4 de ago. de 2020

o que é igual nem sempre é justo



Você, sim você mesmo que corrobora esse discurso de extrema direita seja dos vivos ou dos já despachados para o outro lado, antes de liberar minha verbohomorragia sobre seus argumentos fascistas, alguns esclarecimentos que entendo serem mais do que aplicáveis batendo na mesma tecla e sim, porque batendo na mesma tecla há que se achar por fim sua afinação e fazer calar o descalabro cacofônico que esse discurso ódio insiste em marcar em nossa carne tenra e homossexual, essa mesma que você não aceita ou entende mas não consegue tirar da boca sedenta de sangue rosa.

Homossexualismo é o caralho: não se usa mais, tente Homossexualidade já que desde meados dos anos 90 ser gay não é mais (nunca foi) doença e isso pela OMS e todo aparato médico e científico que se preza restando apenas conceitos morais e religiosos mais vagos que plenário em feriado prolongado.

Minoria: entende-se por minoria uma parcela de um grupo ou população que não faz parte ou comunga das regras e/ou conceitos e preceitos ditados ou praticados pela maior parte desse mesmo grupo/população o qual, via de regra, denomina-se maioria. Considerando-se esse conceito equitativo então não vejo como a parte pode ditar o comportamento do todo quando o inverso pode e geralmente é praticado.

Opção: melhor buscar outro termo, que tal orientação já que está mais próximo do que somos posto que assim viemos ao mundo sem qualquer tipo de interruptor que permita ligar/desligar quem atiça nossos hormônios.

Ditadura gay: sério? Vamos pensar um pouco, nesse tipo de regime de exceção certa parcela do grupo impõe às demais as regras e isso resumindo de forma muito branda um tema muito complexo e, extrapolando para nós gays, se implantarmos esse tipo de regime garanto que a sua vida seria algo muito melhor mas, me foge por completo agora qualquer caso onde uma dita minoria tão ferrenhamente perseguida e hostilizada ter condições de um golpe de estado tão elaborado.

Acho graça e tenho dó que, ao mesmo tempo que seja preciso se paramentar de teorias tão eugenistas disfarçadas de moralismo para embasar sua defesa de algo que é indefensável (e não digo que seja sua não aceitação ou entendimento de nosso 'modo de vida' já que posso entender que você não deseje ou consiga fazê-lo, tudo bem eu respeito como seu direito tanto quanto os que desejo para mim) mas, a discriminação velada de respeito ou justificativas pseudo-científicas chega a ser pior que a aberta e declarada, é o pior tipo de preconceito, o mais nefasto e mórbido pois come em silêncio e é porta certa para sorrateiramente formalizar e justificar ataques às minorias.

Outro detalhe importante e exposto acima, você que é hetero, caucasiano e goza das benesses da maioria pode achar graça ou mesmo um disparate esse discurso todo em cima de nossos direitos e como gasta-se muita saliva no tema enquanto propostas para melhorar a sua vida são deixadas de lado. Sua visão, sinto dizer, é por demais tacanha e limitada se assim pensa pois se há um único culpado pela penúria em que você alegadamente diz viver, esse culpado está no espelho mais próximo ao seu alcance e não no gay ao seu lado.

Para você a vida sempre foi mais simples ainda que você chore por mazelas que fariam um miserável corar. Você é a maioria, nunca precisou disfarçar nada além de algumas mentiras bestas aqui e acolá enquanto muitos de nós precisamos disfarçar a essência do que somos e sentimos, sabe o que é isso? Fingir ser o que não se é apenas para atender à maioria? As regras estavam e estão ao seu lado afinal você dita o que deve ser considerado como padrão forçando-nos a perseguir um ideal que não tem absolutamente nada a ver com nossas vidas. Assim, só posso sinceramente sentir pelo seu benefício social que é minguado ou pelas falhas do sistema que você, enquanto maioria, ajuda a manter onde e como está mas jamais venha esfregar na minha cara que os direitos que pleiteamos são o motivo pela situação em que você se encontra pois do pão que você sempre comeu temos nos alimentado há anos apenas das migalhas mofadas e inverter essa equação seria o mesmo que culpar os escravos e não o senhor pela situação em que se encontram.

Se desejamos estabelecer algum padrão esteja certo de que não é de comportamento ou modelo social já que tais modelos estão claramente falidos e foram implantados por você e sua maioria restando a nós apenas emular tais cenários e tentar como nos é possível reinventar essas convenções e isso, meu caro, assusta muito pois mostra a possibilidade da escolha independente de gênero ou orientação sexual e quando somos confrontados com as escolhas que poderíamos ter feito e não fizemos temos apenas o temor cego do desconhecido que é esse território. O único modelo que desejo implantar é o modelo onde eu possa ter os mesmos direitos que você e você pode retrucar que já temos esses direitos o que novamente sinto dizer é mentira deslavada pois enquanto eu não puder ser quem e como sou aberta e claramente, não às escusas ou longe dos olhos de todos, declarar meu amor e afeto de forma tão natural quanto o seu que prevalece há milênios em detrimento do meu legado às sombras, então não temos os mesmos direitos e há um abismo enorme entre nós o qual só faz aumentar com sua ignorância e medo.

Eu entendo seu temor e como amparar esse medo todo em teorias nefastas disfarçadas de intelectualidade lhe traz segurança e justificativa mas, se o intelecto serve ao bem com extrema facilidade (e na grande maioria dos casos como reza nossa História, tristemente) serve também ao mal e põe o lobo em sedas para que lhe toquemos a pele sem temer até que lhe vejamos os dentes e seja tarde demais para escapar ao bote.

Nesses casos, é mais fácil atacar a minoria que busca por seus direitos pixando sua luta como inconsequente e motivada a desviar o foco de outros pontos mais importantes e, de certa forma, concordo com você pois fomos jogados no olho da tormenta como bucha de canhão e de nós fizeram cavalo de batalha para expor apenas a bestialidade alheia, nada mais. Porém, que pensar de uma sociedade que não entende ou atende suas minorias? Seria melhor se os viados ficassem restritos a esquetes cômicos e pejorativos de televisão ou guetificados em áreas específicas? Mas, se fosse assim então não estaria você hoje ainda comprando e vendendo escravos no mercado municipal? Minoria boa é aquela que sabe comportar-se como tal, quando passamos a questionar e demandar de vocês maioria mais do que nos dão então somos o cão que morde a mão alimentadora só que o caminho, uma vez aberto, não tem volta, é fato!

Sei que você preferiria que nessa eleição outros assuntos tivessem vindo à baila para discussão e mais uma vez estou de acordo mas, prefiro pensar que se estamos discutindo ainda que porca e nojentamente assunto tão importante então estamos no caminho certo pois estamos discutindo não apenas os direitos que você sempre gozou e que nunca tivemos mas, penso, todo o conceito de sociedade que desejamos ser doravante e que será, tenho fé por seus filhos e os de todos nós, mais lá frente, um lugar menos agressivo e mais compreensivo para vivermos.

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