10 de dez. de 2020

sou gay mas de família de bem

 





Lendo isto aqui me fez pensar nos gays conservadores, quem são, de onde vem, como vivem, se reproduzem.

Não que os homossexuais (ou qualquer pessoa LGBTQ) não possam identificar-se ou simpatizar com ideias e modelos conservadores, da mesma forma que o amor deve ser livre, as expressões e afinidades políticas também devem ser porem o apoio a políticos conservadores como Bolsonaro e afins só consigo digerir e chegar a algum tipo de entendimento se pressupor que essa pessoa LGBT possui sérios problemas de aceitação quanto a sua orientação sexual e/ou identidade de gênero ou então sofrer de severos distúrbios psíquicos.

Insisto em dizer que não acho errado ou condenável uma pessoa LGBT ‘de direita’ ou conservadora mesmo que, pessoalmente, entenda esse tipo de atitude como no mínimo contraditória, pois a população LGBT possui ideais e história completamente diletantes dos movimentos conservadores os quais sempre trataram a estes como minoria que deve ser mantida sob o mais rígido controle e, em sendo possível, afastado do convívio social seja ela familiar ou como beneficiário de politicas sociais inclusivas e aplicáveis ao resto da sociedade e população.

Aparentemente, estes ‘gays conservadores’ enxergam neste tipo de político pessoas corretas, honestas e de retidão moral considerando o movimento LGBT como extremistas e dispostos apenas à promiscuidade, lascívia e imposição de seu ‘modo de vida’ a todas as camadas da sociedade, ou seja, trocaram as bolas e confundem moral com política o que é receita certa para desandar qualquer coisa.

Alguns desses ‘conservadores’ atestam mesmo que a vida sexual de cada um é assunto que deve ficar restrito a alcova e não discutido abertamente o que é, lamento dizer, o mesmo que devolver ao armário e trancar a sete chaves tudo que os movimentos LGBT lograram conquistar sem falar no fato lamentável de que isolar a sexualidade deixando-a restrita ao foro íntimo é viver uma mentira, um engodo, uma farsa no melhor estilo ‘não pergunte, não fale’ como se fosse simplesmente ligar/desligar uma chave.

Entendo isto (e esta é minha opinião, fique à vontade para discordar) como um estado de negação absoluta. Como podemos tratar a sexualidade humana compartimentalizando a ela quando é parte integrante do que somos e vivemos? Ou somos LGBT apenas em alguns momentos, em alguns lugares e dentro de nossos quartos? Isso não é liberdade, é escravidão e não aceitação da sexualidade com a qual nascemos, é empoderar esses políticos que já deixaram inúmeras vezes explícitas suas opiniões sobre a população LGBT e não adianta argumentar que eles se retrataram (o que não tenho conhecimento de ter efetivamente ocorrido e, se ocorreu, não foi por constatar o absurdo que fez mas muito provavelmente forçado por alguma ação judicial pairando sob suas cabeças) pois não se trata de ter cometido um erro ou deslize mas pessoas que trataram o que somos como escória, doença e lixo social.

Ainda na mesma reportagem, esses mesmos apoiadores dizem que se identificam com estes políticos pois eles os tratam como ‘normais’, acho que aí temos algo importante a ser considerado, essa necessidade de ser tratado como normal, será que essas pessoas ainda entendem sua orientação sexual como algo nocivo e que não deve ser vivido em sua plenitude? Ainda estariam buscando encaixar-se no que a sociedade entende e aceita como normal? Engraçado como a palavra promiscuidade é usada no texto, quase com nojo e como se essa fosse a única qualidade que se possa identificar com os LGBT e que é sim um trunfo nosso pois onde leem promiscuidade (que não é direito reservado dos LGBT, tenha certeza) deveriam ler liberdade sexual. Nós LGBT sempre soubemos viver de forma muito mais livre, descomplicada e vívida nossa vida sexual e sexualidade e isso é extremamente agressivo e transgressor aos olhos da sociedade pois a liberdade sexual implica numa subversão de uma ordem normativa e previamente estabelecida com séculos de reforço religioso e social dificílimos de quebrar.

É triste que nos tempos em que vivemos, quando tantos avanços importantes para a população LGBT dançam na corda bamba, ver pessoas que parecem simplesmente ter congelado no tempo e completamente cegas para o perigo que não apenas os direitos civis LGBT correm, mas todos os direitos e liberdades em si ante a teocracia que se acerca de todos nós cada vez mais a cada dia. A solução não é, em busca de um horizonte mais tranquilo, jogar nas mãos de factoides e vomitadores de discurso de ódio disfarçado de moral e bons costumes o futuro de nossa sociedade mas de entendermos que essas pessoas são oportunistas sem agenda que estão ocupando o vácuo politico que vivemos acenando como salvadores da pátria.

Seria muito bom neste momento se todos nós déssemos uma olhadela para trás na história e quem sabe pedir conselho ao povo alemão que deve estar lamentando profundamente esse péssimo hábito da história em se repetir.

Um comentário:

  1. Cruzes! Qualquer coisa que seja seguida de "mas sou do bem" ou "mas sou de família" ou "mas não sou promíscuo", etc., é uma desgraça. kkkkkkkkkkkkk

    GAY PRIDE!

    Sergio Viula

    ResponderExcluir

one is the loniest number...

lembranças aleatórias não relacionadas com a infância

Lembrança #10 Lembro de uma festa ou rave ou balada que eu ajudei um amigo a organizar num tipo de sítio eu acho. Estava separado do meu nam...