para nossa surpresa, tivemos o investimento negado. Pasmos, ficamos sem ação, vasculhamos por economias porém, mais cigarras que formigas, estávamos com os bolsos só nos forros e a chuva se armando sob nossas cabeças.

Esgotados os meios, passamos aos fins e como cada um de nós tinha sua parcela de culpa no malfadado empreendimento só que, ao invés de assumirmos nossas parcelas de infelicidade e péssima administração, preferimos por os dedos em riste um nas fuças do outro negando culpa conjunta, pondo a conta apenas na nota de um só. Tentando salvar algo dessa quebra geral, saqueamos tudo, não deixamos nada ao amor que, na verdade, ainda tinha seu peso em ouro e podia ser usado como moeda de troca para reconstruirmos.

Finalmente, sem ter mais o que raspar do fundo do cofre, raspamos nós mesmos na carne até sangrar e quando vimos a cor dos ossos e os dentes agressivos se abrindo sobre eles, julgamos melhor assumir a falência, cerrar as portas e buscar novos sócios, outros empreendimentos. Nesse litígio, não havia muito que repartir, havia sobrado apenas culpas, remorsos e acusações suspensas no ar, frases presas no vácuo, sentimentos soltos no tempo e um vazio imenso que de tão grande não era mais vazio, tinha consistência e podia ser tocado.

Fomos, simples assim. E os dias voltaram a contar no calendário, lentamente, um a um e nossas vidas foram se remendando da melhor forma possível e nossos bolsos foram se enchendo aos poucos, com trocados de inicio e, algumas vezes, com notas e até quantias vultosas mas que paravam em nossos bolsos assim como o ar para nos pulmões.

E então, dado o tempo certo, nossos nomes já não estavam mais sujos, caducaram nossos débitos, podíamos amar de novo, as consultas aos órgãos de proteção ao credito afetivo davam como negativas e, numa dessas, nos redescobrimos com capital suficiente para amadurecer a ideia e ideal de termos nosso negocio próprio de forma definitiva, desprovidos e demovidos dos sonhos acelerados do inicio, das ilusões de destino e cientes de nossos medos e capacidades de entender um no outro o alimento do desejo comum, cheios agora de sonhos maduros, tangíveis em seu sonhar duo, retos e certeiros em nosso caminho de pouquíssimas curvas salvo as de nossos corpos não desconhecidos a nós e assim, sem grandes surpresas cartografadas mas emprestando às línguas um gosto conhecido mas retemperado com novo animo e sede de amar, viver e sermos.

Negocio fechado! No dia em que assinaríamos nosso contrato, selaríamos nosso compromisso de sermos o banco central um do outro, fiquei com a caneta na mão, esperando ver no outro lado da linha tracejada seu nome correr para o meu. Roubado por um destino traíra, saqueado por uma tragédia que de grega não tinha sequer o nome, assaltado por outros que levaram o cobre e, de quebra, você para não mais. Dos olhos, correram lagrimas lépidas, escoram face abaixo, deram voltas no pescoço, empoçaram na espádua, caíram para o braço e em torvelinhos correram sua extensão, lamberam-me os dedos e abraçaram a caneta até que, em pequeninas gotas, caíram sobre o espaço em branco onde deveria estar seu nome.

Foi então que chegaram esses elefantes, todos de uma vez, talvez já estivessem lá, disfarçados de mobília e não os tivesse notado, não sei. Começaram a abanar suas trombas para mim e me dizer coisas que só os elefantes dizem. Delicados, porém, transitavam pelo apartamento sem quebrar nada exceto meu coração e corpo e então, olhando pela janela, aguardei esses restos de sol para poder municiar-me e lhes por fim. Espera meio longa, às vezes faltava sol, às vezes os elefantes se escondiam tão bem que não era possível achá-los, às vezes eu me sentia o elefante.

Mas não hoje, era dia de acertar as contas e com a janela e a mim mesmo sob aquele circulo solar, fui executando um a um dos paquidermes, sem dó, seus protestos me eram surdos, tombaram todos e quando restou apenas um, este me olhava nos olhos, um olhar atemporal, a tromba inerte e a respiração mal um sopro. Nos olhamos por instantes sem contar, impassíveis, os últimos habitantes duelando naquela nesga de sol. E então, no fundo dos olhos mortos do bicho, vi o que precisava ver, senti, intui e, usando minha ultima bala de sol e já antevendo as nuvens que vinham a galope tapar minha artilharia, abracei o elefante e com ele me joguei nos raios do sol.

17 de mai. de 2012

escândalo

Frequentemente me perguntam cadê 'Maré Vazante'? Saiu? Não volta? Fugiu? Escafedeu-se? Foi abduzido?

Explico: nesse mundo cão de editoras/panelas e onde o que é hetero-normativo prevalece, pouco ou quase nada para nós gueis aparece mas, eis que uma Editora lá do Sul de nome mui apropriado 'Escândalo' me abriu suas portas, me acolheu.

Agora, sou parte de seu elenco de escritores e minha primeira participação é fazer parte da coletânea de contos gueis 'Homossilábicas II' (o volume I pode ser adquirido no site da Editora e eu cá recomendo).

Assim que tiver maiores detalhes sobre lançamento da coletânea e afins, digo aos amigos por aqui e pelo FB onde podem também conhecer a Editora que lá está. A todos que sempre me incentivaram e leram, aos que compraram meu livro (raridade agora porque...bem, mais pra frente conto mais) um mega obrigado e podem ter certeza de que de onde saiu esse ainda tem muito mais.

E nunca sem dizer um eu te amo a ele, meu Wans, que nunca deixou de acreditar em mim.

Love as always...

16 de mai. de 2012

15 de mai. de 2012

o vírus


Oremos ao grande irmão!

Estar aqui é mais que estar, digamos uma onipresença, menos onisciência. Estamos em cada ‘byte’ que navega pela rede, em nossos faces, em nossos blogs, nossos imeios, nunca inteiros.

Se estamos aqui é porque nos agrada, apetece e atrai a ideia de sermos vistos, observados, escrutinados e fazer o mesmo com nossos pares virtuais e antes nossa vida era mais fechada e reserva, fazíamos filtros, tínhamos defesas e o nome amigo era algo que os dedos de uma única mão mal sabiam contar.

Mas, como peixes cyber, caímos em nossas redes com sede de números com mais de três dígitos, mostrando que somos populares e conhecemos muita gente, conectados, ligados mas não interligados. O que deveria servir para aproximar parece afastar, por longe e criar condições e regras que nem mesmo sabemos como lidar ou compreender, uma nova etiqueta que foge de nosso controle.

Não cuspo na placa mãe que me pariu, estou aqui, não estou? Mas quanto de nós está aí navegando para cima e para baixo e sem que efetivamente saibamos quem, como, onde, o quê, quando, para quê? Quanto de nossas vidas não está livre para ser degustado se é que já não o foi? Quantos de nós não estão, nesse momento, sendo prejudicados de alguma forma por informações que nós mesmos colocamos aqui? É livre mas precisamos usar com certo cuidado o que não sabemos fazer, me parece. Achamos que gozamos de um (falso) anonimato e, assim, de proteção mas estamos tão nus quanto no momento em que viemos ao mundo, aqui, nascemos de novo mas vestidos de senhas, usuários, frases, log-in, avatares, fotos, nomes de fantasia sendo que no fundo estamos com o peito aberto, exposto, todos vendo.

Não digo censura, longe disso mas, o quanto de você, você quer mesmo ver exposto aqui? Mordo a língua pois escrevo aqui e isso me expõe, diz o que penso e quem sou, guardadas algumas proporções. Somos aqui todos narcisos, fascinados pelo espelho de terabytes, LCD e plasma, processador de última geração. Se uma global que, sei lá, clicou em um link que não devia ou teve sua privacidade virtual quebrada, que dirá de nós aqui, mortais?
Postamos fotos, informações sobre nós mesmos, um peido, uma dor, um choro, um riso, raiva, medo e será que ao nos conhecermos assim na carne e nos ossos os curtir e seguir encaixarão no que se pode tocar, ouvir, falar ao vivo e com todas as cores, sem 3D em óculos?

Todos temos a sede de aceitação, de sermos vistos, entendidos, admirados e mesmo criticados porque a critica é sim uma forma quase pura de elogio, clichê, não menos verdade mas às vezes acho que passamos da conta, um pouco. Parece que vivemos em função disso aqui e soa contraditório pois eu mesmo, disse já, ando aqui, vivo aqui, sumo vez ou outra mas eis-me aqui, entre vós, comungando desse éter’nano’mente.

Gosto, não vou sair mas, assim no fundinho, será que não éramos mais felizes e espertos quando íamos a saraus e frequentávamos salões, discutíamos? Hoje fica meio um gosto de tudo um bocadinho e tudo meia boca.


Sei lá.


14 de mai. de 2012


Não desejo mal a ninguém no melhor estilo aqui se faz e se paga (muitas vezes, em dobro e a prazo).

Desejo mesmo que o filho de Leonardo saia dessa porque não tenho como sequer conceber o que seria ver um filho em tal situação, algo dilacerante. Me enojam porém o picadeiro ao redor e, fel destilando, quem sabe se a própria família não está a tirar algum proveito marqueteiro disso tudo, oxalá não! Melhor pensar que são meras vítimas tabloidianas.

Pasmei quando a TV exibiu sem modéstia o moço estirado na estrada, assim, um naco de carne. Wans e eu ficamos meio chocados, sem falso moralismo mas, não é algo que você deseja ver no noticiário se bem que esses, do nome, guardam é apenas isso mesmo pois só vem desgraça, nunca noticia como se uma fosse a outra e não o oposto.

De novo, não desejo o mal do moço, que se recupere mas, enquanto batedores garantiam que ele chegaria ao hospital em tempo recorde – não sabia que ele era chefe de estado ou afins – no Hospital da Clínicas, aqui em SP mesmo, Eliana Zagui vive, sim vive, há 36 anos, vitimada aos 2 pela paralisia infantil e imóvel do pescoço para baixo desde então.

Respira por aparelhos e da família tem mesmo só o nome porque presença física nem no aniversário ou dias santos e isso há anos. Vive ali, presa aos aparelhos e tendo como família os enfermeiros, doutores e um amigo de doença com quem compartilha o quarto. E assim, ela se formou no ensino médio, aprendeu inglês, italiano, fez curso de história da arte e tornou-se pintora. Tudo isso usando a boca para escrever, pintar e digitar; lançou um livro: ‘Pulmão de aço

Ninguém a entrevistou, que eu saiba, não saiu nos noticiosos, o Datena não pediu corrente de orações, pop-padres não a visitaram, sem batedores, sem 15 ou menos minutos, sem camarim, sem gente torcendo, sem nada, sem ninguém. Ela está lá, mais do que nós estamos aqui e muito mais do que mereceríamos estar.

Enquanto isso, na TV, temos infindáveis minutos do filho de Leonardo que, em comoção nacional, mexeu a perna.

Triste.

8 de mai. de 2012

freudeu...

20 anos.

Muito tempo ou pouco, questão de referencial, melhor, existencial. Antes primordial entender o que duas décadas fazem ou tentaram fazer ou que eu tentei fazer na mesma e com a mesma medida de tempo.

E se ainda sou o mesmo posto que não mudamos, apenas melhoramos alguns aspectos e cagamos outros tantos, dito isso, navegar em mim é preciso, viver nem tanto que está no automático.

Assim, para desfazer alguns novelos acumulados nestes anos e entendendo e fazendo entender que há amigos e há marido e são mui caros, afetos e queridos mas, ao mesmo tempo, incapazes de entender ou ainda auxiliar com fardos que são demais meus para que se faça um compartilhamento efetivo e juntos busquemos a solução ou paliativo, fui buscar auxílio de quem (penso) sabe o que faz (ou deixa de fazer).

20 anos.

Então eu era saindo da adolescência e o peso de ser gay caía sobre mim como despejado pelo Enola Gay (trocadalho imperdível), fui lá com a doutora e fiz aí pouco mais de um ano de bate papo com ela, ajudou, sedimentou, concretizou, iluminou e parei fosse porque saiu pela culatra progenitora que esperando ver a mim gostando de fêmeas, viu-me constatar que queria mesmo aos meninos.

20 anos.

Voaram e se há a lei que determina que o acaso não é ocaso, acreditemos nela, fez-se momento, tempo, ocasião e eu ladrão de mim resolvi devolver o que me roubei e voltar a consultar a boa doutora.

Um empurrão, para ir um pouco mais além, só isso, nada mais, todos precisam para viver de:

1. Mão amiga

2. Copo d'água

3. Boquete

Cousas inegáveis até aos mais reles dos mortais. Voltei ao sofá (divã é coisa de teatro) e foi bom, leve, lindo, solto. Acabei a primeira sentindo que deveria ter voltado a mais tempo mas que não perdi esse, o medi e tomei decisão no minuto certo.

É o momento, sinto, há o que ser feito e vou fazer e recomendo a quem acha que precisa que faça o mesmo. Não é coisa de louco ou de gente problemática coisa que, concordemos, todos somos sem exceção - apenas em medidas diferentes - mas coisa de você com essa pessoa que pode lhe passar por estranha, você mesmo.

20 anos.

Eu sei quem eu sou depois de tanto tempo, agora é descobrir não quem serei nos próximos vinte, isso eu meio que já sei, só preciso uma ajudinha para encontra o caminho.

7 de mai. de 2012

de virada

Fomos e foi maravilhoso!






É um deleite ver os efetivos donos da cidade em suas ruas, sem medo, usufruindo e aproveitando de suas ruas, seus prédios, seus bares, seus ares, as pessoas.


Quem dera fosse sempre assim; creio mesmo que ainda mais legal que as atrações seja poder zanzar pela cidade com os amigos parando nos bares, jogando papo fora pelo asfalto, nas esquinas, nos elevados, nas praças.


Como um 'walking dead' do bem, se isso é possível. Então, a cidade mostra uma face menos dura e cinza, menos 'nem aí' pra gente, ela se importa sim! E nós a amamos e odiamos na medida certa, nem mais, nem menos.


Perfeito? Não mas, ainda assim, não menos excelente e se pode melhorar dou meu pitaco:


1. Kassab, não é porque está de saída que precisa esculachar algumas coisas né? Muita gente reclamando que som/imagem estavam ruins


2. Metrô 24H sim! Melhor se fosse de graça apenas nesses dias, custa? A R$ 3,00 e por um serviço de merda, acho que não....


3. Chefs de cozinha são bons em seus redutos gastronômicos, vai fazer pro povo faz direito e não a zona que estava no Sábado e no Domingo e a preços que de populares nem o cheiro. Os pastéis do Arouche estavam 'n' vezes melhores e menos cheios. E tem mais, povo quer é comida, não conceito!


4. Banheiro químico = sucursal do inferno mas tinha bastante; eu ao menos vi pouco gente se aliviando nas ruas


5. Mãos ao alto! Bastante segurança, me senti tranquilo mas R$3,00 pra usar o WC? Cadê a polícia?


E o centro velho de SP é o melhor bairro do mundo, sim, mesmo com os cachimbinhos de crack, os nóias aqui e ali e aquele clima decadente, meio sujo (e que começa a sumir posto que estão mesmo dando uma geral na coisa, medo pois geral resvala no pasteurizar e centro sem esse ar decaído não é bem o centro mas, tá valendo).


Você precisa aprender a andar por ele e saborear as iguarias que ele oferece, ele não se abre assim do nada pra você, tem de conquistá-lo, seduzi-lo, ganhá-lo e, quando isso acontece, ele entra nos seu poros, nos seus genes, nunca mais sai, nem com reza brava ou creolina.


Centro velho de SP, eu te amo!!!!

3 de mai. de 2012

a luta, o medo e arrumar a casa

Li aqui que em 2011 houve um aumento significativo dos pedidos de asilo em outros países por homossexuais. De certa forma, está relacionado a este post ainda que os moços não tenham pedido asilo mas, até onde sei, simplesmente resolveram virar essa página e tentar em outro lugar reconstruir suas vidas.


Reitero aqui que não julgo essa postura, a entendo perfeitamente, como dizer que agiria diferente se fosse comigo e meu marido? Difícil dizer. Entendo também essas pessoas que, ante a possibilidade (sim, possibilidade pois hipótese é algo remoto e as agressões contra gueis são um fato, não algo hipotético) de se tornarem vítimas desses animais, preferem antes ir para outro país onde, como li na matéria, sejam tratados como seres humanos e não uma condição.


Porém, nesses países não há preconceito? Violência? Seria um mundo perfeito? Acho pouco provável mas a grande diferença deve ser que as leis aparentemente funcionam ao passo que aqui, capaz de o agredido ainda ser tachado de culpado. Também acho que não se trata, como disse em outro post, apenas da violência direcionada aos gueis ou qualquer outro grupo, acho que o problema é pior, é a ultra-violência, gratuita, sem culpa, sem medo, por prazer. Não há limites e nossas leis são tão inócuas que seria possível limparmos a bunda com elas e ainda ficarmos com os traseiros sujos!


O quadro porém fica mais grotesco quando chega a nós gueis e outros alvos preferenciais desses abusos pois, se a lei já é falha como um todo, quando chega a nós, mal podemos clamar pelas rebarbas ou restos afinal, quem somos nós? Nada, ninguém, apenas um bando de bichas. Não sei realmente o que faria se acontecesse uma agressão dessas conosco mas, assim, de momento, creio que minha atitude seria jamais permitir que esses criminosos maculassem ou destruíssem a vida que construí aqui, que me tirassem o prazer e alegria de viver num país tão meu quanto deles.


Creio que lutaria com unhas e dentes para que pagassem pelo crime enquanto reerguesse minha vida. Não estou acusando os moços do outro post ou quaisquer outros que tenham feito o mesmo de fujões, longe disso, disse e repito, cada um sabe o peso que pode carregar e há que se dizer que eles não se calaram, muito o oposto, mostraram a cara, pagaram caro por isso e acharam os culpados (segundo eles mais graças a eles mesmos que às autoridades). Para mim, não resolve muito recomeçar em outro lugar mas sim tentar ao máximo arrumar este aqui que temos; se todos resolvêssemos ir embora, eles vencem, provam estarem certos, que não merecíamos mesmo estar aqui, vivendo e convivendo uns com os outros. Não, meus amigos intolerantes, somos da mesma carne, temos os mesmos direitos e eu não vou embora, você vai ter de aprender a me respeitar e à lei que deve(ria) fazer valer esse respeito na ausência do bom senso que deveria intui-lo naturalmente.


Podem dizer que é fácil falar assim sem conhecimento de causa (na pele) mas, quanto mais frágeis parecermos, quanto mais fugirmos, quanto mais nos acovardarmos, mais terreno cedemos aos que nos querem ver longe, lhes damos a vitória de mão beijada. Não quero isso para mim nem para meu marido, não quero também, como parece ter ocorrido com os moços, virar 'overnight' ativista pois aqui essa palavra tem um sentido muito vago; eles mesmos foram alçados a essa condição meio num turbilhão e, infelizmente, triste mesmo, essas entidades que 'lutam' pelos gueis sugaram deles os famigerados quinze minutos e depois quem se lembrava do sofrimento ou sede de justiça deles?


Creio que o caminho seja cada um de nós não fazer silêncio de cada violência que sofremos seja pela nossa orientação sexual, classe ou qualquer outro estereótipo social, e não é apenas a violência física mas, às vezes até pior, a psicológica, mental, velada. Quanto mais gritarmos pelos direitos que são nossos mais alto ficará o brado até que um dia alguém certamente há de nos ouvir.

2 de mai. de 2012

vai popozuda!


Acho graça esse povo jogando caminhões de pedra na Valesca Popozuda. Longe de mim questionar o ‘valor artístico’ da moça ou seus dotes como cantora ou enveredar pelos caminhos de como ela usa o corpo/imagem como comércio emprestando às mulheres imagem, creio eu, a maioria preferia ver não associado ao gênero.

Ela ao menos o faz conscientemente, propositadamente e não tem, até onde se sabe, grandes aspirações artísticas ou pretende revolucionar a cultura brasileira o que já não se pode dizer das campanhas das grandes cervejarias que retratam a mulher não como consumidora (raríssimas exceções) mas como objeto de desejo associado ao consumo do álcool naquela velha equação de que se consumirmos a cerveja ‘A’ ou ‘B’ seremos sexualmente desejáveis, atrairemos as fêmeas, além da associação entre curvas da garrafa, suor gelado, calor e as mesmas qualidades da mulher.

Obviamente que se a mulher é retratada assim nessas campanhas é por que existem as que fomentam esse tipo de caracterização e vice-versa mas, como disse acima, ao menos no caso das ‘Valescas’, elas parecem saber o que estão fazendo ainda que possamos torcer o nariz ante tanto mau gosto, vulgaridade e afins ao passo que, nas ditas campanhas a mulher é um subproduto ignorante, figurativo, apelativo, usado para emprestar ao produto o sexo que lhe carece. Acho que um exemplo bom disso e de como essa industria é machista, hetero-voltada (não digo homofóbica porque não me recordo de ter visto nenhuma campanha ofensiva aos gueis que consomem zilhões de litros de cerveja) é a campanha abaixo:


Voltando a Valesca fria (sem associar aos bovinos, por favor) o que acho graça é enquanto outros tantos ‘funks’ tratam a mulher de forma que fariam as profissionais do sexo mais vividas e experientes corarem e ninguém se importa de ouvir em altos decibéis, se Valesca faz um ‘funk’ onde as posições se invertem ela é massacrada? Quer dizer que a mulher pode ser a puta do ‘funk’ mas não fazer o ’funk da puta’? aposto que se fosse Bethania a cantar esses versos todos achariam poético, uma critica, um protesto mas, como é a Valesca então é de péssimo gosto, indecoroso, indecente e ela é a culpada? Dois pesos e duas medidas?

Hipócritas, sacripantas, imbecis de plantão, falso moralismo ridículo e datado, me dá nojo. Não vou consumir a musica dela mas acho injusto e  abusivo como se detonou a moça que, forçando um pouco a barra, não fez mais que dar o troco e dizer que a mulher pode sim querer alguém que lhe chupe o sexo e mamar seu macho gostoso e sem culpa mas será que isso (ainda) assusta o macho? A mulher voraz, com fome de sexo, ativa?

Não vou ouvir sua música, Valesca mas desde já, tens minha simpatia!

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...