15 de mai. de 2012

o vírus


Oremos ao grande irmão!

Estar aqui é mais que estar, digamos uma onipresença, menos onisciência. Estamos em cada ‘byte’ que navega pela rede, em nossos faces, em nossos blogs, nossos imeios, nunca inteiros.

Se estamos aqui é porque nos agrada, apetece e atrai a ideia de sermos vistos, observados, escrutinados e fazer o mesmo com nossos pares virtuais e antes nossa vida era mais fechada e reserva, fazíamos filtros, tínhamos defesas e o nome amigo era algo que os dedos de uma única mão mal sabiam contar.

Mas, como peixes cyber, caímos em nossas redes com sede de números com mais de três dígitos, mostrando que somos populares e conhecemos muita gente, conectados, ligados mas não interligados. O que deveria servir para aproximar parece afastar, por longe e criar condições e regras que nem mesmo sabemos como lidar ou compreender, uma nova etiqueta que foge de nosso controle.

Não cuspo na placa mãe que me pariu, estou aqui, não estou? Mas quanto de nós está aí navegando para cima e para baixo e sem que efetivamente saibamos quem, como, onde, o quê, quando, para quê? Quanto de nossas vidas não está livre para ser degustado se é que já não o foi? Quantos de nós não estão, nesse momento, sendo prejudicados de alguma forma por informações que nós mesmos colocamos aqui? É livre mas precisamos usar com certo cuidado o que não sabemos fazer, me parece. Achamos que gozamos de um (falso) anonimato e, assim, de proteção mas estamos tão nus quanto no momento em que viemos ao mundo, aqui, nascemos de novo mas vestidos de senhas, usuários, frases, log-in, avatares, fotos, nomes de fantasia sendo que no fundo estamos com o peito aberto, exposto, todos vendo.

Não digo censura, longe disso mas, o quanto de você, você quer mesmo ver exposto aqui? Mordo a língua pois escrevo aqui e isso me expõe, diz o que penso e quem sou, guardadas algumas proporções. Somos aqui todos narcisos, fascinados pelo espelho de terabytes, LCD e plasma, processador de última geração. Se uma global que, sei lá, clicou em um link que não devia ou teve sua privacidade virtual quebrada, que dirá de nós aqui, mortais?
Postamos fotos, informações sobre nós mesmos, um peido, uma dor, um choro, um riso, raiva, medo e será que ao nos conhecermos assim na carne e nos ossos os curtir e seguir encaixarão no que se pode tocar, ouvir, falar ao vivo e com todas as cores, sem 3D em óculos?

Todos temos a sede de aceitação, de sermos vistos, entendidos, admirados e mesmo criticados porque a critica é sim uma forma quase pura de elogio, clichê, não menos verdade mas às vezes acho que passamos da conta, um pouco. Parece que vivemos em função disso aqui e soa contraditório pois eu mesmo, disse já, ando aqui, vivo aqui, sumo vez ou outra mas eis-me aqui, entre vós, comungando desse éter’nano’mente.

Gosto, não vou sair mas, assim no fundinho, será que não éramos mais felizes e espertos quando íamos a saraus e frequentávamos salões, discutíamos? Hoje fica meio um gosto de tudo um bocadinho e tudo meia boca.


Sei lá.


14 comentários:

  1. Bom, esses bits e bytes me trouxeram o Mauricio, vocês e todo mundo que eu mais amo hoje em dia. Felizmente, essas amizades e amores não ficaram apenas atrás desta telinha gelada de cristal. Mas é fato: tem um monte de livro me esperando ali na estante. :-)

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    1. então...precisamos lê-los antes que sejam pó...sério...

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  2. Isso me faz pensar sobre um montão de coisas que publiquei no blog e o quanto me expôs. Mas acredito naquele ditado, tá na chuva, tem que se molhar. Sinceramente nem consigo me lembrar de como era antes. Parece que nunca vivemos numa época em que se escrevia cartas e para se tornar amigo de alguém, precisaríamos nos comunicar verbalmente. Estranho, mas verdadeiro.

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  3. Assino em baixo da percepção do Wans! Simples, direta e verdadeira percepção! Não quero q seja diferente disto ... Não sei o q nem o pq temos q esconder o q somos, o q pensamos, o q falamos e como agimos ...

    bjão

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    1. não esconder, longe disso mas me parece que trocamos as coisas de uma forma tão superficial e tão imediatista...não sei...
      parece que temos muito e pouco conteúdo às vezes, entendes?

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  4. "éter’nano’mente"
    um dia qro ser um escritor q cria palavras.
    *m*

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  5. Eu fico pensando qual é o mundo virtual e qual o real. Se a tanta gente se expondo "aqui" será porque nossas convenções, nossos "por favor" e "obrigado" nãos nos tornaram, de certo modo, avatar de nós mesmos "lá fora" onde somos feitos de aço frio e onde de carne, peido e sangue (rs)?
    De qualquer modo quero muito, um dia acolher num abraço físico, os que me são caros "aqui", como você.
    Bj

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    1. mas essa avatarização é que me incomoda um pouco sabes?
      parece que nos expomos, não todos, mas quiçá a grande maioria não pelas ideias mas pelo status, nossas vidas tem 140 caracteres....

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  6. Nossa pontuação morreu no comentário acima, mas acho que vc entendeu ;)

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  7. A minha relação com o virtual ainda é cheio de parcimônias! cheguei tarde neste universo e ainda estou aprendendo a lidar com esta perda de privacidade. O que eu acho que será inevitável dentro de pouco tempo.

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  8. E não é? Acho que ngm dispensaria..

    Quanto aos 140 caracteres, eles mostram aquilo que queremos que vejam, não aquilo que realmente é..

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  9. tudo tem seu lado bom e mau. infelizmente todos querem facilidade. não leem mais porque buscam resumos na internet, não vão atrás das informações nos jornais porque tem elas em 140 caracteres do twitter e por ai vai.
    mas quem realmente quer ler, buscar informação, fazer amigos de verdade consegue, vai atrás e tem muito espaço aqui para isto também!

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  10. Isso tudo que você descreveu é a sensação exata que tenho com o twitter.

    Se eramos mais felizes e mais espertos antes? O que é felicidade e o que é esperteza? Creio que são conceitos mutantes de acordo com o panorama, e não é porque a coisa muda a forma que funciona que deixamos de ser espertos ou felizes... apenas que transferimos isso para outros padrões.

    Beijo Melo!

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