29 de jan. de 2020

Nos deram espelhos

Triste. Horrendo. Pavoroso.

É lamentável que tenhamos um Chefe de Estado que seja capaz de quase diariamente proferir algum tipo de absurdo que desafia nossa capacidade de nos surpreender. Pior. Estaríamos chegando ao ponto de normalizar que ele so fala merda e que ele é assim mesmo?

Perigo, Will Robinson!

Ao não mais nos chocarmos com suas frases estapafúrdias estamos anestesiando a nós mesmos e dando carta branca para que ela passe a fazer o que diz. É mais ou menos como ele estivesse nos testando, nossos limites, fala alguma merda e vê nossa reação, como ficamos, se não tem repercussão, ele sabe que aquilo pode virar realidade que nem daremos fé, se pega mal ele volta atrás e diz que foi mal interpretado, que foi a mídia golpista que distorceu tudo, que ele não pode falar nada que sempre vai estar errado.

Não seria mais fácil passar a se comportar como chefe da nação? Tomar mais cuidado com o que fala, como fala e onde fala? Não para ele, seu estilo trator é sua marca e ele não é um presidente, e um sargento que foi colocado ali para por ordem no quartel, age como tal, faz como tal, simples assim.

Uma das última que certamente vai lhe custar algumas lapadas da imprensa é esta aqui. Desde sempre, o messias deixou claro que tem pouco apreço pelos indígenas, a seus olhos são vagabundos mamando nas tetas do Estado, suas terras poderiam ser plantadas ou virar turismo, cambada de inúteis que não produzem nada de bom para a sociedade.

Antes da chegada dos portugueses, contávamos com algo em torno de três milhões de indígenas  divididos em cerca de mil povos distintos. Já em 1650 ou seja, em termos históricos pouco depois da colonização, esse número já havia sido reduzido para pouco mais de setecentos mil. Parte desse genocídio se deu devido às doenças trazidas pelos colonizadores contra as quais as populações locais não possuíam imunidade, outro tanto foi vítima da escravidão ou simplesmente morto por esporte por serem considerados pagãos sem alma.

Não bastasse isso, esses povos foram submetidos a 'ocidentalização', eram convertidos ao catolicismo por bem ou por mal, alijados de seus costumes e cultura considerados demoníacos pelos colonizadores e adquiriram vícios como álcool, fumo e drogas conforme o processo de colonização se firmava e avançava.

Dizer que o indígena está evoluindo e que já é quase igual a nós, um ser humano, é uma redução horrenda de um crime hediondo que segue sendo cometido nos dias de hoje. Tornar o índio assimilado na sociedade é roubar o que ainda resta de sua identidade, se é que sobrou alguma, essa fala de Bolsonaro atesta o caráter eugenista de sua proposta de governo onde qualquer minoria deve curvar-se ante a maioria e ser assimilada ou então destruída.

Ao falar que os povos indígenas estão se tornando cada mais parecidos conosco, Bolsonaro faz uma comparação esdrúxula tendo por parâmetro seu conceito do que é ser humano como se os indígenas fossem não-humanos, cidadãos de terceira classe ou algum tipo de gente sem qualquer capacidade cognitiva ou cultura própria ou seja, esses povos que nunca saíram completamente do processo de colonização terão um enorme desafio de enfrentar mais uma onda de colonizatória.

Grande parte de nossa cultura veio dos povos indígenas, diluímos isso no cotidiano achando que são coisas comuns mas nomes de ruas, avenidas, praças, comidas, bebidas e até costumes nossos foram herdados desses povos de quem roubamos tudo e não demos nada em troca a não ser bugigangas, doenças, vícios e um eterno não pertencer na casa que um dia foi deles.

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