11 de ago. de 2021

retícula


Retícula película fina, segunda pele primeira, contato com o mundo de fora umbilicando sensações e sentimentos num mimetismo de mim que servia bem enquanto larva incubando.

Transfundindo através dessa tela fina, veio algo como luz ou que julguei ser luz pois não sabia ser esse o nome a lhe dar e como me pareceu esse, luz, bom, sonoro, justo, aplicável, usei. Daí, foi iniciar o processo de romper a pele casular e transmutar, nascer de novo para a vida que não era mais minha e parar de ruminar meus restos do outro que, em verdade, não mais alimentavam só me subsistiam.

A luz, sim, ela veio nos olhos, quis desviar mas ela é demais de bela, chama o nome da gente quando ninguém mais lembra dele e fui aos poucos rasgando a pela fina, de Hansen e ganhei de volta aquele mundo que eu havia me fechado no dia em que aquele outro me fechou o seu. Agora eu retornava mariposa única, ímpar e louco para voar não em círculos mas direto para a luz; a mesma luz de fato, não havia nela mesmo algo assim diferente mas meus olhos recém nascidos não viam assim, viam uma paleta de cores nunca vistas e que chamavam tão forte com som trovejando nos ouvidos sensíveis de inseto criança sedento da vida drosófila que me aguardava.

Fui, linha reta e entrei naquela luz e a devorei toda com a fome de quem ficou muito enclausurado apenas comendo o próprio corpo para não morrer na fome. Os náufragos aprendem a gerenciar seus recursos até o limite do suportável até que a humanidade descarta o humano e chama correndo o animal para fazer valer as leis mais antigas, com novo amor nunca foi diferente e a luz foi diminuindo aos poucos, assim apagando, perdendo primeiro viço e depois brilho, potencia até que era algo como vela lutando contra ventania pré-tempestade.

Qual a culpa que me cabe se estava faminto? Ou ser a sina do inseto chegar sempre assim tão perto da luz para queimar antes de devorá-la por completo? Quando ia saciar minha fome, me foi tirado o prato, acionaram o interruptor e a luz se foi deixando a mim cego, sem rumo e voando a esmo.

Sem luz, voltou a fome, ainda mais forte, viral, dentes arreganhados para mim que, cansado, podia fazer pouco para lhe atender os desejos salvo parar o voo e encontrar outro lugar para pouso e repouso. Isso feito, bastou trazer a fome para bem perto de mim, no colo mesmo, acarinhar e lhe dar aos poucos pedaços de mim para que ela regurgitasse uma resina fina, translúcida que fui aplicando sobre mim aos poucos até estar novamente no casulo protetor.

Agora, depois, através da pele fina que protege parece vir algo, não sei, difícil dizer ainda assim distante mas, acho que parece uma luz....

2 comentários:

  1. Lindo!
    ��������

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  2. Era para sair palmas onde saíram interrogando. O blog não reconheceu o emoji.

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