Mais dia, ou
menos dele, vamos todos bater as contas com a ceifadora. Fato.
É de nossa
cultura, genético arrisco, vendermos tudo e todos a quem for para nos comprar
aqui mais algumas horas, unhas e dentes atracados a isso que chamamos vida,
essa bosta colorida que nos cega os sentidos e empanturra mais e mais e, mesmo
assim, não fechamos a boca nem fazemos menção de largar o prato ainda que este
possa se mostrar vazio ou, se você é desses, meio cheio, tomarnocu, viu?
Nem eu quero
sair dessa pra melhor, meu chapa! E olha que nem creio assim nos portões de San
Pietro ou nas labaredas sem fim de Mefistófeles ainda que acredite em conceitos
meio que vagos de bem/mal. Mas, o peso que a morte nos faz carregar é
demasiado, vai longe mesmo do valor da vida e nos faz esquecê-lo pensando
apenas na hora final seja de forma direta ou indireta.
Trabalho
quase utópico esse de nos fazer encarar a hora ruim com mais tranqüilidade e
adotar o fim como parte do começo mas, um dia há que se conseguir. Eu tento cá,
do meu jeito, uns dias mais, outros menos e vou levando assim sabendo que cada
dia deixado para trás é mais um a frente para me deixar frente a frente com a juíza
final. Nem sei como vou lhe olhar nos olhos descarnados, mais um problema,
pintamos a morte de forma sempre horrenda e grotesca, embutimos medo em sua
concepção e imagem sendo que nem mesmo temos como saber como ela é, se é e como
vem nos buscar mas, como ante o desconhecido e mais fácil satanizar do que
harmonizar, vamos indo aí com esse medo genético e hereditário de morar a sete
palmos nesse último latifúndio (a parte que nos cabe de fato, ninguém tasca!).
Sempre fui
avesso aos rituais mortuários, velórios e afins sempre me pareceram um séquito
de sofrimento engajado em lhe fazer não esquecer a dor e não lhe deixar
esquecer de seu destino certo mas, como todo resto de nossas vidas, é uma fase
e como tal precisa de seus ritos de passagem e assimilação coisa que estamos
paulatinamente ‘matando’ (não resisti) quando cremamos os corpos de forma rápida
ou os enterramos com cada vez mais celeridade, impessoalidade e de forma a
acabar com tudo aquilo o quanto antes o que é compreensível pois queremos é
mesmo escapar da dor o mais breve possível.
Não podemos
ignorar a morte mas, podemos meio que apagar sua passagem e deixá-la com área
de parte da paisagem urbana desonerando seu caráter definitivo. Assim, cremamos
os corpos para não termos mais que ir aos cemitérios nos lembrar menos dos
mortos e mais de que nós mesmos vamos estar ali um dia, fazemos túmulos planos,
esteticamente modernos e que mais parecem lajotas em um calçadão do que jazigos
grandiosos, vá lá, opulência pura para deixar claro que nem a morte pode
quebrar a diferença de classes mas, deixamos tudo com um grau de asceticismo
que beira o esquecimento.
Nossa memória
dos mortos vai, no máximo, até o sétimo dia e o que antes era prática comum,
hoje se limita a uma pequena parte do jornal onde se pode ler as odes ao que se
foram, costume antigo e, creio que, ainda perpetuado por um pequeno numero de
pessoas ainda apegadas às tradições mais clássicas, desconsidero o que se faz
como homenagem póstuma em redes sociais, acho macabro pois fica lá é pra
sempre, como se o morto pudesse curtir ou comentar de um facebook do além, cruz
credo! Ao menos no jornal é naquele dia e pronto, acabou!
Antes,
velava-se os defuntos em casa pois eram familiares e lugar deles é em casa,
onde todos se reuniam para prestar as ultima homenagens ao falecido e acabava
mesmo com ares de festa mortuária o que entendo ser legal pois antes comemorar
o que houve de bom com aquele que se foi do que lamentar sua agora eterna ausência
fazendo da vida dos que ficam um inferno oco e sem gosto. Claro, fácil falar,
fazer é que são elas mas, enfim, apressamos tudo na vida sem saber que isso só
nos põe mais próximo das mãos da morte e acabamos assim apressando ela em seu
rituais para que passe logo e possamos colocar terra sobre ela, abafando os
sentimentos apenas para cobri-los depois com camadas e mais camadas de antidepressivos.
Lidar com a
morte, clichê, faz parte da vida, seu moço! Esse ritual todo, ainda que
doloroso pois nos arrancou alguém que gostávamos, precisa ter seu tempo
respeitado e processado de acordo, sem pressa, sem velocidade para que acabe
logo, fuga dos momentos ruins como se vida fosse feita apenas de momentos
doces. Do jeito que a coisa vai, acabaremos tendo é a morte sem os mortos.
Não quero
morrer que não sou tatu mas, quando vier a hora, quero mais é que os que ficam
façam uma festa e bebam meu corpo oco, festejam o que vivemos juntos e não o
que não viveremos mais, quero sim os choros dos que me amam mas não pela minha
ausência e sim pela doce lembrança de que passei por suas vidas, as marquei de
alguma forma e os fiz feliz ainda que por míseros segundos.
Façam isso
por mim, eu mesmo estarei é morto e disso tudo pouco vou aproveitar mesmo.
Alexandre, nós viveremos para sempre!
ResponderExcluirBeijos
pode aplaudir de pé?
ResponderExcluiradorei desde a imagem da morte no início, até o último ponto final. muito bom!
O medo da morte vem da maior incerteza de todas: pode-se trepar do outro lado? Porque se for Nosso Lar, O Filme... tô fora! Ter que trabalhar e ficar assistindo powerpoints do Senhor ad eternum... yuck! Por isso que a gente volta correndo pra esta torpe orbe: aqui we have cookies!
ResponderExcluirEu tenho medo da morte, mas tenho maior medo de ficar velho. Vc sabe disso, né? Queria que as coisas fôssem bonitas como nos filmes em que a morte é tratado de forma poética e lírica. Morrer ao lado de quem se ama e de preferência, dormindo. Algo meio William em Downtoun Abbey. Tá, eu sei, vai ser de forma trágica, nojenta e completamente dolorida.
ResponderExcluirNem tenho mais medo da morte. E quando morrer, quero ser ou pulverizado ou estraçalhado, ou que meu corpo exploda ou suma sem deixar vestígios, que é pra não sobrar nada pra fazer ritual nenhum...
ResponderExcluirBeijo Melo!
A pessoa vai ficando velha e comeca com essas coisas........pode deixar q comemorarei no love story em sua homenagem! Soh promete q naum vai ficar puxando a minha perna de noite......e se puxar q seja a perna do meio :p Abs!
ResponderExcluirTenso mas verdadeiro ... medo eu não diria q tenho mas querer tb não quero ... me angustia muito mais a ideia do sofrimento inerente a quase todos os finais de vida ... mas, celebremos a vida pois ela é verdadeiramente bela apesar de tudo ...
ResponderExcluirbjão querido
Tenho medo da morte e pavor dos mortos...
ResponderExcluirGostei de sua frase final, embora quem garanti que tu não estará por ali enquanto festejam... hahaha
Forte abraço!
tnx u all
ResponderExcluirPaulo, o que eu quero puxar você já sabe.....sou dessas...
se eu for antes de vocês aqui, blogo de lá pra contar como é...seja lá de cima ou (mais provável) lá de baixo...