Como vocês sabem, com outros dois amigos faço parte do ORGULHO CAST, um podcast quinzenal que, a cada episódio, traz um livro com temática LGBTQ+ para discussão.
Nosso intuito foi, desde o começo, primar pela discussão saudável tanto da obra como dos temas que ela aborda sempre buscando identificar os pontos positivos e negativos e incentivando nossos ouvintes a lerem as obras que citamos para tiraram suas próprias conclusões e opiniões.
Acredito que até o momento e nos encontramos ainda no início de nossa jornada pois temos apenas três episódios gravados e disponíveis para audição - links no final do post - estamos indo razoavelmente bem ainda mais se considerarmos que nenhum de nós tinha qualquer experiência prévia com podcasts.
Mas, nosso último cast parece ter causado uma pequena comoção o que eu, sinceramente, intuía que viesse a se passar em algum momento no futuro pois nem sempre os autores podem concordar com as opiniões que expressamos sejam elas a favor ou apontando falhas em sua obra e, volto a reforçar, sempre buscamos emitir tais opiniões de forma coerente, sincera e sem atacar de forma pessoal o autor trazendo a discussão para a obra e os temas que ela aborda.
Pois bem, no referido cast o livro escolhido foi 'Cadu' da auto intitulada autora de LGBTQ+ J.V. Leite a qual possui uma carreira consolidada na AMAZON e WHATPADD onde seus livros de 'temática LGBTQ+' tem uma aceitação muito boa e quase sempre avaliações muito positivas, se tais afirmações são corretas ou não, sugiro que o leitor confira por si mesmo e de forma alguma desmereço a iniciativa desta autora em escrever seja lá o que for, o oposto disso, precisamos cada vez mais de pessoas escrevendo e divulgando seu trabalho ainda mais na atual conjuntura em que nos encontramos.
Começamos a ter problemas - e são sim problemas, não há como dizer que não o são - quando um autor, seja ele de qualquer orientação sexual ou identidade de gênero, insiste em perpetuar em suas obras clichês frequentemente associados aos LBGTQ+, padronizar os LGBTQ+ com base numa visão e conceito herdados pela mídia normativa e reproduzidos incansavelmente por gerações e até mesmo dentro da própria comunidade LGBTQ+ e destilar homofobia disfarçada de zelo pelo moral e bons costumes.
A referida autora no referido 'romance LGBTQ+' reforça estereótipos e comportamentos LGBTQ+ além de oferecer uma visão misógina do feminino que ecoa um machismo claro em seus personagens ainda que ela ateste que tenha escrito uma obra LGBTQ+ o que permeia a obra é uma heteronormatividade latente tendo apenas escrito personagens LGBTQ+ que se submetem a tal normatividade.
Em nosso cast apontamos estas e outras falhas da obra afinal, estamos em 2019 e alguém de se diz autor de LGBTQ+ deveria conhecer melhor tal público antes de sair escrevendo qualquer coisa e se auto nomear como, digamos, ativista e promotora de visibilidade LGBTQ+.
Se você pensa que dar visibilidade a LGBTQ+ é escrever um romance recheado de sexo explícito, comportamentos normativos, personagens padrão e sem qualquer complexidade ou profundidade, normalizar a heteronormatividade para relações LGBTQ+ e ainda reforçar questões machistas então seus conceitos precisam urgentemente de uma profunda revisão.
Pode talvez servir de lenitivo saber que a autora é uma senhora já pouco mais que uma balzaquiana, casada, religiosa e com uma visão do universo LGBTQ+ restrita a estes filtros ainda que tenha, categoricamente, afirmado após tomar conhecimento de nosso cast que fez extensa pesquisa para escrever sua obra e que suas avaliações são todas positivas.
Bom, quanto a pesquisa, não sei dizer como foi feita e quais suas fontes mas estão claramente equivocadas e anacrônicas e, sobre avaliações positivas bem, pelo que pudemos notar em sua grande maioria, os elogios vem de mulheres heterossexuais e de uma pequena quantidade LGBTQ+.
Quando pessoas LGBTQ+ vem apontar que seu livro tem sim falhas e reproduz um discurso homofóbico e estereotipado, misógino e machista qual a atitude da autora? Ela manda você enfiar sua opinião no rabo, bloqueia nas redes sociais e alega que nosso cast promoveu uma onda de ataques a ela e sua obra.
Minha querida, o que se passa é que nós apenas rompemos a bolha em você vivia, cercada de pessoas que lhe cantavam louvores e liam o que você escreve sem qualquer discernimento ou conhecimento de causa, quando LGBTQ+ que possuem uma consciência de fato e sabem reconhecer o ranço hetero quando o veem expressam suas limitações, você se revolta e nos acusa de intolerância e preconceito, de heterofobia.
Nada mais incorreto, quando você escreve passagens que deixam clara a homofobia que lhe reside como, por exemplo, um de seus personagens alegar que não gosta de demonstrações de afeto mais impetuosas na frente da diarista ou mesmo em outros lugares porque a intimidade deve ser desfrutada entre quatro paredes, você está sim sendo homofóbica e dizendo que os LGBTQ+ só podem demonstrar seu afeto nos guetos ou longe dos olhos do mundo.
E não adianta usar o recurso de que o personagem assim pensa pois foi criado assim é uma desculpa esfarrapada para destilar sua homofobia nata e dizer claramente que LGBTQ+ devem ser discretos e sempre seguir a famosa lei da passabilidade. Usar a moral hetero alegando que mesmo estes também não podem abusar de tais arroubos é outro mecanismo de homofobia usado com frequência para colocar rédeas na comunidade LGBTQ+.
É do caráter do preconceituoso usar de subterfúgios e normatizar a sexualidade a afetos alheios com base em sua visão de mundo e pregar tais fatos como ilibados e corretos vestindo a pele de defensor da moral e de que não é preconceito mas apenas bom senso e respeito aos costumes. Os piores vilões frequentemente usam os mesmos argumentos para cercear a vida dos que não estão de acordo com a normatividade.
O que temos aqui e se passa com cada vez mais frequência, são pessoas heteronormativas que descobriram o filão LGBTQ+ e estão ganhando muito dinheiro abusando da exploração dos clichês e estereótipos que sofremos há mais de décadas, ao invés de buscar realmente conhecer e entender o que é ser LGBTQ+ vai-se pelo via mais fácil que é criar uma literatura recheada de sexo explícito e abusando dos conceitos e pré-conceitos comumente aplicados aos LGBTQ.
E não digo que heteros não possam ou não devam escrever sobre LGBTQ+, seria hipocrisia impor tal regra e limitaria a nós escrever apenas sobre temas LGBTQ+ quando a escrita deve estar acima disso e ser apenas boa, humana e despertar discussões e sentimentos que precisam estar na luz dos fatos e dos tempos. O que não podemos e não posso aceitar é literatura que se diz LGBTQ+ prestando serviço aos homofóbicos de plantão e ajudando a reforçar aqueles modelos e tipos LGBTQ+ que toda a sociedade está acostumada a aceitar e entender, isso não aceito nem debaixo de bala.
Não desejo mal a autora, que ela siga lá escrevendo seus livros e agradando seu nicho, só posso torcer para que um dia ela e seus leitores acordem mas, enquanto isso não acontece e você quer realmente ler literatura feita por/para LGBTQ+ que tratam com o devido respeito e humanidade nossos temas, existem autorxs que o fazem com louvor e seriedade.
Ou você continuar lendo o que os heteros entendem que é o certo...
ORGULHO CAST
SPOTIFY - https://open.spotify.com/show/2VJSVsaRuhUGzrA84szG2x?si=saH_q48YQ1y_7iMdWxUJ0w
APPLE PODCASTS - https://podcasts.apple.com/br/podcast/orgulhocast/id1481918381
GOOGLE - https://podcasts.google.com/?feed=aHR0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy9lZDBlNjZjL3BvZGNhc3QvcnNz
ANCHOR - https://anchor.fm/orgulhocast
Assinar:
Postar comentários (Atom)
lembranças aleatórias não relacionadas com a infância
Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...
-
Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...
-
seis horas, ave maria, rosário na mão para entrar no vagão cheio. vai com a turba, vai fundo, não tem volta, apenas vai. seis horas, ave...
-
eu não, eu não e você eu sim, eu sim. essa dicotomia foi se arrastando pra dentro de nós com o tempo, matando aos poucos, pressionando se...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
one is the loniest number...