Friamente, assim sem exageros, dramas ou exarcebar, esvaziar as cores da paleta, sempre fui chegado às grandes famílias. Acho lindo, graça, terno esses laços intocáveis entre pessoas que, numa tecnicidade pura, compartilham apenas genes (e alguns, não todos). É algo digno de usar a palavra magia, sempre pondo as devidas proporções guardadas pois, como disseram antes de mim, as familias felizes são todas iguais em sua felicidade, as infelizes, são infelizes cada uma a seu jeito.
Nesse comercial de margarina, vendido, a minha não desempenhou papel diferente e estou limitado a três pessoas contando apenas a vigência imediata do sangue mesmo, não agregados e novas gerações. Aqui, há que se fazer uma explicação:
Pai: família grande festeira, unida, seja para festa ou caixão (motivo pra festa depois de enterrado, leia-se)
Mãe: família pequena, gente independente, sem muito contato, cada um por si, festa = aniversário, natal e olhe lá
Pai X Mãe = Mãe - que tinha gênio encrispado, ganhou a luta marital, meu pai lhe fez dois filhos e ela torneou o clá novo a seu molde, fazer o quê?
Assim, fomos os quatro por um bom tempo, os contatos com as famílias limitados às datas festivas e, com o passar do tempo e o envelhecimento das proles, nem mesmo nessas. O afastamento foi gradual mas irreversível e eu ainda fiz algumas tentativas de quebrar esse glaciar feudal mas em vão, acho que os genes maternos anti-grupo eram mais fortes. Ainda acho hoje que meu pai ressente esse cisma, não pode recriminar a esposa pois ela, junto com a mãe, foi-se daqui há algum tempo já mas aqui e ali, entrelinhas, leio esse ranço indelével vir à tona vez ou outra.
Carente desse aconchego grupal, fui buscar isso fora, nos amigos e se carrego remorsos, culpas (e todos os carregamos, pode negar, se prefere ficar no escuro mas nas horas finais você vai acertar é contas consigo e ninguém mais), um deles é de ter buscado isso tanto nesses lugares que acabei por negligenciar o meu próprio, feneceu o pouco que sobrara da mistura pai/mãe mas eu me acatava com essas ilhas de familia de fora e achava que eles sim eram as famílias felizes.
Custou-me tempo para entender a lógica inversa dessa dinâmica familiar e encucar que a minha era tão boa quanto as outras e que se pecava em detalhes, em outros excedia e muitom suas paralelas mas se posso ser grato por algo é por nao ter intuido o fato em ponto de ser eu apenas o único vassalo restante desse latifundio. Nada é mesmo perfeito e se o é, então é falso porque nada é mesmo perfeito, eu mesmo tinha essa ilusão familiar, dentro era tudo mais ou menos certo e realmente melhro que muitas outras casas que conhecia mas, no fim, a ilusão some num estalar de dedos quando se descobre que além de você e seu par em genes, existem mais duas pessoas que comungam de metade de seu DNA.
Não julgo, nem estudei para isso, nem quero. Bem, julgamos sim, todos nós, às escondidas uns, nos vespertinos outros mas julgamos sim, besteira falar que não somos ninguém para julgar alguém, somos alguém para julgar e emitir sentença, fato. Não, no entanto, o fiz com o pai, como saber porques? Como entender as causas? Os motivos? Nem mesmo a raiva me subiu o pescoço pois se minha mãe deglutira tudo sem água, porque eu haveria de pedir um copo?
Na verdade, ficamos assim como imaginando que as duas por fora fossem algo fictício, de novela ou folhetim e só me dei conta mesmo de que elas eram quando as vi em casa, muito tempo depois de minha mãe voltar ao pó, em visita ao pai que nos era comum. Estranho isso, gente que é de fora mas é de meio-dentro, assim, você vê que existe mesmo a semelhança, nem há como negar mas é gente que nunca lhe viu crescer, mais amigo que irmã e mesmo assim um tempo ia precisar para que se criasse intimidade fosse pessoal ou genética.
Fomos indo assim, papos aqui e acolá, visitas e eu realmente interessado e desejoso de aumentar a familia, mais gente, casa cheia e aquele sonho de grandeza a se realizar. Novamente, acho que os genes ou a presença etérea materna se colocou entre mim e o plano; pai sofre queda, resultado ainda de seus tempos ébrios, hoje é na água, suco e olhe lá, quebra o fêmur e vai pro hospital. Meses sem fim de espera, cirurgia, coisa pública engessada mais do que a perna dele e tanto eu como meu irmão, à época ralando e muito, achávamos tempo de ir visitar o pai, fosse a tarde, a noite, de manhã, nem se pra passar e dar oi.
Revezávamos a dormida por lá, cansados mas satisfeitos de ver o progresso (lento). Enquanto isso, as ditas irmãs, sem emprego, sem ônus, sem compromisso, lenço ou documento, se fizeram tão presentes no processo todo quanto gelo no deserto extremo. Emburrei, havia explicado tudo a elas, como ir lá, melhores horários, nada! Nem um telegrama a dizer se carecíamos de algo! Nem um oi, nem um tchau, nada! Pai voltou pra casa e mais meses de recuperação de cágado e elas? Um vulto teria mais presença física e de espírito.
Matei as duas, junto com os sonhos de família grande. Nunca mais, como diria o passarinho de Poe, não é pro meu bico e apesar de não ser eu de guardar rancores, esse eu guardo muito bem e guardado aqui comigo, não enguli, entalou aqui ó, não vai, não aceito e não há desculpas para o fato, podem me atirar quantas pedras desejarem. Meu irmão ainda, depois de um tempo, aceitou que elas voltassem ao seio enquanto eu evitava de vê-las por lá sempre que possível e, quando impraticável, limitava meu contato às polidezas de praxe, sem grandes arroubos.
Tempos depois, até mesmo meu irmão cortou os frágeis laços posto que a impressão final revelava um gostar financeiro e não mesmo do coração coisa que, diga-se a verdade, está mais no ar de hipótese do que concretizada ainda que nem eu, nem ele, estejamos dispostos ao empirismo da coisa para tirar os noves fora. Assim, hoje somos essa tríade e sei que no dia de ver meu pai acertar as contas com a hora final, seremos ainda que breve momento, quarteto mas não me agrada essa idéia.
Visto então meu manto O'Hara e vou pensar nisso só amanhã.
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Eu já tentei também, mas no fim a conclusão é a mesma. Sangue não quer dizer absolutamente nada. Prefiro até a distância, mais seguro para a minha saúde e sanidade.
ResponderExcluirPois é, vocês tentaram. Já tá bom. E agora seja feliz com a família que (te) escolheu! Essa te ama.
ResponderExcluirMinha família é grande (são 4 filhos, que já renderam alguns netos e garantiram a continuidade do nosso clã). Somos bem próximos, minha mãe é aquela que, ao menor espirro, já está trazendo chá, te ligando 1000 vezes pra saber se está tudo bem, que acorda no meio da noite pra ver se vc está vivo...mãe judia total, embora o sangue judeu fosse do meu pai...kkk
ResponderExcluirMeu pai faleceu, era um crianção. Ele e minha mãe não se bicavam, mas no final da vida ela cuidou dele como se nunca tivessem a menor rusga, realmente algo incrível.
Não somos de demonstrar muito afeto, mas ele existe e é real.
Família! Uma coisa extremamente complicada ... tenho a minha ... meu pai já se foi há muito tempo e, à época o Bratz assumiu o cargo de marido da mãe e pai dos irmãos ... uma família de fortes vínculos afetivos mas de pouca demonstração de afetividade ... eu me sinto sugado mas e fico puto mas no fundo sei q parte da culpa é minha mesmo q alimentei o processo ... se dependesse de mim acho q todas as crianças deveriam logo na tenra idade serem adotadas pela coletividade ... estes laços familiares são todos extremamente neuróticos ... não tem como não serem ... felizmente não constitui nenhuma [tudo restrito mesmo a mim e à marida e está de ótimo tamanho] ... tudo muito mais simples ... qdo analiso minha vida exclusivamente pelo lado racional teria preferido ser filho de chocadeira e ter sido criado pelo mundo ... rs ... mas é fato ... mas a vida não é só racionalidade né?
ResponderExcluirlá em casa eram 6. meu pai q era de família pequena, e minha mãe de família imensa, e aconteceu a mesma coisa, meu pai, de família pequena, que delimitou como seria o novo clã.
ResponderExcluirFamília é phoda. Mas acho dygno!
ResponderExcluirPS: teu poder de síntese e entendimento do que é REALMENTE relevante me umidifica: naquele quibrocó todo interessa mesmo é a xavasca da Maria!!!!! Hahahahahaha!!!!! Amooooooo!
não conheci meu pai. o laço familiar é centrado na mãe, tia e tios e meus primos. filho único eu... mas uma história está para se revelar... e só eu posso dar o pontapé inicial... será que devo?
ResponderExcluirFamília e suas contradições. A minha também é pequena, eu, dois irmãos e o pai já faleceu. Nos damos muito bem, mas mesmo assim temos nossas diferenças.
ResponderExcluirBjão