18 de dez. de 2019

Mas o ódio cega...

Diga-me com quem andas e te direis quem és, diz o ditado.

Só que nessa de dizer quem somos baseado com quem andamos tem muita coisa no meio e não necessariamente as pessoas com quem andamos são um reflexo fiel do que somos porque às vezes, podemos andar com as pessoas erradas por entender que são as certas até que abrimos os olhos e nos damos conta do erro cometido.

Isso definiu quem somos?

Num primeiro momento, confesso que minha reação à agressão sofrida por Karol Eller foi a da maioria leia-se TOME! BEM FEITO! Você é lésbica e vai lá apoiar o messias, fazer arminha, dizer que não há homofobia que é tudo vitimismo, que a comunidade LGBTQ não te representa e coisa e tal, deu no que deu.

Depois, caí em mim e disse não, não pode, estou errado!

Explico - lembrando que esta é a minha opinião, você é e deve sempre ser livre para tirar as suas.

Karol é lésbica e portanto faz parte do L de LGBTQIA+, quando dizemos  BEM FEITO, ELA QUE LUTE e coisas do tipo estamos assumindo o papel do opressor e dando a ele mais munição para nos atacar pois se nós que deveríamos acolhê-la, apoiar e tentar fazer com que ela veja o engano em que havia incorrido ao andar com quem lhe tratava realmente como massa de manobra, a renegamos e dizemos que vá pedir ajuda em outro lugar então o outro lado vai, com propriedade, nos apontar como intolerantes, radicais, preconceituosos e até espalhar boatos de que os agressores foram da esquerda rábida e de outros gays ressentidos da traição de alguém da comunidade.

Percebem como apenas fizemos o jogo deles e saímos mais fragilizados do evento? Quem deveria ser apontado como vilão sai como herói e vice-versa e a rachadura em nosso telhado fez apenas aumentar.

Ela traiu o movimento? Que é traição, meus amores? Ela ou qualquer um de nós é obrigado e concordar com tudo que a militância faz ou diz e digo isso de forma generalizada, ser militante é acima de tudo cobrar não apenas das autoridades e sociedade civil nossos direitos mas apontar onde a militância falha ou age de forma equivocada, aceitar tudo que a militância diz sem questionar nos torna tão ou mais cegos que as pessoas que condenamos do outro lado e, novamente, não estou desmerecendo a militância que ela é essencial e de vital importância para nossa comunidade mas ela não pode nos cegar ao ponto de não sabermos diferenciar erros de acertos, a militância não está acima do bem e do mal.

Quando 'comemoramos' a agressão passamos a ter tanta culpa quanto o agressor e aí fica meio difícil de diferenciar quem é quem, não acham? Qualquer ataque homofóbico deve ser condenado independente de quem seja, se não tivermos esse sentimento de unidade e coesão estamos fadados a morrer como pessoas e movimento enquanto o opressor fica cada vez mais forte, julgar que essa agressão é a lei do retorno é apenas confirmar que esse retorno, ao rirmos de Karol, estará nos esperando na esquina e passaremos o resto de nossas vidas nesse ciclo sem fim, não estaria na hora ou até mesmo passada a hora entendermos que precisamos de UNIÃO e não de SEPARAÇÃO?

Eu realmente espero que ela tenha caído em si e entendido que as pessoas que ela apoia são as mesmas que endossam e incentivam agressões como a que sofreu, que a LGBTQfobia mata mais do que conflitos armados ao redor do globo e que vitimismo é um conceito usado pelo opressor para estrangular qualquer luta por igualidade e representatividade.

Enquanto não entendermos que agredir um membro de nossa comunidade é agredir todos estaremos ainda caminhando para o fracasso a passos largos e dando mais espaço para aqueles que nos querem cada vez menos presentes para não dizer mortos.

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