22 de mai. de 2010

no comprehendo II



Uma das coisas mais constragedoras senão humilhantes é passar pela imigração nos aeroportos. Modéstia à parte, já viajei muito e estou acostumado aos trâmites aduaneiros mas até hoje ainda é uma experiência que me causa frio na barriga lá no fundo pois sei que se o indivíduo do outro lado do balcão não for com minha cara não há nada neste mundo que me fará entrar em seu país.

Enfim, digo isso pois ao entrarmos em Londres, a fila era imensa. Notei que ao lado de onde estávamos, algumas pessoas aguardavam sentadas com alguns papéis e imaginei que tivessem sido paradas para uma entrevista mais detalhada o que se provou verdadeiro quando pude ler, na mão de um deles, solicitação para a tal entrevista.

Não sei ao certo o que decide quem entra ou não, loteria, se o oficial da imigração no dia está de bom humor ou se não fudeu na noite passada, está naqueles dias, unha encravada etc. Prefiro pensar que eles já estão acostumados em lidar com pessoas e que sabem de cara quem só veio passear e quem veio ficar mesmo.

À nossa frente estavam dois carinhas, brasileiros de certo e foram parados para entrevista, curioso que sou, conseguir pescar que um trouxera o outro e este estava com muita dificuldade em explicar o que vinha fazer ali até que um dos oficiais se ofereceu como tradutor, coisa rara, para tentar mediar o imbroglio.

Não sei qual foi o fim deles, se entraram ou não mas, livre de todos os preconceitos e contando mais uma vez com tudo que já vi em vários aeroportos, eles não estavam ali para comprar lembrancinhas e tirar fotos. Nós passamos na boa, nos perguntaram o de praxe: motivo da viagem, tempo de permanência, reservas de hotel. Uma mulher nos atendeu de forma educada e quando disse que éramos um casal e que estávamos meio que em lua de mel ela nos deu parabéns de nos liberou.

Complicada essa coisa de imigração. Acho que há uns dez ou mais anos, era negócio ir ralar o cu na pedra no exterior, mandar grana pra cá, fazer um pé de meia e voltar com ares de venci. hoje, no entanto, acho que isso se perdeu posto que as moedas já não estão assim num patamar tão díspare e país, ainda que longe de um cenário social e econômico ideal, está certamente melhor do que à época de nossos pais. Tudo isso exauriu o glamour, essa coisa de viver no exterior, essa aura de vencedor, acho eu.

Nunca fui afeito a esse sonho de vencer lá fora. Admiro quem o fez, sinceramente mas, enfrentar sub-empregos, jornadas escravizantes e ainda o risco de deportação fora ser explorado pela máfia local de outros imigrantes já estabelecidos sempre me pareceram contras muito mais pesados que os prós para fazê-lo.

Também cansei de ver pessoas deportadas pegando o mesmo avião que eu e, acreditem, não é uma visão agradável. Aqui, ainda que eu não possa ter o emprego dos sonhos, posso me virar, sei em quais portas bater e a quem recorrer e ainda gozo de um status.

Lá fora, sou apenas mais um.

7 comentários:

  1. Morro de medo, porque a minha cara "mezzoarabe' é um chamariz e tanto pra complicarem a minha vida nestas situações.

    E hoje qualquer um com cara de arabe ja acham que é um homem bomba né?

    Abração!

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  2. Todas as vezes em que pude sair do país também não tive o menor problema, mas vi muitos terem ... Penso como vc ... acho que os caras vão pelo faro ... é uma coisa estranha mesmo ... e o pior ... quase sempre eles acertam ... os ditos turistas não têm nada de turista ... mas enfim ... qto a ir viver lá fora ... NEVER querido ...

    Feliz com a volta dos "fofuxos"

    bjux aos dois

    ;-)

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  3. eu não tenho a menor cara de brasileiro, o que ajuda bastante nestas horas... nunca nem me perguntaram o motivo da viagem, a única coisa era que eu tinha de ir ao balcão do "resto do mundo", mas sem maiores traumas. Logo depois do fatódico 11 de setembro eu estava voltando da Alemanha, e na minha frente, na fila do aeroporto de Munique, estava um cara com todo o tipo árabe. Ele passou pelo detector várias vezes, revista, e eu atrás esperando. Aí chegou o guarda e simplesmente me mandou passar direto, nem passei pelo detector...

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  4. Eu não tenho a menor vontade de visitar a América do Norte ou Europa... fui criando uma encrenca com esses lugares ao longo do tempo, ainda mais depois de todo o drama que é entrar nesses lugares...

    Prefiro poupar-me do estresse...

    Beijos Melo.

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  5. eu ainda tenho essa visão romântica ( e bastante errônea, admito) de viver e trabalhar no exterior.

    mas enquanto não posso, me contento em um dia poder conhecer a europa/américa do norte.

    nunca saí do país (nem do estado de são paulo. QUE VERGONHA!), por isso não sei se iria me encrencar nos aeroportos.. mas já me falaram um dia que tenho rosto de árabe... e uma outra pessoa me disse que parece JUDEU (WTF? nada a ver).

    whatever, se um dia for viajar, nada contra nossos amigos de turbante, mas prefiro que o povo da migração me ache parecido com judeu ;D

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  6. Eu prefiro você por aqui. Mais fácil de encontrar... :-)

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