23 de jun. de 2020

o fogo que nada arde

colocou o pedaço de carne na boca e era doce feito o doce de batata doce que sempre é o doce mais doce quando não há doce feito de açúcar refinado industrializado embalado distribuído e vendido pelo mercado mais próximo onde você faz compra para depois passar fome com gosto de câncer e corante artificial sabor frutas tropicais da estação de metrô que é cheia de manhã seis sete oito e nove horas com gente que se acha cheia de nove horas depois de pegar uma duas três quatro conduções baldeações e que depois vai fazer o mesmo caminho de volta sem qualquer uma das noves horas perdidas nas horas do dia trabalho labuta laboral e pegar a mesma estação de metrô cheia às cinco seis sete oito e nove horas para começar tudo de novo no dia seguinte de novo mais uma vez que é assim mesmo que a banda toca por aqui.

mas o problema era a carne que estava doce e não salgada ou sem sal porque carne pode até estar ou ser salgada demais ou totalmente sem sal mas doce não carne doce não pode porque doce só com açúcar aquele branco ou se preferir aquele marrom mascavo mascado mesclado mas na carne não pode porque na carne só vai sal e pensou em como a carne poderia estar doce e lembrou se na noite anterior durante o preparo não havia trocado o sal pelo açúcar já que ambos são brancos e finos e pode confundir quem não sabe a diferença de um e de outro e quase ninguém prova antes ou tem gente que prova e até guarda em potes separados mas na casa dele não tinha disso e o sal e o açúcar trocavam de potes como ele trocada de trens para ir trabalhar na estação de metrô sempre cheia às seis sete oito nove horas de qualquer dia e noite.

mastigava a carne doce que deveria ser salgada tentando lembrar se havia trocado os potes e o metrô e a estação sempre cheia às seis sete oito nove horas mas não lembrou de nada só de ter tirado a carne da geladeira que já não gelava direito e por isso muita comida acabava estragando principalmente carne porque carne estraga rápido igual a dele que estragava todos os dias na estação de metrô sempre cheia às seis sete oito nove horas e lembrou do cheiro ruim da carne e que deveria estar estragada mas a carne era cara e ele comia carne e não cheiro então era só jogar o sal em cima e pronto mas aí deveria ter jogado açúcar e não sal mas começava a achar que tinha acabado o sal em casa e que tinha jogado o açúcar na carne pensando ser sal porque os potes estavam trocados igual ele trocando de trem no metrô de estação sempre cheia às seis sete oito nove horas.

foi então que mordeu a língua sem querer ou talvez querendo porque quem sabe se mordemos a língua querendo ou não se ela fica lá sambando dentro da boca entre os dentes então nada mais natural que levar uma mordida e sangrar porque a língua é feita de carne igual a carne que ele mastigava e que tinha gosto doce e não salgado porque toda carne deveria ser salgado mas não a carne da língua que deveria ser doce porque é carne de gente e tem sangue e sangue tem de ser doce mas não o dele porque depois de morder a língua que ficava sambando na boca com dentes e cheia de carne feito a estação de metrô sempre cheia às seis sete oito nove horas o sangue escorreu e o sangue era muito salgado e ele se assustou porque sangue tem de ser doce e não salgado mas o sangue dele era salgado e foi se misturando com o naco de carne doce que ele ainda mastigava e agora talvez com um pedaço da língua na boca cheia de duas carnes e sangue salgando a carne doce na boca cheia feito a estação de metrô sempre cheia às seis sete oito nove horas.

engoliu aquela mistura devagar como se fosse uma carne nobre que não é salgada nem doce mas apenas humana e muito cheia de quase nada feito a estação de metrô sempre cheia às seis sete oito nove horas.

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