23 de abr. de 2020
O país do futuro
Diga-me com quem andas e te direi quem és.
Ainda que tal frase não contemple todas as possíveis interpretações considerando que nem sempre com quem andamos pode, necessariamente, representar quem somos ainda mais em tempos de redes sociais e convívio isolado sob ameaça constante de um contágio, tal citação expressa de forma coerente outra afirmação de que os iguais, acabam por atrair-se.
Atá aí, nada demais.
É do humano agrupar-se desde antes de sermos bípedes, de polegar opositor, falantes e sedentários então, fazer parte, tomar parte, ser parte, existir em grupo é condição inerente de nossa definição como pessoas, através do grupo temos nossa validação como gente, como seres existentes, o grupo nos corrobora o fato de estarmos aqui e sem ele, somos apenas uma ideia de gente, uma concepção criada, inventada e dada como real apenas por nós e pela percepção unilateral de nós mesmos. Sem a validação do outros, não existimos.
Agora, tomemos então essa campanha do 'governo federal' para geração de empregos num cenário pós-pandemia (como se fosse preciso disso para gestar um programa que dê cabo do desemprego, enfim) já que os números mais otimistas, esbarram nas casas de milhões para contar os desempregados.
O Brazil é um país pluricultural, diverso até sua raiz, multi-étnico, somos o resultado de uma receita de ingredientes incertos e até hoje, creio que ainda corremos atrás de algo que seja ou possa ser chamado de identidade nacional.
Mas, para os governantes, somos um país europeu, branco até no DNA e a foto que ilustra a campanha é um grito forte de como o atual governo pensa a sociedade e deixa bem claro para quem está governando. Que temos um governo racista, misógino, homofóbico, conservador e negacionista nunca foi dúvida mas, ao ver o governo levando a termo seu projeto de implantar uma sociedade utópica é simplesmente de revirar o estômago.
Num país que ainda luta para reconhecer sua população afrodescendente e onde grande parte ainda se considera como branca e renega qualquer miscigenação ou origem que não seja caucasiana, que tem entre a população afrodescendente os maiores índices de mortes violentas e encarceramento, é clara a mensagem que a foto transmite: a sociedade não é para vocês, é para os brancos, cis, heterossexuais de classe média alta, os mesmos que saem em carreata em plena pandemia, dizem que o vírus em um complô vermelho e pedem os militares no poder e AI-5.
Logo, aparecerá algum bode expiatório, um estagiário ou assistente assumindo a culpa e dizendo que usou a foto do Google ou que a agência é responsável, que não foi feita pesquisa e que não viram ou deram fé o que é típico deste governo CTRL-C CTRL-V.
Não se iludam, eles sabem muito bem o que estão fazendo.
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