11 de ago. de 2020

a fobia nossa de cada dia

 


Marília acha graça ter boite LGBTQ.

Marília acha graça quem vai em boite gay.

Marília acha graça quem pega quem vai em boite gay.

Marília acha graça quem pega trans.

Marília acha graça quem pega mulher fake, homem fake, quem pega sem saber quem está pegando.

Marília acha graça e não comenta mas ri. Ri porque pode. Ri porque nunca precisou de um espaço seguro para expressar quem é, o sexo que deseja, o afeto que necessita.

Marília ri porque guei, trans e todes nós servimos pra isso, chacota, somos o engano do outro que vai culpar a bebida ou a curiosidade pela sexualidade e identidade que sangramos para viver.

Marília ri porque é engraçado um homem pegar uma não-mulher, uma quase-pessoa, uma imitação mas, quem é o fake nessa história toda? Quem causa o riso ou quem ri? Quem está fugindo de quem? Quem está fugindo do que?

Marília ri. Ri porque é engraçado ver homem pegando cópia quando tem tanto original por aí mas, quem é a cópia e quem é o original? Num mundo cheio de réplicas, quem é fiel a si mesmo é mais original do que quem é fiel a uma live, likes ou emojis.

Marília ri porque ela pode, sempre vai ter seus dentes alvos para rir, ninguém vai lhe tirar o sorriso a tapa, na porrada, ninguém vai lhe tirar lágrimas a troco de nada, ninguém vai rir da sua desgraça porque é uma desgraça verídica, não é a desgraça bixa inventada pela ditadura guei que de ditadura só tem o nome porque de regime nunca o será e se fosse, não seria preciso Marília rir.

Marília ri porque tem palhaços bixas para lhe fazer graça. Ria, Marília. Siga rindo. Estamos aqui para isso mesmo.


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