25 de fev. de 2011

tudoaomesmotempoagora

Um bilhão de coisas na cabeça mas escassa a vontade de por aqui. Como já dissemos antes, isto não é profissão, nem trabalho, é diversão e se eu sentir que a obrigação fez casa aqui, na mesma hora fecho tudo e mudo de endereço.

Difere no entanto de profissão de fé que é escrever, isso consuma-se fato e então não estar aqui implica em dar a vazão que a escrita me pede mas  em outro lugar e de outra forma. Nesses dias, limitei minha presença aos comentários, nada mais.

Mas, ideias amadurecem e caem da cabeça e eis que vou sim colocá-las aqui pois nem só de contos vive o homem, o filho do Homem e o Homem em si. Por esses dias li muita coisa por aí e vou tentar aglomerar tudo abaixo.

1) O correto

Li no DPNN sobre como seria aplicar as leis anti-discriminação no cancioneiro popular. Ri muito, claro mas, o assunto é sério. Entendo que devemos lutar contra preconceitos, os estereótipos que nos são atribuídos socialmente e os termos e situações pejorativas que são geralmente associados aos homossexuais.

Mas, isso paga a perda do bom senso? Não gosto tanto quanto vocês de ver representações caricatas de nós mesmos porém, não temos essa parcela em nosso grupo? Não temos os afeminados ou eles servem apenas como alivio comico? Não temos as travestis que nem sequer são retratadas seja de que jeito for salvo nos programas sensacionalistas? Ou a cara do gay para a sociedade tem de ser asceta, impecável, 'normal' e só assim poderemos ser aceitos jogando para escanteio a 'banda podre' dos viados?

O que temos por aí é apenas a forma como a sociedade ainda nos vê e leva tempo para assimilar que além dos tipos vistos nos humorísticos, comerciais de tv e outros existem tantos nuances nossos quanto dos heteros. É um trabalho de formiga, lento, árduo mas não vejo como auxilio essa revisão fascista de conteudos.

Isso para mim soa como censura sim, cercear a liberdade de outro de dizer o que bem entende e como bem entende e proibir o uso de termos, digamos, chulos trocando-os por outros mais aceitos moral e socialmente ou mesmo banindo-os não vai ajudar mas nos passar o diploma de intolerantes quando o que buscamos é o oposto.

Não sei porque mas cada vez que ouço esse tipo de coisa me vem a mente na hora a queima de livros na Alemanha nazista. Acha exagero? Não é um passo lá muito grande entre controlar e alterar conteudos para eliminar o que se considera incorreto e eu mesmo quero poder sim ouvir piadas de viados, sujas, até ofensivas pois é direito dos outros poder faze-lo e meu me ofender e buscar reparação.

Isso para mim funciona pois está resguardado o direito que vem antes do fato de eu gostar de rola e outros de buceta, o direito de ser livre e pensar livre. No fim, tudo é uma questão de como os termos são usados, de contexto. Se perdemos a capacidade de interpretar contextos então não devemos lutar por absolutamente mais nada.

2) A abertura

Também no DPNN, teve um post sobre relacionamentos abertos e como os gays seriam, em tese, mais propensos a esse tipo de situação.

Não vejo muito essa diferença entre relações hetero e homo, são relacionamentos, pessoas e pessoas são e sempre serão fodidamente complexas e complicadas. Nascemos com o abençoado dom de foder mesmo com o que não se poderia, em hipótese alguma, foder e tornar as coisas mais simples em física quântica.

Não acho que por termos relacionamentos com o mesmo sexo as coisas ficam mais fáceis pois entenderíamos como funciona o homem. Besteira! Ninguém sabe como ninguém funciona e amor entre iguais chega a ser ainda pior que entre os diferentes. Partilhamos das mesmas neuroses, inseguranças, incertezas e problemas que os relacionamentos heteros só que valorizamos mais o pinto do que as mulheres as quais respeitam (a maioria) suas rachas.

Esse lance de relação aberta é meio carochinha pois todo mundo conhece alguém que vive ou viveu assim e alguns até admitem já tê-lo feito. Mas, no geral, é algo que olhamos com certa inveja (não existe inveja boa, lenda urbana completa, inveja é uma só e ruim, ponto final!) pois quem diz que consegue (onde estão as provas de total abdicação de posse?) nos dá um gosto de liberdade que todos queremos, não precisa fingir.

É muito hipócrita de nossa parte achar que a monogamia pode segurar anos a fio de relacionamento. Cada um de nós, no entanto, acha um modo de lidar com isso e não adianta dizer que se amam, que nunca fariam isso, que um basta para o outro e esse blá blá blá de romance de quinta pois é simplesmente ofensivo a qualquer adulto inteligente.

Ah, mas e o amor? Ele existe sim, sou prova cabal disso mas não sustenta sozinho esse idílio de 1 + 1 = 1. Então, a relação se abre quando o sexo vira rotina? Pode ser sim, e todo sexo vira rotina por mais que você invente, inove, pense; depois de muito tempo um sabe como o outro funciona e dificilmente vai sair algo muito diferente disso e talvez seja bom que não saia pois pode por as partes a pensar onde aquele truque novo foi aprendido se ambos se conheciam tão bem.

O sexo pode sim matar uma relação e, como disse acima, podemos escolher como lidar com isso. Fazer de conta que nada mudou e passar a buscar o sexo novo que queremos fora, conversar e tentar trazer sexo novo para dentro da relação,deixar que o sexo novo aconteça livremente e com consentimento das partes. Agora, sinceramente, qual dessas opções você escolhe? Tenho certeza que a maioria vai escolher intimamente a número um mas votar abertamente na dois ou ainda dizer que faltou uma quarta opção que é o amor.

De novo ele, o amor. Nada o substitui, não é? Voltemos um pouco às opções acima, já que estamos numa zona de conforto, relacionamento estável e longo, para quê por tudo isso abaixo com necessidades sexuais que pode ser supridas no anonimato? Então temos o amor, entendo eu. Quando algo mais o prende a outro você deseja que essa pessoa partilhe de suas frustrações e não se engane, o sexo depois de anos vira sim um elefante frustrado na sala, e queremos que vida nova seja injetada mas com aquela mesma pessoa. Então abrimos a relação em busca de sexo novo seja pago (nosso caso) ou gratuito (mais complicado pois pode envolver flerte, sedução algumas vezes).

Se não for possível abrir a relação para sexo renovado então muito provavelmente um dos dois irá fazer por fora e isso é tão líquido e certo quanto nossa respiração. Não quer dizer que o amor seja menor mas apenas que o animal precisa matar sua sede e vinho todo dia enjoa. Não é fácil pois todo tipo de neurose e insegurança pode aparecer como foi conosco até que percebemos que ainda nos amávamos e muito mas que nosso sexo já precisava de uma reciclagem.

Porém, se você sabe que existe a frustração mas entende que não precisa partilhar disso com seu companheiro, então é bem provável que o amor esteja morto e que você deseja não sexo mas outro relacionamento e está usando o primeiro como desculpa. Veja bem, eu disse que você nem mesmo cogitou conversar com seu marido sobre a vida sexual de vocês e se isso não acontece então porque estão juntos? Fácil falar? Claro, esse tipo de assunto sempre traz mais problemas que soluções pois não se vê o lado bom mas o lado ruim da falta, do descontentamento e já se agrega ali a traição quando ela nem mesmo foi ventilada.

Nos casos onde a relação é aberta totalmente, digo tanto o sexo como o coração podem vagar por aí, acho que é coisa de gente muito superior a mim, evoluída mesmo ou que mente descaradamente. Não acho que nossa raça está tão evoluída assim a ponto de adotar o amor comunitário, quando amamos temos ainda o sentimento de posse (sem exageros ou é patologia). Vocês que namoram ou são casados, parem um momento e pensem se achariam legal que o outro dissesse abertamente que está saindo com outro cara e que está apaixonado por ele, e então? Conseguem assimilar isso normalmente pois ele ainda ama você mas está amando também outro cara? Que é isso? Socialismo?

Não somos assim tão desapegados de nossos 'bens'. Talvez quem o faça tenha mesmo, com disse, um espírito e uma consciência mais elevados, não sei. Sei que para mim a abertura fuciona enquanto for de comum acordo e envolver me abrir na cama com outro desde que o Wans esteja junto. Quando eu resolver buscar sexo fora disso será outra estória.

6 comentários:

  1. Post duplo... Doi comentários... xD
    Primeiro: Eu concordo plenamente com você com relação a primeira parte. Acho que as pessoas estão levando essa ideia de combater o preconceito tão ao pé da letra que acabam sendo mais preconceituosas ainda... E pior, acabam querendo invadir um direito fundamental do ser humano: a liberdade. Do mesmo jeito que eu tenho direito de falar abertamente que não gosto de certas doutrinas rteligiosas, eu dou o direito a eles de não concordarem com a minha vida sexual e expressarem isso, contanto que isso não esbarre no meu direito de ir e vir. Por mais que agnet não goste, tem gente que não gosta dagente, e agente nao pode obriga-los a pensar o contrários.

    Quanto a segunda parte do texto, eu acho um assunto muito complicado, sério. Eu ainda sou solteiro mas já tenho muito medo disso. Na minha cabeça, um relacionamento aberto funcionaria perfeitamente... só que na prática, eu não sei se reagiria bem... Porque eu mesmo acho que não consigo separar totalmente sexo de "amor". Tenho medo de sair com algupem acabar me apegando a pessoa apenas pq transei com ela. Mas enfim, eu acho que isso pode ser derrubado com o tempo, e com exercicio... hehehe

    Um grande abraço, Melo... Boa sorte com a publicação dos contos...
    Até o próximo

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  2. Concordo praticamente com tudo em seu texto, contudo teoria e uma coisa, prática é outra. O certo é que pares com um relacionamentos longos, têm que encontrar alternativas viáveis, para que as frustrações não se acumulem e venham interferir na relação, chegando mesmo a matá-la. É romântico acreditar que tudo vai ser perfeito eternamente, com o tempo as coisas mudam, e só se tem uma escolha: ou você muda o formato da relação , ou tudo acaba.
    Bjão

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  3. Como sempre o Melo desnuda as questões com toda a sua sabedoria ... A questão do preconceito permeia a todos nós, não há como negar ... o q importa no caso é trabalharmos duro para minimizá-los ... Quem se afirma não preconceituoso é hipócrita ... no máximo ele pode ter níveis de preconceito mais tolerantes ... ele sempre se faz e fará presente no contexto social ...
    A questão do relacionamento aberto ... depende muito do q se chama de aberto como sempre falo ... o q não dá para sustentar é a falácia da paixão eterna, da "fidelidade" absoluta pautada no domínio e na propriedade do outro ... isto tb é hipocrisia ... adoramos cobrar "fidelidade" mas no dia a dia nós não o somos tanto assim ... enfim ... quer ter uma relação verdadeira, saudável, duradoura, estável, busque novos paradigmas ou vc cairá no erro crasso q permeia o modelo falido dos casamentos héteros ...

    bjão querido ... vc é up ...

    ;-)

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  4. Algumas pessoas são sim, elevadas. Creio nisso. Mas não creio que são muitos. E por isso, falar de relacionamento aberto é muito complicado. Mas é aquela coisa né, cada um funciona de uma forma. Se funcionar bem para os dois lados, que mal tem?

    Beijo Melo!

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  5. Valeu pelas citações, Melo!

    Então, eu tenho muito medo dessa onda de higienizar os discursos e as relações "para o bem" de determinado grupo. Acho perigoso pra caramba, e me surpreende ver tanta gente defendendo censura sem se dar conta, só porque teoricamente - e só teoricamente - sairia com alguma vantagem.

    Sobre os relacionamentos abertos, normalmente se tem essa visão de que ocorre mais com gays, já que no hétero a coisa acaba indo pro lado da traição mais direta. Como sempre, é só senso comum. O que me intriga num relacionamento aberto nem é a questão sexual, acho perfeitamente possível separar sexo e amor. Sem qualquer atribuição de valor mesmo. O que me deixa curioso de verdade são aqueles casos em que a coisa não é apenas sexual, em que chegam a acontecer namoros simultâneos, com conhecimento de todas as partes. Sou possessivo pra caramba, não consigo nem imaginar algo do tipo comigo.

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  6. Melo, a profundidade da suas palavras fazem com que voltemos a avaliar nossas convicções e certezas, que na verdade, nunca existiram de fato. Estamos vivendo e a cada dia novas idéias agregam-se a nossa experiência. Desta forma eu tenho que levantar e aplaudir sua coragem e suas ponderações. É muito bom sentir e refletir em todos nós essa "nova ordem" entre casais, sejam heteros ou homossexuais, não deixando hipocrisia ser a tônica de um discurso vago.

    Acho que aqui temos mais o que aprender e descobrir do que em muito consultório e terapia. Experiências são tão importantes quanto teorias, talvez até mais, comprovando algumas e desmistificando outras tantas.

    Obrigado desde já por este canto bom de se discutir e refletir para muita coisa além da "comunidade virtual" !!!

    abração

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