21 de fev. de 2020

Tela de cinema

Sou de outra época, distante nem tanto mas já quase memória para poucos que dela comungam comigo.

Quando comecei a ir ao cinema, puxado pela minha mãe e minha tia que plantaram em mim o amor por ele, não haviam essas redes gigantes e seus combos enormes nem salas gourmet ou com ingresso a preço de ouro, era cinema de rua mesmo, tinha de ir para a 'cidade' leia-se centro que, à época, era sinônimo de sujeira e decadência o que não parecia nos afastar dele muito pelo contrário.

Lembro de ouvir histórias, sobre o Cine Metro ali na São João (hoje uma dessas igrejas evangélicas onde você pode vender sua alma sem culpa) que, em seus áureos tempos, só permitia entrada se você estivesse devidamente paramentado de terno e gravata. Quando fui, a sala já não fazia tanto luxo mas ainda tentava agarrar-se nalgum tipo de empáfia de outro século agonizando conforma os anos traziam outros valores que iam sepultando os antigos.

O Cine Marabá, hoje um Playarte mambembe e bem mequetrefe, era imenso, possui platéia superior e seu estilo art-decô ainda ecoa em minha memória. O Ipiranga era menos pomposo, segue fechado, não se sabe se vira centro cultural ou reabre como uma dessas redes que se alimentam do cinema blockbuster.

Mais abaixo na São João tínhamos o Regina, bem de esquina e depois do cruzamento com a Duque, um de frente ao outro, o Cinespacial que era redondo na disposição dos assentos e possuía três telas localizadas no teto, um conceito inédito para a época, de qualquer lugar você poderia ver o filme e, o que em minha opinião era a joia da coroa do cinema em SP, o COMODORO, então a  maior sala de cinema da cidade e projetava apenas copiões em Cinerama 70mm e com som surround comportando até 1400 pessoas, assistir um filme ali era uma experiência equivalente ao IMAX nos dia de hoje.

Nessas salas e em outras assisti filmes como Star Wars IV, Superman - O Filme, Alien - O oitavo passageiro, Caçadores da Arca Perdida e 2001 entre outros tantos.

Então, é com imenso pesar que li esta notícia aqui. Era uma das melhores salas de SP e ainda um dos espaços a passar filmes de arte ou independentes, confortável, preço mais do que acessível e localizada na Paulista, no conjunto nacional.

Lamentável que vá tenha encerrado suas atividades e, por algum tipo de coincidência estranha, com PARASITA, nada seria mais adequado, penso eu. Não sei se haverá algum movimento para tentar reverter esta situação, espero de coração que sim pois não precisamos de mais salas cinemark mas de salas como esta onde a arte pode respirar e resistir.

O que mais me entristece é saber que isso é uma tragédia anunciada vide o desmonte da cultura que esse governo abjeto promove, fascistas não gostam de cultura porque a cultura faz o povo pensar e povo que pensa não aceita muito bem um governo que deseja lhe ditar o que ler, ver, ouvir ou pensar.

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