2 de mar. de 2020

Deus não está aqui

Desde que nos separamos de nossos parentes primatas na cadeia evolutiva e adquirimos consciência de que éramos parte atuante do mundo ao nosso redor, buscamos, como espécie, um sentido ou explicação para essa viagem doida que é viver.

Para explicar fenômenos naturais, astronômicos e as mazelas nossas e do mundo, passamos a atribuí-los a entidades superiores que ou nos recompensavam ou castigavam conforme nosso comportamento, fé ou ausência dela, ou apenas porque lhes apraz fazer com que nós, meros mortais, soframos para seu divertimento e lazer. Desse amálgama de crenças e conjuntos de ideias surgiram a grande maioria das religiões atuais e, porque não dizer, com elas boa parte das desgraças e guerras no mundo.

Não questiono a fé que penso ser algo mais etéreo e inerente ao humano independente se a temos numa divindade, divindades, entidades ou seja lá o que for, penso a fé como algo que transcende qualquer conjunto de crenças e delas independe já podemos associá-la a qualquer coisa terrena da mesma forma.

O que me desagrada são as religiões pois foram feitas por homens que, por sua vez, são falhos pois são humanos e assim, as religiões também o são. Acho pouco provável que as escrituras sagradas de qualquer religião tenham sido escritas por algum tipo de divindade, ditados por alguma entidade divina ou coisa que o valha, para mim, são obras ficcionais de qualidade extremamente convincente ou questionável servindo mais como parábolas e simbologias para determinar um conjunto de regras que os crentes devem seguir e os castigos caso não o façam.

Não admira que cada religião tenha dentro de si tantas divisões e sub-divisões já que tais conjuntos de escrituras estão sujeitos a interpretações por seus seguidores, quando um deles ou um grupo deles passa a discordar ou entender de forma diferente o que as escrituras pregam, temos o cisma, a heresia, o protesto e a divisão e daí por diante. Igualmente, não é raro que essas diferentes visões colidam ou tenham arestas o que acaba por causar boa parte das guerras, fomes, perseguições, chacinas, crimes e todo tipo de horror em nome do que cada um entende ser a verdadeira fé.

Não condeno quem segue ou crê em alguma religião, se lhe dá algum alento e conforto, ajuda e entender as vicissitudes da vida e o fardo cotidiano a ser carregado, fico feliz por você mas, quando a religião passa a servir de alicerce para mater, odiar, perseguir, discriminar, ofender, separar, isolar e desmerecer o outro então temos um grave problema e, infelizmente, grande parte senão a maioria das religiões parecem estarem felizes e em paz consigo e seus acólitos apenas quando perpetrando ou disseminando tais atos.

A religião é a droga mais pesada já inventada pelo homem, inventada sim pois como disse mais acima não veio de uma sarça ardente nem de algum ser etéreo que apareceu do nada ou reviveu depois de morto, veio do inconsciente coletivo que necessitava de algum tipo de almofada emocional que permitisse lidar e explicar com as coisas ruins que se passavam e, por osmose, dar graças pelas coisas boas no melhor estilo comportamental.

Somos criaturas alimentadas por estímulos, condicionados desde sempre, fomos adestrados pela tecitura social a saber que, se nos comportamos bem, teremos recompensas, se nos comportamos mau, seremos punidos de acordo e na proporção de nosso erro ou ofensa. A religião trabalha exatamente estes conceitos prometendo o paraíso e vida eterne para aqueles que são bons e o inferno e danação para quem não agir bem, elas embutem a noção de pecado para poluir nossa moral e substituí-la por outra que vai de encontro com as regras da religião lidando com a culpa como moeda de troca, o pecado como salário do medo e a absolvição como recompensa.

Obviamente que não podemos colocar todas as religiões nos mesmo balaio, há exceções mas são casos raros e que acabam pendendo mais para a filosofia do que uma crença em si, podemos dizer então que as religiões em si não são más, apenas os homens que as fizeram mas, se tais homens são falhos então as religiões também o são e então, nas brechas dessas falhas é onde o humano encontra terreno fértil para dar vazão a seu lado mais horrendo.

Por isso eu creio que deus não está aqui, nunca esteve e nunca estará, se você procura deus, o melhor caminho seria olhar para dentro de si mesmo.

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