23 de out. de 2011

o elefante




Sabático, relutei mas eis que foi mesmo preciso voltar ao mundano e dar com a cara no batente e nos batentes de todas as portas que pudessem me acolher profissionalmente. Vide bula, o ser humano não é humano para a labuta, foi antes concebido e recebido para o doce faz nada, contemplativo da natureza e coisas belas e feias, não esse trinômio casa/trampo/casa que é um trepo empatado desde que o mundo é mundo salvo as putas que inventaram o trepo em trampo e são as mais antigas a labu(pu)tar.

Enfim, precisava mesmo, não dava mais essa de ficar na verve de escritor desconhecido querendo ser conhecido (vai sair, Dezembro chega com ele de natal, lançamento e todo mais, o caralho a quatro, de quatro e entrando cacholas adentro ae, quem não compra o pau nunca mais sobe ok? Salvo as passivas que vão passar a ter um desejo incontrolável de comer cus, fudeu ou não, sei lá) e fui de novo buscar trabalho.

Mas onde? Nesse tempo que não foi tempo mesmo, nem fiz nada que assim melhorasse meu perfil e perspectivas no mercado de trabalho do caralho, ócio, te dedico! Mas sabia que com os aviõezinhos poderia sim ter uma chance pois, escarrando modéstia, nesse meio sou é bom e sei o que faço de mãos atadas, isso mesmo. Fui lá, currículos pra cima e pra baixo, meses esperando e algumas coisas até interessantes mas no fim, nada de concreto.

No fundo mesmo, eu queria era voltar a ser parte das estatísticas de emprego pois as coisas mundanas que gosto carecem de metal para entrar em casa e mesmo meu querido livrinho precisa aí de uma força minha pra sair do prelo além do que maridinho não podia continuar solo a bancar os luxos deste escritor quase a ficar famoso um dia que não chega, ode aqui ao marido que me deu tudo e mais um pouco no período que me enclausurei do mundo trabalhista.

Eis que então me chamam do trampo antigo, precisando de alguém assim como eu e eu aqui precisando assim de alguém como eles, a fome abraçou a vontade de comer e, pra cobrir tudo ainda podia ser como PJ e com um salário bem interessante, sem aqueles vínculos trabalhistas que, na verdade, são populistas e obsoletos dando a fasa impressão de benefícios e afins quando na verdade encarecem o mercado de trampo e reduzem as pessoas a escravos remunerados.

Enfim, fui lá e fechei o contrato e já voou um mês nessa lida mas, como perguntou pontualmente um amigo: ‘Oras, você voltou pra onde saiu e fazendo a mesma coisa? Não é contraditório?’ Sim, é e não é pois voltei mas para fazer, digamos 1/3 ou menos do que fazia antes e ganhando umas três ou quatro vezes mais e com um horário melhor e menos estressante levando, de quebra, a possibilidade de emplacar outros trabalhos como empresa e não empregado num futuro próximo.

Animei, estou na boa e gostando mesmo porque vejo uns circos lá a incendiar e nem aí pras lonas em chamas e palhaços berrando meu chapa! Minhas responsabilidade começam e terminam no meu contrato e o que vier por fora deve ser cobrado a parte, ta? Mercenário? Pode ser mas estou gostando e, tudo medido e comedido, ainda tenho sim amigos lá e é legal voltar a vê-los e trabalhar com eles só que, como muitos me disseram ao me rever por lá, tendo dado uma volta por cima, não sei se foi por cima mas que sai pela tangente e me dei mais ou menos bem, isso foi, saca?

Se há um porém é o fato de eu ser agora um elefante branco.

Sim, fato!

Explico. Saindo de lá ano passado, nem aí para feicebuque ou afins onde escancarei minhas tatuagens e viadagem pra geral, meu rabo cheio de KY pra tudo afinal estava fora e vivendo La vida loca, entendes? Claro que em determinado ponto tive de dar uma aparada nas arestas pois umas empresas onde me gustaria por demás trampar e onde tinha contactos me acuaram no FB assim:

Ele: ‘Do you have Facebook?’

Me: ‘Sure!’

Ele: ‘Can I add you?’

Me: ‘Yes!’ e passei o FB mas antes de dizer SIM bloqueio no que pudesse assustar o cara e com ele um emprego promissor. Fazer o quê? É assim o mundo vasto mundo onde não me chamo Raimundo ou Raymond.

Enfim, essa mesmo não rolou mas deixei lá uma semente pros dias chuvosos, sabe lá quando. Voltando ao cu com KY, pro resto do povo nem aí que vissem que eu era viado e que era casado com macho ou que gostava do ómi e acho mesmo que nem isso pesou quando me chamaram de volta, nem deveria posto que, como disse acima, sou é bom demais da conta no que eu faço, desculpa ae!

Mas, notei que minha viadagem me põe na condição de paquiderme albino pois as pessoas versam sobre os mais diversos temas comigo mas evitam de forma sacrossanta tergiversar sobre relacionamentos, a aliança doirada em meu dedo ou coisas que permeiem orientação sexual ou preferências carnais e de cama.

Sou o não-assunto e fica aquele mormaço frio em alguns momentos, tipo eu sei e eu sei que você que eu sei e eu sei que você sabe que eu sei o que sei e que não vou comentar. Chato isso pois me faz sentir numa política isolacionista. Gente, pode perguntar do meu marido, de nossa vida a dois, de como é ser casado com outro homem e das particularidades e peculiaridades de ser um homossexual num mundo hetero, sem problemas, não vou me sentir ofendido ou magoado, o oposto, vou adorar falar a vocês de como é isso que vocês chama de vendagem e que é, quase sempre, 99% igual ao que vocês vivem nas suas vidinhas ordinárias e, espero eu, felizes.

Nesse meio tempo vou aqui levando minha vida de elefante alvo, não me chateia vocês não me verem no meio da sala, fazerem de conta que eu não existo ou se existo, sou apenas uma peça de decoração de gosto duvidoso. Nada disso me afeta muito, me deixa assim meio cabreiro mas não me entristece ou deprime pois sei que o problema não é o elefante branco aqui mas a catarata voraz que devora seus olhos e os impede de ver que na verdade tenho muito mais cores que o branco que me imputam e sou tão elefante quanto vocês me fazem parecer um.

13 comentários:

  1. na verdade, vc é branco porque como brilha tanto, vc ofusca eles, e a única cor q eles são capazes de enxergar é uma mancha branca.

    ResponderExcluir
  2. O problema não é o tamanho do elefante. O que chama a atenção é o quão interessante esse elefante é. Isso só se descobre durante a convivência.

    ResponderExcluir
  3. Um chá para "senhôras" de José de Alencar, saindo.....
    O senhor prefere camomila ou chamomilla?
    O diferente é indiferente nos dias que correm!
    Embolsa a grana e SADE!

    ResponderExcluir
  4. Que belo texto, quantas palavras...
    O trabalho edifica o homem, nada melhor do que nos sentir úteis, e você é você mesmo, onde quer que seja, você nao usa máscaras e foda-se os outros...
    Forte abraço!

    ResponderExcluir
  5. tem chá de picão?
    melhor pra guentar o coitodianus...

    ResponderExcluir
  6. Pronto!!!
    Lá se foi o clima Jane Austen prás esquinas de Jean Genet!

    ResponderExcluir
  7. Retorno inspirador, heheheh

    Confesso que me identifiquei na parte do elefante branco, mas numa situação diferente. Depois de ter saido do armário pro meu pai pensei que o mundo ia ganhar mais cores, mas não ganhou. A impressão é que agora que eu sai do armário as pessoas querem que eu volte pra ele, e aos poucos vão me empurrando pra lá, ao menos minha sexualidade pra lá, lugar onde pra eles é o lugar dela.

    É foda ser um elefante branco, mas pior é ser um elefante branco e lustroso vestido com um sobretudo preto com medo de descubrirem seu couro brilhante. Imagine o elefante grande como um upgrade de categoria, heheheh

    bjs

    ResponderExcluir
  8. Menos horas, mais dinheiro, mais feliz. É o que importa. Bobos eles que não querem ver a pele branca lindamente tatuada. Mas talvez seja apenas um estranhamento inicial. Que bom o retorno! Lá e aqui! :-)

    ResponderExcluir
  9. Mas o branco não é a fusão de todas as cores?

    Só quem é cego não enxerga isso :p

    Os outros que se explodam, trabalhar menos e ganhar mais é tudo de bom hahaah

    Beijo Melo! Adoro ver você por aqui XD.

    ResponderExcluir
  10. Seja como for eu te colocava na minha estante da sala... com a bundoquinha virada pra porta... pra dar sorte... hehehe!

    Amore... tu pode participar da gincana em qualquer tempo... as respostas devem ser enviadas até terça meio-dia... é o deadline pra todas as tarefas! Bjs, sumidão!

    ResponderExcluir
  11. Jean Genético....gay nascido e escarrado..

    nosso chá vai ter?

    e um Gore? Vaidal?

    ResponderExcluir
  12. Visitas: sábado (ou domingo...) na sua casa (ou na minha - absolutamente tanto faz). Fechado?

    ResponderExcluir
  13. Na vida,infelizmente, temos momentos em q ser pragmático é uma condição essencial ... fodam-se todos e vamos q vamos ... pegamos o nosso e vivemos como nos apetece ... seja bem vinda de volta ao mundinho de merda mas q nós sabemos transformar em merda cheirosa ... já já em Sampa ... só superar meus probleminhas por aqui ...

    bjão querido ...

    ResponderExcluir

one is the loniest number...

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...