10 de jun. de 2010
Sr. Apolinario
Sr. Apolinario.
Quem lhe escreve é uma pessoa, ou ser humano se assim preferir se dirigir a minha pessoa.
Como ser humano, sou dotado de uma capacidade cognitiva única que me permite uma gama quase irrestrita de atividades além de poder almejar coisas pelo simples fato de poder imaginá-las sendo que essa mesma capacidade me dá poder para transportar coisas do campo imaginário para o real tão complexa e extensa que é. Imagino que o senhor também comungue da mesma habilidade posto que, até onde pude apurar, também é uma pessoa e, logo, um ser humano o que certamente irá facilitar a comunicação entre nós, não?
Enfim, essa tão cantada capacidade também imprime em cada um de nós uma identidade única a qual já nasce conosco e também é moldada no decorrer dos anos conforme vamos mantendo contato com outras pessoas (leia-se humanos também) porém, sem alterar seu núcleo que, em suma, consiste em quem realmente somos. Qualquer tentativa de mudar essa verdade universal desse núcleo só pode descambar em desgraça, infelicidade e dissabor para o individuo e os que o rodeiam causando um efeito cascata que pode culminar em grandes conflitos onde pessoas (humanos) se matam a rodo ou insistem em fechar os olhos para a identidade de outros humanos (pessoas) alegando que a sua identidade é a única a ser reconhecida e impedindo que as demais pessoas (humanos) possam gozar de suas respectivas identidades.
Obviamente, tal fato, para um humano/pessoa gozando plenamente de suas faculdades cognitivas como o senhor, deve ser absolutamente transparente e o parágrafo acima simplesmente choveu no molhado, penso eu. Pois então, eu, senhor Apolinario, tenho cá minha identidade que é, claro, única, só pertence a mim. Parte dessa identidade, no entanto, consiste em nutrir afeição e desejo por pessoas (humanos) do mesmo sexo fato que é compartilhado por outras pessoas/humanas cada uma com sua identidade única mas, como disse, com esse mesmo traço peculiar em comum.
Senhor Apolinario, o que fazem pessoas e humanos que comungam de uma mesma ‘coisa’? Oras, diria o senhor, unem-se é claro! O que está correto pois eles possuem informações em comum e podem trocar experiências e vivências e creio que esse direito seja mesmo garantido pela carta magna do país. Agora, meu senhor, e se esse grupo, essas pessoashumanas vissem que ainda sendo pessoas e humanas não fossem tratadas como todas as outras sendo mesmo colocadas de lado na hora de direitos civis, cidadania, respeito, dignidade e essas coisas que fazem de uma pessoahumana o que ela é?
Não caberia a esse grupo lutar pelo reconhecimento que lhe é de direito com unhas e dentes? Não foi isso que os afro-descendentes fizeram cobertos de toda a razão e alcançaram conquistas tão importantes? Se concorda comigo e deve concordar posto que, como já disse aqui, o senhor parece estar de posse de todas suas faculdade cognitivas, não é isso que os homossexuais almejam? Não creio que o senhor cometeria o engano de julgar nossa luta um modismo ou coisa dos novos tempos apenas porque nossa história peca horrivelmente em não documentar as atrocidades cometidas contra os homossexuais.
Muito menos possa achar crível a hipótese de que o senhor nos encare como algum tipo de ditadura posto que a palavra implica algo por demais forte e totalmente desassociado senão completamente oposto do cerne da questão, luta por direitos. Não é a ditadura um regime de exceção onde as liberdades democráticas são extintas e não existe diálogo valendo a palavra e opinião do mais forte? Não consigo,por mais que leve minha capacidade cognitiva ao extremo, enxergar como pode o movimento homossexual representar, como disse, o oposto dos ideais pelos quais luta. Caso fossem nordestinos a queixar-se de que lhes chamamos de ‘paraíbas’ e afins e reivindicassem que uma lei contra a ‘nordestinofobia’ estaríamos às portas de uma ditadura da carne seca? E se fossem os homens do campo a reclamar que não desejam mais ser alvo de chacota? Ditadura dos caipiras? A diferença é muito tênue, não concorda? Ou porque nós somos como somos não podemos lutar por nada e estamos condenados a ser eternamente apontados como anti-naturais?
Outro absurdo que o senhor, esclarecido como deve ser um parlamentar, é imaginar que os homossexuais desejam desmontar a sociedade como ela é, colocá-la de cabeça para baixo e promover um basfond federal quando na verdade apenas desejam seus direitos. O direito de poder casar como a lei manda e permite, o direito de poder levar uma vida normal, de poder falar abertamente sobre nossa orientação sexual, de não precisar viver nas sombras, de aparências, de não temermos sermos alvos de preconceito algum ou o senhor entende que adoramos ser apontados em ambientes públicos como ‘bichas’, ‘viados’ e outros adjetivos que nos põe de forma tão carinhosa? O senhor se sente bem quando tomamos a parte pelo todo e taxamos os servidores públicos de salafrários? Acho que não.
Acima de tudo, desejamos que o santíssimo direito de liberdade de expressão seja mantido acima de tudo, não queremos que todos nos aceitem de braços abertos muito menos que engulam à força nosso estilo de vida. Foi assim que as demais minorias conseguiram algum resultado? Não, acho que não. Foi através de luta cívica, de luta constante e vigília eterna pelo que foi conquistado e assim, peço que me explique porque nós homossexuais não podemos lutar pelos mesmos direitos que outras já conquistaram há muito e ainda batalham para consolidar? Qual a diferença? Como fazemos sexo? Será que a isso estamos restritos enquanto pessoashumanas? Não pagamos impostos e se o fazemos não é nosso direito cobrar do poder público nosso quinhão do bolo para prover nossos direitos os quais o resto da sociedade goza desde o berço?
Senhor Apolinario, acredito mesmo que seu artigo tenha sido motivado por informações distorcidas e errôneas que lhe chegaram aos ouvidos, é a única explicação. Apenas assim posso deglutir a idéia de um representante do povo tenha expressado uma opinião tão insensata e que sim, deve ter o direito de ser expressa, não pense que desejo lhe podar tal direito. Porém, sugiro que olhe com atenção ao seu redor pois nós homossexuais estamos em todas as camadas da sociedade e, com um olhar um pouco mais atencioso, talvez ache alguém muito próximo que tenha sentido o que senti quando li seu artigo e, repito, ainda que não concorde, defendo seu direito de expressão até o fim assim como espero que respeite o meu, enfim, se achar essa pessoa próxima a si, seja no trabalho ou socialmente, fale com ela, reflita e se achar adequado, nos escreva pelos meios de sempre.
Nós que aqui estamos, aguardamos ansiosamente.
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Caramba...
ResponderExcluirConfesso que fiquei temeroso de ler pelo tamanho do post, mas agora, lido, só passa pela minha cabeça o que perderia eu havia cogitado não ler.
Eles sabem falar bonito? Há, nós também sabemos... que nós falemos, que eles falem, mas que pelo menos não haja opressão, que saibam escutar, e quem sabe raciocinar um pouco?
Um beijo Melo!
O que foi isso? Menino, você apenas deixou tudo tão claro que só não entende quem não quer. adorei.
ResponderExcluirPosso passar adiante?
Bjs
Clap Clap Clap! Aplaudindo de pé! Nada a comentar a não ser cumprimentá-lo pela visão clara, objetiva e consciente dos fatos, traduzida em um discurso verdadeiro, honesto e transparente. É de se lamentar que tenhamos representantes do povo que, no exercício de suas funções se deixe levar por tamanhos desvarios e preconceitos, calcando suas condutas em um fundamentalismo religioso que não deveria ter espaço em um Estado constitucionalmente laico.
ResponderExcluirO recado está dado. Você, através deste seu espaço, tornou-se o nosso porta-voz. e aqui estamos a parabenizá-lo e apresentar nossa irrestrita solidariedade e apoio ao presente pronunciamento.
Bjux querido amigo ...
;-)
todos estão livres para passar adiante, copiar, citar e afins..
ResponderExcluirmi casa, su casa...
Acho que o grande problema no Brasil é a falta de visão republiacana, no real sentido da palavra. O cara que é eleito, é eleito para o país/estado/município, não para defender os interesses de sua igreja (como no caso do Apolinario) ou para legislar pelo partido (como é o caso do PT, por exemplo). Enquanto tudo continuar como é, não vejo a menor chance de algo melhorar, a não ser pela iniciativa individual (que está mais de acordo com minha visão de mundo). Vi o "Sr. Apolinario" no Debate MTV, achei bem retrógrado, como também achei o discurso dos "militantes gays" totalmente fora da realidade, repetindo velhos jargões de 1968. Na hora, pensei: estamos mal de todos os lados desta questão...ainda bem que ainda temos a liberdade de expressão.
ResponderExcluirRepassei o link no Twitter e no Face ...
ResponderExcluir;-)
Ele é um imbecil.
ResponderExcluirEu acho que o que falta no brasil não é apenas visão republicana. vivemos dentro do livro do Saramago.
ResponderExcluirInfelizmente.
Parabéns pelo belíssimo texto!
E quanto ao Félix... Se ele não sabe atender aos clientes vai viver como? De fazer filme pornô? Então vai morrer é de fome! Enfim, o puto é meu "amigo" no orkut, rs.
Acabo de pressentir um momento vergonha alheia...
Beijos
Ele precisa ler mais. Não jornal, porque jornal não forma ninguém. Ele precisa de literatura, de cinema, e chantilly na cara.
ResponderExcluirAffffeeeeeeeeeee.... tadinho do Apolinário... hahaha!!! Vc é MARA, babe!!!! Hugzzzzzz!
ResponderExcluirEngraçado esses discursos sempre virem de quem não passa na pele o que passamos. Não dá para opinar por algo que vc não conhece e esse sujeito não conhece as situações vexatórias que muitos de nós já passamos.
ResponderExcluirSeria ótimo se o fulano tivesse conhecimento dessa carta.
Tá... mas agora vamos atualizar, né???? Hehehehe!!!! A Vaca quer novidades!!!!! Hugzzzz!
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