21 de out. de 2012

O Fantástico Sr. Raposo

E o ganhador do 'Homossilábicas II' foi................................................

Foxx! Parabéns!!!

Mande seus dados pra mim gato via e-mail ou FB para enviar seu exemplar autografado.

Não ganhou? Fica assim não, depois tem mais...


19 de out. de 2012

fatos sem fotos




Quinta. Preguiça de cozinhar se sem vontade de comer lanche, resolvemos arriscar no panfleto da pizzaria nova que deixaram na portaria do prédio.

Bem feitinho, papel, bom, graficamente bem elaborado, dizendo que só trabalham com ingredientes de primeira. Saco o fone e disco.

Ela: pizzaria coisa e tal boa noite

Eu: Desculpa?

Ela: Pizzaria coisa e tal boa noite (empreste aqui um tom de má vontade extrema aliado a indisposição total de atender um telefone comercial)

Eu: Gostaria de pedir uma pizza

Ela: Primeira vez? (mesmo tom)

Eu: sim

Ela: telefone (pior um pouco)

Eu: 31

Ela: hã

Eu: 51

Ela: hã

Eu: Quer saber, deixa quieto, não quero mais não (desligo na cara dela)

Trabalham com ingredientes de primeira, pena que educação não é um deles....

é hoje!

É hoje!

Comenta  logo que amanhã divulgo o resultado, quer um desses aqui?





Comente nesse post e torça afinal, é de graça!

Prestigie esse pessoal que escreve bem pra caralho e além do mais literatura homoafetiva, coisa rara ainda mais bem escrita assim.

Muitos podem torcer o nariz até, literatura guei é isso, aquilo e coisa e tal mas, fim das contas, é literatura e ler sempre vale a pena!




18 de out. de 2012

Tangina diz..



Leiloar a virgindade é como chupar picolé, sempre acaba no pau...

Laica verjen




Quanto vale uma pessoa? Não digo a vida que é coisa ruim de valorizar, por em moedas mas, quanto vale esse quinhão de carne que somos? Todos têm efetivamente um preço (seja ele material ou não-material)?

De certo que cada um faz de si (e por tabela de sua vida) o que bem entende desde que tal não jogue lixo no meu quintal e de que se tenha (coisa rara) plena ciência das escolhas que se está a fazer e das conseqüências das mesmas sobre si e os demais; sim pois creio não que nossas escolhas afetem solamente a nós mesmos, respingam direta ou indiretamente nos demais.

Enfim, a moça que está a vender seu hímen, não me choca, não me desgosta (moralmente fique claro), não dá asco menos ainda desejos sermonais. Nada disso. Longe disso. Se ela crê mesmo que seu hímen vale um leilão e que haverão (claro!) machos/fêmeas dispostas a tê-lo, porque não lucrar com isso? Ainda que em pleno século vinte e tantos sei lá quantos, algo assim ainda atraia o desejo cego de tanto machos sedentos de poder bater no peito e clamar ‘Fui o primeiro!’.

Incrível como ainda estamos tão presos a jugos machistas e valores patriarcais ainda que, parece, grande parte das mulheres diz adeus a seus hímens ainda na pré-adolescência. Talvez seja esse o quitute raro, uma que não descabaçou ainda ‘adulta’ e que está com tenras carnes para serem desfrutadas por machos de poder aquisitivo alto e que depois de um iate, mansões, jatos e afins, vêem nela o (a)objeto sumo de consumo, poder comprar alguém oficialmente (extra oficialmente já se faz).

Imagino se as feministas não devem, em parte, estar torcendo as fuças por essa degradação sexual da fêmea, mercantilização da mulher enquanto outras, oxalá, devem bradar o oposto sob a efígie da liberdade de se dispor do corpo como bem entender, quem sabe?
Mas isso não me incomoda mais do que o coitado do rapaz russo que também pôs a leilão sua primeira vez e cujos lances, até o momento, mal arranham uma pequena porcentagem dos oferecidos à sua contraparte. Porque ele vale menos que ela? De consolo, a grande maioria dos lances para ele também provem de homens mas dispostos a pagar muito, mas muito menos para ‘deflorar’ o rapaz.

Obviamente que a virgindade feminina é algo herdado de tempos imemoriais e tão enraizado que talvez nunca deixemos de encarar como um premio ao invés de condição. A mulher que não guarda seu sexo para o homem de sua vida não é digna, pura ou socialmente aceita e ainda que se pregue por aí que hoje isso deixou de ser tabu, duvido que entre rodas mais íntimas não se julgue aquela que a perdeu como menos do que a que se guarda para a noite mais importante de sua vida.

A prerrogativa do macho, de ser o desbravador, demarcar território, mais fácil talvez mijar na vagina para mostrar que é dele, talvez? Já para o homem, como não se pode comprovar fisicamente que ele nunca fez sexo, como garantir que se é o primeiro? Há que adicionar a isso o fato de que não se espera realmente que um homem em idade ejaculativa seja ainda zero quilometro, espera-se que cumpra sua função de macho metendo tanto quanto lhe for possível. Mesmo que ele resolva dar o rabo, como ter certeza de que se é o primeiro a lhe arrancar algumas pregas?

Assim, o russo não passa de um michê enquanto a moça é um manjar raro a ser degustado e disputado lance a lance. Ver alguém leiloar a si não é lá coisa agradável e não digo isso contra o sacrossanto direito de cada um de fazer o que lhe der na telha com seu próprio corpo mas, não é deprimente e mesmo um retrocesso aos mercados de pessoas ver gente comprando gente? Tudo bem que uns podem dizer que isso se faz diariamente em diferentes níveis e formas que são plenamente aceitos pela sociedade mas, ao menos a mim me parece escabroso tratar o sexo como simples mercadoria, base de troca.

No fundo, desculpe mas ela não passa de mácula no nome das putas que trabalham tanto pelo e para o sexo só para vir uma dessas e oferecer inocência quando na verdade não a tem em absoluto para vender.

16 de out. de 2012

fome


De principio, luz, jogada sobre um diamante bruto, cuspindo do outro lado um caleidoscópio disléxico, cego, incerto, efeito especial dissonante, retro, vintage mas que a luz foi lapidando aos poucos, nos dois, no amor que foi arestando a gema grossa.

No frigir dos anos, o que era aresta perfeita, encaixe imperceptível, simetria tigresa na floresta cinza, foi além do bom gosto vigente em termos de formas preciosas, tornou-se preciosismo, rococó e de tão doce, perdeu gosto, resvalou no azedo, um pé no amargo, lembrou dos dias jovens de sol e ressentiu-se de não ser a não ser nuvens nos olhos feito buracos negros no céu.

Fogo cruzado, lado escuro da lua, caminho de Júpiter (sem monólito) e exposto na luz, na brisa metálica que arejava agora o antes cálido ambiente, foi destoando do que sobrava de inicio, das juras flecheiras, das promessas brejeiras, dos tanques cheios de perfume etéreo, das figuras de linguagem que se grudaram ao amor.

Tentando salvar, adicionaram vários condimentos apenas deixando o todo com gosto de partes, inconclusivo, indecifrável e por isso intragável em sua globalização demente. Erraram a mão feio, feio feito belo pelos olhos deles que já não viam beleza dentro, só fora.

Passaram assim nas fases com louvor, atingiram a silenciosa, as acusações, raivas, rancores e afins rastejando pelo chão lhes mordiscando os pés como filhotes famintos, iam levando assim, novela, novena, procissão em desgraça, via crucis sem cruz no final, eram dois lares em um e provaram mesmo aquela lei física que impede dois corpos de ocuparem o mesmo espaço ao mesmo tempo, quando aconteceu da ultima vez, era assunto de foto amarela do tempo.

Então, um simplesmente não suportou mais o fardo amargo, resolveu resolver a seu jeito se o outro não sabia como por de novo em cada letra da palavra morta o sentido original da coisa. Fez a toca/teia, velas, comida esmerada, bebida gelada, no outro surpresa e um deja-vu quase lhe roubou o momento crente que ficou de estar no lugar errado.

Comeram, beberam, falaram pouco, medo de espantar as quatro letras que começavam de novo a se dar as mãos, iam enfrentar os sentimentos rastejantes da casa, era um pressagio. Então, a visão dele turvou, parafina nos olhos, embaçados, onde? Como? Quem? Quando? O outro lhe amparava a cabeça, olhar de entendo, vai passar logo, descanse, não se apoquente.

Lagrima fina escorreu do olho esquerdo, não quatro mas cinco letras que navegavam nela o outro sentiu mas fez pouco pois ia acabar em momentos, que não se apegasse a sentimentos ruins na hora de ir, assim não era bom, que fosse em paz. E o outro foi, num espasmo, travou o pescoço e depois virou a cabeça num esgar amparado pelos lábios do amante em sua testa.

Fim do ato, ele gentilmente arrastou o peso até a cozinha, largou-o no meio do recinto e sentou-se um momento para descansar, recuperar o fôlego perdido. Olhou para o corpo no chão, uma sensação quente se apossou dele, um sentimento há muito saudoso, ergueu-se e começou e então a retalhar aquilo que um dia chamou de amor.

Já aos pedaços, separou a parte que lhe interessava e jogou os restos fora em sacos plásticos escuros, vários, um dentro de outro, para que os cães não lhe sentissem o cheiro e viessem profanar os pedaços de seu amor. Depois, limpou a sujeira feita com esmero, renovado, cirúrgico e preparou-se para cozinhar, apressado, ainda queria aproveitar o clima das velas na sala de jantar, celebrar o nazareno que ia nascer.

Pegou o cerne do amor do amante, o fatiou com carinho e cuidado, temperou com ervas finíssimas e temperos exóticos, sem excessos para que o gosto do outro não sumisse por todo afinal, era o principal sabor do prato, assou e flambou ao final e serviu acompanhado de legumes ao bafo e um molho agridoce preparado com suas lagrimas.

Depois e satisfeito, adormeceu sobre a mesa de jantar, jogando ao chão taças, pratos, talheres e um vaso com apena duas flores que adornava o centro da mesa. Teve pesadelos horríveis, talvez houvesse exagerado nos temperos? No vinho? No sal? Acordou empapado vários vezes noite afora nunca seguro de estar realmente ali ou no sonho dentro do sonho dentro do sonho, atado no eterno despertar feito maldição de Morfeu.

Um raiozinho de sol lhe tocou o olho direito leve, piscou incomodado e virou-se para o outro lado mas o sol, matreiro, pulou seu ombro, refletiu-se nos cristais guardados no armário ao lado da mesa de jantar e lhe bateram no olho esquerdo, vencido, acordou, mirou o teto, o chão onde reinava uma bagunça agradável e, quando se espreguiçava, sentiu a barriga cheia, desceu as mãos até o ventre e estava protuberante, alto mesmo, sentou-se de um pulo e apalpou a barriga, não quis olhar, apenas sentir.

Levantou-se e andou cambaleante até o quarto, sentia-se pesado, arcado, quando chegou lá, mirou-se no espelho da porta do guarda-roupa e viu a sua frente uma pança digna de gestação de meses, já lá adiante. Sorriu e desatou a chorar feito criança em festa de aniversário onde só servem doces.

No meio do choro, uma dor lancinante lhe fez cair de quatro no chão, urrou, se lhe partiam as entranhas, ia morrer, algo ia lhe arrebentar ao meio para sair, ria e berrava de dor ao mesmo tempo e então, foi lhe subindo garganta acima algo, ia se agarrando a seu esôfago com vontade, e a ânsia de vomito veio seca, forte, violenta e de quatro pariu pela boca uma gema bruta envolta em um plasma que era sangue e restos de comida.

Caiu pra trás, exausto, moído, desolado e ficou ali mirando a pedra preciosa recém-nascida, sua filha, seu rebento. Chorou de felicidade ainda que os soluços lhe tirassem sangue à boca, valera o esforço, era um coisa única e bela, singular para lhe dar plural. E então a gema passou a torcer-se, chiar alto como se um apito quisesse vir ao mundo de dentro dela e ele percebeu que foi se trincando liberando aos poucos pequenos feixes de luz que iam aumentando conforme a pedra se partia.

Quando ela não pode mais oferecer resistência alguma, rompeu-se num silvo triste e trincado enchendo o quarto de luz alva e cegante que lhe fez cobrir os olhos. Quando percebeu, através das pálpebras, que o quarto estava de volta à iluminação normal foi, aos poucos, abrindo os olhos. Não havia mais pedra, nem nada, nem espelho, nem sangue, nem choro, nem qualquer coisa mais, ao menos por um átimo de tempo.

E então, vislumbrou a sua frente a figura do amor morto renascido, renovado, fetal começando a se desdobrar, correu para ele, limpou-o com a língua removendo a placenta que lhe envolvia em luz e depois, acolheu-o entre os braços esperando que abrisse os olhos, respirasse, lhe inspirasse, lhe reconhecesse, lhe vivesse, lhe entendesse, lhe amasse, lhe fosse tudo aquilo que nada era.

Do nada, o recém-nascido abriu os olhos, fechou-os de novo ressentido da luz, respirou fundo e apertou forte a mão do outro que lhe segurava, voltou a abrir os olhos e depois de sondar seu arredor, como se certificando de onde estava, olhou para o pai-amante primeiro acuado mas depois, dado o olhar às lembranças trabalho e razão, abriu a boca e num sentimento puro, inocente, sincero e divino soltou:

‘Eu te amo’.

12 de out. de 2012

quo vadis



E=mc² ou os fatos são como são avessos à passagem do tempo, normas ortografopragmáticas, ortopédicas, modismos, midialismos ou telefonemas de Istambul à madrugada, entendam como quiserem.

Vim, vi e ainda estou vencendo, há que se lembrar que sempre disse aqui que o prazer domina, nunca o dever afinal, aqui não há PJ ou CLT, longe de mim esse cálice que já me vai na boca por vias forçosas do cotidiano que se não me é todo doce, amargo nem antes posto que lhe vejo sempre a face iluminada invés da imersa em brumas.

E para celebrar o rompimento desse cabaço de meses, porque não dar um presente aos queridos daqui que sinto sim saudades e até lia sem, no entanto, comentar pois fazer por fazer melhor a inação, não é?

Enfim, como sabem, aí em cima está o rebento escandaloso donde estão dois filhos meus. Assim, darei de presente o mimo acima bastando para isso comentar aqui, pessoas.

Tens uma semana para comentar à vontade, até Sexta 19/10 quando sortearei entre os comentaristas o livrinho querido.

Entonces, que acham? Que tal um libreto 'na faixa'? Gostaram? E esperem que volto voltando, assim, i'm dessas.....

ps-visitem o site da editora e curtam ela no FB!

6 de jun. de 2012

crônicas do outro lado marciano

2012 deve ser mesmo o fim dos tempos porque só é gente boa deixando a vida aqui mais bosta ao invés de menos besta.


Li muitos de seus livros e 'Fahrenheit 451' deve ser um dos melhores livros já escritos. pena que o cinema pouco lhe dá ou deu atenção. Morre um cara desses aí embaixo e no FB nada...se tivesse morrido alguém na Fazenda estaria bombando..

sifudê.... 

will miss u man...




29 de mai. de 2012

esvaindo

Saltei de lado e peguei tudo que você podia me dar sonhando com você e tudo que você prometeu me dar, correndo atrás do sol para ser aquele que, na manhã, não sabe o que fazer mas é aquele que, aos poucos, vai com você se esvaindo pelas beiradas gulosas da vida.

Sem remorsos, atamos esse amor par em ser ímpar em nossos corpos lisos porém ásperos dos outros que nos endereçam pedras, sem medo, elas não caem em nosso quintal cujo teto é de vidro de amor reflexivo e refletor, as joga de volta aos remetentes com uma nota de 'mudou-se de sua ignorância para um amor que lhe falta em peso'.

Nossas mãos antes separadas, se conheceram por engano (nada, premeditaram) numa linha de metrô, enterradas, enterraram-se e suando umas nas outras cravejaram os corações de brilhantes e outros brocados, sussurrando entre gotículas de medo um 'eu te amo' tímido mas de alvo certeiro, mira telescópica, fechada, sem erro.

Nas ruas, fomos o cheiro do novo e as pessoas passando como folhas ao vento, o fim do arco-íris ali e só nós dois víamos. Lavamos os rostos em campos verdes e nos apontamos na direção do vento bom, levando ao choro por temer intuir derreter a calota polar da incerteza que mina os anos verdes dos amores recém nascidos. Mas nos apontamos para as estrelas, para as linhas mais altas, para a estratosferamor, ionosferomônio, de graça, quem pagava desconhecei que não havia preço ao amor mas nossos bolos vazios de prata e cheios de sentimento garantiram que um poderia gastar no outro o que quisesse.

Paramos em frente umas vitrines, susto, que magia vampiresca seria essa? Um reflexo ao invés de dois? Mas era o momento de reconhecer o leite e o mel e jogar fora o fel pois já éramos assim um e o outro lado do espelho, aquele já sabia a verdade que nós ainda guardávamos à portas meio que fechadas e que destrancamos no olhar, com as chaves da alma jogando em seguida nos baús das memórias as chaves junto com toda aquela mazela de sentimentos rasos e impertinentes, suplantados pelo amor que vingava.

Ao redor, as pessoas morriam sem um som, ou viviam aos berros para atestar que o faziam sendo apenas ouvinte o mundo em asfalto ao redor e as árvores que nunca avisavam que o amor estava logo na esquina ou, se o faziam até pelarem sua folhas, eram tidas como loucas. Filme B essa vida deles ou seria nossa que agora ia ao vivo e em cores e não em reprises? Bilhões ao redor do mundo e no fim apenas dois é que realmente contavam e de forma progressiva enquanto os demais o faziam de forma regressiva.

E cada gosto de nossas bocas mostra quão doce tudo pode ser deixando os gostos que passaram um gosto meio amargo de sacarina, como se tudo que veio antes fossem versões baratas do amor, imitações de segunda, show substituto, uma cover mal feita. Não seria possível desligar ou reprocessar essa coisa toda que faz do passado uma imitação triste agitando mãos em uma pantomima ridícula e que me faz corar pelos erros que me conduziram até este acerto de você.

Eu te amo, amo-te eu e você a mim, as letras não tem alívio algum se não formam seu nome e se esse nome não sai de minha garganta aos brados, saltando as veias no pescoço, sente aqui esse pulso que lateja até embaixo onde entumesce e cresce por e apenas por você. É isso, há que se amar e se é a regra eu serei e exceção pois amar é demais de pouco para nomear o que és para mim e o que somos um para o outro, dentro do outro, com outro.

Vem, pega de novo minha mão, vamos por ali onde aquele rio de carros parados orquestram suas buzinas para nossa união, caminhemos por essa navenida ornamentada de postes que se curvam ao passarmos tamanha é a reverência que merece nosso amor. Os semáforos são nossos padrinhos, as esquinas as madrinhas, a praça o reverendo e o céu por testemunha ungida por nós desde que nascemos um para o outro meu amar.

Os faróis dos carros iluminam a catedrenalina, corremos soltos por ela e dizemos sim um ao outro sem parar, sem fim, sem nexo, sem nada. E quando cansados da festa, dormiremos um sobre o sexo do outro, aconchegados, atordoados, satisfeitos, feitos, repletos, completos.

E quando o sol voltar para dar corda ao mundo mais vez, antes que a noite roube o ultimo tic dessa tac, nos encontrar mais amor do que nunca, mais nossos do que nunca e com a boca cheia de um eu te amo tão delicioso que fará vontade em todo mundo que acha que já provou do amor um dia...


21 de mai. de 2012

paquiderme







Da cidade escorria um suor seco e frio, o sol burlava as nuvens do fim de dia e sambava seus raios através desses buracos no céu. Irritadas, as nuvens corriam para preencher essas brechas só para constatar que logo mais a frente outras tinham sido abertas num gato/cão celeste despercebido pelo mundo cá embaixo.

Salvo eu aqui, obserbando tudo isso e apostando onde o sol malandro ia forçar a entrada, abrir as pernas das nuvens vestidas de hábito monástico jogando um pouco de luz sobre a cidade louca. Parecia que em cada um desses buracos de sol as pessoas iam, a qualquer momento, sair com mãos ao alto rogando ao astro que lhes dissesse o caminho a seguir, jogasse para longe as nuvens de suas vidas nubladas e lhes desse um alento que lhe era muito alem do alcance enquanto corpo celeste ocupado demais com danças astrais para dar conta de desejos terrenos e, de certa forma, ciumento de ter sido roubado de seu heliocentrismo, melhor deixar essa raça ao seu destino, deveria pensar.

Apoiava o queixo sobre as mãos cruzadas no parapeito da janela, sorvendo essa brincadeira com gosto, já estava ali há algum tempo, aguardando que um daqueles buracos-sol caísse sobre mim e, feito interrogatório, me forçasse a confessar os crimes indizíveis que carregava no peito até mesmo aqueles que não cometi ou tencionei cometer.

Podia ver outras janelas ali da minha, outros pecados, outros crimes, outros sexos, outros amores, como eu, mantinham seus segredos entre paredes e até mesmo dentro delas haveria segredos dentro de segredos, lugares secretos, anseios não revelados, coisas não ditas, entaladas e que acabavam por emprestar às paredes um gosto amargo e cheiro fétido conforme o acumulo de dissabores não compartilhados ia se tornando uma massa disforme de fel e rancor.

As paredes têm ouvidos, e nariz, e boca, e braços e pernas, e coração e sangue, esquecemos disso e pomos por terra esse universo que deveria funcionar como porto tranquilo e seguro ficando num eterno cá e lá, melhor, nenhum dos dois vide que o mundo lá fora quer devorar até o tutano e, aqui dentro, nem devoramos nem o oposto restando uma letargia muda e ácida que vai corroendo todos os elefantes que pomos dentro de casa.

Um elefante, sim, incomoda muita gente. Dois então, muito mais. Que dizer de mim que tinha essa manada a dividir espaço comigo? Olhava a colcha de retalhos solar se espalhando, pondo para correr as nuvens bestas e então, caiu em mim uma dessas rodelas de luz e ficou. Talvez com medo dos meus elefantes, não vieram nuvens tapar o buraco, parecia que minha janela era o palco da cidade, talvez todos já tivessem, quando vitimados pela luz esclarecedora, purgado seus erros e coubesse a mim cair, em grande estilo, o pano.

Pois bem, armado de luz, ergui o queixo de sobre minhas mãos, olhei para trás mirando cada elefante nos olhos e disse que o safári iria começar, era cada um por si e o sol era para quase todos. Comecei lembrando de quando nos conhecemos, aquela pista cheia de luz, som e fúria e nós ali dançando ao redor daquele fogo fátuo, sedentos de nós mesmos. Foi bom, consumamos tudo ali mesmo num canto mais escuro e minha língua foi seu sexo e seu sexo foi meu orgasmo e nosso gozo foi estridente e nossas bocas sem pudor e sem fim salivaram uma na outra todos os desejos e sonhos que nossas veias tinham guardado.

Os corações correram garganta acima e se bateram de frente Tum Tum Tum Tum Tum Tum Tum uníssono e num coro que ia acima da musica na pista. Bailaram as aortas, quase enfartam os miocárdios mas, segura, voltam eles para suas cavidades certos de que são um do outro mas a mente prega peças e desce a chibata no músculo cardíaco eriçado dizendo que está a mandar sangue demais para a cabeça de baixo deixando a de cima desprovida de poder colocar ordem nesse puteiro.

Corações aplacados e membros meia-bomba, melados de sexo, passamos ao que deveria ter sido o inicio e trocamos amenidades já que a intimidade fora sequestrada um do outro, sem resgate. Do clube ao café mais próximo, brecamos tudo que fosse mais fast no café da manhã e entre pães, doces e cafés, trocamos recheios de sonhos, coberturas de desejos, caramelizamos nosso amor, pão de Ló apaixonado, pão/pau - queijo/beijo.

Satisfeitos nos dois apetites, nos despedimos e trocamos números de telefone velados com a promessa de ligar e a incerteza de tal promessa fazer-se ato. Fomos embora, aguardar os minutos fazerem as horas, as horas dias e os dias nossa fome de ter-nos de novo mais do que a comida podia suprir. Em casa, mirava o telefone, os dedos tamborilando, dementes por se fazerem úteis e discar mas punha os danados a ferros e lhes dizia que você também tinha dedos e assim poderia fazer o mesmo esforço.

Nesse balé de tolos ficamos por algum tempo, aposta estúpida, sem ganhadores, premio que se acumulava agitando as mãos para ser resgatado e nós dois fazendo pouco dele, como que a deixar para outros que precisassem mais, como se nós mesmos não o desejássemos mais que o ar a nossa volta. E veio o toque do aparelho, agora já não sei quem correu para resgatar o premio, só sei que nos falamos e resolvemos que o melhor a fazer era dividi-lo uma vez que ambos o desejavam na carne.

Fizemos assim e fomos gastando essa loteria acumulada a dois, cegos do amor que nos fora sorteado, incautos, investidores de primeira viagem. De começo, achamos que aplicáramos nosso amor em investimentos cujo rendimento seria liquido e certo, nossa felicidade era por conta, tínhamos a nós e isso era uma linha de credito sem fim, inesgotável e cada vez que parecia a nós que os rendimentos não eram assim lá o que esperávamos, bastava fazer um empréstimo pessoal de nós mesmos, com juros de amante para amante e prazo a perder de vista para vermos renovado o credito amoroso que julgávamos ter.

Mas, os dias foram caindo da folhinha como folhas outonais e, quando a ultima caiu e, pelada, a árvore não tinha mais sombra ou frutos para ofertar, tentamos mais credito no banco afetivo para adubar a árvore seca e, para nossa surpresa, tivemos o investimento negado. Pasmos, ficamos sem ação, vasculhamos por economias porém, mais cigarras que formigas, estávamos com os bolsos só nos forros e a chuva se armando sob nossas cabeças.

Esgotados os meios, passamos aos fins e como cada um de nós tinha sua parcela de culpa no malfadado empreendimento só que, ao invés de assumirmos nossas parcelas de infelicidade e péssima administração, preferimos por os dedos em riste um nas fuças do outro negando culpa conjunta, pondo a conta apenas na nota de um só. Tentando salvar algo dessa quebra geral, saqueamos tudo, não deixamos nada ao amor que, na verdade, ainda tinha seu peso em ouro e podia ser usado como moeda de troca para reconstruirmos.

Finalmente, sem ter mais o que raspar do fundo do cofre, raspamos nós mesmos na carne até sangrar e quando vimos a cor dos ossos e os dentes agressivos se abrindo sobre eles, julgamos melhor assumir a falência, cerrar as portas e buscar novos sócios, outros empreendimentos. Nesse litígio, não havia muito que repartir, havia sobrado apenas culpas, remorsos e acusações suspensas no ar, frases presas no vácuo, sentimentos soltos no tempo e um vazio imenso que de tão grande não era mais vazio, tinha consistência e podia ser tocado.

Fomos, simples assim. E os dias voltaram a contar no calendário, lentamente, um a um e nossas vidas foram se remendando da melhor forma possível e nossos bolsos foram se enchendo aos poucos, com trocados de inicio e, algumas vezes, com notas e até quantias vultosas mas que paravam em nossos bolsos assim como o ar para nos pulmões.

E então, dado o tempo certo, nossos nomes já não estavam mais sujos, caducaram nossos débitos, podíamos amar de novo, as consultas aos órgãos de proteção ao credito afetivo davam como negativas e, numa dessas, nos redescobrimos com capital suficiente para amadurecer a ideia e ideal de termos nosso negocio próprio de forma definitiva, desprovidos e demovidos dos sonhos acelerados do inicio, das ilusões de destino e cientes de nossos medos e capacidades de entender um no outro o alimento do desejo comum, cheios agora de sonhos maduros, tangíveis em seu sonhar duo, retos e certeiros em nosso caminho de pouquíssimas curvas salvo as de nossos corpos não desconhecidos a nós e assim, sem grandes surpresas cartografadas mas emprestando às línguas um gosto conhecido mas retemperado com novo animo e sede de amar, viver e sermos.

Negocio fechado! No dia em que assinaríamos nosso contrato, selaríamos nosso compromisso de sermos o banco central um do outro, fiquei com a caneta na mão, esperando ver no outro lado da linha tracejada seu nome correr para o meu. Roubado por um destino traíra, saqueado por uma tragédia que de grega não tinha sequer o nome, assaltado por outros que levaram o cobre e, de quebra, você para não mais. Dos olhos, correram lagrimas lépidas, escoram face abaixo, deram voltas no pescoço, empoçaram na espádua, caíram para o braço e em torvelinhos correram sua extensão, lamberam-me os dedos e abraçaram a caneta até que, em pequeninas gotas, caíram sobre o espaço em branco onde deveria estar seu nome.

Foi então que chegaram esses elefantes, todos de uma vez, talvez já estivessem lá, disfarçados de mobília e não os tivesse notado, não sei. Começaram a abanar suas trombas para mim e me dizer coisas que só os elefantes dizem. Delicados, porém, transitavam pelo apartamento sem quebrar nada exceto meu coração e corpo e então, olhando pela janela, aguardei esses restos de sol para poder municiar-me e lhes por fim. Espera meio longa, às vezes faltava sol, às vezes os elefantes se escondiam tão bem que não era possível achá-los, às vezes eu me sentia o elefante.

Mas não hoje, era dia de acertar as contas e com a janela e a mim mesmo sob aquele circulo solar, fui executando um a um dos paquidermes, sem dó, seus protestos me eram surdos, tombaram todos e quando restou apenas um, este me olhava nos olhos, um olhar atemporal, a tromba inerte e a respiração mal um sopro. Nos olhamos por instantes sem contar, impassíveis, os últimos habitantes duelando naquela nesga de sol. E então, no fundo dos olhos mortos do bicho, vi o que precisava ver, senti, intui e, usando minha ultima bala de sol e já antevendo as nuvens que vinham a galope tapar minha artilharia, abracei o elefante e com ele me joguei nos raios do sol.

17 de mai. de 2012

escândalo

Frequentemente me perguntam cadê 'Maré Vazante'? Saiu? Não volta? Fugiu? Escafedeu-se? Foi abduzido?

Explico: nesse mundo cão de editoras/panelas e onde o que é hetero-normativo prevalece, pouco ou quase nada para nós gueis aparece mas, eis que uma Editora lá do Sul de nome mui apropriado 'Escândalo' me abriu suas portas, me acolheu.

Agora, sou parte de seu elenco de escritores e minha primeira participação é fazer parte da coletânea de contos gueis 'Homossilábicas II' (o volume I pode ser adquirido no site da Editora e eu cá recomendo).

Assim que tiver maiores detalhes sobre lançamento da coletânea e afins, digo aos amigos por aqui e pelo FB onde podem também conhecer a Editora que lá está. A todos que sempre me incentivaram e leram, aos que compraram meu livro (raridade agora porque...bem, mais pra frente conto mais) um mega obrigado e podem ter certeza de que de onde saiu esse ainda tem muito mais.

E nunca sem dizer um eu te amo a ele, meu Wans, que nunca deixou de acreditar em mim.

Love as always...

16 de mai. de 2012

15 de mai. de 2012

o vírus


Oremos ao grande irmão!

Estar aqui é mais que estar, digamos uma onipresença, menos onisciência. Estamos em cada ‘byte’ que navega pela rede, em nossos faces, em nossos blogs, nossos imeios, nunca inteiros.

Se estamos aqui é porque nos agrada, apetece e atrai a ideia de sermos vistos, observados, escrutinados e fazer o mesmo com nossos pares virtuais e antes nossa vida era mais fechada e reserva, fazíamos filtros, tínhamos defesas e o nome amigo era algo que os dedos de uma única mão mal sabiam contar.

Mas, como peixes cyber, caímos em nossas redes com sede de números com mais de três dígitos, mostrando que somos populares e conhecemos muita gente, conectados, ligados mas não interligados. O que deveria servir para aproximar parece afastar, por longe e criar condições e regras que nem mesmo sabemos como lidar ou compreender, uma nova etiqueta que foge de nosso controle.

Não cuspo na placa mãe que me pariu, estou aqui, não estou? Mas quanto de nós está aí navegando para cima e para baixo e sem que efetivamente saibamos quem, como, onde, o quê, quando, para quê? Quanto de nossas vidas não está livre para ser degustado se é que já não o foi? Quantos de nós não estão, nesse momento, sendo prejudicados de alguma forma por informações que nós mesmos colocamos aqui? É livre mas precisamos usar com certo cuidado o que não sabemos fazer, me parece. Achamos que gozamos de um (falso) anonimato e, assim, de proteção mas estamos tão nus quanto no momento em que viemos ao mundo, aqui, nascemos de novo mas vestidos de senhas, usuários, frases, log-in, avatares, fotos, nomes de fantasia sendo que no fundo estamos com o peito aberto, exposto, todos vendo.

Não digo censura, longe disso mas, o quanto de você, você quer mesmo ver exposto aqui? Mordo a língua pois escrevo aqui e isso me expõe, diz o que penso e quem sou, guardadas algumas proporções. Somos aqui todos narcisos, fascinados pelo espelho de terabytes, LCD e plasma, processador de última geração. Se uma global que, sei lá, clicou em um link que não devia ou teve sua privacidade virtual quebrada, que dirá de nós aqui, mortais?
Postamos fotos, informações sobre nós mesmos, um peido, uma dor, um choro, um riso, raiva, medo e será que ao nos conhecermos assim na carne e nos ossos os curtir e seguir encaixarão no que se pode tocar, ouvir, falar ao vivo e com todas as cores, sem 3D em óculos?

Todos temos a sede de aceitação, de sermos vistos, entendidos, admirados e mesmo criticados porque a critica é sim uma forma quase pura de elogio, clichê, não menos verdade mas às vezes acho que passamos da conta, um pouco. Parece que vivemos em função disso aqui e soa contraditório pois eu mesmo, disse já, ando aqui, vivo aqui, sumo vez ou outra mas eis-me aqui, entre vós, comungando desse éter’nano’mente.

Gosto, não vou sair mas, assim no fundinho, será que não éramos mais felizes e espertos quando íamos a saraus e frequentávamos salões, discutíamos? Hoje fica meio um gosto de tudo um bocadinho e tudo meia boca.


Sei lá.


14 de mai. de 2012


Não desejo mal a ninguém no melhor estilo aqui se faz e se paga (muitas vezes, em dobro e a prazo).

Desejo mesmo que o filho de Leonardo saia dessa porque não tenho como sequer conceber o que seria ver um filho em tal situação, algo dilacerante. Me enojam porém o picadeiro ao redor e, fel destilando, quem sabe se a própria família não está a tirar algum proveito marqueteiro disso tudo, oxalá não! Melhor pensar que são meras vítimas tabloidianas.

Pasmei quando a TV exibiu sem modéstia o moço estirado na estrada, assim, um naco de carne. Wans e eu ficamos meio chocados, sem falso moralismo mas, não é algo que você deseja ver no noticiário se bem que esses, do nome, guardam é apenas isso mesmo pois só vem desgraça, nunca noticia como se uma fosse a outra e não o oposto.

De novo, não desejo o mal do moço, que se recupere mas, enquanto batedores garantiam que ele chegaria ao hospital em tempo recorde – não sabia que ele era chefe de estado ou afins – no Hospital da Clínicas, aqui em SP mesmo, Eliana Zagui vive, sim vive, há 36 anos, vitimada aos 2 pela paralisia infantil e imóvel do pescoço para baixo desde então.

Respira por aparelhos e da família tem mesmo só o nome porque presença física nem no aniversário ou dias santos e isso há anos. Vive ali, presa aos aparelhos e tendo como família os enfermeiros, doutores e um amigo de doença com quem compartilha o quarto. E assim, ela se formou no ensino médio, aprendeu inglês, italiano, fez curso de história da arte e tornou-se pintora. Tudo isso usando a boca para escrever, pintar e digitar; lançou um livro: ‘Pulmão de aço

Ninguém a entrevistou, que eu saiba, não saiu nos noticiosos, o Datena não pediu corrente de orações, pop-padres não a visitaram, sem batedores, sem 15 ou menos minutos, sem camarim, sem gente torcendo, sem nada, sem ninguém. Ela está lá, mais do que nós estamos aqui e muito mais do que mereceríamos estar.

Enquanto isso, na TV, temos infindáveis minutos do filho de Leonardo que, em comoção nacional, mexeu a perna.

Triste.

8 de mai. de 2012

freudeu...

20 anos.

Muito tempo ou pouco, questão de referencial, melhor, existencial. Antes primordial entender o que duas décadas fazem ou tentaram fazer ou que eu tentei fazer na mesma e com a mesma medida de tempo.

E se ainda sou o mesmo posto que não mudamos, apenas melhoramos alguns aspectos e cagamos outros tantos, dito isso, navegar em mim é preciso, viver nem tanto que está no automático.

Assim, para desfazer alguns novelos acumulados nestes anos e entendendo e fazendo entender que há amigos e há marido e são mui caros, afetos e queridos mas, ao mesmo tempo, incapazes de entender ou ainda auxiliar com fardos que são demais meus para que se faça um compartilhamento efetivo e juntos busquemos a solução ou paliativo, fui buscar auxílio de quem (penso) sabe o que faz (ou deixa de fazer).

20 anos.

Então eu era saindo da adolescência e o peso de ser gay caía sobre mim como despejado pelo Enola Gay (trocadalho imperdível), fui lá com a doutora e fiz aí pouco mais de um ano de bate papo com ela, ajudou, sedimentou, concretizou, iluminou e parei fosse porque saiu pela culatra progenitora que esperando ver a mim gostando de fêmeas, viu-me constatar que queria mesmo aos meninos.

20 anos.

Voaram e se há a lei que determina que o acaso não é ocaso, acreditemos nela, fez-se momento, tempo, ocasião e eu ladrão de mim resolvi devolver o que me roubei e voltar a consultar a boa doutora.

Um empurrão, para ir um pouco mais além, só isso, nada mais, todos precisam para viver de:

1. Mão amiga

2. Copo d'água

3. Boquete

Cousas inegáveis até aos mais reles dos mortais. Voltei ao sofá (divã é coisa de teatro) e foi bom, leve, lindo, solto. Acabei a primeira sentindo que deveria ter voltado a mais tempo mas que não perdi esse, o medi e tomei decisão no minuto certo.

É o momento, sinto, há o que ser feito e vou fazer e recomendo a quem acha que precisa que faça o mesmo. Não é coisa de louco ou de gente problemática coisa que, concordemos, todos somos sem exceção - apenas em medidas diferentes - mas coisa de você com essa pessoa que pode lhe passar por estranha, você mesmo.

20 anos.

Eu sei quem eu sou depois de tanto tempo, agora é descobrir não quem serei nos próximos vinte, isso eu meio que já sei, só preciso uma ajudinha para encontra o caminho.

7 de mai. de 2012

de virada

Fomos e foi maravilhoso!






É um deleite ver os efetivos donos da cidade em suas ruas, sem medo, usufruindo e aproveitando de suas ruas, seus prédios, seus bares, seus ares, as pessoas.


Quem dera fosse sempre assim; creio mesmo que ainda mais legal que as atrações seja poder zanzar pela cidade com os amigos parando nos bares, jogando papo fora pelo asfalto, nas esquinas, nos elevados, nas praças.


Como um 'walking dead' do bem, se isso é possível. Então, a cidade mostra uma face menos dura e cinza, menos 'nem aí' pra gente, ela se importa sim! E nós a amamos e odiamos na medida certa, nem mais, nem menos.


Perfeito? Não mas, ainda assim, não menos excelente e se pode melhorar dou meu pitaco:


1. Kassab, não é porque está de saída que precisa esculachar algumas coisas né? Muita gente reclamando que som/imagem estavam ruins


2. Metrô 24H sim! Melhor se fosse de graça apenas nesses dias, custa? A R$ 3,00 e por um serviço de merda, acho que não....


3. Chefs de cozinha são bons em seus redutos gastronômicos, vai fazer pro povo faz direito e não a zona que estava no Sábado e no Domingo e a preços que de populares nem o cheiro. Os pastéis do Arouche estavam 'n' vezes melhores e menos cheios. E tem mais, povo quer é comida, não conceito!


4. Banheiro químico = sucursal do inferno mas tinha bastante; eu ao menos vi pouco gente se aliviando nas ruas


5. Mãos ao alto! Bastante segurança, me senti tranquilo mas R$3,00 pra usar o WC? Cadê a polícia?


E o centro velho de SP é o melhor bairro do mundo, sim, mesmo com os cachimbinhos de crack, os nóias aqui e ali e aquele clima decadente, meio sujo (e que começa a sumir posto que estão mesmo dando uma geral na coisa, medo pois geral resvala no pasteurizar e centro sem esse ar decaído não é bem o centro mas, tá valendo).


Você precisa aprender a andar por ele e saborear as iguarias que ele oferece, ele não se abre assim do nada pra você, tem de conquistá-lo, seduzi-lo, ganhá-lo e, quando isso acontece, ele entra nos seu poros, nos seus genes, nunca mais sai, nem com reza brava ou creolina.


Centro velho de SP, eu te amo!!!!

3 de mai. de 2012

a luta, o medo e arrumar a casa

Li aqui que em 2011 houve um aumento significativo dos pedidos de asilo em outros países por homossexuais. De certa forma, está relacionado a este post ainda que os moços não tenham pedido asilo mas, até onde sei, simplesmente resolveram virar essa página e tentar em outro lugar reconstruir suas vidas.


Reitero aqui que não julgo essa postura, a entendo perfeitamente, como dizer que agiria diferente se fosse comigo e meu marido? Difícil dizer. Entendo também essas pessoas que, ante a possibilidade (sim, possibilidade pois hipótese é algo remoto e as agressões contra gueis são um fato, não algo hipotético) de se tornarem vítimas desses animais, preferem antes ir para outro país onde, como li na matéria, sejam tratados como seres humanos e não uma condição.


Porém, nesses países não há preconceito? Violência? Seria um mundo perfeito? Acho pouco provável mas a grande diferença deve ser que as leis aparentemente funcionam ao passo que aqui, capaz de o agredido ainda ser tachado de culpado. Também acho que não se trata, como disse em outro post, apenas da violência direcionada aos gueis ou qualquer outro grupo, acho que o problema é pior, é a ultra-violência, gratuita, sem culpa, sem medo, por prazer. Não há limites e nossas leis são tão inócuas que seria possível limparmos a bunda com elas e ainda ficarmos com os traseiros sujos!


O quadro porém fica mais grotesco quando chega a nós gueis e outros alvos preferenciais desses abusos pois, se a lei já é falha como um todo, quando chega a nós, mal podemos clamar pelas rebarbas ou restos afinal, quem somos nós? Nada, ninguém, apenas um bando de bichas. Não sei realmente o que faria se acontecesse uma agressão dessas conosco mas, assim, de momento, creio que minha atitude seria jamais permitir que esses criminosos maculassem ou destruíssem a vida que construí aqui, que me tirassem o prazer e alegria de viver num país tão meu quanto deles.


Creio que lutaria com unhas e dentes para que pagassem pelo crime enquanto reerguesse minha vida. Não estou acusando os moços do outro post ou quaisquer outros que tenham feito o mesmo de fujões, longe disso, disse e repito, cada um sabe o peso que pode carregar e há que se dizer que eles não se calaram, muito o oposto, mostraram a cara, pagaram caro por isso e acharam os culpados (segundo eles mais graças a eles mesmos que às autoridades). Para mim, não resolve muito recomeçar em outro lugar mas sim tentar ao máximo arrumar este aqui que temos; se todos resolvêssemos ir embora, eles vencem, provam estarem certos, que não merecíamos mesmo estar aqui, vivendo e convivendo uns com os outros. Não, meus amigos intolerantes, somos da mesma carne, temos os mesmos direitos e eu não vou embora, você vai ter de aprender a me respeitar e à lei que deve(ria) fazer valer esse respeito na ausência do bom senso que deveria intui-lo naturalmente.


Podem dizer que é fácil falar assim sem conhecimento de causa (na pele) mas, quanto mais frágeis parecermos, quanto mais fugirmos, quanto mais nos acovardarmos, mais terreno cedemos aos que nos querem ver longe, lhes damos a vitória de mão beijada. Não quero isso para mim nem para meu marido, não quero também, como parece ter ocorrido com os moços, virar 'overnight' ativista pois aqui essa palavra tem um sentido muito vago; eles mesmos foram alçados a essa condição meio num turbilhão e, infelizmente, triste mesmo, essas entidades que 'lutam' pelos gueis sugaram deles os famigerados quinze minutos e depois quem se lembrava do sofrimento ou sede de justiça deles?


Creio que o caminho seja cada um de nós não fazer silêncio de cada violência que sofremos seja pela nossa orientação sexual, classe ou qualquer outro estereótipo social, e não é apenas a violência física mas, às vezes até pior, a psicológica, mental, velada. Quanto mais gritarmos pelos direitos que são nossos mais alto ficará o brado até que um dia alguém certamente há de nos ouvir.

2 de mai. de 2012

vai popozuda!


Acho graça esse povo jogando caminhões de pedra na Valesca Popozuda. Longe de mim questionar o ‘valor artístico’ da moça ou seus dotes como cantora ou enveredar pelos caminhos de como ela usa o corpo/imagem como comércio emprestando às mulheres imagem, creio eu, a maioria preferia ver não associado ao gênero.

Ela ao menos o faz conscientemente, propositadamente e não tem, até onde se sabe, grandes aspirações artísticas ou pretende revolucionar a cultura brasileira o que já não se pode dizer das campanhas das grandes cervejarias que retratam a mulher não como consumidora (raríssimas exceções) mas como objeto de desejo associado ao consumo do álcool naquela velha equação de que se consumirmos a cerveja ‘A’ ou ‘B’ seremos sexualmente desejáveis, atrairemos as fêmeas, além da associação entre curvas da garrafa, suor gelado, calor e as mesmas qualidades da mulher.

Obviamente que se a mulher é retratada assim nessas campanhas é por que existem as que fomentam esse tipo de caracterização e vice-versa mas, como disse acima, ao menos no caso das ‘Valescas’, elas parecem saber o que estão fazendo ainda que possamos torcer o nariz ante tanto mau gosto, vulgaridade e afins ao passo que, nas ditas campanhas a mulher é um subproduto ignorante, figurativo, apelativo, usado para emprestar ao produto o sexo que lhe carece. Acho que um exemplo bom disso e de como essa industria é machista, hetero-voltada (não digo homofóbica porque não me recordo de ter visto nenhuma campanha ofensiva aos gueis que consomem zilhões de litros de cerveja) é a campanha abaixo:


Voltando a Valesca fria (sem associar aos bovinos, por favor) o que acho graça é enquanto outros tantos ‘funks’ tratam a mulher de forma que fariam as profissionais do sexo mais vividas e experientes corarem e ninguém se importa de ouvir em altos decibéis, se Valesca faz um ‘funk’ onde as posições se invertem ela é massacrada? Quer dizer que a mulher pode ser a puta do ‘funk’ mas não fazer o ’funk da puta’? aposto que se fosse Bethania a cantar esses versos todos achariam poético, uma critica, um protesto mas, como é a Valesca então é de péssimo gosto, indecoroso, indecente e ela é a culpada? Dois pesos e duas medidas?

Hipócritas, sacripantas, imbecis de plantão, falso moralismo ridículo e datado, me dá nojo. Não vou consumir a musica dela mas acho injusto e  abusivo como se detonou a moça que, forçando um pouco a barra, não fez mais que dar o troco e dizer que a mulher pode sim querer alguém que lhe chupe o sexo e mamar seu macho gostoso e sem culpa mas será que isso (ainda) assusta o macho? A mulher voraz, com fome de sexo, ativa?

Não vou ouvir sua música, Valesca mas desde já, tens minha simpatia!

30 de abr. de 2012

everything will flow...



Engraçado e estranho como a vida ou o destino, se assim se prefere nomear as insondáveis circunstâncias que entrelaçam caminhos a revelia de nossa vontade e desejos, trabalham.

Mais estranho ainda é como a empatia de uma situação pode transpor limites temporais e nos dar uma olhadela num futuro possível com probabilidades e possibilidades que, de nós quem pode saber ao certo, viriam a ser. Por outro lado, essas mesmas situações podem nos dar um despertar, uma consciência do que é realmente importante e de como, por razões diversas e tão individuais quanto nossas personalidades, estamos diariamente a por fora tudo aquilo que realmente conta.

Se há regra mais certa é que nos olhos alheios, poeira é refresco e eu mesmo, vezes antes combativo nessas mesmas páginas que andavam abandonadas, acabei por voltar à minha área de conforto e esquecer de que a pedra que atinge meu vizinho, ainda que não direcionada a mim, faz ondas num lago tranqüilo (apenas sob a superfície) as quais acabam por me alcançar não importa quão longe se pareça estar do epicentro.

Há alguns dias, conhecemos uma das partes envolvidas num desses infames ataques a gueis. Creio que todos se recordem deles, lá pelo fim do ano passado, um casal foi brutalmente agredido na região da Paulista e um deles foi seriamente ferido, houve grande repercussão, entrevistas e todo aquele circo que não eles mas a mídia adora armar apenas para ser suplantado pelo próximo assunto mais escabroso e menos importante.

O casal em si teve sua vida revirada, seu norte perdido tanto pessoal como profissionalmente e pagaram o amargo preço da exposição e, com tamanha guinada, irão dentro de poucos dias, embora do país em busca de ares mais frescos, novos horizontes e oxalá um recomeço. De certa forma foi triste conhecer pessoa tão especial e ter usufruído de sua companhia tão pouco tempo posto que nos pareceu que, fossem outras as circunstâncias, ele e seu marido se tornariam parte de nosso grupo de amados amigos.

Esse gosto amargo do futuro já pretérito me incomoda porém, mais ainda me incomoda o fato de ver duas pessoas que tinham uma vida em comum, planos, sonhos, desejos, terem tudo isso arrancado de si não pela fatalidade que nos ronda feito cães de Agosto mas pela violência ignorante que atinge todos nós pouco importa orientação sexual, classe, etnia ou seja o que for; basta não ser igual, não estar de acordo ou passar ao outro esse impressão e ainda pior, nem isso que ainda poderia, num exercício forçado de lógica, estar aliado a crenças pessoais ou ‘ideológicas’ o que ainda não justificaria de forma alguma o fato mas, a gratuidade da coisa me assusta, faz-se porque se quis, porque ‘deu vontade’ e porque se tem certeza de que, via de regra, será o fato impune.

Esse moço nos disse que muitos lhe torceram o nariz acusando-o de fuga mas, quem de nós aqui longe do olho da tormenta, pode emitir tais julgamentos? Como saber se não agiríamos da mesma forma? Não desejaríamos ir para outro lugar, recomeçar, apagar tudo isso e tentar de novo? Não sei, poderia discorrer sobre um sem fim de hipóteses fosse isso conosco aqui mas é praticamente impossível dizer ao certo o que faríamos e utópico dizer a eles, com as peles ainda doídas do fato, que essa ou aquela atitude é errada e que deveriam levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Triste, abalou-me profundamente o fato e me fez pensar em como poucos graus nos separam e como fazemos esses poucos graus virarem anos-luz, como é precioso o tempo que temos uns com os outros seja pessoal ou virtualmente pois, sob todos os aspectos, hoje cá estamos e amanhã podemos estar aqui ou ali ou mesmo nem estar.

Entrei nesse exílio aqui pela minha crença firme e já compartilhada de que isto não é oficio mas diversão e, por assim ser, deve ser feito quando desejado mas, ao mesmo tempo, esse contato com pessoas daqui e que mesmo distantes alimentavam, creio eu, uma amizade clara fez e faz falta pois ainda que tenhamos momentos ilha nenhum de nós, como já disse, nasceu para sê-la. Esse encontro com esse amigo novo e que já se vai e por razões tão infames ainda que, como disse, não lhe condene em absoluto, me fez colocar a mim e a meu amor em tal situação e isso me apavorou e fez rogar a todos os santos que nunca e jamais ocorra seja conosco ou com nossos amigos, talvez o impacto tenha sido de ver a desgraça que existe e que pode bater à nossa porta do nada, a qualquer instante.

Não posso prometer que mudarei nossa sociedade para que outros como eles nunca mais passem por situações como essa e não tenham que deixar tudo aquilo que construíram aqui para tentar reerguer suas vidas em outro lugar mas, talvez esteja mesmo na hora de nós aqui desse vilarejo começarmos a unir as forças de alguma forma e tentar, ao menos, fomentar alguma mudança ou acabaremos por ver cada vez mais pessoas, todas são próximas, não há desconhecidos pois a violência/ignorância não conhece amizade ou a falta dela, indo embora, perdendo sonhos ou pior, as vidas.

Nesse meio tempo, só posso desejar a eles toda a sorte do mundo, que encontrem uma nova vida para onde vão e que ela seja infinitamente melhor que a já conquistada por aqui. Que sejam felizes, que construam seus sonhos e alimentem novos, que tenham dias maravilhosos, amor e perseverança para quando dos dias mais nublados, que possam achar tudo aquilo que perderam aqui e que, se um dia voltarem, encontrem não apenas os amigos deixados aqui, sedentos de seu abraço e de revê-los mas, acima de tudo, possam encontrar um lugar onde viver suas vidas em paz, com amor, respeito, justiça e tranquilidade, sem medo.

May the road rise with you!

9 de mar. de 2012

tempo perdido


Este sou eu e eu me lembro de quase tudo.



Se a vida fosse uma URL, aonde ela o levaria? Somos apenas álbuns de fotos cujas fotos foram tiradas em filme e o tempo vai, aos poucos, comendo as cores pelas beiradas deixando tudo em escalas de cinza até que finalmente, um dia, haverá a ausência total de cor.

Nossas mentes são seletivas e talvez isso seja bom pois o acúmulo dos anos traria a insanidade aliado a quantidade absurda de lembranças ainda que ínfimas que carregaríamos dentro de nós. Mesmo assim, um aroma, um gosto, um lugar, uma frase, coisas assim meio sem sentido são plenamente capazes de nos remeter a tempos passados há muito e, por vezes, trazer aos olhos as lágrimas mostrando que esse acúmulo é histórico e só não é histérico porque, inconscientemente, armazenamos tudo que nos chega pelos cinco sentidos (e fora deles) guardando, como disse, selecionando, apenas o que realmente deve ser guardado para acesso imediato quando preciso.

Olhe para trás e tente imaginar quantos caminhos não foram trilhados, quantas escolhas foram feitas e quantas não foram, como poderia ser em cada momento que foi/não foi realizado, provado. Talvez o resultado final acabe sendo sempre o mesmo ainda que outras realidades resultantes de outros passos dados pudessem trazer a vida outros cenários.

Ver minha vida como resultado da de outros, as nossas vidas não são, na verdade, nossas, eram de nossos pais até o momento em que viemos ao mundo e então, numa simbiose nefasta, tiramos deles, que sorriem enquanto o fazemos, a vida que será nossa e talvez esse caminho não seja assim tão árduo quanto o fazemos se pensarmos que depois disso, de extirparmos de nossos pais a vida, muitos de nós terão as suas removidas em cirurgia pelos filhos que virão ou pelos amigos, família escolhida, escoltada por nós pela vida afora, esse amalgama de nós mesmos que vai se moldando enquanto os anos vão gastando nossas tintas.

Temos essa ideia falsa de identidade mas, no fundo, vejo a mim como uma réplica melhorada, na medida do possível, de meus pais, mimetismo singular, vejo/faço. Esse óleo invisível liga a nós e a eles e aos que cruzam nosso caminho, não há mesmo um eu e se houver talvez seja apenas nos ossos e quando a terra lambe os beiços depois de nos devorar de volta. Isso não é ruim, esse não ser, acho que é bom enquanto sabemos usar essa bagagem toda que vamos guardando vida afora e, no final, o que conta mesmo não são as marcas materiais que deixamos mas as pessoas que tivemos em nossas vidas e as vidas que tivemos parte tanto para o bem como para o mal, há que se acertar o preço da parte má quando cobrado ainda que a contragosto.

Como o sonho dentro do sonho dentro do sonho, acordamos dia a dia tentando achar a saída mas ela apenas dá em outro sonho e esquecemos de que o sonho em si é bom e que nos move adiante, para aquele lugar, lá, onde tudo deve ser melhor, acordar é fechar os olhos para isso, preferir não ir adiante e escolher o mais fácil e simples do que o mais trabalhoso e árduo mas que trará a recompensa final que costumamos chamar felicidade.

Não sei, há fotos antigas onde vejo meus pais sorrindo, em poses imortais de um momento que me foge o significado e que talvez não guarde significado algum. Há ainda fotos com amigos e pessoas que nem mesmo aqui estão mais e num ímpeto desespero tento relembrar do que sentia naquele momento, às vezes sei, muitas vezes não me lembro. Penso se as fotos antigas, de antes de mim ou de quando eu não conseguia guardar lembranças, são invenções, manipulações de um passado que não e meu, é dos meus pais mas isso pode não ser verdade uma vez que, como disse, eu mesmo não me recordo das fotos que eu mesmo tirei ou em que estava então, como saber o que é mesmo minha memória ou de outros?

Gostaria que a vida fosse uma sequencia de fotos sem fim e que, ao final, pudéssemos rever cada uma delas para saborear novamente momentos que foram tão ternos que pareceram ter durado décadas e outros tão efêmeros que podemos duvidar de sua existência. O tempo vai passar e assim como meu velho pai está hoje vivendo de lembranças embaralhadas, plantadas em cada ruga de seu rosto senil, eu mesmo irei embaralhar as minhas e talvez às dele sem saber de quem são ao final.

Não me assusta envelhecer, até me atrai, me adoça a boca e o passar dos dias deixa um gosto de tudo ter tido sentido, propósito, razão. Quero envelhecer podendo ver as minhas fotos com carinho, ainda que não saiba se fui eu ou outros que as tiraram, só me assusta e muito perder a referência de quem são as pessoas nas fotos, esquecer ou não mais lembrar e há uma diferença grande entre as duas coisas.

Quero estar ali, com minhas rugas e o meu amado ao meu lado e ainda ser capaz de olhar para ele e para mim e para nossos álbuns e ser capaz de ligar uma coisa a outra pois mais do que morrer, que não me é assustador pois todo livro tem de ter um final, me apavora ter o amor ao meu lado e ser incapaz de reconhecer que ele esteve lá por anos, pela vida toda, sempre e temer a morte não por ela em si mas por ter passado uma vida sozinho.

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...