6 de dez. de 2019

O horror

Todos sabem de Paraisópolis.

Não vou tecer comentários ou fazer grandes teorias porque eu enquanto homem gay cis caucasiano estaria apenas emulando sombras de uma realidade que foge por completo da minha mas, o que mais me espanta - e talvez esteja deixando de me espantar o que é terrível - são as reações e comentários que li.

Com as ascensão do messias ao poder as jaulas foram abertas e as feras antes caladas tiveram as focinheiras removidas e a barbárie come solta entre os cidadãos de bem, essa entidade que está na mídia, nas redes sociais, nos grupos de whatsapp e na Paulista batendo continência para inglês ver.

Esta semana, peguei um Uber - novamente o fantasma do privilégio branco assombra minha consciência, discutir problemas sociais e de base da sociedade no Uber é muito problema de gente branca - e ele, aparentemente politizado e de esquerda, se não era engoliu seu conservadorismo com honradez, me questionou sobre o evento.

Passamos então o trajeto discutindo o que havia acontecido, porque havia acontecido, quem era a se culpar e acabamos discutindo oportunidade, privilégio e escolhas mas, antes disso, falamos sobre o ódio que permeia as redes sociais, pessoas comentando todo tipo de absurdo e horror com orgulho e empáfia como se fosse pouco o que aconteceu em Paraisópolis.

Novamente, não vou tecer comentários, quem quiser saber o que acho sobre o evento em si venha me perguntar e discutimos isso pessoalmente mas, no quesito da barbaridade online, o desmonte das políticas públicas de apoio e inclusão encorpou o discurso de quem acha que isso é vitimismo e que as minorias devem se curvar ao desejo da maioria como prega o ilustre capitão.

Nessa visão de mundo, adolescentes e jovens adultos que estão se divertindo como podem e conseguem ouvindo seu pancadão na comunidade são vagabundos e marginais, o funk é um instrumento de desagregação social e corrupção de menores, erotização das crianças e qualquer política de cotas ou inclusão promove apenas desigualdade e não o oposto.

Para essa parcela da sociedade, a PM deve ter o excludente de ilicitude garantido e carta branca para descer o sarrafo e meter bala em vagabundo e bandido a questão é, quem define quem é o vagabundo e o marginal? Vocês? Os ditos cidadãos de bem? A família transtornada brasileira?

São esses cidadão de bem que estão comemorando uma polícia que a cada ano mais mata do que protege, herdeiros da ditadura - que eles dizem não ter existido e anseiam pela volta mais do que o regresso do J.Cristo - a polícia que deveria prevenir e zelar age como opressora e repressora, mata primeiro e pergunta depois e quem nunca sentiu isso na pele pode se considerar privilegiado.

Ante o medo do desmoronamento de estruturas sociais e familiares tradicionais essas pessoas acabam jogando nas mãos de dementes como o clã Bolsonaro o poder de definir seus destinos achando que eles irão combater os inimigos da família e dos costumes quando, na verdade, depois de se refastelar nas carnes do pobres, negros, LGBTQs, pessoas com necessidades especiais e demais minorias, vão voltar a bocarra aberta para a mão que os elegeu e aí, será tarde demais para chorar e não haverá ninguém para gritar EU AVISEI!

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