24 de nov. de 2021

consciência de quem

 


Sábado passado foi Dia da Consciência Negra.

Não postei nada, nenhuma foto engajada, nenhum comentário motivacional nem nada pelo simples fato de que entendi não ser apropriado enquanto pessoa branca, pensei que seria oportunista e não cabia fazer qualquer tipo de ativismo sazonal sendo que eu não sou um ativista da causa, soaria falso ou até sem sentido ainda que eu combata, da maneira que consigo, todo e qualquer tipo de preconceito.

Há um sentimento de culpa e remorso nisso, talvez eu pudesse fazer mais, atuar mais, combater mais e confesso que do alto do meu privilégio branco isso acaba se tornando um tipo de ação panfletária que eu não sei como conduzir ainda que saiba ser importante ou mesmo algum tipo de displicência já que sequer posso imaginar o quer é sofrer e passar por esse tipo de crime totalmente fora de minha realidade e esse é o perigo, quando nos indignamos com os crimes mas de forma 'social', expressando e condenando veementemente mas voltando à nossa realidade tranquila no momento seguinte.

Então, preferi o silêncio pois as vozes que precisamos ouvir falaram tudo que era preciso e acho que a nós cabe apenas escutar e dar espaço, usar dos privilégios que temos para fazer caminho a quem precisa cruzá-lo e calar porque não há como qualquer palavra nossa expressar uma luta que não entendemos porque nunca nos afligiu.

Isso não quer dizer calar ante as expressões e atos racistas, jamais, é calar para que as vozes que precisam falar sejam ouvidas e não calar quando testemunhamos qualquer crime desses, a conivência é meio caminho andado para o crime, suja nossas mãos tanto quanto as de quem perpetra o crime em si.

Eu já fui um 'racista' normativo, piadinhas e termos e tudo mais, quem de nós não foi? Aprendi, mudei, amadureci e hoje sei bem que esse tipo de comportamento não tem mais espaço no mundo em que vivemos e estou sempre aberto e disposto a aprender mais para que o outro sinta que eu respeito sua vida e existência e trajetória.

Há quem diga que isso é conversa de comunista, vitimismo, massa de manobra, em tempos tão radicalizados e de extremos, a ideologia que precisamos é combatida com força pelas pessoas que enxergam nela uma ameaça ao status quo, todos esse que apoiam o mito e entendem que esse papo de minorias, racismos, homofobia e afins é coisa para nos dividir ainda mais e que não é assim que vamos resolver esses problemas mas tendo uma visão e atitudes mais igualitárias e não combativas ou afirmativas a respeito deles.

Lamentavelmente isso não é verdade, os capachos da direita e algumas parcelas dos movimentos de luta que compactuam com essa ideologia torta seguem pregando essa cartilha mas ela é furada e falha.

Como não falar de igualdade e luta por direitos, de racismos e outros preconceitos numa sociedade que ainda não aboliu a escravidão ou os preconceitos? Que segue cortando oportunidades a quem não vai de encontro a norma? Somos o país que mais mata pessoas negras, pobres, LGBTQIA+ e outros, os casos de racismos brotam nas redes sociais, reflexo de um governo que escancarou o Brasil de fato, racista, conservador, machista, misógino, LGBTQfóbico, esse é o país de verdade!

Então é preciso sim termos um dia para cada preconceito ser combatido, um dia para cada consciência porque do outro lado não existe consciência, existe apenas indecência e a noção de que todos nós deste lado deveríamos ficar calados e aceitar as migalhas que conquistamos através do sangue de muitos.

Falar que não precisamos disso e que esse tipo de atitude e comportamento só faz aumentar as diferenças entre nós é uma falácia conservadora, uma aberração sem tamanho porque não condiz com os fatos, com a realidade dura e com as mortes e humilhações que todos os dias saem nos jornais isso sem contar as que nem ficamos sabendo.

Quando a sociedade se nega a ouvir essas vozes ou deseja calá-las porque fazem muito barulho é sinal de que estamos no caminho certo...



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