18 de mar. de 2020

O doente imaginário



Quando uma pessoa é eleita presidente de um país, espera-se que além de governar bem ela tenha certa compostura pertinente ao cargo que ocupa afinal, estará representando toda uma sociedade ou boa parte dela e não apenas ela mas a ideia de nação, será a cara do país pelo período em que governar.

Obviamente que isso não é perfeito afinal, presidentes não são máquinas, são pessoas e, em sendo, estão sujeitos a falhar pouco ou miseravelmente com a diferença de que seus erros ecoam muito mais que os nossos pelas razões que acabei de expor.

Qual o parâmetro então para determinar quando um presidente erra demais?

Complicado mas, pensemos nesse vídeo do presidente concedendo uma entrevista. Não é de hoje que essas conversas ao pé do ouvido que ele concede são contraditórias, ele usa essa ocasião como plataforma de contato com seu eleitorado e despreza e ofende a imprensa que lá está quando esta lhe faz saia justa ou vem de algum jornal ou canal que ele odeia pelo simples fato de tocarem em feridas que todo político sambado está mais do que acostumado a terem abertas.

Primeiro veja o tom do presidente, ele está claramente desconfortável ao falar com os jornalistas, como se fossem algo muito pior que a pandemia que assola o país e cujo governo encabeçado por ele insiste em menosprezar;

Depois, em certo momento, alega que a histeria da pandemia vai prejudicar a economia, gerar desemprego, prejuízos e recessão mas, ao mencionar tais fatos, defende apenas os empresários e o governo que terão de arcar com rescisões, multas e amparo aos desempregados, nenhuma palavra de apoio ou consideração a quem vai sofrer muito mais com tudo isso, o desempregado em si.

Ainda no caminho da histeria pandêmica, alega que o pânico será usado como capital político por oportunistas, não digo que esteja de todo equivocado mas até agora, quem está fazendo isso é o presidente e seus seguidores.

Em outro momento, o presidente diz que a Itália é uma cidade-estado com muitos velhos e que velhos são fracos, debilitados e vão morrer mesmo então não tem o que fazer, que a Itália é tipo Copacabana que só tem velho e, se quisermos fazer uma interpretação livre ou subliminar, o presidente disse, a grosso modo, que velhos precisam morrer porque são um fardo e precisam dar lugar aos mais jovens e mais fortes para construir a nação que ele sonha para todos.

Outra pérola, segundo o presidente, a epidemia só vai passar quando parte da população adquiri naturalmente imunidade contra o vírus ou seja, seleção natural pura e simples, morte dos mais fracos e sobrevivência dos mais aptos só que nesse caso, quem está decidindo isso não é a natureza mas o governo que prefere lidar com a situação como se fosse um exagero descabido. Para não onerar ainda mais o Estado, deixemos que a natureza siga seu curso.

Depois ainda compara a pandemia com uma gestação, só se for uma gestação indesejada e impossível de ser abortada, como se a pandemia tivesse sido gestada em algum útero maligno (comunista talvez) e fosse o resultado de uma união profana.

A única razão que dou ao presidente é a de que realmente o pânico não irá nos salvar, muito pelo contrário mas mesmo essas palavras saídas de sua boca soam como escárnio e desprezo por uma situação que ele não tem capacidade de gerenciar, entender ou manusear.

Tenho certeza de que sobreviveremos a essa pandemia de um jeito ou de outro. Não tenho tanta certeza se sobreviveremos ao presidente que temos.

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